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ATIVIDADE DA HORTA

No documento Volume 1 (páginas 152-158)

FERREIRA V. L.; MUNOZ H S.; CHAVES P P O Efeito da Fragmentação e Isolamento

ATIVIDADE DA HORTA

A partir das intervenções socioambientais e da transformação social ocorrida no espaço educativo foi possível perceber o envolvimento, a intensa participação dos alunos, a mudança de atitudes, posturas e o reconhecimento da comunidade escolar sobre a importância de se trabalhar a Educação Ambiental na escola como uma prática pedagógica e social que exige a interferência dos cidadãos para com as questões ambientais na busca de alternativas e soluções para um determinado problema.

A realização da pesquisa voltou-se para a discussão da experiência de Educação Ambiental, ocorrida na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dilma Souza Cattete, situada no Conjunto Pedro Teixeira I Rua 02 S/N. Conjunto localizado no início da Rodovia Mário Covas, no bairro Coqueiro, em frente ao Conjunto Satélite.

A Escola Dilma Souza Cattete foi inaugurada em abril de 1981 e em homenagem rece- beu o nome da educadora Dilma Maria da Luz da Silva Souza Cattete, precursora na área de Orientação Educacional no Pará pela sua forma pedagógica em interagir com os alunos, os pais, os professores e demais atores sociais que atuam no ambiente escolar.

O local de pesquisa apresentou-se como um espaço relativamente bom o desenvolvi- mento de um trabalho de Educação Ambiental, pois a área em que a escola está inserida é bem

ampla, com terreno bem arborizado, contendo uma quadra de esportes, pátios e área de recrea- ção e refeitório bem espaçosa. As salas de aula são representadas por uma fileira de blocos de casas, uma atrás da outra em torno do terreno.

A maioria do material utilizado na pesquisa foi reutilizado pelos atores sociais envol- vidos no processo de investigação científica, como por exemplo: caixas de papelão para a im- plantação da coleta seletiva na escola, garrafas pet e de aluminío nas atividades das oficinas de brinquedos recicláveis, garrafas pet para a ampliação e o aperfeiçoamento da horta escolar, canecas permanentes (que foram compradas) para acabar com a utilização do uso dos copos descartáveis na sala dos professores, entre outros materiais necessários para a intervenção na escola.

Para a realização da pesquisa, foram utilizados procedimentos metodológicos que atendem às características da Pesquisa de Campo, entendida como uma pesquisa que “permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma pergunta, mas também estabelece uma interação com os “atores” que conformam a realidade”. (MINAYO, 2012, p.61).

O trabalho de campo na pesquisa qualitativa promove a interação entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados, assim como, solicita a abrangência de termos empíricos relacionados a aspectos teóricos para que se possa confrontar teorias e hipóteses com a realidade que está sendo vivenciada.

Dessa Maneira, entende-se que o trabalho em campo deve ser realizado a partir de referenciais teóricos, mas também, de alguns aspectos operacionais do pesquisador, como: ser curioso, ter um olhar dinâmico e atento para descobertas empíricas.

Esse tipo de pesquisa está dentro das chamadas pesquisas qualitativas, que segundo Minayo e Deslandes (2012, p. 21)

Responde a questões muito particulares. Ela se ocupa nas, Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que fez e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes.

Nesse processo de investigação científica, a pesquisa abordou os pressupostos da pesquisa-ação, que segundo Thiollent “[...] é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo” (2011, p.20).

É importante ressaltar que a pesquisa-ação é, muitas vezes, confundida com a pesquisa participante, mas pode-se dizer de acordo com as ideias defendidas por Thiollent (2011), que a pesquisa-ação vai além da participação, na medida em que, ela visa a uma ação planejada de caráter social, educacional, técnico, que nem sempre está nas propostas de pesquisa participante.

Para os registros das observações foram feitas anotações escritas e fotografias do ambiente pesquisado.

