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Aspectos neurológicos da emoção: a emoção no laboratório – Introdução

Anexo IV – Paradigmas de comportamento vocal – Valores totais de intensidade relativa dos parciais

Em 3.1, são referidas as diferentes abordagens da psicologia moderna relativamente à emoção, começando pela relação entre os processos cognitivos e emocionais segundo os modelos

4. Aspectos neurológicos da emoção: a emoção no laboratório – Introdução

Embora nos afastemos para um campo de investigação muito especializado, e que transcende os conhecimentos geralmente associados à matéria em estudo, considero imprescindível uma descrição da estrutura do sistema nervoso central e periférico e a localização das zonas cerebrais onde se realiza o processamento de funções específicas, assim como uma breve resenha dos processos de comunicação entre as diversas partes do sistema nervoso e o corpo, nos sentidos ascendente – do corpo para o cérebro – e descendente – deste para o corpo. Para uma compreensão dos mecanismos cognitivos e emocionais, é indispensável uma referência ao papel do sistema nervoso somático, ou voluntário, e do sistema nervoso visceral, ou autónomo, e às suas funções complementares, através do sistema nervoso simpático e parassimpático.

Em primeiro lugar, é necessário atender à divisão do cérebro e às suas funções específicas, considerando que o processamento integral da informação depende do envolvimento de ambos os hemisférios cerebrais, havendo regiões cerebrais especializadas no processamento de parâmetros musicais como o ritmo, a melodia, a análise das diferentes alturas de som e a linguagem.

Para uma compreensão estruturada da matéria em estudo, é também indispensável um conhecimento mínimo do processo de transmissão da informação pelos circuitos neuronais, da estrutura dos neurónios e do modo como comunicam a informação, através de sinapses químicas e eléctricas, assim como as funções dos neurotransmissores e neuromoduladores.

A existência de circuitos neurais específicos para o processamento da emoção e o papel que as estruturas do telencéfalo, diencéfalo e mesencéfalo desempenham neste processo é uma questão de particular importância que há muito tem ocupado os neurocientistas. A existência deste tipo de circuitos seria o resultado da relação entre as funções da emoção no processo adaptativo do organismo ao meio, através do desenvolvimento de subsistemas neurofisiológicos especializados.

Relativamente ao processamento de informações pelo cérebro, teremos que considerar a estrutura da organização dos sistemas sensoriais neocorticais em sistemas de redes sequenciais, envolvendo informações obtidas através de áreas receptoras primárias, processadas em áreas de associação organizadas em estações de processamento sequencial. Este processo necessita do envolvimento de áreas específicas de associação sensorial unimodal na representação de estímulos informativos, com projecções para outras áreas de associação de natureza polimodal, que integram informação entre modalidades sensoriais. A investigação neurológica atribuiu um papel diferenciado às influências límbicas e corticais na regulação dos estados emocionais. A localização de diferentes modelos de activação cerebral segundo emoções distintas só foi possível através da aplicação de tecnologias avançadas de imagem, através do estudo de imagens funcionais por ressonância magnética ou da tomografia por emissão de positrões em doentes com lesões cerebrais

focais e doenças neurológicas. A aplicação desta tecnologia permitiu também demonstrar o papel das informações armazenadas nos diversos tipos de memória no despoletar de um processo emocional, assim como as funções específicas dos vários componentes do sistema neural no processamento dos dados de natureza sensorial ou associativa. Estes dados permitiram uma análise sistemática dos conceitos de consciência nuclear e consciência alargada e sua relação com os níveis de memória, bem como a descrição da localização e processamento neurológico da emoção musical intensa e as diferenças relativamente ao processamento da linguagem verbal, evidenciando o envolvimento de zonas do cérebro como o striatum ventral, que inclui o nucleus accumbens, centro de recompensa do cérebro, o mesencéfalo, a amígdala, o córtex orbito-frontal e o córtex pré-frontal medial ventral.

4.1. Estrutura do sistema nervoso

Para uma compreensão fundamentada dos processos emocionais, é indispensável uma descrição da estrutura e funções do sistema nervoso, embora limitada, pois não é objectivo deste trabalho uma investigação sobre a matéria em causa, porque é através dele que se desenvolve tudo o que respeita à nossa vida emocional. Todos os aspectos da mente humana têm a sua localização no cérebro, e a sua relação com o corpo processa-se através do sistema nervoso periférico. Damásio, no “Erro de Descartes”, cita William James (JAMES, 1890) para caracterizar a natureza das emoções:

“Se imaginarmos uma emoção forte e depois tentarmos abstrair da consciência que temos dela todos os sentimentos dos seus sintomas corporais, vemos que nada resta, nenhum “substrato mental” com que constituir a emoção, e que tudo o que fica é um estado frio e neutro de percepção intelectual. É-me muito difícil, se não mesmo impossível, pensar que espécie de emoção de medo restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábios e de pernas enfraquecidas, de pele arrepiada e de aperto no estômago. Poderá alguém imaginar o estado de raiva e não ver o peito em ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerrados e o impulso para a acção vigorosa, mas, ao invés, músculos flácidos, respiração calma e um rosto plácido?” (DAMÁSIO, 1995).

