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A TEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS, UM DESAFIO A SER ENFRENTADO.

No documento Volume 1 (páginas 187-194)

FERREIRA V. L.; MUNOZ H S.; CHAVES P P O Efeito da Fragmentação e Isolamento

A TEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS, UM DESAFIO A SER ENFRENTADO.

Marianne Torres da Costa Teixeira Maria de Fátima de Souza RESUMO

A temática socioambiental na escola envolve muitos aspectos, nesse sentido muitas iniciativas de programas, projetos e ações têm sido propostas por instituições públicas, privadas e orga- nizações não governamentais. Conhecer o alcance e aprofundamento dessas iniciativas é um passo fundamental para se dá prosseguimentos ou para propor novos trabalhos na temática socioambiental em escolas. Considerando isso, o objetivo deste trabalho foi fazer um levanta- mento da ocorrência ou não de ações ambientais em escolas públicas situadas em municípios dos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Um instrumento com questões objetivas e discursivas foi construído para servir de interface entre pesquisadores e representantes das escolas incluídas no estudo. Foram aplicados os instrumentos em 36 escolas, sendo 50,0 % da rede municipal e 50,0 % da rede estadual de ensino. Em 34 dessas escolas funciona o ensino fundamental exclusivamente ou em associação com ensino médio e EJA. As ações ambientais foram mais frequentes nas escolas onde funciona apenas o ensino fundamental (33,3 %); bem como a ocorrência de coleta seletiva (5,5 %), COM-VIDA (22,2 %) e Escolas Sustentáveis (11,1 %). Vários problemas socioambientais foram apontados como interferindo no interior da escola, tais como, escassez de árvores, mau uso da água, pichação, drogas, violência, má ali- mentação (44,4 %). Problemas semelhantes a esses foram apontados para o entorno da escola (38,8 %). Esses dados indicam a importância e necessidade de se propor ações que abranjam a perspectiva socioambiental nas escolas.

Palavras-chave: Ações ambientais, Escolas, Problemas socioambientais. INTRODUÇÃO

As questões ambientais estão cada vez mais presentes no cotidiano da sociedade e con- sequentemente, no interior das escolas. Isso se deve, principalmente, ao aumento da preocu- pação das pessoas com a degradação ambiental que vem causando mudanças importantes em nosso planeta, alterando o modo de vida de boa parte da sociedade.

A degradação ambiental é um problema global, que envolve as mudanças climáticas, a destruição da camada de ozônio, a devastação de florestas, e a poluição do ar, do solo e da água, além de comprometer os mananciais e de promover a diminuição da biodiversidade. (BRAZ et al, 2014, p.149)

As instituições de ensino, por sua vez, já se demonstram conscientes da importância de se inserir a temática ambiental em seus currículos, aproximando as crianças dessa problemática. Essa iniciativa contribui significativamente para formação de cidadãos mais conscientes, pron- tos para atuar na realidade socioambiental e praticar ações comprometidas com a vida e o bem- -estar de sua família, escola e comunidade. Além disso, as crianças são ótimas transmissoras de

informações e podem ser utilizadas como multiplicadores das ações ambientais aprendidas no ambiente da escola.

A Educação Ambiental está também na Lei nº 9.795/99, que estabelece a Política Na- cional de Educação Ambiental. A Lei afirma em seu Artigo 2º, que “a EducaçãoAmbiental é um componente essencial e permanente na Educação nacional, devendoestar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processoeducativo, em caráter formal e não- -formal” (BRASIL, 1999 p. 1).

Segundo a UNESCO (2005 p. 44), “Educação ambiental é uma disciplina bem estabe- lecida que enfatiza a relação dos homens com o ambiente natural, as formas de conservá-lo, preservá-lo e de administrar seus recursos adequadamente”. Dessa forma, “incluindo a EA na escola pode-se preparar o indivíduo para exercer sua cidadania, possibilitando a ele uma parti- cipação efetiva nos processos sociais, culturais, políticos e econômicos relativos à preservação do nosso planeta” (MEDEIROS et al, 2011, p.3).

