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Pescadores e possuidores (1825-1827)

3. POVOAMENTO E FUNDAÇÃO

3.2 Povoamento de Ilha Grande

3.2.4 Pescadores e possuidores (1825-1827)

O debate sobre os limites do Maranhão e do Piauí se estendeu do período imperial até o período republicano da história do Brasil39. Em vinte um de julho de 1825 o presidente da província do Piauí Brigadeiro Manoel de Souza Martins solicitou ao governo imperial a ane- xação de toda a Barra de Tutóia ao Piauí. Em quatro de novembro do mesmo ano, o Ministro da Marinha solicitou informações sobre as barras do Rio Parnaíba e de Tutóia ao Brigadeiro Souza Martins. As informações solicitadas pelo ministro foram enviadas pelo presidente da província em trinta de março de 1826, “acompanhadas de uma planta das barras e portos em questão, e dos esclarecimentos fornecidos por Antônio Caetano da Silva Ferreira” (FREIRE, 2016, p. 89).

A referida planta chama-se “Planta que mostra as fozes do rio Parnahiba e Barras da Provincia do Piauhy até a Barra da Tutoia, da Provincia do Maranhão suas communicaçoens por garapés e as habitaçoens colocadas nos lugares que o autor vio”40. Para a reconstrução do povoamento do litoral de Ilha Grande de Santa Isabel, a “planta” é particularmente interessan- te porque identifica entre essas “habitaçoens” que o “autor vio”, um “sítio de pescadores” no lugar, que durante o trabalho de campo para este texto, os moradores da Pedra do Sal nome- vam de Canto do Vieira. Nesta “Planta” do Delta do Parnaíba, o cartógrafo identificou cerca de vinte localidades, a maioria delas representadas graficamente por uma única habitação, sendo identificadas por mais de uma habitação a Vila de Tutoia, São José de Filipe e Engeita- do, no lado pertencente ao estado do Maranhão. Apareceram mais de uma habitação por lugar no lado pertencente ao Piauí na Vila da Parnahiba, na Amarração e no Sítio de Pescadores41. É razoável interpretar esse maior número de habitações como a representação do cartógrafo de uma maior presença de pessoas nessas localidades42.

Na “planta” variaram o formato das “habitaçoens” identificadas como “villa” ou “sí- tio”. As habitações da então “Villa de Parnahiba”, por exemplo, foram apresentadas com mai-

39 A querela territorial entre o Maranhão e o Piauí foi uma importante fonte de dados para a reconstrução do povoamento de Ilha Grande.

40 “Planta que mostra as fozes do rio Parnahiba e barras da provincia do Piauhy até a barra da Tutoia, da provincia do Maranhão suas communicaçoens por garapés e as habitaçoens colocadas nos lugares que o autor vio”. 1826. 1 mapa mss, 40,0 x 54,0cm. Acesso em: 7 ago. 2018. Disponível em: <http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart514927/cart514927.html>. Sou grato ao historiador Alexandre Wellington dos Santos Silva pela sua colaboração na pesquisa documental para a feitura deste texto. Muito me beneficiei de seu senso perspicaz de caçador de “indícios” para encontrar os documentos aqui apresentados.

41 Em 1826, dados oficiais calculavam a população do Piauí em 94.948 “almas” (ALENCASTRE, 2015, p. 119). 42 O cartógrafo ainda indica no mapa o curso de navegação do “Rio Panahiba” e diversas de suas barras: Tutoia, Carrapato, Caju, Parnahiba ou Canárias, Igaraçu, São Bernardo e nomeia dezenove das ilhas do Delta.

or altura do que as do “sítio de pescadores” localizado em Ilha Grande. Na vila, as habitações possuíam um teto avermelhado, a indicar o uso de telhas de barro em sua construção. Parnaíba foi representada, então, como um amontoado de habitações e ao fundo se erguiam duas torres de igreja com crucifixos fincados em seus topos. Pela data da produção da “planta”, pode-se dizer que se trata da Catedral de Nossa Senhora da Graça, igreja matriz de Parnaíba, cuja edi- ficação foi concluída em 179543.

O sítio de pescadores em Ilha Grande é representado pelo cartógrafo em tamanho menor do que os prédios da vila e suas habitações não são amontoadas, existe um espaço entre elas e possuem cada qual o teto amarelado, a indicar o uso de palha em sua edificação44.

