• Nenhum resultado encontrado

Descartes: onde se situa a emoção no meio da dicotomia mente – corpo

Anexo IV – Paradigmas de comportamento vocal – Valores totais de intensidade relativa dos parciais

Em 3.1, são referidas as diferentes abordagens da psicologia moderna relativamente à emoção, começando pela relação entre os processos cognitivos e emocionais segundo os modelos

2. A Emoção na Filosofia – Introdução

2.2. Descartes: onde se situa a emoção no meio da dicotomia mente – corpo

Reagindo à explicação da realidade através de princípios herdados da filosofia escolástica, baseados nos ensinamentos de Aristóteles, Descartes procura uma explicação racional que lhe permita atingir a verdadeira natureza das coisas. Aplicando o método filosófico da dúvida, põe em questão os princípios sobre os quais se baseia o que até aí era considerado como verdade, quer seja o que é captado através dos sentidos, quer através do raciocínio, procurando estabelecer um fundamento racional que podemos classificar como científico sobre o qual se possa basear todo o conhecimento humano:

“Nempe quidquid hactenus ut maxime verum admisi, vel a sensibus, vel per sensus accepi, hos autem interdum fallere deprehendi; ac prudentiae est nunquam illis plane confidere qui nos vel semel

deceperunt.”(Meditationes de prima philosophia, Amsterdam, 1685)48

Deixando de parte as questões filosóficas relativas ao campo específico da epistemologia, consideremos a sua contribuição para a questão da natureza do Homem, dividido num corpo, que não passava de uma massa inerte, e uma alma, de natureza divina, que conferia ao corpo todas as suas capacidades.

Descartes estabelece, nos seus Principia Philosophiae, editados em Amesterdão em 1644 e mais tarde publicados em Paris em tradução francesa, a distinção entre as componentes intelectual e corporal do Homem, que equipara ao intelecto, ou ao pensamento e à matéria:

“Non autem plura quàm duo summa genera rerum agnosco: unum est rerum intellectualium, sive cogitativarum, hoc est, ad mentem sive ad substantiam cogitantem pertinentium; aliud rerum materialium, sive quae pertinent ad substantiam extensam, hoc est, ad corpus. Perceptio, volitio, omnesque modi tam percipiendi quàm volendi, ad substantiam cogitantem referuntur; ad extensam autem, magnitudo, sive ipsamet extensio in longum, latum & profundum, figura, motus, situs, partium ipsarum divisibilitas, & talia.” (Principia, I, 47, Amsterdam, 1644)49

48 - “Pois tudo o que até aqui tomei como absolutamente verdadeiro, recebi-o quer dos sentidos, quer através dos sentidos; no entanto, descobri que eram por vezes enganadores, e é prudente nunca confiar inteiramente naqueles que já nos enganaram uma vez.”

A tradução deste passo, na versão francesa de 1647:

« Tout ce que j'ai reçu jusqu'à présent pour le plus vrai et assuré, je l'ai appris des sens, ou par les sens : or j'ai quelquefois éprouvé que ces sens étaient trompeurs, et il est de la prudence de ne se fier jamais entièrement à ceux qui nous ont une fois trompés. »

49 - “Não conheço senão dois géneros de coisas: uma é a das coisas do intelecto ou pensamento, ou seja, que pertencem à mente ou à substância pensante; e as outras, das coisas materiais, ou que pertencem à substância extensa, isto é, ao corpo. A percepção, a vontade e todos os modos tanto de conhecer como de querer, referem-se à substância pensante; por outro lado, a grandeza, tanto seja a extensão em comprimento, largura

As que pertencem ao campo do pensamento têm a sua origem na mente, ou substância pensante; as materiais, por seu lado, têm a sua origem na substância extensa, que equipara ao corpo. No campo intelectual – a substância pensante – inclui todas as capacidades cognitivas e volitivas, atribuindo ao campo da matéria – a substância extensa – todas as categorias espaciais. Todo o extenso conjunto de fenómenos que o Homem experimenta em si próprio, no entanto, não depende exclusivamente do corpo ou da mente, mas é originado pela estreita e íntima união da nossa mente com o corpo. Neste vasto campo de trabalho conjunto da mente e do corpo, Descartes inclui as sensações procedentes da nossa fisiologia, como a fome ou a sede, percepções dos sentidos, e mesmo as emoções:

