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PARTE II ESTÍMULOS LEGAIS E DE MERCADO ÀS AÇÕES DE PRESERVAÇÃO

8. AS LEIS DE INCENTIVO À CULTURA EM 2010

Em termos legais, a expressão Incentivo Fiscal tem seu escopo definido pela Lei 8.313/91: trata-se de uma relação entre o fisco e o contribuinte, propiciando a renúncia parcial de determinado tributo, em benefício de uma dada ação. No caso dos projetos culturais, as ações que podem beneficiar o contribuinte com um dado incentivo serão necessariamente ações de finalidade eminentemente cultural.

O conjunto de leis brasileiras de incentivo fiscal distribuído nas várias esferas de poder – federal, estadual, municipal, tem se configurado desde pouco mais de uma década como instrumentos de apoio da maior relevância para o desenvolvimento de ações culturais em todo o país.

No caso de projetos de restauração e preservação do patrimônio edificado – assunto desta pesquisa - os custos dos investimentos envolvidos em qualquer projeto são de ordem bastante significativa. Nesses casos, devido ao escopo e limitações das leis municipais e estaduais, os recursos são quase sempre e na maior parte provenientes de incentivos proporcionados pelas leis federais, principalmente, a conhecida lei federal Rouanet.

Mesmo assim serão a seguir citadas e comentadas também as leis estaduais e municipais para o caso paulista/paulistano, pois em muitos casos - como alguns dos que serão analisados mais adiante - elas podem ser acionadas; desde que as empresas interessadas contribuam aos impostos estaduais, como é o caso do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS (por exemplo, empresas concessionárias dos serviços de fornecimento de eletricidade e serviços telefônicos) ou aos impostos municipais, como o Imposto sobre Serviços – ISS e o Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU (por exemplo, prestadoras de serviços, empresas de planos de saúde, estacionamentos e bancos).

Ademais, as leis de âmbito estadual e municipal definem tetos por categoria de projetos. Em São Paulo (que será nosso caso de estudo adiante), atualmente, o teto para os projetos na área de restauração está limitado entre 600 mil a um milhão de reais; valor que dificilmente cobrirá os custos de uma obra de restauração de algum porte e importância.

80 RODRIGUES, Luiz Fernando e MARTINS, Paulo H. Benefício fiscal para doadores das entidades

de Utilidade Pública e as OSCIPs. Material de Palestra: UFF–LATEC, Set 2006.

http://www.meioambiente.org.br/documentos/Incentivo_Fiscal_GIRS.pdf . Acesso em: 19/5/10. http://www.crasp.com.br/index.asp?secao=523. Acesso em: 24/5/10.

http://www.cultura.gov.br/site/categoria/apoio-a-projetos/mecanismos-de-apoio-do-minc . Acesso em: 23/5/10.

http://www.cultura.sp.gov.br/portal/site/SEC/menuitem.555627669a24dd2547378d27ca60c1a0/?vgne xtoid=6a33b23eb2a6b110VgnVCM100000ac061c0aRCRD . Acesso em: 23/5/10.

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura . Acesso em: 23/5/10.

MEDEIROS, Jotabê; DEODATO, Lívia; MOLINA, Camila. Tropa de choque do Minc sai a campo para debate de nova Lei. O Estado de S. Paulo. Caderno 2, política cultural – legislação. São Paulo, 21/03/09.

MEDEIROS, Jotabê. Contra nova Lei, teatro vai ao fronte. O Estado de S. Paulo. Caderno 2, política cultural – legislação. São Paulo, 30/03/09.

As leis municipais e estaduais surgiram e/ou foram incrementadas após o surgimento das leis federais e podem ser usadas em complementação a esta; sua grande contribuição vem sendo principalmente nos investimentos em cultura das cidades de menor porte e para projetos de pesquisa, documentação, eventos teatrais, musicais, atividades circenses, oficinas culturais e outros.

Leis estaduais de incentivo à cultura

As leis estaduais de incentivo fiscal são baseadas no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O benefício varia em média de 2% a 5% do imposto pago, com 20% de recursos próprios. A limitação orçamentária é rigorosa. Os percentuais de incentivo e segmentos beneficiados variam de acordo com o Estado. Os estados que dispõem desse tipo de incentivo são: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Mato Grosso, Distrito Federal.

