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Fechou se uma porta, abriram as janelas de p@r em p@r

Jorge Machado | director@ecarlosteixeira.net | Diretor no AE Prof. Carlos Teixeira, Fafe Jorge do Nascimento Silva | jorgenascimentosilva@gmail.com | Consultor da UCP – SAME Paula Mota | paula.educespecial@ecarlosteixeira.net | Representante dos docentes de Educação Especial – AE Prof. Carlos Teixeira, Fafe

Rogério Gonçalves | rogerio.goncalves@ecarlosteixeira.net | Subdiretor no AE Prof. Carlos Teixeira, Fafe

Sandra Lídia Rodrigues | sandra.lidia@ecarlosteixeira.net | Diretora de turma AFC no AE Prof. Carlos Teixeira, Fafe

Sofia Mendes | Psicóloga e coordenadora da EMAEI

Fomos surpreendidos, enquanto sociedade, por uma interrupção do nosso quotidiano que tínhamos como tão certo. Fomos colocados à prova, todos, sem exceção, independentemente do estatuto, nível socioeconómico, etnia, opção religiosa ou política, ou profissional. Como muitos têm dito, a Europa e o Mundo não assistiam a tamanha emergência de saúde pública desde a II Guerra Mundial. A 16 de março, não voltámos a entrar na nossa escola nem vimos mais os alunos nem os colegas de trabalho com quem partilhávamos, de forma colaborativa, as melhores formas de ensinar e aprender. O planeta parou! A relatividade científica e tecnológica lembrou ao homem que pouca coisa está sob o seu domínio. O COVID-19 isolou-nos nas nossas casas! Se fosse lá para o Oriente!? Mas era aqui mesmo, na cidade e no campo. Mas os profissionais da educação, as famílias, as autarquias, a sociedade em geral e os alunos revelaram uma enorme resiliência, uma grande capacidade de adaptação à adversidade. Esta pandemia colocou-nos e coloca-nos desafios diários, mudanças repentinas que geraram stresse e ansiedade, mas não o pânico generalizado. Forçou-nos a abandonar a nossa zona de conforto e tem gerado dúvidas, receios, medos, mas também tem contribuído para o nosso desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional.

Em curto espaço de tempo, tudo se transformou. Houve uma rápida mobilização de recursos e de ideias, que nos fizeram adaptar a este “novo normal” modelo de escola. O Agrupamento de Escolas Professor Carlos Teixeira depressa se procurou organizar e relacionar-se com os alunos e as famílias no sentido de manter a aproximação possível e necessária e assim poder disponibilizar-se a prestar o melhor serviço à comunidade

educativa que serve. Foi e tem sido feito um enorme esforço para ter as famílias com o Agrupamento a quem confiam os seus filhos.

Os alunos têm sido verdadeiros heróis, os pais passaram a conciliar as tarefas da família, do emprego e do apoio aos filhos e netos. Os professores, uma classe em franco envelhecimento, foram capazes também de trabalhar com Plataformas Informáticas diversificadas, de se adaptarem à forma de ensinar à distância, de motivar os alunos (alguns descrentes neste processo) e as famílias a esta nova era da nossa vida comum. A união, a solidariedade, a partilha, a força interior de cada um, a qualidade dos profissionais de ensino, apesar da distância, do isolamento uniu-nos como nunca. O empenho de todos tem sido exemplar. Não houve lugar a formação formal. Autoformámo-nos uns aos outros e depressa. Amanhã já seria tarde demais. Procurámos ultrapassar desigualdades entre os alunos colocando a tónica em não dar mais a quem tem mais, aos que chegam primeiro que muitos. Afinal o papel da escola pública tem obrigação de esbater este fenómeno. Estamos conscientes de que os recursos digitais são importantes se fizerem sentido para todos os implicados no processo, isto é, se forem instrumentos onde a partilha enriquece as aprendizagens, de todos.

O mais importante é a forma como chegamos aos alunos, como os fazemos aprender. Não basta ter computador e internet, é preciso priorizar a função do professor e das famílias. Como há muito se defende, os recursos tecnológicos não são um fim em si mesmo, mas sim instrumentos ao serviço das aprendizagens. Que aprendizagens? Uma questão que nos preocupa de forma resiliente. Seguindo aqui o pensamento da professora Ilídia Cabral quando afirma que "professores vão ter de fazer “reset” daquilo que achavam que era ensinar". Há que colocar o dedo no “reset” apropriado. Fechemos a porta para abrir as janelas de par em par.