“Sed & alia quaedam in nobis experimur, quae nec ad solam mentem, nec etiam ad solum corpus referri debent, quaeque, ut infra suo loco ostendetur a, ab arctâ & intimâ mentis nostrae cum corpore unione proficiscuntur: nempe appetitus famis, sitis, &c; itemque, commotiones, sive animi pathemata, quae non in sola cogitatione consistunt, ut commotio ad iram, ad hilaritatem, ad tristitiam, ad amorem, &c.; ac

e profundidade, a figura, o movimento, a situação, a divisibilidade das próprias partes, e outras semelhantes, pertencem à parte extensa”.

A tradução deste passo, na edição francesa de 1668:

(…) « La principale distinction que je remarque entre toutes les choses créées est que les unes sont intellectuelles, c'est-à-dire sont des substances intelligentes, ou bien des propriétés qui appartiennent à ces substances ; et les autres sont corporelles c'est-à-dire sont des corps, ou bien des propriétés qui appartiennent au corps. Ainsi l'entendement, la volonté et toutes les façons de connaître et de vouloir, appartiennent à la substance qui pense ; la grandeur, ou l'étendue en longueur, largeur et profondeur, la figure, le mouvement, la situation des parties et la disposition qu'elles ont à être divisées, et telles autres propriétés, se rapportent au corps. » (Principes de la Philosophie, Paris, 1668)

A natureza distinta do corpo e da parte pensante do Homem é analisada com maior detalhe na Meditação VI: “Et quamvis fortasse (vel potius ut postmodum dicam, pro certo) habeam corpus, quod mihi valde arcte conjunctum est, quia tamen ex una parte claram et distinctam habeo ideam mei ipsius quatenus sum tantum res cogitans, non extensa; et ex alia parte distinctam ideam corporis, quatenus est tantum res extensa, non cogitans, certum est me a corpore meo revera esse distinctum, et absque illo posse existere”.

(Meditationes de prima philosophia, Amsterdam, 1685) (“E, embora talvez (ou melhor, sem dúvida, como direi de seguida) eu tenha um corpo que me está firme e estreitamente ligado, porque, por um lado, eu tenho uma ideia clara e distinta de mim próprio, na medida em que sou uma substância pensante, não extensa; e por outro lado, tenho uma ideia distinta do corpo, na medida em que este é apenas uma coisa extensa que não pensa, é certo que eu* sou verdadeiramente distinto do meu corpo,** e que sem ele pode existir”.)

* ou seja, a minha alma, pela qual eu sou aquilo que sou (na versão francesa) ** é inteiramente e verdadeiramente distinta do meu corpo (na versão francesa)

« Et quoique peut-être (ou plutôt certainement, comme je le dirai tantôt) j'aie un corps auquel je suis très étroitement conjoint ; néanmoins, parce que d'un côté j'ai une claire et distincte idée de moi- même, en tant que je suis seulement une chose qui pense et non étendue, et que d'un autre j'ai une idée distincte du corps, en tant qu'il est seulement une chose étendue et qui ne pense point, il est certain que ce moi, c'est à dire mon âme, par laquelle je suis ce que je suis, est entièrement et véritablement distincte de mon corps, et qu'elle peut être ou exister sans lui. »

denique sensus omnes, ut doloris, titillationis, lucis & colorum, sonorum, odorum, saporum, caloris, duritiei, aliarumque tactilium qualitatum.” (Principia, I, 47, Amsterdam, 1644)50

Descartes vai procurar uma explicação para o modo como estas duas entidades de natureza distinta conseguem interagir. No “Traité des Passions de l’Âme”, afirma que, embora a alma esteja unida a todo o corpo, ela tem o seu assento (« siège ») corpóreo na glândula pineal, onde a sua acção é exercida, reflectindo a reciprocidade dos processos somáticos e mentais. Descartes rejeita a concepção de que essa morada se encontre no cérebro, como alguns defendem, por ser aí que estão ligados os órgãos dos sentidos, ou no coração, por ser aí que se sentem as paixões:

