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Capitão Claro Silva (1874-1895)

3. POVOAMENTO E FUNDAÇÃO

3.2 Povoamento de Ilha Grande

3.2.7 Capitão Claro Silva (1874-1895)

É somente após a inauguração do Farol da Pedra do Sal que existem registros dos Silva em Ilha Grande de Santa Isabel. A chegada daquela família a Parnaíba e a Ilha Grande está associada a trajetória do patriarca Claro Ferreira de Carvalho Silva, que dá nome a uma das avenidas da cidade de Parnaíba. Natural do estado do Maranhão, Claro Silva chegou à cidade de Parnaíba por volta do ano de 1870, estabelecendo, assim, a relação dos Tavares Sil- va e Carvalho Silva com aquela cidade (MENDES, 1996, p. 74, FILHO, 1982, p. 89)60.

57 A Reforma, Teresina-PI, 20/08/1887, p. 02. 58 A Reforma, Teresina-PI, 05/04/1889, p. 01. 59 A Imprensa, Teresina-PI, 06/03/1879, p. 02.

60 O historiador Iweltman Mendes (1996, p. 74) estabelece essa data em seu livro A Parnaíba Colonial e Imperial (1500 a 1889). Passos afirma ser Claro Silva “oriundo de tradicional família de Oeiras” (1982, p. 97), antiga

Anteriormente, Claro Silva era “creador de gado vaccum e cavallar” na Freguesia de N. S. da Conceição D'Araioses, especificamente na “Povoação do Engeitado”, que pertencia administrativamente ao “2º Destricto da Tutoya” no Maranhão61. Tal povoado localizava-se no continente, as margens do Rio Tutoia, que nasce do Rio Parnaíba e corre paralelo a ele, desaguando no oceano Atlântico. “Gado vaccum e cavallar, madeiras de construção civil e naval, tatajuba amarela para tintas, carne e peixe seccos, couros salgados e curtidos, côcos da praia; algum sal e creações miúdas” eram os gêneros exportadas de Tutoya para Parnaíba por diversos produtores62.

A partir de uma pesquisa em jornais do século XIX, foi possível identificar a trajetó- ria do patriarca dos Silva, desde sua passagem no ano de 1868 para alferes da 1ª Companhia do 10º batalhão da Guarda Nacional de Parnaíba63, provável evento que o levou a estabelecer- se naquela cidade em 1870, até a notícia de sua morte em 30 de setembro de 1885, vitimado por um “terceiro ataque de amolecimento cerebral”64.

Em 1883, Claro Silva tornou-se deputado pelo Partido Conservador65, função que exerceu até a ocasião de sua morte em 188566. Assim, entre 1868 e 1885, passou de alferes a capitão da Guarda Nacional, de vereador a deputado. Os cargos políticos e militares ocupados pelo patriarca dos Silva, assim como a posse de pessoas escravizadas, revela a posição social dessa família como situada no interior da elite parnaibana. Em jornal publicado à época em que pertencia a câmara de vereadores, identificou-se como “proprietário e fazendeiro”67.

Passos relata que o “Capitão Claro morava na fazenda ‘Paraíso’, à margem do Igara- çu, em frente à cidade [de Parnaíba]. É a ‘Casa Grande dos Silvas’” (1982, p. 98). A “Paraíso” surgiu nas narrativas dos moradores da Pedra do Sal sobre a “relação de morada” estabelecida pelos Silva com os moradores do povoado. Era aquele lugar, as vezes descrito como um sítio, onde se ia pedir morada aos Silva, prática ritual que será abordada no capítulo Agregados e donos de terra.

capital da província do Piauí. Contudo, em artigo do jornal teresinense A Epoca, datado do ano de 1883, Claro Silva descreve-se como “natural da província do Maranhão, proprietário e fazendeiro” (A Epoca, Teresina-PI, 21/04/1883, p. 02).

61 No Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Maranhã para o anno de 1859. 62 Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial Para o Anno de 1864, p. 376.

63 A Imprensa, Teresina-PI, 02/05/1868, p. 02.

64 A Imprensa, Teresina-PI, 14/11/1885, p. 05. Seu falecimento foi noticiado não apenas em jornais do Piauí, mas também em jornais de Pernambuco e do Maranhão. Num deles se lê que o “finado deixou 10 filhos, 5 dos quaes estão estudando aqui em Pernambuco” (Jornal do Recife, Recife-PE, 06/10/1885, p. 01). Passos (1982) registra apenas como seis o número de filhos de Claro Silva com Geracinda Tavares Silva, ela também de origem maranhense.

