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Capítulo V A Tributação dos Planos de Benefícios de Previdência

5.1 Regime de Diferimento do Ônus Financeiro

5.1.3 Incidência do Imposto de Renda sobre Resgates e Benefícios

5.1.3.3 Situações de Isenção

5.1.3.3.2 Beneficiários Portadores de Moléstias Graves e

O artigo 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88, prevê isenção para os benefícios de aposentadoria recebidos por pessoas portadoras de determinadas mazelas de grave repercussão à saúde. O referido artigo, com redação dada modificada pelo artigo 47 da Lei nº 8.541/92 e posteriormente pelo artigo 1º da Lei 11.052/04 prevê:

(...)

4.O recebimento da complementação de aposentadoria e o resgate das contribuições recolhidas para entidade de previdência privada no período de 1º.01.1989 a 31.12.1995 não constituíam renda tributável pelo IRPF, por força da isenção concedida pelo art. 6º, VII, b, da Lei 7.713/88, na redação anterior à que lhe foi dada pela Lei 9.250/95. Em contrapartida, as contribuições vertidas para tais planos não podiam ser deduzidas da base de cálculo do referido tributo, sendo, portanto, tributadas.

5. Com a edição da Lei 9.250/95, alterou-se a sistemática de incidência do IRPF, passando a ser tributado o recebimento do benefício ou o resgate das contribuições, por força do disposto no art. 33 da citada Lei, e não mais sujeitas à tributação as contribuições efetuadas pelos segurados.

6. A Medida Provisória 1.943-52, de 21.05.1996 (reeditada sob o nº 2.159-70), determinou a exclusão da base de cálculo do imposto de renda do ‘valor do resgate de contribuições de previdência privada,

cujo ônus tenha sido da pessoa física, recebido por ocasião de seu desligamento do plano de benefícios da entidade, que corresponder às parcelas de contribuições efetuadas no período de 1º de janeiro de 1989 a 31 de dezembro de 1995’ (art. 8º), evitando, desta forma, o bis in idem.

7. Da mesma forma, considerando-se que a complementação de aposentadoria paga pelas entidades de previdência privada é constituída, em parte, pelas contribuições efetuadas pelo beneficiado, deve ser afastada sua tributação pelo IRPF, até o limite do imposto pago sobre as contribuições vertidas no período de vigência da Lei 7.713/88. (...)

9. Recurso especial a que se dá parcial provimento.” (destacamos) 215

“TRIBUTÁRIO - COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA - PRESCRIÇÃO - INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA - NÃO CONFIGURADA HIPÓTESE DE BIS IN IDEM.

(...)

2. Nos termos do art. 33 da Lei 9.250/95, incide imposto de renda sobre as verbas recebidas a título de complementação de aposentadoria, independentemente do período ou da legislação vigente

à época do recolhimento das contribuições do beneficiário para o fundo de pensão.

3. O recebimento de complementação de proventos decorre de vínculo contratual existente entre o participante e a entidade de previdência privada, não se tratando e de devolução de valores, de modo que inexiste correlação entre aquilo que foi recolhido pelo beneficiário e que será recebido na aposentadoria, o que fica evidente quando observada a possibilidade de contratação de renda mensal vitalícia - feito na grande maioria dos casos -, prevista no art. 14, § 4º, e no art. 33, § 2º, da Lei Complementar 109/2001.

4. Impossível configurar-se a hipótese de bis in idem se não há identidade entre a parcela recolhida e a recebida na complementação, inexistindo bitributação, não importando se a contribuição mensal foi recolhida sob a égide da Lei 7.713/88 ou na vigência da Lei 9.250/95.

5. Revisão do entendimento firmado na jurisprudência do STJ.

6. Impossibilidade de modificação do julgado, na hipótese dos autos, a fim de se evitar a reformatio in pejus. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido.” (destacamos)

“Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguintes rendimentos percebidos por pessoas físicas:

(...)

XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma; (...)

XXI - os valores recebidos a título de pensão quando o beneficiário desse rendimento for portador das doenças relacionadas no inciso XIV deste artigo, exceto as decorrentes de moléstia profissional, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída após a concessão da pensão.”

Trata-se de uma efetiva isenção, pois não está condicionada à não dedução das contribuições efetuadas pelo participante durante a fase de acumulação dos recursos no plano de benefícios.