Durante a pesquisa de campo foi feito um plano de ações para a realização das etapas da pesquisa que envolveram: a oficina com os professores, a oficina com os alunos, o aperfeiçoamento da horta, um mutirão da limpeza, implantação da coleta seletiva e a socialização das atividades no dia da culminância com a comunidade escolar.

A pesquisa na escola teve a duração de seis meses e, começou desde janeiro até junho de 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A atividade desenvolvida na Escola foi com relação à intervenção para o aperfeiçoa- mento e ampliação da horta escolar que foi implantada no Projeto Jovens de Futuro pelos alu- nos do Ensino Médio.

Esse projeto objetivou levar os alunos a perceberem a horta como um espaço vivo, opor- tunizando a construção de conhecimentos, vivências e práticas de Educação Ambiental.Figura 8: Horta escolar antes da intervenção socioambiental.

Como a paralisação do Projeto Jovens de Futuro a horta ficou sem manutenção e por isso precisou da intervenção nesse espaço. Foi proposto nessa ação pedagógica o aperfeiçoa- mento da horta, que começou, primeiramente, com a limpeza do terreno e sucessivamente com a implementação das leiras produzidas com garrafas pet, solicitação de plantas de medicinais, hortaliças e leguminosas à comunidade ao entorno e, por fim, a construção da entrada e da placa de identificação da horta.

Para a limpeza do terreno da horta, os alunos tiveram que pegar no depósito da Escola alguns materiais, como: carrinho de mão, enxadas, ancinhos, vassouras e par para recolher os resíduos acumulados.

O mutirão para a horta contou com a participação de muitos alunos, desde aqueles do Ensino Fundamental até os do Ensino Médio.

A limpeza do terreno se fez durante três dias, depois se partiu para a organização das leiras de garrafa pet, porém não havia na escola a quantidade necessária de garrafas pet para a produção das leiras. Foi então que surgiu a ideia de mobilizar os alunos no sentido de estar indo até a comunidade para pedir a colaboração de doação de garrafas para a realização deste

trabalho.

Juntamente com um grupo de alunos, foi-se batendo de casa em casa no Conjunto Pe- dro Teixeira e, em outros conjuntos, como: o Jardim Sevilha, Orlando Lobato e outros, para dialogar sobre o trabalho e fazer o recolhimento das garrafas. Foi através dessa ação que se conseguiu garrafas suficientes para concluir as leiras.

A questão da participação desses alunos foi essencial para essa intervenção pedagógica na medida em que foi necessário dialogar com o grupo de alunos que foi formado para cons- truírem-se alternativas para a melhoria da horta escolar. Essa afirmativa só reforça a ideia que Reigota enfatiza sobre as ações pedagógicas

[...] as práticas pedagógicas de educação ambiental precisam estimular o contato e as relações com a comunidade. As saídas da sala de aula ou mesmo da escola devem, sempre que possível, ser realizadas [...] com o cotidiano das pessoas daquele local. (2009, p. 48-49.)

Desse modo, verifica-se que a Educação perpassa por todos os lugares e ocorre não somente em sala de aula, segundo as visões reducionistas, mas desde o momento que saímos de nossa casa indo a caminho da escola até chegarmos à sala de aula onde construímos conhe- cimentos e aprendizados. É como afirma Silva

A cada dia os alunos viam a modificação daquele espaço e sentiam desejo e estímulo de continuar o trabalho. Eles mesmos se organizavam em grupo para dividir as tarefas, uns en- chiam as garrafas, outros cavavam os buracos para enterrá-las, outros plantavam e outros iam colocando as placas de identificação das leiras.

Nessa atividade, foi possível perceber que os alunos do Ensino Fundamental, apesar de não participarem do projeto, se mostraram mais interessados e sentiam prazer em estar partici- pando de todas as intervenções propostas, além de mostrarem mudanças de valores, posturas em relação ao meio ambiente, mais do que os alunos do Ensino Médio, que já trabalhavam com Educação Ambiental e estavam incluídos no Projeto.

