• Nenhum resultado encontrado

PARTE II – O PAGAMENTO DE BENEFÍCIOS E RESGATES EM PLANOS

4.1 O Antecedente da Norma Tributária

4.1.2 Critério Espacial

Geraldo Ataliba ensina que “designa-se aspecto espacial a indicação de

circunstâncias de lugar, contidas explícita ou implicitamente na h.i. [hipótese de incidência],

relevantes para a configuração do fato imponível” 140. E assevera que “um determinado fato,

ainda que revista todos os caracteres previstos na h.i., se não se der em lugar nela previsto

137

Estas somente não estão sujeitas à tributação em razão da sua materialidade guardar íntima relação com a materialidade do imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de competência dos Estados.

138

Neste caso, a incidência do imposto de renda somente não poderá acontecer porque a mera valorização não está inserida no critério temporal da regra-matriz de incidência, que, como será descrito, corresponde à

disponibilidade jurídica ou econômica da renda e dos proventos.

139

Daí a afirmação de Luciano Amaro de que “para o CTN, ‘acréscimo patrimonial’ é gênero de que ‘renda’ e

‘proventos’ seriam espécies”. (“Imposto de Renda: Regime Jurídico” in “Curso de Direito Tributário”, coord.

Ives Gandra da Silva Martins, 8ª edição, Saraiva, São Paulo, 2001, p. 281). 140

implícita ou explicitamente, não será imponível (...) não determinará o nascimento de nenhuma obrigação tributária”141.

Com efeito, a identificação do espaço geográfico em que o comportamento, se realizado, pode dar ensejo à incidência do tributo é de suma importância para a análise do fato que faz nascer o vínculo implicacional concretamente.

O espaço geográfico referido corresponde ao local físico em que a lei reputa consumado o comportamento que corresponde à materialidade do tributo. Pode ser o estabelecimento, depósito, sucursal, filial etc., ou simplesmente qualquer lugar dentro dos limites espaciais explícitos ou implícitos na norma142.

A este respeito, Paulo de Barros Carvalho enumera três possibilidades para definição do espaço de ocorrência do fato tributável: (i) determinado local para ocorrência do fato típico; (ii) áreas específicas, de tal sorte que o acontecimento apenas ocorrerá se dentro delas geograficamente contido; (iii) genérico, em que todo e qualquer fato, que suceda sob o manto da vigência territorial da lei instituidora, estará apto a desencadear seus efeitos peculiares.143

Partindo-se dessas alternativas, parece ser mais adequada a opinião de que o imposto de renda está inserido na terceira hipótese, ou seja, que o seu critério espacial é genérico, podendo o tributo alcançar toda a aquisição de renda ocorrida no local de vigência da lei federal, isto é, o território nacional.

Diante dessa verificação, a primeira impressão é a de que somente é tributável pelo imposto de renda a renda ou os proventos pagos por fontes localizadas no Brasil. Essa idéia, porém, está equivocada, pois, ao se definir que o critério material da regra- matriz deste imposto é a “adquirir (ou auferir) renda”, extrai-se a conclusão de que o que importa é o local é no qual a renda é auferida, e não onde é paga. Essa distinção é suma importância, no que se refere ao imposto de renda, para que se determine qual o alcance do imposto.

Considerando-se do local em que a renda é auferida, é possível verificar que a hipótese da regra-matriz do imposto de renda abrange toda a renda adquirida no território

141

Op. cit. p. 105.

142 Neste sentido, Geraldo Ataliba, op. cit. p. 106. 143

nacional, independentemente da localização de sua fonte pagadora. Assim, residentes no Brasil têm sua renda aqui tributada, independentemente de ela ser proveniente de fonte localizada além das fronteiras geográficas do País.

Daí advém o esclarecimento contido no parágrafo 1º, do artigo 43, do Código Tributário, no sentido de que a incidência do imposto independe da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte.

Importa verificar que, além de se tomar que toda a renda auferida no território por residentes no Brasil, independentemente do local em que se situa a fonte pagadora, o critério espacial voltado para o território nacional também implica a tributação de residentes no exterior, sobre a renda aqui produzida.

Essa evolução da territorialidade simples para a territorialidade voltada para a pessoalidade justifica-se pela necessidade atual de preservação da identidade soberana dos países e manutenção das suas fontes de arrecadação, diante do cenário de globalização em que se vive.

E é por este motivo que importantes estudiosos da tributação internacional apontam para o desenvolvimento de critérios de conexão com base em elementos como a localização da fonte de produção da renda e da residência, além da territorialidade da fonte pagadora simplesmente. A exemplificar, vale citar a crítica de Alberto Xavier:

“Ora, continuar a falar-se de um princípio da territorialidade, quando os critérios de ligação ao território não são já reais, mas pessoais, significa pelo menos uma radical alteração no sentido tradicionalmente conferido ao conceito e, indubitavelmente, uma quebra do seu valor dogmático”. 144

Especificamente no caso brasileiro, Paulo Ayres Barreto afirma que a Constituição Federal não impõe limites para fixação da instituição do imposto de renda, sendo que a identificação do limite espacial da regra matriz de incidência passa a ser a própria soberania tributária do Estado brasileiro. “Nesse contexto”, afirma o autor, “pode o legislador

ordinário(...) optar por restringir a imposição tributária sobre as fontes produtoras de renda localizadas no território nacional ou adotar o princípio da universalidade, por meio do qual

144

são passíveis de tributação tanto a renda auferida nos lindes do território nacional, como a renda auferida fora de seus limites”.145

A inexistência de impedimento, melhor dizendo, a existência de autorização constitucional para se tributar pelo imposto de renda a renda e os proventos adquiridos de fontes situadas no Brasil ou no exterior, por residentes no Brasil, e de fonte situadas no Brasil, por residentes no exterior, decorre do princípio da universalidade, consagrado no já comentado parágrafo 2º, do artigo 153, da Constituição Federal.

Assim, é possível afirmar que o comportamento de auferir renda, quando ocorrido dentro do espaço geográfico que corresponde ao território nacional, desencadeia a incidência do imposto – partindo-se da premissa de que tenham sido verificados os demais aspectos de incidência –, sendo considerada ocorrida dentro do território nacional a aquisição de renda por pessoa localizada no Brasil e/ou por fonte pagadora/produtora aqui localizada.