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Caracterização da amostra: as instituições, os coordenadores, os professores, os tutores e os alunos

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A MEDIAÇÃO DOCENTE REALIZADA NOS PROCESSOS DE ENSINO APRENDIZAGEM EM CURSOS TÉCNICOS A DISTÂNCIA DA REDE E-TEC

2. Caracterização da amostra: as instituições, os coordenadores, os professores, os tutores e os alunos

2.1. As instituições

A Instituição A está localizada na Região Sudeste. Foi fundada em 1909. É considerada instituição tradicional no segmento da educação profissional. Possui cursos de nível técnico até doutorado, contando com 11.418 alunos, em 2013, sendo 6.331 vinculados ao nível técnico. Ingressou na Rede e-Tec, em 2008, mas, desde 2005, vem desenvolvendo cursos a distância em nível de mestrado e de especialização lato sensu. O Mestrado em Educação Tecnológica opera com módulos a distância e mantém um Grupo de Pesquisa focado em ambientes virtuais de aprendizagem, em funcionamento, desde 2008. A criação dos cursos técnicos a distância teve como critério a existência de cursos correlatos na forma presencial, de modo a assegurar vínculos com essa modalidade.

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Para os cursos a distância, essa instituição dispõe de sala de tutoria com espaços individualizados de atendimento com computador. Os tutores fazem atendimentos online na própria Instituição, em períodos regulares de vinte horas semanais. Além disso, há uma sala para a coordenação geral da Rede e-Tec a qual é compartilhada com as outras coordenações de curso e um laboratório provisório de 2m2 utilizado como estúdio para gravação de vídeo- aulas. Os laboratórios necessários às disciplinas são os mesmos da Instituição utilizados pelos cursos regulares. No PDI consta previsão de política de fortalecimento e expansão das ações de EaD, incluindo o provimento de condições de infraestrutura e de pessoal adequados, mas não de institucionalização especificamente.

No que se refere às ações da Rede e-Tec, essa escola segue a estrutura básica de gestão recomendada pela Resolução nº 18/2010 (BRASIL, 2010a), tal como ocorre, também, nas duas outras instituições pesquisadas, ou seja: a equipe gestora da Rede conta com dois coordenadores gerais e coordenadores de curso e tutoria por curso, todos os cargos remunerados por bolsa/FNDE, não podendo haver prejuízo das funções regulares e opera com o regime de cooperação com outras instituições, dentre outras orientações mais detalhadas nas Categorias 1 e 2. Porém, em relação à infraestrutura e à estrutura curricular (organização da aula online, dos modos de atendimento online, frequência, tipos de atividades organizadas, ações de tutor e professor), as três instituições apresentam propostas distintas em alguns pontos.

A Instituição B está localizada na Região Centro-Oeste e também foi fundada em 1909. É considerada como instituição renomada no segmento da educação profissional. Possui cursos de nível técnico a mestrado, contando com mais de 20.000 alunos em 2014. Ingressou na Rede e-Tec em 2009. A implantação dessa rede aconteceu junto com a implantação do sistema de oferta de cursos a distância, ou seja, antes da Rede e-Tec esta escola não possuía experiências de cursos a distância. A escolha do curso a ser oferecido a distância atendeu a dois critérios: a relação com o mercado regional e a área de experiência da equipe docente.

A instituição foi o primeiro Instituto Federal do país a oferecer o curso Técnico em Açúcar e Álcool a distância, ficando responsável pela criação do material didático impresso e da matriz curricular base para o catálogo nacional dos cursos técnicos. Não possuía sala específica, nem sala de tutoria e nem estúdio para gravação de vídeo-aulas. A coordenação geral e a de curso foram instaladas junto à gerência de informática de um dos campi da escola e não havia computadores ou mesas para as demais coordenações. Tanto a coordenação adjunta quanto a de tutoria e os tutores de atendimento online deveriam usar seus espaços e

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computadores particulares, sem fixação de horários para exercer seu trabalho. A instituição não possui equipamentos de produção de vídeos, mas possui três conjuntos de equipamentos para videoconferência, os quais foram utilizados duas vezes em três anos, devido à falta de técnicos para a montagem e acompanhamento das aulas. Em relação ao PDI, mencionam-se algumas ações de apoio à EaD voltadas para cursos superiores.

