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Capítulo V A Tributação dos Planos de Benefícios de Previdência

5.1 Regime de Diferimento do Ônus Financeiro

5.1.3 Incidência do Imposto de Renda sobre Resgates e Benefícios

5.1.3.3 Situações de Isenção

5.1.3.3.1 Resgate de Contribuições Efetuadas pela Pessoa

Conforme descrito anteriormente, até o início da vigência da Lei nº 9.250/95, os investimentos em previdência complementar estavam submetidos a um regime de tributação diverso daquele hoje aplicável.

Até 1995, vigorava a regra prevista na Lei nº 7.713/88, segundo a qual os valores vertidos a planos de previdência privada, pelo participante, sofriam a incidência do imposto de renda por ocasião do pagamento da contribuição, realizado mediante o desconto no seu salário mensal, ajustável na apuração do Imposto sobre a Renda devido anualmente pela pessoa física, em sua Declaração Anual do imposto. Assim, quando do recebimento da aposentadoria, não havia nova cobrança do imposto de renda sobre a parcela referente às contribuições vertidas pelo participante.

Nos termos do artigo 6º, VII, da Lei nº 7.713/88, os benefícios recebidos dos planos de previdência estariam “isentos” “desde que os rendimentos e ganhos de capital

produzidos pelo patrimônio da entidade tenham sido tributados na fonte”.

Com a edição da Lei nº 9.250/95, porém, introduziu-se a já comentada sistemática de diferimento fiscal segundo a qual as contribuições destinadas aos planos de previdência podem ser deduzidas na apuração do imposto de renda da pessoa física, e, em contrapartida, o imposto de renda passa a incidir, sobre o resgate e pagamento dos benefícios, em relação ao montante total pago.

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Neste tocante, vale mencionar o artigo 19 da Instrução Normativa SRF nº 588, de 21 de dezembro de 2005, segundo o qual:

“Para fins de apuração da base de cálculo do imposto de renda, conforme o disposto nos arts. 11, 15 e 16,

relativamente à parcela do benefício pago, devem ser observadas, no que couber, as disposições relativas a isenção, não-incidência e exclusões previstas na legislação vigente, independentemente da opção pelo regime de tributação efetuada pelo participante.”

Ocorre, porém, que, para aqueles que já haviam aderido a um plano de benefícios à época da edição da Lei nº 9.250/95, a realidade legislativa que lhes era apresentada, em relação às contribuições efetuadas até 31 de dezembro de 1995, implicava a dupla incidência do imposto de renda: primeiramente sobre as contribuições vertidas e posteriormente sobre o valor total recebido da entidade de previdência complementar.

Diante desse cenário, fazia-se necessária a edição de uma norma de transição, que pudesse resguardar o direito dos participantes de serem tributados, quando do resgate ou recebimento dos benefícios, apenas em relação às contribuições realizadas a partir de 1º de janeiro de 1996.

Essa norma somente foi editada em 21 de maio de 1996, com a publicação da Medida Provisória nº 1.459, a qual atualmente encontra-se vigente sob o nº 2.159-70, de 24 de agosto de 2001. O artigo 8º da referida norma determinou a exclusão da incidência do imposto de renda na fonte e na declaração de rendimentos “o valor do resgate de

contribuições de previdência privada, cujo ônus tenha sido da pessoa física, recebido por ocasião de seu desligamento do plano de benefícios da entidade, que corresponder às parcelas de contribuições efetuadas no período de 1º de janeiro de 1989 a 31 de dezembro de 1995”213.

Ainda que após a edição desta Medida Provisória a grande parte das eventuais discussões sobre a incidência do imposto de renda sobre o resgate de contribuições efetuadas no período entre 1989 e 1995 tenham sido parcialmente solucionadas, a Fazenda Pública vinha sustentando posicionamento sobre essa tributação, nas demandas judiciais propostas sobre a matéria. Isso somente veio a cessar com a edição do Parecer PGFN/CRJ/nº 2.863/2002 (publicado no D.O.U. de 26/09/02), segundo o qual:

“(...) 15. Examinando-se a hipótese vertente, desde logo, conclui-se que: I) nas causas em que se discute a incidência do Imposto de Renda sobre o resgate das contribuições efetuadas perante entidade de previdência privada por parte do segurado, a competência para representar a União é da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, já que se trata de matéria fiscal; e II) os venerandos acórdãos retromencionados manifestam a reiterada Jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça. Destarte, há base legal para o Sr. Procurador-Geral da Fazenda Nacional, com o imprescindível agreement de S. Exa. O Ministro de Estado da