Figura 16 - Destaques do “mapa de 1826” referentes a Vila de Parnahiba, localizada no continente, e ao Sitio de Pescadores, localizado no leste do litoral de Ilha Grande de Santa Isabel.

Fonte: Elaboração do autor a partir da Planta que mostra as fozes do rio Parnahiba e barras da provincia do Piau- hy até a barra da Tutoia, da provincia do Maranhão suas communicaçoens por garapés e as habitaçoens coloca- das nos lugares que o autor vio. Biblioteca Nacional Digital. Disponível em: http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.asp?codigo_sophia=30485. Acesso em 30 de maio de 2019.

Nos oitocentos, a designação “villa” representava um estágio anterior a de “cidade”. Foi atribuída a João Pereira Caldas a criação da vila de Parnaíba em 1762, que em 1844 tor- nou-se cidade pela lei provincial de 14 de agosto daquele ano (ALENCASTRE, 2015, p. 119). Em 1831, se procedeu um “censo geral da Província”, no qual o “Distrito da Villa” de Par-

43 Outra importante edificação católica de Parnaíba é a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, construída por pessoas escravizadas sob o comando de Domingos Dias da Silva no período de 1770 a 1860. Tal edificação fora construída porque a população negra da cidade não era recebida na Igreja Nossa Senhora da Graça.

44 O uso de telha de barro ou palha nas edificações distinguem não só habitações urbanas e rurais, mas expressam a distinção social entre grupos sociais através da arquitetura, pois em Parnaíba as edificações dos bairros populares se utilizaram largamente de materiais de construção alternativos ao tijolo e a telha, como a palha e os troncos de carnaúba no início do século XX (SANTOS, 2018).

nahyba contabilizava 4.324 pessoas. Trabalhos estatísticos de 1843, diziam que a então vila possuía 12 “quarteirões” e 4.978 “fogos”, palavra que designava “casas de habitação” (ALENCASTRE, 2015, p. 95-97).

Em 1857, José Alencastre (2015, p. 119) escreveu que Parnahyba possuía 183 casas de telha, alguns sobrados, uma “boa” igreja matriz e a igreja de Nossa Senhora do Rosário, “ainda por concluir”, a alfândega, “que foi criada em 1811”, e “duas escolas de instrução pri- mária para ambos os sexos”, todas elas reunidas num espaço de “32 léguas de extensão e 20 de largura”. Nesse período Parnaíba concentrava-se na “criação de gado vaccum e cavalar” com 260 indivíduos empregados nessa “indústria”. Tais dados sobre a população e suas casas, igrejas, trabalhadores e indústria reforçam a representação elaborada pelo cartógrafo em 1826 sobre Parnaíba como uma vila com vocação para cidade.

Se a designação “vila” referia-se a um lugar que comportava estabelecimentos de en- sino e indústria, os locais no século XIX nomeados de “sítio”, como o “sítio de pescadores” da planta, designavam uma área especializada para o “plantio”, diferenciando-se, assim, das “fazendas” destinadas a criação de “gado vaccum e cavalar”, que entre os séculos XVII e XIX foram a base da economia do Piauí (LIMA, 2016).

“Em Parnaíba, por exemplo, a disposição de fazendeiros, a exemplo da família Dias da Silva, foi a de buscar a disposição de áreas para o plantio de algodão. “Aparta- vam-se” terras com o intuito da produção exclusiva, que passam a ser denominadas “sítios” (LIMA, 2016, p. 103).

Levando-se em consideração a palavra “sítio” utilizada pelo cartógrafo da planta de 1826 para identificar o “sítio de pescadores”, estava ele, talvez, a indicar que ali não era ape- nas o lugar de habitação de pescadores, mas também um lugar de plantio, de lavoura. Na re- presentação gráfica das habitações do sítio, elas estão sobre uma base de cor verde, a indicar a existência de alguma vegetação no lugar. O interessante é que essas áreas de plantio chamadas “sítios” no século XIX, localizavam-se entre fazendas (LIMA, 2016), mas o cartógrafo não identifica nenhuma “fazenda” próxima ao sítio de pescadores ou mesmo em toda a extensão de Ilha Grande.