« Il est besoin aussi de savoir que, bien que l’âme soit jointe à tout le corps, il y a néanmoins en lui quelque partie en laquelle elle exerce ses fonctions plus particulièrement qu’en toutes les autres. Et on croit communément que cette partie est le cerveau, ou peut-être le cœur : le cerveau, à cause que c’est à lui que se rapportent les organes des sens ; et le cœur, à cause que c’est comme en lui qu’on sent les passions. Mais, en examinant la chose avec soin, il me semble avoir évidemment reconnu que la partie du corps en laquelle l’âme exerce immédiatement ses fonctions n’est nullement le cœur, ni aussi tout le cerveau, mais seulement la plus intérieure de ses parties, qui est une certaine glande fort petite, située dans le milieu de sa substance, et tellement suspendue au-dessus du conduit par lequel les esprits de ses cavités antérieures ont communication avec ceux de la postérieure, que les moindres mouvements qui sont en elle peuvent beaucoup pour changer le cours de ces esprits, et réciproquement que les moindres changements qui arrivent au cours des esprits peuvent beaucoup pour changer les mouvements de cette glande. » (Traité des Passions de l’Âme, 1649, Art. 31)

« (…) La raison qui me persuade que l’âme ne peut avoir en tout le corps aucun autre lieu que cette glande où elle exerce immédiatement ses fonctions est que je considère que les autres parties de notre cerveau sont toutes doubles, comme aussi nous avons deux yeux, deux mains, deux oreilles, et enfin tous les organes de nos sens extérieurs sont doubles ; et que, d’autant que nous n’avons qu’une seule et simple pensée d’une même chose en même temps, il faut nécessairement qu’il y ait quelque lieu où les

50 - “Porém, as outras coisas que experimentamos em nós próprios, que não podem ser atribuídas nem só à mente nem só ao corpo, e que serão explicadas abaixo, são originadas pela estreita e íntima união da nossa mente com o corpo; assim, o apetite devido à fome e à sede, ou, do mesmo modo, as emoções ou as paixões da alma, que não dependem apenas do pensamento, como a emoção devida à ira, ao bom humor, à tristeza, ao amor, etc.; e assim todos as percepções dos sentidos, como as da dor, das cócegas, da luz e das cores, dos sons, dos odores, dos sabores, do calor, da dureza, e de todas as qualidades tácteis.”

A tradução deste passo, na edição francesa de 1688:

« Il y a encore outre cela certaines choses que nous expérimentons en nous-mêmes, qui ne doivent point être attribuées à l'âme seule, ni aussi au corps seul, mais à l'étroite union qui est entre eux, ainsi que j'expliquerai ci-après : tels sont les appétits de boire, de manger, et les émotions ou les passions de l'âme, qui ne dépendent pas de la pensée seule, comme l'émotion à la colère, à la joie, à la tristesse, à l'amour, etc. ; tels sont tous les sentiments, comme la lumière, les couleurs, les sons, les odeurs, le goût, la chaleur, la dureté, et toutes les autres qualités qui ne tombent que sous le sens de l'attouchement. » (Principes de la Philosophie, Paris, 1668)

deux images qui viennent par les deux yeux, où les deux autres impressions, qui viennent d’un seul objet par les doubles organes des autres sens, se puissent assembler en une avant qu’elles parviennent à l’âme, afin qu’elles ne lui représentent pas deux objets au lieu d’un. Et on peut aisément concevoir que ces images ou autres impressions se réunissent en cette glande par l’entremise des esprits qui remplissent les cavités du cerveau, mais il n’y a aucun autre endroit dans le corps où elles puissent ainsi être unies, sinon en suite de ce qu’elles le sont en cette glande. » (Traité des Passions de l’Âme, Art. 32)51

Na segunda parte do seu « Traité des Passions de l’Âme », Descartes analisa os diversos tipos de emoção, procurando, em primeiro lugar, as suas causas. Estas podem ser os objectos captados pelos sentidos, ou pelas suas representações armazenadas no cérebro, ou ainda por causas relativas ao próprio metabolismo corporal:

« Or, encore qu’elles puissent quelquefois être causées par l’action de l’âme qui se détermine à concevoir tels ou tels objets, et aussi par le seul tempérament du corps ou par les impressions qui se rencontrent fortuitement dans le cerveau, comme il arrive lorsqu’on se sent triste ou joyeux sans en pouvoir dire aucun sujet, il paraît néanmoins, par ce qui a été dit, que toutes les mêmes peuvent aussi être excitées par les objets qui meuvent les sens, et que ces objets sont leurs causes plus ordinaires et principales ; » (Traité des Passions de l’Âme, Art. 51)52

51 - “É necessário saber que, embora a alma esteja unida a todo o corpo, todavia existe neste uma determinada parte onde ela exerce as suas funções de modo mais particular do que em todas as outras. É comum acreditar-se que esta parte é o cérebro, ou talvez o coração: o cérebro, porque é a ele que estão ligados os órgãos dos sentidos; o coração, porque é como se fosse nele que sentimos as paixões. Mas, examinando a questão com cuidado, parece-me ter demonstrado com evidência que a parte do corpo onde a alma exerce imediatamente as suas funções não é de modo algum o coração, nem também todo o cérebro, mas apenas a mais interior das suas partes, que é uma glândula bastante pequena, situada no meio da sua substância, e de tal modo suspensa sobre o canal pelo qual os espíritos das suas cavidades anteriores entram em comunicação com os da posterior, que os mínimos movimentos que existem nela têm grande poder para alterar o curso destes espíritos, e reciprocamente, que as mínimas alterações que chegam ao curso dos espíritos têm grande poder para mudar os movimentos desta glândula”.

“(…) a razão que me persuade que a alma não pode ter em todo o corpo qualquer outro lugar onde ela exerça imediatamente as suas funções senão esta glândula é que eu considero que as outras partes do nosso cérebro são todas duplas, do mesmo modo que temos dois olhos, duas mãos, duas orelhas, e, enfim, todos os órgãos dos nossos sentidos exteriores são duplos; e que, enquanto nós não temos senão um único e simples pensamento de uma coisa ao mesmo tempo, é necessário que haja um qualquer lugar onde as duas imagens que vêm pelos dois olhos, ou as outras duas impressões que vêm de um único objecto pelos órgãos duplos dos outros sentidos, se possam reunir numa antes que cheguem à alma, de modo a que não lhe representem dois objectos em vez de um. E podemos conceber facilmente que estas imagens ou outras impressões se reúnem nesta glândula pela mediação dos espíritos que enchem as cavidades do cérebro, mas não existe outro lugar no corpo onde possam desse modo ser unidas, excepto no modo como o são nesta glândula”.

52 - “Ora, ainda que elas possam por vezes ser causadas pela acção da alma que se determina a conceber tais ou tais objectos, e também pelo próprio temperamento do corpo ou pelas impressões que se encontram fortuitamente no cérebro, como acontece quando nos sentimos tristes ou alegres sem poder dizer qual a sua razão, parece, no entanto, pelo que foi dito, que todas elas também podem ser excitadas pelos objectos que estimulam os sentidos, e que estes objectos são as suas causas mais ordinárias e principais;”

De seguida, deixa-nos uma descrição exaustiva de situações emocionais, onde analisa um conjunto alargado de situações, onde cabem sentimentos, disposições e sensações, além das emoções. No entanto, estabelece um grupo de seis, que classifica como fundamentais, a que dá o nome de “paixões primitivas”. Estas não coincidem inteiramente com as que a generalidade dos psicólogos modernos consideram ser as emoções básicas, mas a sua elaboração segue um critério semelhante. Curiosamente, considera a primeira a admiração, a que se seguem o amor, o ódio, o desejo, a alegria e a tristeza, servindo estas de base para as restantes, que, ou são o resultado da combinação de duas ou mais, ou são casos mais específicos destas:

« (…) on peut aisément remarquer qu’il n’y en a que six qui soient telles ; à savoir : l’admiration, l’amour, la haine, le désir, la joie et la tristesse ; et que toutes les autres sont composées de

quelques-unes de ces six, ou bien en sont des espèces. » (Traité des Passions de l’Âme, Art. 69)53