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A fixação do marco inicial para 1º de janeiro de 1989, deve-se ao fato de, somente com a edição da lei nº 7.713/88 é que as contribuições deixaram de ser dedutíveis na apuração do imposto de renda da pessoa física, conforme antes comentado. Até 31 de dezembro de 1988, vale lembrar, vigorava o Decreto-lei nº 1.642/78, que assegurava uma sistemática de diferimento fiscal, em formato semelhante ao hoje vigente.

Fazenda, dispensar a interposição de recursos ou requerer a desistência dos já interpostos na situação sub examine.

16. Assim (...) recomenda-se sejam autorizadas pelo Sr. Procurador-Geral da Fazenda Nacional a dispensa e a desistência dos recurso cabíveis nas ações judiciais que versem exclusivamente a respeito da incidência do Imposto de Renda sobre o resgate dos depósitos efetuados perante as entidades de previdência privada durante a vigência da Lei nº 7.713, de 22.12.1988 até o advento da Lei nº 9.250, de 26.12.1995, desde que inexista qualquer outro fundamento relevante.”

Ocorre que a decisão de desistência dos processos referida no parecer da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional refere-se exclusivamente àqueles que tratem da incidência do imposto de renda sobre o resgate das contribuições efetuadas pelas pessoas físicas nos planos de previdência privada entre 1989 e 1995. Com isso, permaneceram as discussões judiciais sobre a incidência do imposto de renda sobre os benefícios pagos pelo plano de previdência, com recursos das contribuições efetuadas no mencionado período.

Esse debate tem por fundamento o texto da Medida Provisória nº 1.459/96, que contemplou expressamente a “isenção” do imposto de renda somente sobre o valor do

resgate de contribuições de previdência privada, cujo ônus tenha sido da pessoa física, recebido por ocasião de seu desligamento do plano de benefícios da entidade, que

corresponder às parcelas de contribuições efetuadas no período de 1º de janeiro de 1989 a 31 de dezembro de 1995. Assim, pela letra da lei, somente os resgates efetuados para desligamento do plano de previdência privada estão dispensados da tributação pelo imposto de renda, restando tributáveis os benefícios pagos com os valores dessas contribuições. Este equívoco da lei acarretou, como ainda acarreta, a proposição de numerosas ações judiciais por parte dos participantes, especialmente nos últimos 5 a 10 anos, quando, estima-se, esses participantes passaram a ser elegíveis ao gozo dos benefícios assegurados pelo plano.

O Superior Tribunal de Justiça, apesar de, na maioria dos seus julgados, manifestar entendimento favorável à aplicação da “isenção” do imposto de renda também sobre os benefícios pagos com recursos dos investimentos efetuados entre 1989 e 1995214,

214 A exemplo, cite-se a decisão proferida em 20 de junho de 2006, nos autos do recurso especial nº 808.488, de cuja ementa se extrai:

“TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. IMPOSTO DE RENDA. PRESCRIÇÃO. ORIENTAÇÃO FIRMADA PELA 1ª SEÇÃO DO STJ. ERESP 262.475/DF. LC 118/2005: NATUREZA MODIFICATIVA (E NÃO SIMPLESMENTE INTERPRETATIVA) DO SEU ARTIGO 3º. INCONSTITUCIONALIDADE DO SEU ART. 4º, NA PARTE QUE DETERMINA A APLICAÇÃO RETROATIVA. ENTENDIMENTO CONSIGNADO NO VOTO DO ERESP 327.043/DF. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. LEIS 7.713/88 (ART. 6º, VII, B) E 9.250/95 (ART. 33) E MP 1.943/96 (ART. 8º). INCIDÊNCIA SOBRE O BENEFÍCIO. BIS IN IDEM. EXCLUSÃO DE MONTANTE EQUIVALENTE ÀS CONTRIBUIÇÕES EFETUADAS SOB A ÉGIDE DA LEI 7.713/88. JUROS. SELIC.

expressou opinião diversa em outras decisões isoladas sobre a matéria215. Assim, permanece controverso o entendimento jurisprudencial sobre a matéria.

5.1.3.3.2 Beneficiários Portadores de Moléstias Graves e