Em São Paulo há o ProAC - Programa de Ação Cultural - instituído pela Lei Estadual 12.268, de 20/02/2006 e regulamentado pelos Decretos 51.944 de 29/06/2007 e nº.54.275, de 27/04/2009. As duas formas possíveis para obtenção de apoio financeiro para projetos culturais através do ProAC são: a) pelos recursos orçamentários da Secretaria de Cultura; b) pelos recursos obtidos como patrocínio de contribuintes do ICMS.

No primeiro caso, para a obtenção de recursos públicos, através do orçamento próprio da Secretaria de Cultura, os valores são colocados a disposição dos interessados através de seleções públicas (Editais)81”. O processo disponibilização de recursos estatais por meio de editais têm como objetivo permitir que o Estado, através da Secretaria da Cultura, disponibilize parte de seu orçamento próprio na implementação de projetos de grande significado para a sociedade, mas que possivelmente não seriam atrativos para uma participação do mercado cultural empresarial.

No segundo caso - investimentos de recursos obtidos pela renúncia do ICMS pelo Estado - os produtores culturais e/ou artistas inscrevem-se na Secretaria Estadual de Cultura, submetendo-se à aprovação documental como promotor cultural. Se aprovados, enviam seu projeto, que deve atender às condicionantes da legislação quanto ao volume de recursos pleiteado e quanto ao detalhamento do projeto segundo a regulamentação da legislação cabível. O projeto é submetido à Comissão Estadual de Cultura, analisado pelo corpo técnico da Secretaria e a seguir, pela Comissão Estadual de Cultura. Se aprovado, recebe um certificado de aprovação que autoriza ao proponente a abordagem do mercado para captação dos recursos. A empresa interessada em patrocinar o projeto se manifesta junto à Secretaria da Fazenda, que lhe indicará quais os montantes de benefícios fiscais que ela poderá auferir com esse investimento. O interesse é comunicado à Secretaria de Cultura que autoriza abertura de conta vinculada junto à Nossa Caixa, agora Banco do Brasil.

81

http://www.cultura.sp.gov.br/portal/site/SEC/menuitem.764c9920d8b49e5934aae2a5c19714a0/?vgnextoid =d33e79aac0300110VgnVCM1000004c03c80aRCRD&cpsextcurrchannel=1. Acesso em: 26/5/2010.

Neste segundo caso o Estado está transferindo seus recursos e permitindo que as empresas patrocinadoras decidam, dentre os projetos previamente autorizados, onde investir – ou seja, para quais deles desejam aportar recursos provenientes de impostos devidos por suas empresas. Trata-se, portanto, de um mecanismo pelo qual o Estado delega competência para a sociedade civil escolher onde investir parte do imposto gerado. São mecanismos que o Estado disponibiliza para que a sociedade civil, de forma democrática, administre não só a universalização do acesso, mas o foco da produção.

Leis municipais de incentivo à cultura

As leis Municipais são baseadas no Imposto Sobre Serviços (ISS) e Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU). Nelas o benefício é de cerca de 20% do imposto pago (varia de acordo com o município). A limitação orçamentária também é rigorosa (baixa dotação). Os segmentos beneficiados variam de acordo com o município. Alguns municípios com incentivo de ISS são: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Vitória, Curitiba, Teresina, Natal, Ilhéus, Maceió, Aracaju, Belo Horizonte, Porto Alegre e outras.

No município de São Paulo, há a Lei Mendonça, ou seja, a lei 10.923 de 30/12/ 1990, regulamentada Decreto 29.684/91, que permite a pessoas físicas e jurídicas requerer o benefício de abatimento de até 20% do valore devido de IPTU e do ISS, sendo que sua utilização não deve ultrapassar 70% do valor total do projeto incentivado.

Há três formas distintas para efetuar a transferência de recursos: a) doação – transferência de recursos sem quaisquer finalidades promocionais, publicitárias ou de retorno financeiro; b) patrocínio – transferência de recursos com finalidade exclusivamente promocional, publicitária ou de retorno institucional; c) investimento – transferência de recursos aos empreendedores, para a realização de projetos culturais, com vistas à participação nos seus resultados financeiros.

