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Irala (1997) classifica as emoções em positivas, depressivas e agressivas. Positivas são as que podem produzir efeitos, como clareza mental, euforia, relaxamento muscular e ativação das forças curativas, dentre as quais destaca o amor, a confiança e a alegria. Depressivas são aquelas que podem causar asma, artrite, hipertensão, fadiga, etc. Agressivas são as emoções que podem produzir a estimulação das supra-renais e novos hormônios ocasionando a desnutrição, úlcera, diabete, insônia e infecções. Baseado nesses conceitos, aconselha o autor:

No “palácio da afetividade” há salões brilhantes, onde se hospeda o otimismo, a esperança, o amor, o valor e a alegria, e porões escuros, onde mora o desânimo, a tristeza, o temor, a preocupação, a ira. A senhora do palácio à vontade, terá que percorrer suas dependências, mas pode fixar morada onde quiser. Não demos demasiada importância aos temores, desgostos e tristezas, quando sobrevierem. Não moremos neles habitual e voluntariamente, mas sim nos salões da alegria e do otimismo.(IRALA, 1997, p.189).

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LeDoux (1998) apresenta pesquisadores que, dando continuidade aos estudos de Darwin, buscaram demonstrar, por meio de métodos científicos, que algumas emoções possuem modos de expressão universais, identificadas em especial nas expressões faciais:

Sylvan Tomkins (1962) considera a existência de oito emoções básicas: surpresa, interesse, alegria, raiva, medo, aversão, vergonha e angústia.

Carroll Izard (1977) também considera a composição de oito emoções básicas. O autor vê a “ansiedade” como a combinação do medo e duas emoções adicionais, que podem ser: culpa, curiosidade, vergonha, raiva ou angústia.

Paul Ekman (1984) apresenta uma lista de seis emoções básicas, acompanhadas de expressões faciais universais: surpresa, felicidade, raiva, medo, aversão e tristeza.

Robert Plutchik (1980) e Nico Fridja (1986) não se limitam às expressões faciais, defendem a primazia de uma tendência para ações mais globais, envolvendo diferentes partes do corpo.

Philip Johnson-Laird e Keith Oatley (1992) abordam as emoções básicas analisando as palavras usadas para expressar as emoções.

Jaak Panksepp (1982), observando as conseqüências comportamentais da estimulação elétrica, em certas regiões do cérebro de ratos, identifica quatro padrões básicos de reação emocional: pânico, raiva, expectativa e medo.

Seeburger (1999) demonstra as dificuldades e interferências da cultura no sentir e expressar as emoções. Afirma o autor que “Os homens do ocidente são induzidos a acreditar no mito de que ‘homens

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verdadeiros’ não sentem emoções. Os homens são, tradicionalmente, desencorajados a chorar ou a expor francamente muitos de seus sentimentos, a falar de como se sentem ou de deixar transparecer que têm emoções, exceto a raiva”. Tradicionalmente, o homem tem permissão para sentir raiva, o que lhe confere uma certa masculinidade.

Pode-se dizer que a linguagem e a cultura moldam a maneira como são interpretadas e definidas as emoções. O tibetano, por exemplo, não tem a palavra emoção. Em alguns grupos culturais, determinadas emoções são permitidas ou não. Expressões de raiva são menos evidentes na cultura japonesa.

De acordo com este autor, as emoções impulsivas (raiva e medo) seguem o mesmo padrão dos outros impulsos e passam por cinco fases: início, desenvolvimento, ápice, redução, fim. Reconhece que as emoções são sentidas e reveladas na medida da importância que se atribui às coisas ou pessoas. São suas as palavras:

Se nada nos importasse, não teríamos emoções. As emoções são o preço que pagamos por deixarmos as coisas nos importarem. Não ter emoções é ser, talvez, como pedras ou ilhas, mas não seres humanos, não criaturas para quem as coisas importam. As emoções revelam a nós mesmos, aos outros e às coisas, à medida que nos importam. Temos emoções porque as coisas são importantes para nós.(SEEBURGER, 1999). Já Maturana (1999) argumenta que as emoções não são sentimentos. Registra que, do ponto de vista biológico, são disposições corporais dinâmicas que determinam ou especificam domínios de ações. Assim como Reich, Maturana considera que o componente emocional é inerente a todo animal, mas que a existência humana só se realiza na linguagem e no racional partindo do emocional.

Dorothy Jongeward e Muriel James, apud Oliveira (1984), explicam que, já na infância, as pessoas começam a estruturar suas preferências

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emocionais. As crianças não nascem com as emoções já programadas, em relação a objetos e pessoas. Elas aprendem em relação a quem e ao que podem mostrar afeição, em relação a quem e ao que devem sentir-se culpadas, a quem e ao que devem temer, a quem e ao que devem odiar. Embora se aprenda sobre todos os tipos de emoções, cada qual se adapta a uma ou mais emoções “favoritas”. Uma criança que ouve continuamente: “Estou envergonhada de você”. “Você não tem vergonha?” “Teu comportamento me envergonha”, pode aprender a sentir vergonha.