A temática socioambiental na escola envolve muitos aspectos, nesse sentido muitas ini- ciativas de programas, projetos e ações têm sido propostas por instituições públicas, privadas e organizações não governamentais. Conhecer o alcance e aprofundamento dessas iniciativas é um passo fundamental para se dá prosseguimentos ou para propor novos trabalhos dessa natu- reza em escolas.

Partindo do pressuposto, o presente trabalho teve como objetivo realizar um levanta- mento da ocorrência ou não de ações ambientais em escolas públicas situadas em municípios dos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Para tal, foi utilizado um instrumento com questões objetivas e discursivas utilizado como método para definir o perfil das escolas in- cluídas no estudo. A escolha das escolas se deu de forma aleatória e os resultados analisados estatisticamente.

METODOLOGIA

Um instrumento com questões objetivas e discursivas foi construído para servir de in- terface entre pesquisadores e representantes (diretor, vice-diretor ou coordenador) das escolas incluídas no estudo. Foram aplicados os instrumentos em 36 escolas, sendo 50,0 % da rede municipal e 50,0 % da rede estadual de ensino, sendo que em 34 delas funciona e ensino funda- mental exclusivamente ou em associação com ensino médio e EJA.

As escolas foram selecionadas aleatoriamente, e estão localizadas nos seguintes muni- cípios: Barcelona, Bom Jesus, Caiçara do Rio do Vento, Campo redondo, Coronel Ezequiel, Currais Novos, Eloi de Souza, Lagoa de Pedras, Lajes Pintadas, Monte Alegre, Natal, Parelhas, Parnamirim, Riachuelo, Rui Barbosa, Santa Cruz, São Paulo do Potengi, São Tomé, São Bento do Trairi e Tangará, no Rio Grande do Norte; e João Pessoa e Nova Floresta, na Paraíba (mapa

1).

MAPA 1: Municípios onde se situam as escolas abrangidas no estudo (indicadas e em cor vinho)

Fonte: Google. Com adaptações.

O instrumento aplicado continha nove questões que objetivavam avaliar, primeiramente, o perfil institucional: nome da escola, nome do gestor e dimensão do público escolar e depois a temática socioambiental. Com relação a esta, foram utilizadas questões que buscaram resgatar a periodicidade da realização das ações ambientais, o interesse das escolas em implantar, ampliar ou fortalecer as atividades em Educação Ambiental (EA), programas e projetos já realizados pela escola, sejam eles voltados para a EA ou não, realização da coleta seletiva, participação da escola na Conferência Infanto-Juvenil, bem como problemas socioambientais observados no interior e no entorno da escola.

A questão que se referia à coleta seletiva poderia ser respondida com sim ou não, em caso de resposta positiva, era solicitado que o entrevistado dissesse o destino do material cole- tado: lixão, aterro sanitário, cooperativa ou não conhecido. Quanto à questão referente à parti- cipação da instituição em programas e projetos ou atividades de EA, novamente a resposta po- deria ser sim ou não. Caso fosse positiva, o entrevistado deveria selecionar uma ou mais opções dentre as seguintes: COM-VIDA, Escolas Sustentáveis, Coletivo Jovem, indicando em paralelo se as atividades referentes funcionavam bem, de forma precária ou se encontravam suspensas além de, quais as pessoas envolvidas e quais os parceiros.

Outros programas e projetos também abordados no questionário, que são importantes por envolverem as temáticas socioambiental, cultural e de ensino/aprendizagem foram: Saúde na Escola, Escoteiro, Mais Educação, deputado Jovem, PROERD e outros.

As duas últimas questões eram abertas, com resposta livre e diziam respeito aos proble- mas socioambientais identificados no interior e no entorno da escola. Por se tratar de perguntas abertas, as respostas foram agrupadas em categorias de acordo com o grau de semelhança de seu significado dentro do contexto abordado, da seguinte forma.