Descartes também se interessa pelos mecanismos fisiológicos através dos quais se processam as emoções. Mesmo limitado pelo escasso desenvolvimento científico disponível, que o obriga a atribuir a uma entidade incorpórea – que denomina “os espíritos” – o meio de transmissão da energia que sustenta a vida, reconhece o envolvimento de órgãos internos e glândulas neste processo, atribuindo a causa da admiração ao cérebro, mas às cinco restantes, órgãos como o coração, o baço ou o fígado:

« tous ces mouvements des muscles, comme aussi tous les sens, dépendent des nerfs, qui sont comme de petits filets ou comme de petits tuyaux qui viennent tous du cerveau, et contiennent ainsi que lui un certain air ou vent très subtil qu’on nomme les esprits animaux. » (Traité des Passions de l’Âme, Art. 7) « leur cause n’est pas comme la sienne (l’admiration) dans le cerveau seul, mais aussi dans le cœur, dans la rate, dans le foie et dans toutes les autres parties du corps, en tant qu’elles servent à la production du sang et ensuite des esprits. » (Traité des Passions de l’Âme, Art. 96)54

A sua descrição dos sinais fisiológicos exteriores das emoções é bastante exaustiva:

53 - “podemos constatar facilmente que não há senão seis que sejam tais, a saber: a admiração, o amor, o ódio, o desejo, a alegria e a tristeza; e que todas as outras são compostas de algumas destas seis, ou então são suas categorias”.

54 - “todos estes movimentos dos músculos, tal como todos os sentidos, dependem dos nervos, que são como pequenos fios ou como pequenos tubos que vêm todos do cérebro, e contêm tal como ele, um certo ar ou vento muito subtil a que chamamos os espíritos animais.”

“a causa destes não está como a sua (a admiração) apenas no cérebro, mas também no coração, no baço, no fígado e em todas as outras partes do corpo, na medida em que servem para a produção do sangue e, em seguida, dos espíritos.”

« Les principaux de ces signes sont les actions des yeux et du visage, les changements de couleur, les tremblements, la langueur, la pâmoison, les ris, les larmes, les gémissements et les soupirs. » (Traité des

Passions de l’Âme, Art. 112)55

Detendo-se nas alterações dos olhos e da face, começa por dizer que todas as emoções provocam aí uma acção. Porém, considera que muitas alterações poderão ser tanto naturais como voluntárias, como as rugas na fronte, na cólera, ou certos movimentos dos lábios e do nariz, na indignação ou na troça. Por isso, acrescenta que esses sinais podem servir tanto para mostrar uma emoção como para a esconder, simulando outra. O mecanismo utilizado para este efeito não passa por uma imitação directa dos movimentos, mas pela imaginação de uma emoção distinta, que irá provocar essas alterações musculares:

« (…) toutes les actions, tant du visage que des yeux, peuvent être changées par l’âme lorsque, voulant cacher sa passion, elle en imagine fortement une contraire, en sorte qu’on s’en peut aussi bien servir à dissimuler ses passions qu’a les déclarer. » (Traité des Passions de l’Âme, Art. 113)56

No entanto, Descartes já tem consciência da diferença entre a origem distinta de certos aspectos somáticos na expressão emocional, ao constatar que essa simulação não é possível no rubor ou palidez:

« On ne peut pas si facilement s’empêcher de rougir ou de pâlir lorsque quelque passion y dispose, parce que ces changements ne dépendent pas des nerfs et des muscles, ainsi que les précédents, et qu’ils viennent plus immédiatement du cœur, lequel on peut nommer la source des passions, en tant qu’il prépare le sang et les esprits à les produire. » (Traité des Passions de l’Âme, Art. 114)57

São estas alterações a nível da circulação sanguínea que provocam o rubor e a palidez, nos casos da alegria, tristeza ou no susto, e que Descartes relaciona com a dilatação ou constrição dos “orifícios do coração” por onde o sangue deve passar, o que provoca aumento ou diminuição da temperatura:

55 - “Os mais importantes destes sinais são as acções dos olhos e da face, as mudanças de cor, as tremuras, a

Outline

Documentos relacionados