E abrimos mais uma janela.

Escolhemos a plataforma (ZOOM), sem nos dispersar-nos, e usamo-la com critério, num contexto formativo sustentado em práticas de partilha organizada por equipas “especializadas”, isto é, com mais conhecimento e experiência em determinados domínios, porque, nunca, como agora, fez tanto sentido o trabalho colaborativo. Às vezes há males que vêm por bem. O tempo é de agir, de procurar as melhores soluções sem derrapagens, mas com um ritmo acelerado. Acreditamos na linha orientadora do nosso Agrupamento, liderado pelo diretor Jorge Machado. Não dá tréguas, mas sentimo-nos bem e vemos

ficamos confortados com os resultados que vão melhorando em cada dia. E agora? Até estávamos a estrear uma escola nova… quase equipada com tudo que é atual.

De repente, quando tínhamos a escola sede do nosso Agrupamento, recentemente inaugurada pomposamente pelo Sr. Primeiro-Ministro, e tudo funcionava com normalidade, estes acontecimentos surgiram em catadupa e forçaram-nos a uma reflexão imediata e profunda sobre a nossa condição e a adoção de um novo rumo que tivesse em conta a dimensão dos afetos necessários para minimizar o distanciamento presencial. Afinal o lema do nosso projeto educativo está profundamente marcado pela condição humana e pelos afetos - Aprender a Ser Pessoa na Escola de que eu Gosto.

Consideramos os afetos muito importantes para atenuar esse distanciamento nas saudações, nas despedidas e no reforço positivo das tarefas partilhadas quer nas telas de videoconferência, quer nas salas de aula virtuais, componentes consideradas relevantes para motivarmos os alunos para um processo de ensino aprendizagem em contexto sui generis. A nossa ambição era continuar a manter os alunos ligados à escola e garantir aprendizagens enquadradas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, tendo presente a perspetiva traçada no Projeto Educativo de construirmos uma escola inclusiva e humanista e que passasse a estar em linha com a diversidade de condições e situações (novas) de isolamento em que os alunos se poderiam encontrar. Pretendíamos possibilitar as interações sociais e ainda promover a recriação de novas estratégias de motivação e metodologias para a realização das tarefas propostas. Muitos de nós consideram esta recriação talvez o ponto mais forte de todo o processo, sobre a qual os alunos tendem a demonstrar saudades dos tempos na escola, na certeza de que o trabalho persistente dos seus professores fará emergir uma renovação da conceção de escola, entendido como um renascimento das próprias cinzas, como regeneração de toda a nossa esperança.

Subjacente a todo este processo há um trabalho suplementar do diretor e da sua equipa mais próxima bem como das estruturas intermédias, em particular dos diretores de turma, sobre quem recaiu uma forte inquietação, garantir a força da união para esbater a barreira da distância e que não permitisse que nenhum aluno se alheasse do seu compromisso com a escola.

Durante as duas primeiras semanas de suspensão das atividades letivas o Agrupamento procurou encontrar os recursos indispensáveis à continuidade do processo de ensino aprendizagem, mesmo em condições complexas. Procurámos estabelecer um

contacto permanente com pais/encarregados de educação e alunos para a concertação de meios de comunicação eficazes, na tentativa de se prosseguir com o desenvolvimento de aprendizagens. Para nós este aspeto foi a pedra basilar do percurso feito até agora.

Neste sentido, na primeira semana de confinamento, os telefonemas, e-mails e drive serviram de suporte indispensáveis, quer no envio de atividades a realizar a pedido dos professores, quer nos feedbacks a dar.

Manter ligados os alunos à escola passou, antes de mais, pela atribuição de um e-mail institucional a cada aluno. Este e-mail permitiria dar o passo seguinte, utilizar a aplicação Google Classroom como recurso estratégico para enriquecer o ensino a distância, nomeadamente nas aulas assíncronas.