Em problemas socioambientais no interior da escola, pontos como coleta de lixo, coleta seletiva, lixão, lixo nas salas, desperdício de papel e ausência de coletores foram enquadrados em gestão de resíduos; depredação do ambiente, poluição sonora, desperdício de água, queima- das, pouca arborização e ausência de horta, foram enquadrados em condições socioambientais. Objetos em desuso, tais como livros, cadeiras, eletrônicos, que ocupam espaços que poderiam estar sendo usados com atividades educacionais, foram agrupados em acúmulo de objetos.

Em problemas socioambientais no entorno da escola, pontos como presença de ma- tadouro de animais e demais atividades de cultivo e criação foram enquadradas em atividade agropecuária. Em condições socioambientais foram incluídas reclamações a respeito do uso de drogas, consciência ecológica, violência, prostituição. Lixão a céu aberto, falta de saneamento, coleta seletiva ausente e falta de depósitos para lixo foram classificados como gestão de resí- duos. E poluição de rios e lagos, poluição sonora e de vias públicas foram enquadradas como poluição. As demais questões eram objetivas, com respostas fechadas, sim ou não.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da análise dos 36 questionários aplicados foi possível observar que, 50,0 % das escolas eram de domínio público municipal e 50,0 % estadual. Sendo que, pouco mais de 33,0 % delas abrange apenas o ensino fundamental, 27,7 % contam com ensino fundamental, médio e EJA e pouco mais de 38,0 % contam com pelo menos um dos níveis de ensino (gráfico 1).

GRÁFICO 1: Níveis de ensino abrangidos pelas instituições

No que diz respeito à realização de ações ambientais escolas de todos os níveis apre- sentam algo nesse sentido, sendo o maior percentual observado (33,3 %) nas escolas de ensino fundamental, exclusivamente. Segundo dados da SECAD/MEC (2006: p.12), em 2001, 61,2 % das escolas do ensino fundamental declararam trabalhar com educação ambiental e, em 2004,

este percentual sobe para 94,0 % das escolas.

Já a coleta seletiva foi ausente em escolas com EJA, exclusivamente ou em concomi- tância com o ensino fundamental (Gráfico 2). Em todo caso a ocorrência de coleta seletiva foi muito baixa, refletindo a realidade do país em relação às políticas públicas pertinentes ao assunto. Vale aqui se ressaltar a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a qual refere dentre os instrumentos a coleta seletiva e a educação ambiental (BRASIL, 2010 p. 5) e a Política Nacio- nal de Educação Ambiental que já esta em vigor há mais de 15 anos a qual deve possibilitar conhecimentos e práticas ambientalmente adequadas em todos os níveis de ensino (BRASIL, 1999 p.1).

GRÁFICO 2: Ações ambientais e coleta seletiva nas escolas estudadas de acordo com o nível de ensi- no

Quando se perguntou sobre se já desenvolvem atividades em EA, as escolas deveriam responder com sim ou não e em caso positivo, era necessário selecionar uma ou mais opções dentre as seguintes: COM-VIDA, Escolas Sustentáveis, Conferência Infanto-Juvenil e outros programas ou projetos. Novamente a maioria das escolas de ensino fundamental deu resposta positiva aos programas sugeridos (gráfico 3).

GRÁFICO 3: Atividades de EA desenvolvidas nas escolas

Com relação aos problemas socioambientais encontrados no interior e no entorno das escolas, condições socioambientais foram os pontos mais citados. Sendo que 44,0 % dos en- trevistados consideram esse o principal problema no interior da escola, enquanto que 38,8 % consideram esse um importante problema no entorno da escola. Em seguida temos o gerencia-

mento de resíduos, 41,6 % citaram este como fator limitante no interior da escola e 22,2 % em seu entorno. A atividade agropecuária vem logo em seguida quando se fala em problemas do entorno da escola com 19,4 % (gráficos 4 e 5).

