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No Brasil, os órgãos que legislam sobre o patrimônio são: em nível federal, o IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; em nível estadual, em São Paulo, o CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e

41 FURTADO, Celso. O Longo Amanhecer. 1.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

42 CHUVA, Márcia Regina Romeiro. Os arquitetos da memória: sociogênese das práticas de

Arquitetônico do Estado; e na administração municipal o CONPRESP - Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo; tendo cada um suas atribuições e leis específicas. A seguir, será feito um breve histórico e abordadas as características e atribuições de cada uma dessas entidades.43

Esfera Federal: IPHAN

O Serviço Nacional do Patrimônio Histórico foi criado pela lei nº 378 de 13 de janeiro de 1937 e submetido ao Decreto-Lei Federal nº 25, de 30 de novembro de 1937, que o regulamentou, organizando-se desde então a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional sob a tutela do Estado.

O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional hoje é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, responsável por preservar a diversidade das contribuições dos diferentes elementos que compõem a sociedade brasileira e seus ecossistemas. Esta responsabilidade implica em preservar, divulgar e fiscalizar os bens culturais brasileiros, bem como assegurar a permanência e usufruto desses bens para a atual e as futuras gerações.

Preservando parcela significativa do patrimônio cultural brasileiro, o IPHAN vem, há mais de 70 anos, salvando do desaparecimento um legado considerável para a cultura nacional. São mais de 20 mil edifícios tombados, 83 centros e conjuntos urbanos, 12.517 sítios arqueológicos cadastrados. Além de mais de um milhão de objetos, incluindo acervo museológico, cerca de 250 mil volumes bibliográficos,

documentação arquivística e registros fotográficos e cinematográficos em vídeo.44

O patrimônio material protegido pelo IPHAN, com base em legislações específicas é composto por um conjunto de bens culturais classificadossegundo sua natureza nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas.45

Assim, quando se fala em legislação sobre preservação e conservação do patrimônio cultural é necessário considerar alguns elementos, entre eles o tombamento.

Tombamento é um atributo legal destinado a bens culturais com o objetivo de garantir sua integridade e a perpetuação da memória, impedindo que venham a ser destruídos, descaracterizados ou mutilados, o tombamento também preserva a área circundante ao edifício.

O IPHAN se refere ao estatuto do tombamento, tratando-o como:

"um ato administrativo realizado pelo poder público com o objetivo de preservar, através da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e

43 Restringimo-nos aos órgãos paulistas em vista do recorte da pesquisa proposta.

44 http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10&sigla=Institucional&retorno=paginaIphan.

Acesso em: 27/5/2009.

45http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do;jsessionid=7297F65875BFAFA87D292170A

também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou

descaracterizados.”46

O tombamento é executado a partir de um diagnóstico prévio de avaliação do patrimônio e dos aspectos que estão a ele ligados, como classificação e valoração do patrimônio. Particularmente os inventários funcionam como instrumento de conhecimento e pesquisa, utilizados e adaptados a cada situação.

Além do processo de tombamento, o IPHAN é responsável pela fiscalização, proteção, identificação, restauração, preservação e revitalização dos monumentos, sítios e bens móveis do país.

Contribuir para o reconhecimento e a preservação da memória é um dos aspectos de maior relevância quando se fala em formação da identidade nacional. Ações de preservação do patrimônio cultural, divulgação, educação patrimonial, inventário de acervos e pesquisa, preservação de bens móveis e imóveis e proteção do patrimônio natural e arqueológico são fundamentais para a valorização da cultura brasileira.

As medidas efetivas de preservação, que podem salvaguardar o patrimônio exigem somas significativas de recursos e passam pelo entrosamento dos setores de planejamento urbano e da definição de políticas públicas adequadas. Medidas educativas para despertar o interesse das diversas camadas sociais também são fundamentais. Nos últimos anos muitas ações vêm sendo empreendidas, mas muito ainda vai e deve ser feito.

O advogado Fernando Fernandes da Silva, autor do livro As Cidades Brasileiras e o

Patrimônio Cultural da Humanidade, aponta o caráter educativo como fundamental

para a preservação do patrimônio nacional.

Essa ação compreende duas vertentes: a divulgação sobre a importância dos bens culturais para a sociedade brasileira e a formação de pessoas especializadas na área

de proteção, principalmente no que diz respeito à restauração dos bens culturais.47

A preservação do patrimônio histórico, através das medidas legais de tombamento, é de responsabilidade dos órgãos de preservação, mas a sua manutenção requer, muitas vezes, grandes somas de recursos, além do suporte técnico que os órgãos de preservação disponibilizam. A obtenção de recursos para essa tarefa ganhou novo aliado, em 1991, com a criação das leis de incentivo à cultural que estabelecem estímulos à iniciativa privada para investimentos institucionais à cultura. Essas iniciativas têm ajudado a restaurar e a manter as edificações, além de criar condições para que projetos de requalificação sejam realizados. Todavia é importante destacar que os recursos incentivados investidos em bens do patrimônio histórico só são considerados pelas Comissões de Cultura de cada órgão, se o bem ao qual está sendo apresentado o projeto for um edifício ou conjunto tombado e o respectivo projeto tiver sido aprovado pelos órgãos que tutelam o bem patrimonial.

