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DELINEAMENTO METODOLÓGICO

No documento Volume 1 (páginas 132-139)

FERREIRA V. L.; MUNOZ H S.; CHAVES P P O Efeito da Fragmentação e Isolamento

DELINEAMENTO METODOLÓGICO

Neste trabalho é apresentado um recorte de uma pesquisa maior que analisou as abor- dagens de EA, meio ambiente e ecossistema Manguezal em livros didáticos de Biologia utili- zados na rede pública de João Pessoa referente ao período de 2000 a 2010, aqui, apresentamos as análises apenas das abordagens de EA nas obras do período de 2005 a 2009, (ver quadro 01 abaixo), justificado anteriormente.

Quadro 01: Identificação dos livros didáticos utilizados na análise de conteúdo no período de 2005 a 2010.

Esta pesquisa foi de natureza qualitativa, e utilizou como pressupostos metodológicos elementos da Análise Conteúdo proposta por Bardin (2011). De acordo com a autora trata-se de “uma técnica ou um conjunto de técnicas que compreendem etapas ou fases que determinam sua análise”. Assim sendo, a análise compreende três principais fases: a pré-análise; a exploração do material; o tratamento dos resultados que consiste na inferência e a interpretação destes (BARDIN,

2011, p. 89). Inicialmente determinamos os livros didáticos a serem analisados a partir do intervalo de tempo determinado, nesta parte realizamos uma leitura “flutuante” do material, procurando reconhecer as possíveis tendências e indicadores, assim como a frequência destes ao longo do corpo dos documentos pesquisados. Os livros analisados consistem em 6 volumes dos quais 3 são volumes únicos.

Em um segundo momento, realizaremos a “exploração do material”, na qual os dados coletados serão tratados através de recortes, agregação e enumeração (BARDIN, 2011, 78). A partir da fase inicial de pré-análise buscamos determinar as unidades de registro e poste- riormente a construção das categorias a serem utilizadas a partir de um agrupamento quanto à semelhança. Ao final, em uma terceira etapa interpretaremos a partir da inferência as diferentes “mensagens” a partir das categorias e seus componentes.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Buscaremos agora tecer algumas reflexões a partir das analises da abordagem da educa- ção ambiental nos LD, em uma tentativa de problematização de algumas perspectivas presentes nas abordagens deste material didático.

Nos LD referentes ao ano de 2005, os autores Lopes e Rosso ao abordarem a EA apre- sentaram algumas perspectivas, das quais podemos evidenciar: a racionalista que buscou enfa- tizar a necessidade da mudança comportamental de acordo com a disponibilidade dos recursos (ver quando 15); a participativa, em um sentido de coletividade e articulação, como por exem- plo, representadas a partir da fiscalização e das ações educativas; as políticas públicas, que apesar de destacar a importância do uso sustentável dos recursos articulou a necessidade dos elementos culturais dos sujeitos envolvidos, objetivando uma melhor qualidade de vida.

A partir de alguns elementos presentes nas unidades de registros no quadro abaixo con- sideramos importante destacar que constituintes presentes nestas mensagens como a transfor- mação, o conhecimento em rede objetivando a preservação, a coletividade e a racionalidade são aspectos “ocultos” evidenciados na obra dos autores que refletem suas posições políticas, assim como suas ideologias, as quais devemos estar atentos para as possibilidades de sua reprodução num estado de “inconsciência” nas práticas docentes.

Quadro 02: Categorias e unidades de registro referente à educação ambiental na coletânea 01. Fonte: Dados da pesquisa.

As unidades de registros, destacadas no quadro acima, fazem alusão a necessidade da preocupação com a natureza e os impactos sociais que algumas inferências da sociedade nes- te meio possam causar, assim como a crítica ao modo de vida da sociedade e sua necessária transformação, mas omitem a dimensão política e de conflito social que destas, a exemplo da seguinte afirmação: “A civilização humana terá que transformar o seu modus vivendi e buscar de forma incessante a harmonia e o respeito não somente entre os seres humanos, mas também, mais do que nunca, entre os seres humanos e a natureza”.

