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Rui Pedro | Aluno do ensino básico

Estou a acabar o ensino básico e fui desafiado a escrever um texto sobre a minha perspetiva de aluno em relação às aulas em tempos de Covid-19. E cá estou eu a escrever sobre a minha vida de estudante desde que as escolas de todo o país fecharam.

Depois de ter sido decretado o fecho das escolas, eu apenas tive dois dias sem nada que fazer, pois logo a seguir a minha escola implementou a política de aulas online. No início eu estava eufórico, pois a escola tinha fechado e iríamos ter algo nunca antes pensado, que eram as aulas online. A minha escola deu a todos os alunos tudo o que necessitávamos para não ficarmos prejudicados com este sistema. Quando tudo isto começou, penso que todos estávamos a gostar, pois era tudo novo e diferente. Porém, com o passar dos dias fui-me desinteressando, pois como já nada era novo, eu comecei a perceber que algumas coisas que fazíamos não faziam muito sentido (pelo menos para mim). Pouco a pouco comecei a aborrecer-me com as aulas online e a cansar-me de estar tanto tempo ao computador. Não aguentava mais, mesmo tendo menos aulas. Isto porque, para as aulas assíncronas, havia aplicações com uma quantidade absurda de trabalho autónomo. Se já nos queixávamos durante o ano todo que não tínhamos quase tempo nenhum para nós próprios, agora nem para fazermos todo o trabalho autónomo temos tempo. Isto, se quisermos continuar a ter um pouco de sanidade mental e tempo para fazermos o que gostamos. Parece que os professores pensam que, como estamos sempre em casa, não temos mais nada que fazer. Mas isso não é verdade. Nós todos temos atividades em casa que adoramos. Eu, por exemplo, adoro jogar PlayStation 4 com os meus amigos, pois nestas circunstâncias é o único contacto que tenho com eles. Também adoro fazer edição de clipes de jogos, como por exemplo highlights (os melhores momentos) e isso tudo leva tempo. Mas também serve para continuarmos felizes a fazer o que gostamos, mesmo em época de quarentena, porque a vida não é só estudar nem trabalhar. Penso que devemos viver, e não ser uma máquina que só pensa em estudar. Na minha opinião, apenas um robot conseguiria fazer todo o trabalho que nos pedem e ainda poder fazer o que se gosta. Claro que em tempo de aulas normal isso vai sendo possível, mas neste momento não dá.

Outra coisa que eu odeio é ameaçarem-nos que ligam para nossa casa, caso não realizemos o trabalho autónomo. Eu já nem quero saber disso, pois prefiro que a minha mãe receba uma chamada e eu continue mentalmente são, do que ficar completamente absorvido pelo trabalho da escola. Também, quando o fazem, como a minha mãe comunica comigo, sabe o absurdo que são os trabalhos autónomos. Por isso, apenas me alerta para o que se passou e diz-me para tentar fazer o máximo que conseguir. Mas eu sei que nem todas as mães e pais são assim, e estes telefonemas podem fazer com que os alunos se sintam mais revoltados ainda. De qualquer forma, aconselho os alunos a tentarem dar sempre o seu melhor, porque lá por não dar para fazer tudo, também não quer dizer que devam nada fazer. Por isso, a minha dica é que tentem sempre fazer o máximo que conseguirem para a escola, mas para continuarem bem, façam também o que gostam. Bem, com tudo isto, pareceu-me que as últimas duas semanas do segundo período tinham sido meses, exceto os primeiros três dias em que, como já escrevi, estava em época de descoberta.

Depois vieram as abençoadas férias que, sem dúvida, foram a melhor parte desta quarentena. E lá estive eu de férias sem pensar um minuto em aulas e trabalho autónomo e também não sabia nada do 3º período. Mas se soubesse, não tinha ficado tão despreocupado…

Dois dias antes de acabarem as férias recebi um email da minha escola a explicar como seria o terceiro período. Naquele email veio a terrível notícia de que não existiriam mais aulas presencias neste ano letivo… Fiquei completamente chocado, pois não sabia como iria aguentar um período inteiro de aulas online se aquelas duas semanas tinham sido um inferno. E eu tinha razão… O 3º período está a ser uma tortura. Continuamos sem tempo para nada, mas agora existe uma nova aplicação nas nossas aulas, que se chama OneNote. Essa aplicação pode ser fantástica, se for bem usada. Alguns professores usam-na como uma espécie de caderno diário, onde põem as lições todas e o que se deu na aula. Também existe uma aba de sugestões onde podemos dar a nossa opinião sobre as aulas, um local onde podemos pôr o nosso trabalho autónomo, para os professores terem evidências do nosso trabalho, e também onde eles nos dão instruções em semanas em que não temos aulas dessas disciplinas. Se esta aplicação for usada assim, ela de facto dá muito jeito, mas nem tudo é perfeito. Alguns professores pedem- -nos para pôr lá TUDO O QUE FAZEMOS DURANTE AS AULAS. Isto, no meu ponto de

vista, revela uma grande falta de confiança em nós. Também não entendo para que necessitam de evidências do que escrevemos numa aula online, quando em sistema de aulas presencias não nos vão verificar os cadernos para ver se passamos tudo no final de cada aula.

Agora, vamos deixar o trabalho autónomo de parte e vamos focar-nos nas aulas online. As aulas online podem ser fantásticas e super interativas, quando os professores as preparam a pensar em nós e em formas de aprendermos enquanto nos divertimos. Às vezes há quem não dê valor a isso, mas era importante que déssemos. Mas, também existe o professor que usa um power point para dar as aulas e isso não tem mal, caso o power point seja só um apoio ou sirva de guião e a aula possa fluir naturalmente. Mas há quem passe a aula inteira a partilhar o power point, que nem sequer foi feito pelo professor, e mande os alunos lê-lo. Esse tipo de aula é a coisa mais secante do universo para nós. Por isso, a todos os professores que estejam a ler isto, peço, por favor, que tentem ser criativos. Por favor, não usem power points para passar durante a aula inteira, especialmente em aulas online, pois os alunos podem deixar o computador ligado na aula e simplesmente irem fazer outra coisa.

Quero terminar esta reflexão a dizer que sei que esta situação é difícil para todos nós e para os professores também. Sei que não deve ser fácil adaptarem-se a estas mudanças e importa referir o esforço e o trabalho que alguns professores estão a ter. Mas, seria tudo melhor se os professores pudessem pensar em formas mais criativas de dar aulas nesta altura que vivemos.