65 A Imprensa, Teresina-PI, 16/12/1883, p. 04. 66 A Imprensa, Teresina-PI, 14/11/1885, p. 05. 67 A Época, Teresina-PI, 21/04/1883, p. 02.

O “Parecer da Comissão Fiscal da Parnahyba” de 1887, referente a “arrecadação do dizimo do gado vaccum, cavalar e muar”, registra como de propriedade de Claro Silva as fa- zendas Santa Clara, Cutia e Boi Morto, que somavam a criação de aproximadamente 170 “bi- zerros” e 12 “poldrinhos”68. Passos descreve o patriarca como

[...] abastado agricultor e grande fazendeiro, proprietário de quase toda a Ilha Gran- de de Santa Isabel, por herança de sua tia, viúva de Isidoro Dias da Silva, que o ado- tou como seu herdeiro universal, pois o casal não tinha filhos. (PASSOS, 1982, p. 97).

O mesmo autor afirma que Isidoro Dias da Silva herdou as terras de Ilha Grande de Santa Isabel do coronel Simplício Dias da Silva, seu tio, “o maior latifundiário, na época, da Vila de São João da Parnaíba” (PASSOS, 1982, p. 97). Apesar de Caio Passos utilizar a re- tumbante expressão “proprietário de quase toda a Ilha Grande de Santa Isabel” para referir-se a Simplício Dias da Silva, este era apenas um entre os “dezenove possuidores” de terras na ilha no ano de 1827. Com o passar do tempo, outras fazendas e engenhos surgiram em Ilha Grande e eles não eram propriedade de Claro Silva, como a “grande e antiquíssima posse de terras denominada Sítio Sipoal na Ilha Grande de S. Isabel” cujo proprietário era Jonas Cor- reia69.

Os documentos encontrados na Secretaria do Patrimônio da União por Rocha et al. (2015), os quais tive acesso através desses pesquisadores, indicam que Claro Silva pagou “dí- zimos” ao Thesouro Provincial do Piahuy, entre os anos de 1874 e 1895, referente a quatro “fazendas”: Cotia, Paraizo, Santa Clara e Jatobá.

Uma espécie de “cadeia dominial” das terras de Ilha Grande é informada por Passos. Se considerarmos o que ele afirma, as posse dessas terras chegaram até Claro Silva através de herdeiros colaterais, isso quer dizer, não foram herdadas de pai para filho, mas de tio e tia para sobrinho. Segundo Passos (1982), Isidoro Dias da Silva recebeu as terras de seu tio Sim- plício Dias da Silva. Isidoro e sua esposa não tiveram filhos e ela, viúva, colocou como her- deiro Claro Silva, seu sobrinho. Assim é descrita por Caio Passos, que fontes documentais não cita para suas afirmações, como aquele maranhense, que começou como “creador de gado vaccum e cavallar” na “Povoação de Engeitado” terminou por herdar alguma terra de uma ilha localizada na parte piauiense do Delta do Parnaíba.

68 A Imprensa, Teresina-PI, 31/12/1887, p. 03. 69 Nortista, Parnaíba-PI, 03/08/1901, p. 04.

O falecimento de Claro Silva foi noticiado não apenas em jornais do Piauí, mas tam- bém em jornais de Pernambuco e do Maranhão. Num deles se lê que o “finado deixou 10 fi- lhos, 5 dos quaes estão estudando aqui em Pernambuco”70.

Os documentos apresentados indicam que os Silva vieram do Maranhão e chegaram a Parnaíba em 1870 e aportaram em Ilha Grande por volta de 1874, após a instalação do Farol, quando já se encontravam moradores na Pedra do Sal. Cotia é a fazenda de Claro Silva que estava mais próxima à Pedra do Sal, mas não há nenhum registro de que este lugar fora pro- priedade do patriarca. É somente em 1941, cinquenta e seis anos após a morte de Claro Silva, que um de seus filhos, o juiz de direito João Tavares Carvalho Silva irá reivindicar a Pedra do Sal e mais vinte e oito localidades de Ilha Grande como suas “posses”.