A Instituição C está localizada na Região Sul. Foi fundada em 1909. Foi considerada, em 2014, pela sexta vez consecutiva, o melhor instituto federal do país em nível superior, segundo o MEC. Possui cursos de formação técnica a mestrado profissional, contando com mais de 14.000 alunos, em 2014, sendo mais de 7.000 em nível técnico. Esta Instituição, embora não tivesse oferecido cursos técnicos a distância, antes da Rede e-Tec, já ofertava a graduação tecnológica em Gestão Pública pela UAB e, posteriormente, pós-graduações lato

sensu. Além disso, junto com outras duas universidades federais da Região Sul, liderou no

Brasil as pesquisas nas linhas da informática e educação, especialmente educação a distância, e foi parceira do Ministério da Educação (MEC) na implantação da UAB e da Rede e-Tec, nela própria. Uma vez que já havia sido implantada a UAB, a Rede e-Tec pôde compartilhar a infraestrutura de estúdio para produção de vídeos, Rádio e TV. A coordenação possui duas salas. Uma é utilizada pelo coordenador geral e adjunto e a outra é compartilhada entre o coordenador de curso, o coordenador de tutoria e os tutores. O processo de discussão sobre a institucionalização está em andamento e estão previstas na Instituição ações de investimento infraestrutural, pedagógico e inclusão de metas para EaD no PDI.

2.2. Coordenadores, professores e tutores entrevistados

As três escolas pesquisadas tinham, no conjunto, quinze coordenadores, e, aproximadamente, noventa professores e quarenta tutores. A quantidade de professores e tutores não é fixa, pois, devido ao sistema de bolsas, esses profissionais não têm vínculo com a escola, de modo que ela possa formar um quantitativo efetivo. Eles são selecionados, conforme demanda e, às vezes, ficam responsáveis por mais de uma disciplina. A pesquisadora dirigiu mensagem à coordenação geral de cada curso, convidando os seus integrantes a concederem entrevistas. Destes, dezenove aceitaram participar da pesquisa, por meio de concessão de entrevista. Desse modo, tivemos sete coordenadores (quatro coordenadores de curso e três coordenadores de tutoria), sete professores e cinco tutores.

Todos os coordenadores de curso possuíam formação inicial de bacharelado e mestrado na área do curso, ou na área afim, sendo um doutor e três mestres. Apenas um deles

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possuía formação pedagógica, que foi realizada por meio de curso de curta duração. Dos coordenadores de tutoria, uma era pedagoga, outra licenciada em matemática e o outro licenciado em educação física. Apenas um deles tinha experiência anterior em cursos a distância e também mestrado voltado para a área. Os coordenadores entrevistados foram unânimes em valorizar a educação a distância, mas apresentaram ressalvas a respeito das condições em que foram implantados os cursos, especialmente as relacionadas ao corpo docente e às possibilidades orçamentárias para sua organização pedagógica.

Dos sete professores entrevistados, todos tinham formação inicial e mestrado específico na área do curso, mas três deles eram servidores administrativos do Instituto Federal e um era pequeno empresário do segmento do curso, isto é, não eram professores, antes de atuar na Rede e-Tec. Os outros três professores eram da rede federal, bacharéis, sem formação pedagógica. Isso demonstra que os professores atuantes na Educação Profissional Técnica de nível médio na rede federal têm nível de excelência na sua área científica. Por outro lado, deixam a desejar na formação pedagógica. Esses fatos corroboram a afirmação de Simionato (2011) de que, no ensino técnico, a orientação que importa é, em primeiro lugar, a aproximação com a área técnica na qual vigoram concepções sobre o saber fazer, a produtividade e a eficiência e, em segundo lugar, a adesão a programas de formação de professores pautados em ofertas emergenciais e aligeiradas, “[...] impossibilitando maiores reflexões sobre o processo educativo e a formação omnilateral” (Ibid., p. 58).

Três professores receberam uma capacitação pedagógica de 60 horas para o ensino a distância, focada no uso da ferramenta Moodle. Foi relatado que alguns professores que iniciaram na Rede e-Tec, nos três primeiros anos, receberam capacitação de 160 horas ofertada pelo MEC, em parceria com a UFSC17 e com a UFSMS18 e alguns fizeram uma especialização lato sensu que englobava aspectos pedagógicos e técnicos da EaD, dentre os quais abordagem pedagógica, produção de material para EaD, uso da plataforma virtual, etc. Entretanto, os professores que entraram, a partir de 2011, receberam capacitação de curta duração organizada pelas próprias coordenações, ou a fizeram por conta própria. Entretanto, há uma perda de aproveitamento dessas capacitações, uma vez que a troca de professores é frequente em função da não vinculação trabalhista. Apesar disso, todos os entrevistados declararam acreditar num curso técnico a distância de qualidade, embora tenham afirmado também que não haviam conseguido atingir seus objetivos de ensino, como nos cursos presenciais. É relevante para a pesquisa a constatação de que nenhum dos professores tinha

17 Universidade Federal de Santa Catarina.

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experiência anterior com EaD e nem formação pedagógica. Ademais, 57% deles não tinham experiência docente, ou seja, não eram professores, antes de participar da Rede e-Tec, mas, como eram, no mínimo, mestres, podiam atuar como se fossem.