Em 1826, havia “fazendas” no norte do Piauí, impulsionadas desde o século XVIII pela instalação das charqueadas naquela região. Contudo, os “pescadores” identificados pelo cartógrafo não aparecem denominados naquela planta como “agregados”, nem “moradores”, nem “vaqueiros”, classificações referentes a hierarquia de status do mundo das fazendas, uti- lizadas para identificar pessoa que moravam na terra de um “fazendeiro” (LIMA, 2016). Também não são denominados de “índios”, “gentis” ou qualquer outra classificação social

direcionada a população nativa do Brasil, que sobreviveu no Delta do Parnaíba em aldeamen- tos ainda por volta de 1865, como na Ilha do Caju.

Em 1826, ainda vigorava a escravização de pessoas, que no Piauí era amplamente destinada ao trabalho compulsório nas fazendas, mas na “planta” elaborada pelo cartógrafo, os pescadores não são nomeados de “escravos”, “negros” ou qualquer outra classificação so- cial destinada a população africana traficada para o Brasil e os seus descendentes aqui nasci- dos. Assim, a classificação “sítio de pescadores” é algo peculiar que surge na “planta”, sendo uma classificação que contrasta com as formas usuais presentes em documentos do século XIX.

Pereira da Costa (2010) no segundo volume de seu livro Cronologia histórica do es- tado do Piauí, traz a seguinte distribuição da população da população da província em 1826.

Tabela 1 - População do Piauí em 1826

Cor Distribuição Brancos 21.945 Pretos livres 5.755 Pretos escravos 19.193 Pardos livres 32.034 Pardos escravos 5.920 Total 84.847 Fonte: Costa (2010).

Posso sugerir apenas que o cartógrafo de 1826 foi levado a dar tal destaque ao “sítio de pescadores” porque este era um dado relevante da paisagem costeira de Ilha Grande de Santa Isabel na primeira metade do século XIX. E que ter nomeado o sítio como sendo de pescadores e não de “moradores”, “agregados”, “gentis” ou “escravos”, leva a pensar que na primeira metade do século XIX a classificação “pescadores” era capaz de definir um grupo social que não se confundia com os acima arroladas.

Moysés Castello Branco Filho (p. 81, 1982), em sua monografia “O povoamento do Piauí”, afirma que “os primeiros moradores do Delta do Parnaíba foram pescadores cearenses e maranhenses. Os povoadores das regiões de pastagens nativas não se interessavam pelo lito- ral piauiense”. Ilha Grande é separada da Amarração pela Barra do Igaraçu, braço do Rio Par-

naíba. Amarração fora povoada a partir de 1822, por pescadores cearenses (MENDES, 1996). Assim, há tanto uma proximidade geográfica quanto uma proximidade temporal do povoa- mento de Amarração com o “sítio de pescadores” identificado na costa da ilha na “planta” de 1826.

Em Ilha Grande, o mesmo cartógrafo identificou um “Marco para guia dos navegan- tes”, um “Reduto” e a “Enseada Limpa da Pedra do Sal”. Por trás do Sitio de Pescadores, es- tava o Reduto, uma fortificação destinada a defesa militar do litoral. Essa mesma fortificação também esteve presente em mapa elaborado em 1854 pelo Capitão do Estado Maior e 1ª Classe do Exército, Franklin Antônio da Costa Ferreira, o que indica a sobrevida por mais vinte e oito anos de tal construção naquela parte de Ilha Grande45.

Pereira da Costa mencionou a existência no ano de 1823 de um outro reduto na Ilha, localizado nos rochedos que deram nome à Pedra do Sal. Contudo, no início do século XX essas fortificações já não compunham a paisagem do litoral. Em 1909, referindo-se aos redu- tos que existiram no Piauí (Parnaíba, Amarração, Pedra do Sal e Caju ) Pereira da Costa es- creveu que “de todas essas edificações nem mais vestígios restam. Eram todas imperfeitas e de construção ligeira, e por isso umas não puderam resistir a ação do tempo, e outros foram mesmo demolidas (2010, p. 196)”. O autor relata que era comum após a vitória, o exército oponente destruir o reduto de seu inimigo, como ocorreu com o Reduto da Barra em 1823, construído pelos portugueses que se opunham as tropas que lutavam pela independência do Brasil.

