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Lília Silva | lilia.silva@aeg1.pt

Diretora do Agrupamento de Escolas de Gondomar 1

“Cada pessoa deve trabalhar para o seu aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo, participar da responsabilidade coletiva por toda a humanidade.” Marie Curie

Nunca nenhum de nós imaginou viver na situação em que nos encontramos fruto de uma pandemia de proporções incomensuráveis provocada pela Covid-19 com origens ainda nebulosas, na região de Wuhan, na China. Nunca nos passou pela cabeça ficar em casa por tempo indeterminado, restringir os nossos contactos sociais ao mínimo ou ter, em tempo de aulas, escolas sem alunos. É assim que, desde 16 de março de 2020, data a partir da qual as atividades letivas presenciais foram suspensas, os sentimentos de medo e de angústia nos vão assolando, provocados pela incerteza do desconhecido.

Abruptamente, fomos confrontados com novas circunstâncias que nos obrigam a trilhar novos caminhos, incertos ainda, todavia mantendo o foco no essencial da nossa ação: as aprendizagens dos nossos alunos.

Vivemos dias em que a realidade parece mudar cada vez que pestanejamos, por isso, os próximos tempos serão marcados, em todos os setores, pela capacidade de adaptação e pela rapidez com que o conseguirmos fazer. A Escola não vai ser alheia a esta realidade, antes vai ser parte nuclear, todavia mantemos algumas certezas que o vírus não abalou.

1. Tecnologias, para que vos quero?

Importa enfatizar os benefícios da existência e da utilização das novas tecnologias. Alguém consegue imaginar o desastre que estes tempos de confinamento teriam provocado, em termos de acesso às aprendizagens e à educação, se não tivéssemos à nossa disposição os instrumentos de que agora dispomos? É evidente que as novas tecnologias permitiram uma maior democratização de acesso à informação e, por isso, até pareceu fácil fechar as escolas em tempo de aulas e instituir a existência de “atividades letivas não presenciais” como se todos estivéssemos familiarizados com diferentes modos de operacionalização deste novo conceito.

Todavia, não tenhamos ilusões. O impacto destas aulas à distância não é igual para todos. Pode, seguramente, potenciar as vulnerabilidades, com repercussões negativas para os alunos com condições socioeconómicas mais frágeis.

Mesmo sabendo que ainda há uma percentagem muito significativa de crianças e de jovens em cujos lares não existe net ou equipamento informático, o acesso, por si só, à tecnologia fica muito longe de ser suficiente para garantir a construção de aprendizagens significativas. Muito mais do que os meios utilizados, o que verdadeiramente gera essas aprendizagens são as estratégias planeadas e implementadas pelos professores, bem como as interações que estes conseguem estabelecer com os seus alunos.

2. Os alunos devem ser conduzidos a construir as suas aprendizagens

Como sempre, tempos de grandes constrangimentos são, também, espaços de oportunidades. Se não plasmar a tradicional aula magíster dixit, a utilização das novas tecnologias permite a introdução de modos mais significativos de ensinar e de aprender, permite o desenvolvimento de aprendizagens mais sustentadas, isto é, aquelas que não desaparecem logo após a realização de um teste.

Só avançamos para novas e significativas aprendizagens se, designadamente: - partirmos dos conhecimentos prévios dos alunos, relacionando o que ele já sabe com o que deve aprender de novo,

- estimularmos a realização de tarefas que induzam a aprendizagens ativas e reconfiguradoras dos esquemas cognitivos existentes como, por exemplo, a pesquisa orientada, a análise de documentos, a elaboração trabalhos (escritos, áudio, vídeo) a partir de guiões estruturados,

- induzirmos a experimentação e a resolução de problemas,

- levarmos à colocação de hipóteses para a resolução de um problema, - promovermos aprendizagens colaborativas e em grupo,

É claro que este trabalho, se feito à distância, exige que o professor assuma, ainda mais, o papel de orientador e de mediador, obrigando-o a um muito maior esforço de planificação, de definição de objetivos de aprendizagem, de dinamização e acompanhamento do trabalho e capacidade de inovação curricular.

3. A avaliação tem de estar ao serviço da melhoria das aprendizagens

É fundamental a preparação sistemática de atividades que levem os alunos a recuperar os conteúdos já ensinados e, consequentemente, as aprendizagens que foram, ou deveriam ter sido, feitas. Por isso, a aposta na qualidade do feedback transmitido em tempo útil aos alunos é crucial para que eles possam aprender a autorregular as suas aprendizagens. Compete ao professor ir fornecendo aos alunos níveis sucessivos de apoio diversificado (“scaffolding”) até que estes atinjam patamares mais elevados de conhecimentos e capacidades. Finalmente, e na hora de balanço, interessa mesmo perceber: i) se o aluno ficou a saber, ii) como foi possível ultrapassar as dificuldades, iii) as razões subjacentes à permanência das dificuldades, iv) o que foi feito pelo aluno e pelo professor para ultrapassar as dificuldades, v) o que vai ser feito para atingir as aprendizagens essenciais.

4. A importância das lideranças das estruturas de gestão curricular intermédia A partilha, por um lado, e a assunção de responsabilidades, por outro, são aspetos determinantes para o desenvolvimento ou mesmo para a criação de sinergias conducentes a um trabalho mais eficaz e mais eficiente dentro de uma escola / agrupamento. Nestes tempos de incerteza e instabilidade, estas lideranças ganharam ainda maior relevância, pois são elas que verdadeiramente são capazes de esbater a nossa natural resistência à mudança e conseguem abrir caminhos para a renovação e para a reinvenção de soluções.

5. O trabalho colaborativo é fundamental

O trabalho de planificação, de articulação curricular, de construção das estratégias capazes de, mesmo em tempos de confinamento, incentivar os alunos e envolvê-los nas aprendizagens só será profícuo se for desenvolvido em conjunto. O trabalho colaborativo é, pois, uma estratégia fundamental para lidar com problemas que se afiguram demasiado pesados para serem enfrentados em termos puramente individuais. É, ainda, a oportunidade para criar laços de confiança pessoal e profissional securizadores da ação de todos.

São estas cinco certezas que presidiram à construção do Plano de Ensino a Distância do Agrupamento de Escolas nº1 de Gondomar (AEG1) e no qual os professores, os alunos e as famílias têm investido o seu melhor para que os nossos alunos continuem presos ao desenvolvimento, às aprendizagens, à motivação. Sabemos bem que o medo pode paralisar, pode desorientar e deprimir. Todavia, é com coragem que o AEG1 o tem enfrentado, mas também com a humildade de confessar que trilhamos um caminho feito de incertezas e, por isso, de tentativas e erros, mas sempre com o foco no essencial da nossa ação: os nossos alunos, as suas aprendizagens e o seu bem-estar.

Finalmente, relembro as palavras de Louis Pasteur, referindo-se ao papel da Escola: “Qualquer criança me desperta dois sentimentos: ternura pelo que ela é e respeito pelo que poderá vir a ser.”