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O sentir dos alunos num novo contexto de aprendizagem

Luísa Pereira | diretora@aert3.pt

Diretora do Agrupamento de Escolas de Rio Tinto 3, Gondomar

A situação de rutura da relação presencial dos professores com os seus alunos motivou um enorme esforço de criatividade e a reinvenção de novas estratégias. Foi um passo muito importante na capacidade de adaptação, de aprendizagem, de novas formas de comunicar, de ensinar e aprender e de nos relacionarmos.

Os professores ficaram, de repente, colocados perante novos desafios e a necessidade de, em conjunto e à distância, encontrarem soluções para novas dinâmicas pedagógicas, desde logo as relativas ao domínio dos meios tecnológicos de comunicação, o que provocou um acelerar de métodos de ensino através de meios digitais e da diversificação de métodos de estudo.

E os alunos? Desde a suspensão das atividades letivas presenciais ficaram confrontados com diferentes condições de acesso ao currículo, o desenvolvimento das competências a nível do seu saber tecnológico, autonomia e responsabilidade. Este novo cenário obrigou-os a repensar o processo de ensino e também da própria aprendizagem. Os alunos ficaram confrontados com a forma como adquirem e desenvolvem o próprio conhecimento, promovem a sua autonomia e capacidade de reflexão.

Numa dinâmica de auscultação dos alunos que está a decorrer no agrupamento, reconhecendo-os como atores em todo este difícil processo de mudança, referem-se alguns testemunhos de alunos que frequentam diferentes ciclos e níveis de aprendizagem.

“Como aluno de 12º ano que regressou à escola para as aulas de matemática e português, sinto que, apesar de o Ensino à Distância não ser um substituo perfeito das aulas presenciais, foi uma alternativa que permitiu o contacto permanente com a matéria e os professores, facilitando este regresso. De um modo geral, é possível afirmar que, apesar dos constrangimentos que estão associados ao Ensino à Distância, a forma como foi gerido pelo nosso Agrupamento permitiu o desenvolvimento de várias competências e valores previstos no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade

Obrigatória, dos quais se destacam o Desenvolvimento Pessoal, a Autonomia e a Responsabilidade.”

Hugo 12.º – Ciências Socioeconómicas

“O ensino à distância nem sempre foi fácil. Surgiram alguns problemas, como a organização do tempo de trabalho e a tecnologia imperfeita. Apesar disso, foi a melhor opção para não perder o contacto entre professores e alunos, e para continuar o nosso percurso escolar.”

Daniela 12º – Artes Visuais

“Nas aulas online foi, sem dúvida, efetuado um trabalho muito mais autónomo do que era presencialmente. Na fase inicial, tive alguma dificuldade em adaptar-me, uma vez que tive de aumentar o meu poder de concentração para não me distrair com o que se passava ao meu redor. Felizmente, os meus professores também fizeram os possíveis para que as aulas fossem produtivas, e alguns deles faziam, até, aulas de esclarecimento de dúvidas. Isto era muito importante, pois quando se passou para o regime online a carga horária de cada disciplina diminuiu, fazendo com que as aulas fossem utilizadas apenas para o lecionamento da matéria, deixando a realização de exercícios para trabalho individual. Se me questionarem acerca da minha preferência entre aulas online e aulas presenciais eu direi que prefiro muito mais as aulas presenciais, pois sinto que consigo aprender mais rapidamente os tópicos, isto é, considero que as aulas têm maior produtividade. Contudo, nem tudo foi mau nas aulas online pois melhorei a minha capacidade de organização, concentração e de autocontrolo”.

Inês 12º – Ciências e Tecnologias)

“Na adaptação a esta nova realidade tive algumas dificuldades. Por um lado, o trabalho tornou-se autónomo, e tem sido difícil obter o entusiasmo para trabalhar e realizar as tarefas cujos conteúdos não tinham sido abordados nas aulas – agora tenho de pesquisar, investigar e estar mais interessada, para poder verificar os meus conhecimentos nas aulas online (síncronas). Tive de criar novos hábitos, para sentir-me mais cómoda a trabalhar e, ao mesmo tempo, gerir o stress. Por outro lado, vi o trabalho individual como uma prova a superar, e consegui desenvolver a minha autonomia e

força de vontade. Agora, cada dia é mais fácil! Embora tenha algumas saudades da escola, já me adaptei a este modo de trabalho e, quando regressarmos à escola, poderei adicionar às minhas competências novas ferramentas que adquiri neste período. Por fim, quero destacar que esta realidade teve aspetos positivos e negativos, e que, apesar de ter sido mais difícil aprender sem estar numa aula presencial, a ajuda dos professores foi um grande apoio”.

Páris 10º Ano – Línguas e Humanidades

"Sobre as aulas: a forma de ensinar é muito boa , a criação de grupos de alunos por aulas está bem pensada. Sobre os colegas: em geral são bons colegas e penso que também entendem e gostam da forma como são dadas as aulas. Como estão a correr as aulas: estão a correr muito bem, consigo tirar dúvidas sempre que preciso, a professora está sempre disponível para ajudar. Penso que não fiquei parado no tempo e continuo a aprender apesar da forma ser um pouco diferente. "

Tiago 4º ano

"Gosto de ver os meus amigos...e também a ti. Adoro as histórias que tu contas e também os trabalhos que fazemos....acho que não tenho mais nada a dizer".

Tiago 5 anos

É, de facto, um tempo diferente que abruptamente veio colocar novos desafios a todos e mostra a importância das competências sociais e emocionais na educação. Podemos, no entanto, numa primeira abordagem, concluir que esta vivência é percecionada pela generalidade dos alunos como geradora de melhores aprendizagens decorrentes de um processo produtor de maior autonomia.