Dentre os cinco tutores, quatro eram tutores a distância (que atendem pela plataforma

online) e um tutor presencial (que atende no polo). Dois deles eram licenciados em Biologia, um bacharel em Administração, um bacharel em Psicologia e um Bacharel em Ciência da Computação, sendo dois mestrandos e dois especialistas em Docência de Ensino Superior.

Todos eles haviam participado de cursos de curta duração sobre EaD e todos eram tutores de disciplinas, fora de sua área de formação, salvo raras coincidências. É consenso geral entre eles que, se sua atuação fosse na sua área de formação, seria indubitavelmente um trabalho melhor realizado, tanto para eles quanto para os professores e os alunos. Em cada instituição estudada, a organização do trabalho e as funções dos tutores variavam muito. Desse modo, não foi casual constatar também nas entrevistas muitas divergências entre eles sobre o que acreditam ser um tutor de um curso a distância e seu papel, comprovando estudos que mostram uma tensão relacionada a esse profissional no campo da educação da educação a distância (TOSCHI, 2012; TONETTI, 2012; ZUIN, 2006).

Para os efeitos de nossa pesquisa, focada nas características da mediação docente

online, em cursos técnicos, os dados levantados nas entrevistas e questionários chamam a

atenção, no sentido de faltar, para a grande maioria dos profissionais entrevistados, formação pedagógica. Com efeito, de dezenove deles, apenas quatro tinham essa formação, outros três declararam ter recebido capacitação pedagógica em curso de curta duração e quatro tinham tido experiência anterior com atuação a distância.

2.3. Os alunos

Em relação aos alunos, foram coletadas algumas de suas percepções sobre sua experiência e interesses com a educação online apresentadas nas análises posteriores. Considerou-se que esse tipo de dado traria contribuição à nossa pesquisa, uma vez que o conceito de intervenção educativa (LENOIR, 2014a) refere-se à mediação didática efetivada, ou seja, quando proporciona a mediação cognitiva do aluno.

Para isso, foram organizados dois encontros de interação online, cada um em três dias consecutivos. Em cada dia, o chat foi disponibilizado em turnos diferentes, de modo a possibilitar que mais alunos participassem. Cada chat teve duração de 2 horas de discussão

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do curso da Instituição C, já que as outras instituições não se disponibilizaram para tal atividade.

No primeiro encontro, realizado em junho de 2013, o tema do chat foi “O papel do aluno na EaD”, com a participação de 19 alunos, de três polos diferentes. No segundo encontro, realizado em junho de 2014, outra turma foi convidada a participar da mesma atividade e houve participação de 27 alunos.

Os encontros foram conduzidos pela própria pesquisadora. Quinze dias antes da data inicial, foi disponibilizado um texto sobre autonomia do aluno na EaD (PRETI, 2000) e dois vídeos; um, mostrando um professor mediador e um aluno participativo, e o outro, representando uma situação de aula tradicional, unidirecional. A conversa foi direcionada, inicialmente, sobre como os alunos pensavam que deveria ser seu estudo, considerando que optaram por um curso a distância. Foi abordado também o tema de como os alunos pensavam que deveria ser a atuação docente e a do tutor. Nesse conjunto, foram levantados os temas da autonomia e da mediação didática. O roteiro dessas conversas online pode ser visto no Apêndice G. Ao final das seções de conversa, um questionário semiestruturado foi postado na sala de aula online e os alunos tiveram quinze dias para respondê-lo. Quarenta e seis alunos, incluindo alunos que não participaram no chat, responderam ao questionário que corresponde ao Apêndice H.

Dentre esses respondentes do questionário, 30%, além de fazer o curso técnico a distância, já são graduados, ou estão com a graduação em andamento e 56,6 % desses alunos estão retornando aos estudos, depois de, pelo menos, quatro anos; 84,7% estudaram sempre em escola pública; 87% trabalham, sendo que 47,8% trabalham na área do curso; apenas 8,7% alegaram estudar a distância porque querem, sendo as razões citadas para isso divididas entre ter trabalho com horário irregular (escala) e ter que cuidar e acompanhar a família (filhos e idosos).

É importante registrar que os trechos de entrevistas e chats inseridos nesta tese como dados empíricos foram selecionados a partir do critério de grau de recorrência nas falas dos entrevistados e participantes dos chats.

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