O cartógrafo da “planta” do Delta do Parnaíba não identificou o reduto localizado nos rochedos da Pedra do Sal, mas levando em consideração o que Costa afirmou sobre a fra- gilidade da estrutura dessas fortificações, é provável que três anos depois, em 1826, ele já não existisse de fato. Sobre a “Marco para Guia dos Navegantes” não foi possível encontrar dados nas fontes pesquisadas, mas a sua presença naquela parte do litoral da ilha leva a considerar que a região entre Amarração e Ilha Grande, pela qual fluía a Barra do Igaraçu, já era de na- vegação, o que justificaria a presença de tal marco lá instalado.

Em 10 de novembro de 1827, o Major Antônio De Souza, comandante geral da Vila de Parnaíba, dirigiu um ofício a presidência da província do Piauí no qual discorria sobre o “terreno beira-mar da única costa que tem essa província”, localizado no litoral de Ilha Gran- de. O ofício é de interesse para a reconstrução do povoamento da ilha porque reafirma a pre-

45 Mapa disponível em:

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart175765/cart175765.jpg. Acesso em 8 jul 2017.

sença dos pescadores identificados um ano antes pelo cartógrafo na “planta” do Delta e traz informações sobre os “possuidores” de terra, além de pintar um quadro da vegetação, criatório e agricultura da ilha na primeira metade dos oitocentos.

A costa da ilha é descrita como “incapaz de lavoura, e de outra cultura, e só habitada de pescadores, e poucas vezes durante poucos meses de inverno” (COSTA, 2010, p. 232). Tal informação presente no ofício do major da vila de Parnaíba ao presidente da província do Pi- auí qualifica como sazonal a presença dos pescadores identificados inicialmente na planta de 1826. Maiores informações sobre esses pescadores não são encontradas nos trechos do ofício citados por Costa (2010). Contudo, tal documento registra o estado do criatório de gado e rea- firma a esterilidade do solo da costa.

Da pancada do mar à terra desta ilha não há terreno algum devoluto, nem marinhas, pois desde a praia marítima até quatro léguas ao interior, o terreno é coberto de mor- ros de areias tão estéreis que mal cria algum pasto para sustento dos ruins gados va- cuns e cavalar de que se acha povoada toda a mesma ilha Grande de Santa Isabel, e a sua costa (COSTA, 2010, p. 232).

O trecho revela que o movimento do criatório de gado do sul para o norte do Piauí, iniciado na segunda metade do século XVIII e terminada na primeira do século XIX, havia logrado chegar ao extremo do norte da província, dado a presença dos “ruins gados vacuns e cavalar” citados pelo Major Souza, que povoavam “toda a ilha”. Outra informação importante para a caraterização do povoamento de Ilha Grande é que existia nessa época, nas margens da ilha banhadas pelos rios Igaraçu e Parnaíba, uma agricultura de vazante exercida pelos “pos- suidores”. “Todo o mais terreno desta ilha é carnaubal”, informou o ofício do Major (COSTA, 2010, p. 232).

Sobre tais possuidores aludidos acima, o documento afirma que

Os indivíduos que se acham de posse do terreno beira-mar da única costa que tem esta província, são os proprietários da Ilha Grande de Santa Isabel [...], são os her- deiros do falecido Sebastião da Silva Lopes, que presentemente se acha retalhada em dezenove possessões, e o primeiro possuidor da referida ilha, segundo me informam, foi o finado tenente-corenel João Leite Pereira Castelo Branco, que a vendeu ao dito Sebastião Lopes (COSTA, 2010, p. 232).