Ao colecionar emoções favoritas, as pessoas buscam carícias que lhes proporcionem tais emoções. Para obtê-las manipulam os outros para que as firam, as diminuam, fiquem irritadas com elas, as amedrontem e assim façam fluir aquela emoção ou emoções selecionadas como favoritas. As pessoas trocam emoções como as crianças trocam figurinhas. Uma carícia negativa recebida pode proporcionar uma emoção negativa, que essa pessoa transmite a uma terceira, ocasionando uma cadeia de troca de emoções.

Na cultura patriarcal do Ocidente, e que parece expandir-se por vários âmbitos da terra, as emoções têm sido desvalorizadas em favor da razão. O reconhecer que o humano se realiza da fusão da linguagem e da emoção, vislumbra a possibilidade de integrá-las respeitando a legitimidade do ser humano nestes dois aspectos. Aprende-se, portanto, desde cedo, que as emoções devem ser controladas ou negadas, pois originam a arbitrariedade do “não” racional. Maturana (1999) concebe que numa conversação surge tanto o racional como o operar em linguagem através do fluir das emoções. Considera que se deve ter em conta as emoções reconhecendo-as quando se quer que a conduta seja racional.

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Neste sentido, destaca-se a importância das suas palavras: “Vivemos numa cultura que desvaloriza as emoções e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção, que constitui nosso viver humano, e não nos damos conta que todo sistema racional tem um fundamento emocional”.

Galvão (2000) apresenta duas abordagens sobre emoção. A primeira, representada por Kantor e Lapicque, que vê as emoções como reações incoerentes e tumultuadas. Destaca seu efeito desagregador, perturbador sobre a atividade motora e intelectual. A segunda, representada por Cannon, destacando o poder ativador das emoções ao considerá-las como reações positivas. Acompanhadas de uma descarga de adrenalina na circulação e do aumento da quantidade de glicose no sangue e nos tecidos, as emoções provocam aumento de disponibilidades energéticas, o que, segundo os adeptos dessa abordagem, é útil para a ação sobre o mundo físico.

Wallon (1989) identifica subjacente às tendências clássicas, uma atitude teórica comum. Considera que seus defensores tentam encaixar as emoções numa lógica linear e simplesmente suprimem o aspecto que não se integra no quadro conceitual delineado. Com isto toma uma atitude diferente. Ao invés de tomar partido contra ou a favor das emoções, numa inadequada perspectiva de valoração, busca compreendê-las tentando apreender sua função. Defende que as emoções são reações organizadas e que se exercem sob o comando do sistema nervoso central. O fato de contarem com centros próprios de comando, situados na região subcortical, indica que possuem uma utilidade; pois caso fossem desnecessárias não teriam centros nervosos responsáveis pela sua regulação.

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Registra o autor que as emoções são acompanhadas de alterações orgânicas, como aceleração dos batimentos cardíacos, mudanças no ritmo da respiração, dificuldades na digestão, secura na boca. Além dessas variações no funcionamento neurovegetativo, perceptíveis para quem as vive, provocam alterações na mímica facial, na postura, na forma como são executados os gestos. São acompanhadas de modificações visíveis do exterior, expressivas, responsáveis por seu caráter altamente contagioso e por seu poder mobilizador no meio humano.

Wallon (1986) conclui que todas as emoções podem ser vinculadas à maneira como o tônus se forma, se conserva ou se consome. A cólera vincula-se a um estado de hipertonia; a alegria resulta de um equilíbrio e uma ação recíproca entre o tônus e o movimento, é uma emoção eutônica. A timidez revela hesitação na execução dos movimentos e incerteza na postura a adotar, há um estado de hipotonia. Esta relação pode levar a uma classificação das emoções segundo o grau de tensão muscular a que se vinculam.

Para este autor as emoções podem ser consideradas como a origem da consciência, visto que exprimem e fixam para o próprio sujeito, através do jogo de atitudes determinadas, certas disposições específicas de sua sensibilidade. Considera que a emoção é uma atividade social, pois se nutre do efeito que causa no outro, ou seja, as reações que as emoções suscitam no ambiente, funcionam como uma espécie de combustível para sua manifestação. Em situações de crise emocional (quando o sujeito mergulha-se completamente nos efeitos da emoção e perde o controle sobre suas próprias ações), a tendência é que os efeitos da emoção se desvaneçam caso não haja reações por parte do meio.

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Sugere, também, que as emoções propiciam interações sociais e possibilitam o acesso ao universo simbólico da cultura. Que a emoção está na origem da atividade intelectual, porém, uma vez instaurada a atividade intelectual, manterá uma relação de antagonismo com as emoções o que demonstra sua natureza paradoxal.

