• Nenhum resultado encontrado

RESULTADOS E DISCUSSÕES

No documento Volume 1 (páginas 35-38)

No município de Armação dos Búzios a EA foi inicialmente implementada no ensino fun- damental de forma disciplinar entre os anos de 2006 e 2009, quando houve mudança de governo e a disciplina foi extinta. Existem críticas mútuas. Alguns dos professores da fase disciplinar alegam que a nova gestão acabou com um projeto que estava dando certo devido a interesses

políticos e, membros da SEMED envolvidos com o fim da disciplina alegam que foi feito o que estava disposto e preconizado na lei.

Já o relato da nova gestão, alega que a disciplina de EA foi oficialmente eliminada, devido ao fato de haver diretrizes em documentos oficiais e a lei 9.795/1999 que determinam que a E.A no contexto escolar não deve ser disciplinar. Assim, a partir de 2010 a EA passou a ser trabalha- da na forma de palestras e saídas de campo e nos anos de 2011 e 2012 foi implementada como oficina no contraturno de escolas de um dos bairros de Búzios. Foi ressaltado que grande parte dos professores não possuía formação para realizar projetos de EA e mesmo se tivessem, não teriam interesse nem didática e conhecimento para problematizarem questões nas suas aulas. Para Silva et al (2012), analisando os argumentos apontados pelos criadores das disciplinas de EA em Búzios, a defesa pela disciplina não se sustenta. Os autores apontam que a falta de conteúdos específicos, de um corpo docente especializado, o espaço maior na matriz curricular, contribuíram para uma que a EA fosse para segundo plano e após alguns anos se extinguisse.

A pesquisa aponta para uma fragilidade do processo educativo em Búzios, presente na falta de formação dos professores envolvidos com a trajetória da EA no município em todas as fases pesquisadas. Quase a totalidade dos professores de EA entrevistados não teve contato prévio com a EA, dentro ou fora das universidades que os formaram. Um pequeno grupo decla- rou ter tido contato prévio com a EA em suas graduações, porém afirmaram que a abordagem não foi suficiente para que pudessem trabalhar com segurança. Nesse contexto, Souza et al (2011), ao analisarem os cursos de licenciatura da Universidade Federal Fluminense, ressalta- ram a visão naturalista e antropocêntrica ainda predominante nos futuros docentes, bem como o distanciamento que a maior parte dos cursos possui com relação as questões ambientais. Com exceção dos cursos de Ciências Biológicas e Geografia que demonstraram uma visão mais contextualizadora sobre a questão ambiental, nos demais cursos, foi percebido um desconheci- mento- por completo - sobre Educação Ambiental.

Outro dado se refere aos professores da disciplina de EA, que em sua maioria afirmou ter sido difícil ministra-la, pois se sentiram solitários, perdidos, confusos, sem orientação e ma- terial didático para lhes dar suporte, o que fazia com que as aulas ficassem “soltas” e desmoti- vassem os alunos. Alguns consideraram, inclusive, a experiência angustiante e afirmaram nunca mais querer trabalhar com a EA, visto a quantidade de problemas e confusões que enfrentaram. Dessa forma, a experiência de lecionar uma disciplina de EA ocasionou o oposto do que se ob- jetivou com sua criação: uma aversão à EA por alguns professores.

Um dos pontos ressaltados pela quase totalidade dos professores foi, principalmente, a insatisfação do grupo da disciplina ser ministrada por somente um professor. Informam que a descrença dos demais professores foi a falta de apoio, o que se constituiu num contexto pre- judicial a manutenção da disciplina. Para Dib-Ferreira (2010) com a disciplinarização da EA, passa-se a ter a responsabilidade de dar conta de todas as dimensões complexas da realidade a

somente um professor com dias e horários pré-definidos no calendário escolar.

Não por acaso, (DEMO, 1993) enfatiza que para a educação ser ambiental é preciso rigor e responsabilidade por parte dos profissionais envolvidos com todo o processo, no sentido de apropriação do conteúdo, leituras constantes e a postura própria de um pesquisador. Para o autor, tanto a universidade como a escola não devem buscar sujeitos aprendizes, mas sujeitos pesquisadores, ‘’mestres capazes de projeto próprio’’ (p.129).

Alguns professores que voltaram a dar aulas de ciências com o fim da disciplina, afirma- ram ter facilidade em trabalhar o meio ambiente dentro de sua disciplina atual, sem a necessi- dade de haver uma disciplina específica para isso. Para alguns, isso se deve a experiência que tiveram com a disciplina, à época, bem como ao fato de que: ‘’falar do meio ambiente tá na moda’’ (trecho da entrevista cedida para a presente pesquisa).

O fim da disciplina foi justificado pelo coordenador de EA pelo fato da gestão seguinte, acreditar que a interdisciplinaridade é a forma ideal de inserção da EA no ensino fundamental. No entanto, quase todos os outros entrevistados afirmaram que o fim da disciplina foi devido a troca de governo e, portanto, pela falta de continuidade política.

Lima (2010) ressalta que discursos contra e favor da disciplinarização da EA acabam não sendo produtivos e são preocupantes, pois acabam por encobrir questões ‘’bem mais rele- vantes em relação à inserção da Educação Ambiental nos contextos escolares’’. Dessa forma, é preciso uma concepção epistemológica que supere a leitura reducionista da realidade, que per- mita esclarecer as questões políticas e culturais que se relacionam com a degradação ambiental.

CONCLUSÃO

Apesar dos governos terem assumido posições diferentes com relação a forma de inserção da EA no ensino fundamental, poucas mudanças qualitativas foram observadas. As concepções de EA, meio ambiente, educação e conhecimento presentes nos atores envolvidos com a EA, a forma como a disciplina foi criada, sem uma movimentação maior por parte dos professores e o modo como a disciplina foi extinta sem diálogo junto a equipe envolvida com a disciplina, formaram um contexto desafiador para a incorporação de uma EA crítica.

Além das problemáticas em relação à formação dos professores, outro fator que contri- buiu para fragilizar a trajetória da EA no município foi a descontinuidade política. Com a mu- dança de governo, os professores foram desligados sem muitas explicações, não houve diálogo entre as gestões sobre a disciplina criada. Informações importantes foram perdidas devido ao bang bang político

A polêmica em torno da melhor forma de inserção da dimensão ambiental na educação e as dúvidas existentes nos professores podem apresentar um espaço interessante para discussões sobre a questão ambiental, que, está longe de ser um problema redutível a soluções e receitas

prontas. Ridicularizar aqueles que são a favor da EA como disciplina e banalizar o assunto como se este já estivesse decidido, acaba por ferir os próprios princípios da educação ambiental.

No documento Volume 1 (páginas 35-38)