A par desta perspetiva de trabalho, a escola reorganizava-se com o seu Plano de E@D, já usava uma plataforma de videoconferências para as inúmeras reuniões, incluindo as de avaliação, e implementava equipas de apoio, quer de formação informal para o uso da Classroom, quer de Cibersegurança, cabendo a esta dar apoio à comunidade educativa na utilização das plataformas digitais e divulgação de recomendações com os cuidados a ter nas redes digitais. Na Implementação do Plano de Ensino a Distância, que arrancou muito cedo, foi uma preocupação primeira os alunos que não dispõem de recursos telemáticos. Recorreu-se, por isso, ao apoio do Município e das juntas de freguesia que, numa primeira fase, fizeram chegar a esses alunos, em suporte de papel, toda a informação necessária para desenvolverem as suas atividades. Mas era importante garantir a estes alunos a igualdade de oportunidades. Tínhamos equipamentos que poderíamos disponibilizar. Sem alunos na escola, havia computadores a mais. Pensámos e concretizámos. Fizemos chegar aos alunos os equipamentos de que tanto necessitavam. Foram cerca de cinquenta. E que falta nos faziam?

Os horários tiveram de ser reformulados de forma a garantir uma componente de contacto direto entre docentes e os seus alunos e uma outra componente para trabalho autónomo e individual, por parte dos alunos. Planificaram-se os domínios, as aprendizagens oficiais articuladas com as ações do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória; estratégias e metodologias; recursos pedagógicos e atividades a realizar. Professores individualmente, conselhos de turma, conselhos de docentes, departamentos curriculares, a todos coube a árdua tarefa de, no pouco tempo que havia pela frente, encontrar as

soluções mais ajustadas à situação. E pensamos que o conseguiram. Caberá agora a cada um dar o seu melhor, sem esquecer que tem uma mão amiga nos colegas de trabalho.

Ao longo do período de interrupção letiva da Páscoa, foi mantido o contacto com os alunos e encarregados de educação para preparação prévia da plataforma e-learning a implementar. Temos de enaltecer a dedicação excecional dos educadores e professores, dos assistentes técnicos e dos assistentes operacionais a esta causa nobre da educação. Muitas vezes trabalharam continuamente, pondo em segundo plano as preocupações familiares, considerando a sua profissão como uma missão a desempenhar. É, ainda, imprescindível considerar particularidades diversas dos alunos, como a gestão do tempo, a motivação e a autonomia, os locais de estudo apropriados que ajudem à concentração, entre outros, tão relevantes para as aprendizagens online e para aquisição de competências digitais. Uma aula online não pode ser comparada a uma aula presencial.

Entretanto, em todo este processo, com o apoio do Município, o Agrupamento passou também a distribuir, nas suas escolas, refeições para os filhos em idade escolar de famílias mais carenciadas. Houve que adaptar o plano de contingência a este serviço, de forma a manterem-se os devidos cuidados de higienização e distanciamento social, essenciais à saúde pública.

As circunstâncias envoltas nesta situação de pandemia imprevista geraram muita ansiedade, desgaste psicológico e apreensão por parte dos professores e de todos aqueles que trabalham nas escolas.

Mesmo assim, temos a esperança de que os alunos vão obter aprendizagens eventualmente mais significativas. Também pensamos que a escola deve aproveitar esta experiência para olhar o seu futuro de forma diferente.

E para que se consiga um acompanhamento mais próximo dos alunos e respetivas famílias, o gabinete de psicologia e a equipa EMAEI reforçam os contactos e afirmam “Estamos aqui para ti, para a tua família – à distância, mas sempre presentes!”

Os alunos vão ganhar um upgrade digital neste período de confinamento que vai levar os responsáveis pela educação a refletir o mundo da escola pública. Como estará já a ser feito com o plano digital para a educação. Aguardemos.

Estamos a preparar o primeiro balanço sustentado em evidências recolhidas monitorizando os primeiros dias de ensino à distância. A equipa de acompanhamento e monitorização do Plano está a refletir sobre os procedimentos a seguir. Os resultados serão

então partilhados para uma reflexão mais aberta. As diferentes opiniões só poderão trazer confiança aos passos que temos para dar.

Apesar do distanciamento social decretado, quer-nos parecer que nunca estivemos tão perto quando analisamos a relação de contactos de proximidade estabelecida entre os membros da comunidade educativa do Agrupamento de Escolas Professor Carlos Teixeira. A confiar no trabalho e na dedicação de todos os intervenientes no processo educativo desta comunidade, partimos com pouco, mas acreditamos que vamos conseguir um futuro melhor.