GRÁFICO 4: Problemas socioambientais encontrados no interior da escola

GRÁFICO 5: Problemas socioambientais encontrados no entorno da escola

Como pode se perceber os problemas apontados no interior da escola se referem à ca- tegoria socioambiental e de gestão de resíduos. Ambas são categorias complexas pela própria natureza dos seus componentes constituintes. E que embora alguns possam ser resolvidos ou minimizados, como é o caso de arborização, plantação de horta e desperdício de água. Neste caso, é de suma importância mencionar e refletir a necessidade de se sedimentar na consciência das pessoas sobre o uso racional da água, já que a maioria dos municípios incluída nesse estudo está inserida no semiárido.

Alguns dos problemas levantados podem não ser da competência direta da gestão esco- lar como é o caso da poluição sonora. Aqui não foi investigado se as escolas são afetadas por barulhos externos, internos ou ambos. Também, em certa medida, está fora da competência da gestão escolar a destinação final dos resíduos sólidos produzidos na escola, mas a segregação adequada no âmbito da escola é algo possível e desejável.

As escolas fazem da comunidade onde se encontram, por isso devem ser consideradas nesse contexto, que foi abordado apenas o mais imediato, o entorno. No qual foram detectados problemas de natureza socioambiental decorrentes das atividades econômicas locais, mas que indicam a falta de uma gestão pública para melhor direcionar essas atividades, como é o caso de matadouros. Esses deveriam ser lugares construídos de forma a preservar a qualidade das car-

nes a serem consumidas pela população, bem como os resíduos ser destinados adequadamente. Embora o instrumento não aprofunde em que sentido esses abatedouros são problemas para o entorno da escola, pela tradição esses são os problemas esperados (obs. pess.).

Da ordem socioambiental, alguns problemas que afetam o entorno da escola são re- flexo da crise vivenciada pela população brasileira, a saber, o tráfico e uso de drogas ilícitas, e a consequente violência. Inclusive um dos tipos de atividades socioambientais verificadas nas escolas é o PROERD (Programa Nacional de Resistência às Drogas e à Violência), mas a abrangência deste Programa no presente estudo foi de cerca de um quinto das escolas (22,2 %), enquanto os problemas socioambientais foram mencionados em 38,8 % dos casos.

Enfim, percebe-se que os desafios para a educação ambiental, ou melhor, socioambien- tal nas escolas que fizeram parte desse estudo são muito grandes. Seja pela diversidade de pro- blemas apresentados, seja pela sua complexidade destes. O que se acredita ser, infelizmente, a realidade de muitas outras escolas. Portanto, esses dados podem ser úteis para reflexão e como motivador e desencadeador de ações que venham mitigar ou resolver esses problemas. Isso por parte de gestores e comunidade local, ou em nível mais amplo.

REFERÊNCIAS

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lítica Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm> Acesso em 28 de out. 2014

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lidos; altera a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 11 out. 2014.

BRAZ, R. F. S. et al. Estudos sobre os aspectos socioeconômicos dos catadores de resíduos recicláveis organizados em cooperativas na cidade de Natal-RN. Revista Eletrônica do Mes-

trado em Educação Ambiental. Ed. Especial Impressa - Dossiê Educação Ambiental. Rio

Grande-RS, p 149-159, jan./jun., 2014.

TRAJBER, R.; MENDONÇA, P. R. (Org.) Educação na diversidade: O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental? Brasília: Secretaria de Educação Continuada, Alfa- betização e Diversidade, 2007. 262 p. : il. – (Coleção Educação para Todos, Série Avaliação ; n. 6, v. 23). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao5.pdf>. Acesso em 30 out. 2014.

MEDEIROS, A. B. et al. A Importância da Educação Ambiental na Escola nas Séries Iniciais.

Revista Faculdade Montes Belos-FMB, v. 4, n. 1: p 1-17, set, 2011.

UNESCO. Década da Educação das Nações Unidas para um Desenvolvimento Sustentá-

vel, 2005-2014: documento final do esquema internacional de implementação. Brasília: UNES-

CO, 2005. 120 p. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001399/139937por. pdf>. Acesso em 30 out. 2014.

AS ABELHAS SEM FERRÃO: POTENCIALIZANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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