No ano seguinte, na obra de Silva Júnior e Sasson (2006) observamos uma maior fre- quência da perspectiva de conscientização, destacando a ação educativa e participativa. Acredi- tamos ser importante a ação educativa e a articulação desta às dimensões socioculturais, como o autor destaca ao apresentar a importância da percepção ambiental, do ecoturismo, de novas tec- nologias e de campanhas de sensibilização à educação ambiental. Segundo Tozoni-Reis (2004, p.49) a EA é construída na relação entre os conhecimentos e as relações sociais que constrói e é construída no e pelo novo paradigma da responsabilidade da ação humana na natureza e na sociedade. Em meio a este contexto é importante estarmos atentos para que as articulações da ação educativa e participativa não torna-se uma ação esvaziada de uma reflexão das relações sociedade e natureza. Implicando em um “apelo ao bom senso” que segundo Layrargues e Lima (2014, p.31) a EA será uma expressão do Mercado, “deixando a margem a questão da distribui- ção desigual dos custos e benefícios dos processos de desenvolvimento e resulta na promoção

de reformas setoriais na sociedade”.

Quadro 03: Categorias e unidades de registro referente à educação ambiental na coletânea 02. Fonte: Dados da pesquisa.

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Para a obra analisada no ano de 2007, é importante destacarmos que este é o primeiro ano do PNLEM (Programa Nacional de Livro didático do Ensino Médio) de maneira que o MEC (Ministério de Educação) passa a avaliar os livros produzidos pelas editoras destinados ao ensino médio, ampliando assim a distribuição destes. Uma questão importante a ser discutida neste trabalho, mas que devido ao espaço seremos breve, diz respeito ao o processo de seleção do LD que de um modo geral permite a centralidade no PNLEM ou descentralização na distri- buição desse material didático, possibilitando que os governos estaduais possam participar da escolha do LD que será distribuído nas escolas. Uma “aparente escolha pelas escolas”, mas que reflete na centralidade de algumas poucas editoras que predomina no mercado, uma realidade refletida na nossa pesquisa, na qual podemos observar que predominantemente se sobressai a editora Saraiva. O que nos possibilita uma reflexão quanto a essa centralização que de acordo com Höfling (2000, p.163), ao realizar algumas pesquisas1 sobre a implementação do Programa de Livro Didático (PNLD) pelo governo, o autor considera significativo discutir e analisar a compra de milhões de LD, pelo Estado, de um número reduzido de editores, situação que vem se confirmando por um longo período.

Ao longo do volume único dos autores Linhares e Gewandsznajder, foram apresentadas sucintas abordagens de EA (ver quadro 21) tendo como principal foco as categorias de desen- volvimento sustentável, a partir das quais destacaram a importância de um consumo sustentável enquanto estratégia eficaz para a manutenção das próximas gerações. Reduzindo-se apenas a categoria do consumo, que segundo Zacarias (2009, p.21) deve ser problematizada e compreen- dida enquanto parte de um processo que inclui os elementos da produção, distribuição, circula- ção e consumo em sua totalidade.

1 Discussões abordadas em seu artigo: Notas para discussão quanto à implementação de programas de go- verno: Em foco o Programa Nacional do Livro Didático na Revista Educação & Sociedade, ano XXI, nº 70, 2000.

Uma perspectiva que evidenciamos é a participativa, apresentada na unidade do livro referente à ecologia, no capítulo de equilíbrio ambiental, esta ao abordar as implicações quanto à poluição propõe também possíveis soluções para problemáticas em questão, enfatizando a importância das associações de bairro e os movimentos ecológicos na busca de melhorias para proteção do ambiente. Assim como a perspectiva de desenvolvimento sustentável, bastante pre- sente nas abordagens de livros analisados anteriormente, que apesar de enfatizar a necessária mudança nos padrões de vida da sociedade, precisa também permitir a problematização e refle- xão das causas e efeitos das problemáticas ambientais e relações sociais (Ver quadro 03). Além disso, é importante destacarmos que nesta coletânea e em algumas anteriores as abordagens ambientais e/ou de educação ambiental estão principalmente nos capítulos referentes à ecologia e em sua maioria apresentados em quadros discursivos, contrariamente a ideia de transversali- zação da temática ambiental.