46

20http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=12163&sigla=Institucional&retorno= detalheInstitucional. Acesso em 27/05/2009.

47 SILVA, Fernando Fernandes da. As Cidades Brasileiras e o Patrimônio Cultural da Humanidade.

Investimentos em edificações não tombadas são aprovados apenas quando o uso proposto para a edificação for eminentemente cultural, por exemplo, um teatro, cinema, biblioteca, museu, etc.

Nível estadual paulista: CONDEPHAAT

O CONDEPHAAT, viabilizado pela Constituição do Estado de São Paulo, em 1967, e criado pela Lei Estadual 10.247 de 22 de outubro de 1968, é o órgão estadual, subordinado à Secretaria Estadual da Cultura responsável pela identificação, classificação, restauração e preservação dos bens móveis e imóveis existentes no território do Estado, e que integram o patrimônio histórico, arqueológico, artístico e turístico. Estes bens que compõem o patrimônio são preservados através do instrumento jurídico do tombamento.

A criação do CONDEPHAAT pode ser analisada como resposta a inúmeros interesses. Primeiramente, ela respondeu à sobrecarga do IPHAN nas suas atribuições de proteção dos bens culturais de todo o território nacional, e teve o objetivo de complementar suas atividades. Desde o surgimento do órgão estadual, os tombamentos federais compreendidos no Estado de São Paulo diminuíram sensivelmente. Por outro lado, a criação do órgão foi viabilizada com o aval da classe política dominante do Estado de

São Paulo.48

Inicialmente o CONDEPHAAT foi bastante seletivo, priorizando os edifícios ligados aos aspectos mais tradicionais da cultura paulista, documentou-se o passado regional, concentrando sua preocupação nos registros bandeiristas e aqueles ligados à cafeicultura. Naquele momento não foram priorizados os núcleos urbanos, os resquícios do processo de industrialização e nem a contribuição da colonização estrangeira tão marcante para a cultura paulista.

Na década de 70 houve uma sensível mudança de direção, tanto por um trabalho mais compartilhado com demais órgãos ligados ao planejamento urbano e, em função da direção do Conselho pelo geógrafo Aziz Ab’Saber, o CONDEPHAAT foi pioneiro ao tratar da preservação ambiental, tombando áreas naturais do Estado. Nível municipal paulistano: CONPRESP

O CONPRESP é um órgão de deliberação vinculado à Secretaria Municipal de Cultura, tem por principal atribuição deliberar sobre pedidos de tombamento de bens culturais da cidade e sobre os projetos de restauração ou de interferência na área envoltória dos projetos apresentados para aprovação, após análise técnica do DPH – Departamento de Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Cultura.

O CONPRESP foi criado por lei municipal aprovada em 1985, e teve a sua primeira convocação somente no final do ano de 1988. Desde 1984, os bens arquitetônicos de valor histórico do município de São Paulo, eram protegidos por lei de proteção especial de zoneamento e categorizados como Z8 200, Lei 9.725/1984. Os bens

48 NIGRO, 2001, p. 61 apud BORTOLOTO, Thais Branco. A forma urbana e a coisa pública na

preservação do patrimônio: espaço, política e sociedade na analise de dois sítios tombados: o caso

inscritos nessa classificação foram os primeiros bens a serem analisados para tombamento municipal. Posteriormente, foram incluídos como áreas de proteção e, portanto, tombadas pelo órgão municipal manchas urbanas com bairros inteiros que mantiveram suas características originais, principalmente o traçado, a escala e a arborização, ou áreas que reúnem um conjunto de edifícios ligados a uma função histórica, o caso dos bairros da Zona Leste de ocupação nitidamente fabril do início do século XX.

Alguns novos edifícios ou conjuntos vem sendo acrescidos e listados como bens tombados, em função da manifestação da sociedade que promove abaixo-assinados e documenta o interesse de preservação de uma dada área. Desde 2009, os antigos colégios dos bairros tradicionais da cidade vêm sendo objeto de atenção do CONPRESP.49

A relação entre a sociedade, a política e o patrimônio sempre foi marcada por grande interesse dos segmentos mais intelectuais da sociedade, mas nos últimos anos, em função das mobilizações populares pela preservação, que no caso de São Paulo, pode-se acompanhar pelos jornais diários em várias ocasiões, principalmente após a ampliação do que preservar, com a incorporação na legislação de preservação dos bens naturais e áreas verdes, esses bens despertaram mais o interesse da coletividade.

Todos os níveis de tombamento - nacional, estadual e municipal - são importantes, mas se houver interesse em identificar o grau de relevância do bem tombado para interpretar seu nível de significado, pode-se dizer que um edifício tombado pelo IPHAN confere representatividade nacional ao patrimônio, mas o tombamento pelo CONPRESP confere maior significado para a comunidade local, portanto, ao se identificar um bem tombado pelo órgão municipal pode-se afirmar que o edifício tem grande representatividade para a sociedade.

5. AS POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS