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Sónia Soares Lopes | soniasoareslopes@gmail.com

Professora de Matemática no ensino básico e doutoranda na área das Ciência da Educação na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa

Desempenhar a função de Professor a partir de casa tem sido um desafio, tanto a nível profissional como pessoal. Tenho tido muitas dificuldades em gerir o tempo, em separar o tempo pessoal do profissional.

Gerir o espaço da casa, o sinal de wi-fi, o silêncio, com os filhos que também estão em casa com aulas em aulas não presenciais não tem sido fácil. No entanto, como já são jovens universitários são bastante autónomos e partilham das tarefas da casa. Enquanto que a minha filha tem mantido o horário normal chegando a ter 4 horas seguidas de videoconferência, sem intervalos entre as diferentes disciplinas, atingindo, em alguns dias 8 horas de aulas por videoconferência, o meu filho tem um número muito menor de videoconferências, tendo que realizar algumas tarefas depois de ver alguns powerpoints.

Esta mudança brusca e inesperada implicou (re)agir. Apesar de já ter algum conhecimento sobre plataformas digitais e a sua utilização no ensino, não estava preparada para uma mudança brusca como a que vivemos, tendo procurado assistir a muitos Webinars sobre Ensino à Distância e lido alguns tutoriais.

A preparação do plano de trabalho semanal que envio aos alunos ocupa-me muito tempo. Como estratégia de ensino-aprendizagem, tenho utilizado o método da Aprendizagem invertida. Elaboro um plano de trabalho onde dou a indicação para os alunos verem determinados vídeos, fazerem exercícios interativos, realizarem alguns desafios matemáticos, copiar umas sínteses para o caderno diário e realizar alguns exercícios no caderno diário. Procuro colocar o aluno como protagonista da sua aprendizagem promovendo a sua autonomia. Nesse plano, utilizo linguagem simples, direta e concisa. Manifesto a minha disponibilidade para o aluno procurar esclarecer as suas dúvidas quer por email, através da Classroom (Fórum da turma) ou através de dois momentos síncronos de 30 minutos semanais através de videoconferência. Envio, posteriormente, a resolução dos exercícios propostos e como não tenho écran táctil, escrever em linguagem matemática num editor de texto demora algum tempo. Saliento

que todos os meus alunos têm acesso a meios tecnológicos, quer através do telemóvel ou computador. No entanto, alguns têm dificuldade com o sinal de rede e/ou renovação de dados. Para que o contacto com os alunos não fique fragilizado tenho também grupos do Whatsapp com cada turma.

Além dos dois momentos semanais síncronos com os alunos através de videoconferência, de 30 minutos cada, por turma, passo muito tempo a classificar o trabalho dos alunos e dar o respetivo feedback. Estes dias assisti a um Webinar sobre as Neurociências na Matemática onde a língua oficial era o Castelhano e quando se abordou a questão da importância do feedback, o orador em questão falava em retroalimentação. Muitas consideram o feedback apenas como um retorno, mas não é apenas isso. Deve ser um retorno que alimenta. Um retorno que dá forças para continuar. Os alunos tiram fotografia aos exercícios que realizam no caderno e colocam na plataforma (classroom) onde só o Professor vê e onde os comentários podem ser particulares. Este processo de análise é lento. Abrir as fotografias, procurar ler e compreender o trabalho dos alunos (que nem sempre é o melhor devido à qualidade das fotografias e da caligrafia) e dar feedback. Verificar a qualidade do trabalho, os erros, se está completo ou não e dar pistas (ajudas) para que o aluno consiga terminar a sua tarefa. Por vezes, nas videoconferências, proponho a resolução de um pequeno exercício no caderno, os alunos tiram fotografia imediata e enviam logo. Procuro, desta forma, verificar as aprendizagens efetivas do aluno. Os alunos recebem sempre feedback do trabalho que enviam. Uma palavra de felicitação, uma palavra de apoio, uma ajuda.

As turmas do 7º ano beneficiavam de um tempo semanal de coadjuvação na aula de Matemática, em regime presencial. Uma das sessões síncronas através de videoconferência que marquei é na hora previamente marcada para a coadjuvação. Nesses 30 minutos, eu fico com um grande grupo de alunos da turma e a outra Professora fica com um pequeno grupo de alunos, cerca de quatro, que têm revelado mais dificuldades ao longo do ano letivo. Procuramos, desta forma, dar um apoio mais diferenciado aos alunos. Muitos destes alunos têm dificuldade em expor as suas dúvidas e em grupo mais pequeno é mais fácil.

Creio que o mais importante para os alunos tem sido o contacto com o Professor. Saber que o Professor está lá. Longe, mas perto. E tem sido reconfortante receber as

mensagens dos alunos a pedir ajuda no exercício tal e tal. Umas das principais vantagens neste tipo de ensino-aprendizagem é poder ajustá-lo às necessidades do aluno. Apesar dos planos de trabalho semanais terem uma data definida e serem muito poucos a não entregar, dou sempre oportunidade para que os alunos possam completar a tarefa. Esta forma de trabalho permite, também, aos alunos com um ritmo de aprendizagem mais rápido realizar os planos de trabalho seguintes, sem perder o envolvimento, o interesse. Claro que exige do Professor mais trabalho, mais horas em frente ao computador. Mas temos de procurar manter o envolvimento dos alunos. Não é isso que queremos? O envolvimento dos alunos no processo ensino-aprendizagem? E é curioso notar, também em conversas com outros Professores, que muitos dos alunos que revelavam muitas dificuldades de concentração numa sala de aula normal, estão a dar uma resposta extremamente positiva a este tipo de trabalho.

Além das mudanças no trabalho com os alunos, este novo regime de trabalho também trouxe mudanças no trabalho entre os Professores. Aproximou-os. Temos tido muitas reuniões (de Conselho Pedagógico, de departamento, de grupo disciplinar) para planificar e monitorizar, participação em grupos do Facebook para e-learning, mas sobretudo para apoiar-nos nesta mudança brusca com o entendimento que o trabalho colaborativo fortalece, edifica o Professor e reflete-se nas aprendizagens dos alunos.

O que virá depois? Creio que ninguém pode ficar indiferente a esta mudança. Apesar de muita relutância em modificar o processo de ensino-aprendizagem por parte de muitos Professores ao longo dos anos, esta mudança brusca trouxe um sentido para a mudança. E os Professores fizeram um esforço enorme em se adaptarem, em se ajustarem, em aprender coisas novas para poderem estar lá para os alunos. Foi “preciso dar o salto” e não se pode voltar atrás!

Para concluir, creio que, mais do que ensinar à distância, é fundamental ESTAR, mesmo à distância, porque os alunos precisam de nós e nós deles!