A intervenção na horta obteve bons resultados, no sentido de que houve a sensibiliza- ção, conscientização dos alunos sobre a importância da horta na Escola que contribuirá como complemento da merenda escolar, já que os produtos vão ser utilizados na alimentação da co- munidade escolar.

É importante lembrar, que nessa atividade, quando os alunos poderão ter a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento do próprio alimento, eles mesmos, terão a responsabilidade de estar mantendo a horta, fruto do próprio trabalho, além de que, esses alimentos presentes no ambiente escolar passarão a ter um novo significado, pois os mesmos compreenderão que antes dos alimentos chegarem ao mercado, eles passam por todo um processo de crescimento. Um processo em que todos poderão presenciar. Esse processo educativo de transformação como

diz, Blauth

“[...] ou conscientização, como queira chamar, passa por uma real transformação de visão de mundo, de atitudes, de discurso e da prática vivida no dia a dia [...] A relação consciência-ação guia uma cidadania responsável, conduz a mudança que queremos ver o mundo” (2006, p.41)

O estímulo dos alunos ao cultivo da horta fez com que se estabelecesse uma relação de responsabilidade e de cooperação na Escola, sendo estes, agentes de transformação de todo um processo de respeito ao meio ambiente e suas múltiplas formas de vida.

Desse modo, essa perspectiva de Educação trouxe a possibilidade de estabelecer um elo entre os aspectos naturais e sociais daquele ambiente educativo, pois foi possível perceber atra- vés de diálogos com alguns alunos, os que mais se engajaram e se motivaram, que o trabalho de intervenção deveria continuar.

O diálogo nessas atividades serviu como instrumento de confiança mútua, troca de ideias e conhecimentos que possibilitaram intervenções adequadas aos vários problemas que os resíduos estavam trazendo para a comunidade escolar.

CONCLUSÃO

As intervenções de Educação Ambiental realizadas para o enfrentamento da problemáti- ca dos resíduos sólidos na Escola Dilma de Souza Catete trouxeram importantes contribuições, tanto no aspecto teórico como prático para aquela realidade, que tinha o lixo como um dos seus mais graves problemas socioambientais.

As ações desenvolvidas na Escola possibilitaram diversos momentos de aprendizagem sobre as origens, as causas, as possíveis formas de como tratar ou trabalhar o lixo produzido no ambiente educativo e, por fim, possibilitaram o intercambio dessa problemática com as dimensões políticas, culturais, econômicas, sociais e outras determinantes para relação com o meio ambiente. Elas proporcionaram aos alunos a ampliação de seus conhecimentos a respeito dos temas abordados, como: educação ambiental, problemas socioambientais, resíduos sólidos, reciclagem e coleta seletiva; concepções vistas, anteriormente, de forma reducionista.

As práticas educativas na Escola, desde então, trouxeram bons resultados em termos de mudança de atitudes, posturas e participação em atividades voltadas para a intervenção da realidade naquele espaço. Todo esse processo de intervenção e transformação social no espa- ço educativo fez com que os alunos reconhecessem a importância da Educação Ambiental na Escola, não só por terem percebido as mudanças no espaço escolar, mas também pela grande satisfação que esse tema lhes proporcionou. Eles chegaram a mencionar a necessidade de esse trabalho permanecer na Escola no decorrer do ano letivo, desenvolvendo ações como aquelas, que trouxeram uma metodologia prazerosa e bastante motivadora para alcançar mudanças con- sideráveis no ambiente escolar.

O mais relevante nesse processo todo foi o envolvimento da comunidade escolar, a mo- tivação e a vontade de participar da maioria dos alunos de todas as intervenções socioambien- tais propostas para melhorar o ambiente escolar e principalmente encontrar alternativas para enfrentar a problemática dos resíduos sólidos na escola.

REFERÊNCIAS

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PROJETO APA DE GUAPI-MIRIM NAS ESCOLAS: EDUCAÇÃO AMBIENTAL

No documento Volume 1 (páginas 152-158)