O sistema nervoso central é constituído pelo cérebro (ou telencéfalo), o diencéfalo, o mesencéfalo, o tronco cerebral, o cerebelo e a espinal-medula. A comunicação entre o sistema nervoso central e a quase totalidade de corpo processa-se através de nervos, que constituem o sistema nervoso periférico. O cérebro compõe-se de dois hemisférios cerebrais, o esquerdo e o direito, unidos pelo corpo caloso, um conjunto de fibras nervosas que liga os hemisférios cerebrais em ambos os sentidos. O diencéfalo, constituído por um grupo central de núcleos nervosos situados na parte inferior dos hemisférios, inclui o tálamo e o hipotálamo.

A comunicação entre as várias partes do sistema nervoso faz-se através de impulsos que são transportados pelos nervos no sentido ascendente e descendente, ou seja, do corpo para o cérebro e deste para o corpo. Porém, o cérebro e o corpo também trocam informações por meio de processos químicos, através da libertação na corrente sanguínea de substâncias como as hormonas e os péptidos.

O sistema nervoso central é constituído por sectores mais escuros e outros mais claros. Os primeiros, designados genericamente por “massa cinzenta”, são grupos de corpos celulares dos neurónios; os segundos, designados por “massa branca”, correspondem aos axónios, fibras nervosas que saem dos corpos celulares da massa cinzenta.

A massa cinzenta apresenta-se em duas formas distintas: uma, em que os neurónios se distribuem por camadas, numa estrutura denominada córtex (palavra latina que designa a casca, seja de uma fruta ou de uma árvore, especialmente a do sobreiro), que cobre tanto os hemisférios cerebrais (córtex cerebral) como o cerebelo (córtex cerebeloso); outra, em que os neurónios não se distribuem por camadas, mas em grupos de pequenas formações, os núcleos. Há núcleos de dimensões variáveis, desde os de maiores dimensões, como o caudatus, o putamen e o pallidum, que se encontram profundamente inseridos em cada hemisfério cerebral, ou a amígdala, escondida em cada lobo temporal. O tálamo é formado por um conjunto vasto de núcleos mais pequenos. Temos ainda a substantia nigra ou o nucleus cerulleus, pequenos núcleos individuais situados no tronco cerebral. O córtex cerebral é uma estrutura com cerca de três milímetros de espessura que cobre toda a camada superficial do cérebro, acompanhando todas as fendas, fissuras e sulcos que a constituem, o que lhe confere a aparência semelhante a cortiça, que lhe dá o nome. Toda a massa cinzenta situada abaixo do córtex (os núcleos e o córtex cerebeloso) é designada de subcortical.

O sistema nervoso periférico é constituído pelo conjunto de nervos que têm a função de ligar o sistema nervoso central ao corpo. Esta conexão realiza-se em dois sentidos, ascendente e descendente. Os nervos aferentes, ou seja, que transportam informações da periferia do corpo para o sistema nervoso central, são os nervos sensoriais. Os nervos eferentes, ou seja, que transmitem impulsos do sistema nervoso central para os músculos ou glândulas, são nervos motores. Existem ainda nervos mistos, formados por axónios de neurónios sensoriais e por neurónios motores. Os nervos cranianos partem do encéfalo, e os raquidianos partem da medula espinal.

O sistema nervoso periférico divide-se ainda em duas partes, segundo a sua estrutura e função, o sistema nervoso somático, ou voluntário, e o sistema nervoso visceral, ou autónomo. O sistema nervoso somático, que determina acções musculares voluntárias, tem por função reagir a estímulos exteriores. Estas acções resultam da contracção de músculos estriados esqueléticos. O sistema nervoso visceral, ou autónomo, tem como função regular o ambiente interno do corpo, controlando todas as funções dos sistemas cardiovascular, digestivo, endócrino ou excretor. Estas acções involuntárias resultam da contracção das musculaturas lisa e cardíaca. O sistema nervoso autónomo tem ainda duas funções complementares, consubstanciadas através do sistema nervoso simpático e parassimpático. Os nervos que os constituem provocam a libertação de diferentes hormonas, a noradrenalina, pelos neurónios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático (neurónios adrenérgicos), e a acetilcolina, pelos neurónios pós-ganglionares do sistema nervoso parassimpático (neurónios colinérgicos). O sistema nervoso simpático está relacionado com a libertação de energia, sendo responsável pelo aumento do ritmo dos batimentos cardíacos, da pressão arterial, e de vários padrões de aumento do metabolismo corporal. O sistema parassimpático contraria, de certo modo, esta acção, através da actividade inibidora da acetilcolina.

Em 4.2, estes processos serão objecto de uma análise mais aprofundada, quando nos detivermos

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