Diferentemente de outros mecanismos de incentivo fiscal, a lei não cria forma de abatimentos distintos para pessoas físicas ou jurídicas82. Os segmentos beneficiados são: artes cênicas, artes visuais, cinema e vídeo, literatura e bibliotecas, música, crítica e formação cultural, patrimônio histórico e cultural.

Leis federais de incentivo à cultura83

A Lei federal 8.313 de 23/12/1991, regulamentada em 1995, conhecida como Lei Rouanet, instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura - PRONAC, cuja finalidade é captar e canalizar recursos para a cultura.

O PRONAC possui três formas de canalizar verba para o setor cultural: a) o Fundo Nacional de Cultura – FNC; b) o Fundo de Investimento Cultural e Artístico – FICART; c) e o Mecenato (incentivo fiscal).

Nos termos da lei original (ou seja, antes das alterações de 1997) o Mecenato podia ser realizado de dois modos:

a) por doação, definida pelo Ministério da Cultura como a transferência definitiva e irreversível de bens ou numerário em favor do proponente, pessoa física ou jurídica sem fins lucrativos, cuja ação cultural ou projeto tenha sido aprovado pelo Ministério da Cultura. Permite deduzir do IR a ser pago até 80% do valor do bem doado, para Pessoa Física e 40% para Pessoa Jurídica.

b) por patrocínio, definido pelo Ministério da Cultura como a transferência definitiva e irreversível de serviços ou numerário, com finalidade promocional, englobando a cobertura de custos e/ou a utilização de bens móveis ou imóveis do patrocinador, sem transferência de domínio, para realização de ação, projeto ou programa cultural aprovado pelo Ministério da Cultura. Permite dedução de até 60% para Pessoa Física e 30% Pessoa Jurídica. No patrocínio de um projeto cultural uma empresa (pessoa jurídica) poderia abater até 5% do Imposto de Renda a pagar; esse valor era de 12% para pessoas físicas.

Para receber os benefícios da lei, o projeto precisava haver sido aprovado pelo Ministério da Cultura, sendo submetido à Comissão Nacional de Incentivo à Cultura – CNIC, que após a análise técnica dos órgãos afetos à área referente ao projeto deliberaria sobre sua aprovação. Os segmentos culturais beneficiados eram: patrimônio cultural, artístico, histórico, museológico, arquivístico e arqueológico; literatura e obras de referência; cinema, vídeo, fotografia e discografia; música popular e erudita; teatro; dança; circo; ópera e mímica; artes plásticas e gráficas e gravuras.

A Medida Provisória n° 1.589, de 24/09/1997, convertida na Lei 9.874 de 23 /11/1999 expandiu a possibilidade de abatimento, tanto para doação como para patrocínio, para até 100% do valor do projeto, no caso das áreas de artes cênicas, preservação do patrimônio cultural, edição de livros de valor artístico, literário e humanístico, circulação de exposição de artes plásticas, música erudita e instrumental, doação de acervo para bibliotecas públicas e museus, produção de

83 Vale notar que entre as leis de incentivo à cultura de abrangência nacional encontra-se também a

Lei do Audiovisual, aqui mencionada apenas para lembrar aos leitores de sua existência, mas não

será detalhada por não fazer parte do escopo do trabalho. Sua base legal são as leis 8.685/93 e 11.329/06 e Decreto 974/93, e a Medida Provisória 2.228-1, que estendeu seu prazo de vigência até o ano calendário de 2010, criou a ANCINE – Agência Nacional de Cinema e criou o Conselho Superior de Cinema. Essa lei limita a dedução em até 3% do Imposto de Renda - IR devido (alíquota de 15%). Se usada em combinação com a Lei Rouanet, o limite é de 4% do IR. Dela se podem beneficiar apenas para empresas no regime LALUR (Lucro real).

obras cinematográficas e videográficas de curta e média metragem e a preservação e difusão do acervo. Nesses casos, essa despesa não poderá ser também apresentada como despesa operacional no balanço da empresa. Mesmo assim, o benefício fiscal só permitirá abater, no máximo, 4% (pessoa jurídica) ou 6 % (pessoa física) do imposto de renda devido pela empresa ou pessoa.