As informações registradas por Freire (2016) contrastam com as do trecho retirado de Costa (2010). Este atribui a posse primitiva do lugar a João Leite Pereira Castelo Branco46. 46 “João Leite Pereira Castello Branco, nasceu em Oeiras. Tenente-coronel de infantaria. Em 20-11-1793 recebeu licença do bispado do Maranhão para erigir oratório público na freguesia de Piracuruca. Membro da junta de governo da província do Piauí em 13-06-1813. Com a ajuda do vereador da comarca de Oeiras João Gomes Caminha, prendeu o desembargador, ouvidor e corregedor da comarca do Piauí Luiz José de Oliveira, que também integrava a junta de governo da província. Como resultado dessa operação, em 28-11-1814 tanto João Leite Pereira Castello Branco como João Gomes Caminha foram destituídos da junta de governo e remetidos presos para uma fortaleza em São Luís do Maranhão”. Ferreira, Edgardo Pires, 1937- Os Castello Branco e seus entrelaçamentos familiares no Piauí e no Maranhão: [Domingos Pires Ferreira e sua descendência] / Edgardo

Como foi apresentado anteriormente, a “carta de data e sesmaria” da Ilha foi concedida em 1725 pelo governador do Maranhão e Grão-Pará, João da Maya da Gama, ao Capitão-Mor de Parnaíba João Gomes do Rêgo Barros em reconhecimento por este ter “povoado” a ilha atra- vés de seus esforços para a derrota do Levante geral dos Tapuias do Norte no início do século XVIII.

Contudo, o referido João Castello Branco pode ser um descendente de Rêgo Barros, visto este ter se casado com Maria do Monte Serrate Castelo Branco e com o falecimento desta, contraiu núpcias com sua cunhada Anna Castello Branco de Mesquita47. Com a venda das terras da ilha para Sebastião Lopes, que foi um proeminente comerciante em Parnaíba (RE- GO, 2010, p. 134), a cadeia dominial da ilha sai da linhagem dos Rego Barros/Castello Bran- co.

Seguindo a cadeia dominial das terras através da historiografia piauiense, o fracionamento da propriedade da ilha se inicia, então, com os herdeiros de Sebastião Lopes, que a fracionam em dezenove “possessões” que serão adquiridas por pessoas como Simplício Dias da Silva, entre outros doutores, capitães e coronéis.

É quanto bem posso informar a V. Exa. dos terrenos que compreende a costa desta província na pancada do mar; os possuidores presentemente são o coronel Simplício Dias da Silva, sua irmã dona Justina e seu irmão capitão Antônio Ferreira de Araújo Silva, o capitão Bernardo Antônio Saraiva e seus filhos herdeiros da terça de seu avô, o capitão Manuel Antônio Saraiva, o capitão José Francisco Miranda, os herdei- ros do falecido Cândido, o doutor ouvidor Antônio Saraiva, o alferes Francisco Do- mingos Fernandes, os herdeiros do capitão Manuel Joaquim de Souza e os herdeiros do coronel Manuel Antônio da Silva Henriques, que todos estes compreendem os dezenove possuidores (COSTA, 2010, p. 233).

Em 1827, Ilha Grande encontrava-se “retalhada em dezenove possessões”, muitos desses “possuidores” criavam “ruins gados vacuns e cavalar”, mas também praticavam uma agricultura de vazante nas margens da ilha banhada pelos rios Parnaíba e Igaraçu. Boa parte de seu litoral era formado por estéreis “morros de areia” e “todo o mais terreno desta ilha [era] carnaubal”. Deve-se somar a essas informações presentes no ofício escrito pelo Major Souza, o “sítio de pescadores” identificado pelo cartógrafo de 1826 e, assim, teremos, a partir dos indícios aqui elencados, algumas peças de um quebra-cabeça não completo, mas que ajuda a visualizar um quadro de Ilha Grande no início do século XIX. Um lugar que havia sido teatro de operações das forças de defesa militar, tornou-se espaço para criação de gado e morada de pescadores em seu litoral.

Pires Ferreira. -- 2. ed. rev. e ampl. - São Paulo, SP: ABC Editorial, 2013. -- (A mística do parentesco: uma genealogia inacabada. Disponível em: https://www.parentesco.com.br/index.php?apg=5#40023. Acesso em 23 jun. 2019. -

47 A genealogia do Castello Branco no Piauí está disponível para consulta no seguinte endereço: https://www.parentesco.com.br/index.php?apg=arvore&idp=2828&ver=por. Acesso em 23 jun. 2019.

Quase quarenta anos após o registro do cartógrafo e o ofício do major sobre a ilha, um relatório de viagem pelo Delta do Rio Parnaíba apresentou uma Ilha Grande que continha mais do que um “sítio de pescadores” e “dezenove possuidores”.