Quadro 04: Categorias e unidades de registro referente à educação ambiental na coletânea 03. Fonte: Dados da pesquisa

Nesta última parte da discussão optamos por dialogar com as unidades de registro da coletânea 09 e 10 de maneira que suas unidades de contextos, mais especificamente os LD a que pertencem são da mesma autora e apesar de serem do ano de 2008 e 2010, respectivamente, apresentam abordagem bastante semelhantes, diferenciando-se na estruturação. Na qual, a co- letânea 9 consiste num volume único e a coletânea 10 em 3 volumes, é importante salientarmos que devido alguns problemas, não conseguimos localizar obras pertencentes ao ano de 2009, pois as escolas visitadas não os possuía mais.

Nestas obras, Lopes (2008; 2010) fez poucas abordagens relativas a EA, a partir das quais observamos uma ênfase na necessidade de mudança comportamental bastante presente numa concepção inicial da EA, ressaltada por Carvalho (2004, p.48) como uma perspectiva que evidencia uma prática de conscientização capaz de chamar a atenção para a finitude e acessi- bilidade aos recursos naturais propondo envolver os cidadãos em ações sociais ambientalmen- te apropriada. Mas que acabam desvinculando-se das dimensões culturais, sociais e políticas presentes na dinâmica das questões ambientais enquanto campo plural do conhecimento, como no seguinte discurso, “A mudança de comportamento é resultado de um trabalho de educação ambiental desenvolvido junto com a parte científica”.

Na coletânea referente ao ano de 2010, Lopes em parceria com Rosso, evidenciou a concepções de uma EA em uma perspectiva conscientizadora que enfatiza o homem enquanto parte da natureza, assim como unidades de registros destacadas anteriormente visam alcançar um consumo sustentável, que apesar da sua importância não pode torna-se um discurso des- politizado, evidenciado na seguinte afirmação: “Uma possível solução é a sensibilização da sociedade, que precisa urgentemente rever seus padrões de consumo e buscar alternativas de desenvolvimento sustentável”. Um ponto importante nestas unidades de registro a ser consi- derado é a universalização das problemáticas ambientais, com isso não propomos uma “hi- percontextualização”, mas o país possui distintas regiões nas quais as condições não podem ser homogeneizadas, a exemplo das particularidades da região nordeste que compreende uma área de semiárido que corresponde ao bioma caatinga. Assim, é importante ressaltarmos que os diferentes grupos sociais mantêm uma relação com o ambiente de distintas formas e que não pode ser um discurso unicamente ambientalmente-universalista (TOZONI-REIS, 2004, p.140), sendo necessário atentarmo-nos para estas questões que estão ocultas nos materiais didáticos.

Quadro 05: Categorias e unidades de registro referente à educação ambiental na coletânea 04. Fonte: Dados da pesquisa

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as analises observamos que as perspectivas que se destacaram estavam relacio- nadas a conscientização, as ações participativas, a preservação da natureza e a intervenção de políticas públicas, esta ultima como uma possibilidade para contribuir no processo educativo no campo ambiental, mas sempre relacionada ao contexto da elaboração de leis que visam a inter- venção governamental e civil nas problemáticas ambientais. Uma perspectiva frequentemente abordada nos materiais analisados está relacionada a necessidade da presença da sustentabilida- de e consumo sustentável na sociedade enquanto alternativa para as problemáticas ambientais e seus possíveis efeitos para sociedade. Consideramos que este é um reflexo da Assembléia Geral das Nações Unidas que estabeleceu a resolução n°254, declarando o ano de 2005 como o início da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável.

De modo geral, devido ao percurso histórico da EA no Brasil, observamos que as tendên- cias “ecologistas” apareceram predominantemente nas coletâneas de LD que passam a abordar também a participação coletiva e a necessidade de ações educativas, caracterizando-se como importante aspecto para discussão da EA. Remetendo-nos a uma EA que não pode ser mais compreendida apenas a partir de uma unicidade, mas caracterizada por seu caráter plural e mul- tidimensional para necessária problematização da relação sociedade e natureza. Assim como a abordagem destas temáticas nos LD, que por sua vez constitui-se enquanto um importante re- curso didático frequentemente utilizado nas escolas do país, sendo necessário refletirmos sobre os processos que envolvem a seleção, avaliação e escolha destes materiais, além da legitimação dos conhecimentos abordados nos LDs que não se caracteriza enquanto um processo baseado na neutralidade das escolhas, mas envolvem conflitos e jogos de poder.

REFERÊNCIAS

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VIVENCIANDO A SUSTENTABILIDADE NA ESCOLA MUNICIPAL E EM OU-

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