Tal isenção tem forte cunho social, e visa a trazer um benefício fiscal aos valores recebidos por pessoas que sejam portadoras das moléstias expressamente designadas pela legislação, de forma a evitar que a tributação possa representar mais um fardo a ser suportado, na difícil luta de superação pessoal sofrida por esses indivíduos diariamente.

Sabendo-se que muitas dessas doenças relacionadas pelo legislador impedem o exercício de atividade profissional e/ou diminuem sensivelmente a capacidade laboral de seus portadores, a lei procurou assegurar que o mínimo necessário para a subsistência desses indivíduos seja preservado da incidência do imposto de renda.

É preciso, porém, que a interpretação dessa isenção seja feita corretamente, à luz do artigo 111 do Código Tributário Nacional216, sabendo-se que ela alcança

exclusivamente os proventos de aposentadoria e pensão percebidos pelos portadores das doenças expressamente previstas na legislação.

Especialmente em relação a esta observação, cabe alertar para o fato de que o texto da lei faz referência aos benefícios de aposentadoria e pensão, não limitando a sua abrangência àqueles pagos pelo regime geral da previdência social ou pelo regime próprio dos servidores públicos. Assim, diante da inexistência de restrição a este respeito, é perfeitamente

aplicável tal isenção aos benefícios de aposentadoria e pensão pagos pelas entidades de previdência complementar.

Mesmo porque, se o intuito da lei é o de propiciar condições mínimas de sobrevivência de pessoas portadoras dessas mazelas, especialmente diante da sua diminuição da capacidade de trabalho, não seria coerente qualquer imposição de limitação acerca da fonte pagadora da aposentaria por elas recebida.

Note-se, porém, que o texto da lei trata de proventos de aposentadoria e pensão, não abarcando com a isenção os resgates efetuados pelos portadores das doenças relacionadas.

A par disso, vale mencionar que a Lei nº 9.250/95, em seu artigo 30, determina condições para que a pessoa física possa usufruir a isenção em questão:

“Art. 30. A partir de 1º de janeiro de 1996, para efeito do reconhecimento de novas isenções de que tratam os incisos XIV e XXI do art. 6º da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, com a redação dada pelo art. 47 da Lei nº 8.541, de 23 de dezembro de 1992, a moléstia deverá ser comprovada mediante laudo pericial emitido por serviço médico oficial, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

§ 1º O serviço médico oficial fixará o prazo de validade do laudo pericial, no caso de moléstias passíveis de controle.

§ 2º Na relação das moléstias a que se refere o inciso XIV do art. 6º da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, com a redação dada pelo art. 47 da Lei nº 8.541, de 23 de dezembro de 1992, fica incluída a fibrose cística (mucoviscidose)”.

No mesmo sentido da isenção prevista no artigo 6º, XIV e XXI, da Lei nº 7.713/88, sobreveio, em 20 de julho de 1993, a Lei nº 8.687, que prevê a isenção do imposto de renda sobre os benefícios de aposentadoria e pensão recebidos por beneficiários portadores de deficiência mental, verbis:

“Art. 1º Não se incluem entre os rendimentos tributáveis pelo Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza as importâncias percebidas por deficientes mentais a título de pensão, pecúlio, montepio e auxílio, quando decorrentes de prestações do regime de previdência social ou de entidades de previdência privada.

Parágrafo único. Para fins do disposto nesta Lei, considera-se deficiente mental a pessoa que, independentemente da idade, apresenta funcionamento intelectual

subnormal com origem durante o período de desenvolvimento e associado à deterioração do comportamento adaptativo.

Art. 2º A isenção do Imposto de Renda conferida por esta Lei não se comunica aos rendimentos de deficientes mentais originários de outras fontes de receita, ainda que sob a mesma denominação dos benefícios referidos no artigo anterior.”

Apesar de o texto desta lei fazer referência a “pensão, pecúlio, montepio e auxílio”, em se tratando de pagamentos realizados no âmbito da previdência privada, todos eles recebem o tratamento de benefícios, e, portanto, é válida a mesma observação anteriormente tecida, no tocante à não abrangência da isenção aos resgates efetuados pelos beneficiários referidos pela lei.