O caráter proposto pela Lei também exige, e define alguns critérios, no sentido de envolver aspectos sociais, de acessibilidade, de democratização do acesso à cultura e de prioridade para o produto cultural brasileiro; podendo ser utilizada também para patrocínio de projetos e espetáculos estrangeiros apresentados no Brasil. Os benefícios devem ser somente para apresentações públicas de bens culturais sendo vedados circuitos privados ou coleções particulares.

Os projetos que não estão incluídos nas alterações previstas pela Lei 9874/99 seguem as diretrizes definidas pela Lei 8.313/91. Nesse caso, permitem a dedução de no máximo 30% do valor do projeto, mas também permitem que esse custo seja incluído como despesa operacional no balanço de onde é calculado o lucro que definirá o valor do Imposto de Renda – IR devido. Na prática, isso aumenta percentualmente a vantagem auferida pelos patrocinadores desses projetos em mais de 50% do seu custo total84.

A supervisão dos projetos pelo Estado é feita pelo Tribunal de Contas da União ao exercer sua fiscalização regulamentar sobre os atos do poder executivo, inclusive do Ministério da Cultura. O Ministério da Cultura exerce seu controle sobre o gestor/proponente do projeto, e não sobre a empresa patrocinadora, exigindo que as contas de cada projeto sejam rigidamente controladas e sejam compatíveis com os orçamentos apresentados e aprovados; sob pena do proponente ter vedado seu acesso à futura apresentação de outros projetos, além de ser obrigado à devolução, para o Tesouro, dos recursos utilizados de maneira indevida ou insuficientemente demonstrada. Em caso de infrações graves - como o recebimento de vantagem financeira ou material, ou inexecução do projeto sem motivo justificável, ou aplicação incorreta dos recursos - o proponente fica inabilitado por três anos, sem prejuízo da devolução dos valores ao erário público.

Para o doador e/ou patrocinador, as conseqüências de uma má gestão do proponente o sujeitam ao pagamento do valor atualizado do IR devido, sendo considerado responsável solidário pela inadimplência ou irregularidade da pessoa física ou jurídica responsável pelo projeto.

Para que a aplicação da lei de Incentivo Fiscal para a cultura seja realizada de maneira correta os agentes proponentes devem ter não tanto a capacidade de realização do projeto, como de fazê-lo de maneira regular e compatível com o orçamento e a execução, como a capacidade de realizar a comprovação do cumprimento das obrigações contratuais do projeto.

84 Embora do ponto de vista do agente cultural que aprova um projeto, esses números possam não

parecer relevantes, para os patrocinadores serão justamente as vantagens contábeis e fiscais que determinarão seu maior ou menor grau de interesse pelos projetos culturais. Portanto, essa ginástica contábil é um aspecto da maior relevância no âmbito das ações culturais brasileiras.

O grande número de etapas a serem concluídas até a aprovação de um projeto, os custos operacionais envolvidos no seu gerenciamento, os problemas para a captação de recursos junto a possíveis doadores/patrocinadores, geram um processo bastante longo e complexo. Em consequência, os processos de renúncia fiscal assumida pelo Governo, e realizados pelos patrocinadores que chegam a se efetivar, anualmente, não chegam a atingir o teto aprovado.

Assim sendo, pode-se afirmar que as exigências e salvaguardas do sistema tendem a diminuir o poder de alcance dos efeitos benéficos da Lei.

Mas apesar das dificuldades, o investimento em cultura tem sido incrementado significativamente desde a aprovação inicial da Lei Rouanet (ver tabela 2).

É significativo notar que as empresas patrocinadoras já têm constatado que, além das vantagens fiscais, as leis de incentivo à cultura também oferecem benefícios institucionais, podendo ser consideradas como instrumentos de fixação da imagem corporativa e como instrumentos de endomarketing e fidelização de clientes – fundamentais, atualmente, para o sucesso comercial de uma empresa.

ÁREAS PARA AS QUAIS PODEM SER SOLICITADOS INCENTIVOS FISCAIS AO MNISTÉRIO DA CULTURA