Afirma que no cotidiano é possível constatar que a elevação da temperatura emocional tende a baixar o desempenho intelectual e impedir a reflexão objetiva. O poder subjetivador das emoções incompatibiliza-se com a necessária objetividade das operações intelectuais; é como se a emoção embaçasse a percepção do real impregnando-o de subjetividade e, portanto, dificultando reações intelectuais coerentes e bem adaptadas.

Reconhece que é possível constatar também que a atividade intelectual voltada para a compreensão das causas de uma emoção reduz seus efeitos, uma crise emocional tende a se dissipar mediante atividade reflexiva. “A comoção do medo ou da cólera diminui quando o sujeito se esforça para definir-lhe as causas. Ao procurar traduzir em imagens um sofrimento físico o fato perde algo de sua agudez orgânica”. Portanto, a relação entre emoção e razão é de filiação e, ao mesmo tempo de oposição.

Em contrapartida, Vygotsky (1990, p.436) correlaciona emoção e razão ao afirmar “se analisamos finalmente o vínculo de ambos os processos, imaginação e pensamento, com a afetividade e a participação dos processos emocionais nos pensamentos, veremos que tanto a imaginação como o pensamento realista, podem caracterizar- se por uma elevadíssima emocionabilidade e que entre eles não existe contradição”.

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Lane (1997, p.19) identifica correlação entre emoção e linguagem ao registrar:

Destacamos duas mediações fundamentais na constituição do indivíduo: a linguagem e as emoções, ambas permitindo a comunicação com o outro, seja ela expressiva, seja ela verbal, elas estão na base da construção do saber, manifestado através das representações sociais.

Para Brown, apud Goleman (1995), o pensamento e a linguagem ajudam a conferir a qualidade específica das emoções. Beauport e Diaz (1998) validam esta afirmação ao propor que: “Tudo o que dizemos é afetado por nossas emoções no momento em que estamos falando. Não apenas as palavras que pronunciamos, mas também os tons e as vibrações da nossa voz carregam uma verdadeira mensagem emocional”.

Destaca-se a contribuição de Goleman (1995), pois ao agrupar as emoções em famílias, permite que se aprofunde a compreensão das mesmas.

Ira: fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação, indignação, vexame, acrimônia, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, talvez no extremo, ódio e violência patológicos.

Tristeza: sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, desespero e, quando patológica, severa depressão.

Medo: ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto, terror; e, como psicopatologia, fobia e pânico.

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Prazer: felicidade, alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual, arrebatamento, gratificação, satisfação, bom humor, euforia, êxtase e, no extremo, mania.

Amor: aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão, ágape.

Surpresa: choque, espanto, pasmo, maravilha.

Nojo: desprezo, desdém, antipatia, aversão, repugnância, repulsa.

Vergonha: culpa, vexame, mágoa, remorso, humilhação, arrependimento, mortificação e contrição.

Figura 3.1: Famílias de emoções Fonte: Adaptado de Goleman (1995)

Berne (1977) separa as emoções em duas categorias: as emoções autênticas e as disfarces. Considera que as emoções estão ligadas às

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crenças e aos pontos de referência das famílias. Cada família tem suas normas definidas, conscientes ou não, sobre quais emoções podem ser sentidas ou expressadas. Além das variações na intensidade e duração dos sentimentos, Berne descobriu ainda que a criança muda qualitativamente as emoções. Substitui a emoção proibida por outra permitida, dando origem à emoção disfarce. Disfarce é, portanto, uma emoção substitutiva, inadequada, fomentada pelos pais ou seus substitutos na infância, que entra no lugar da emoção autêntica, ignorada ou proibida. Na categoria das emoções autênticas, o autor agrupa: alegria e prazer, afeto, medo, raiva e tristeza.

As emoções disfarces não são adequados em qualidade, intensidade e duração às situações correspondentes. O interlocutor sabe que o disfarce é artificial e exagerado o que acarreta incompreensões e comportamentos inadequados. Para o autor, os mandatos parentais internalizados regulam a percepção (sentir), assim como a possibilidade de expressar as diferentes emoções.

Figura 3.2: Emoções autênticas e disfarces Fonte: Adaptado de Berne (1977)

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Para Kértesz (1987), as emoções disfarces, relacionadas a seguir, apresentam os seguintes significados:

Falsa alegria: rir ou sorrir quando está mal, para agradar a alguém que gosta disso.

Falso afeto: forçar-se a gostar de alguém que provoca repulsa.

Falso medo (fobias): temor irracional apreendido por experiências traumáticas, ou imitando o temor dos outros.

Ansiedade ou angústia: semelhante ao temor. Um mal-estar opressivo diante de um estímulo presente ou futuro, que realmente não o justifica: prestar um exame, expressar raiva, um encontro marcado.

Depressão: é inautêntica. Não deve ser confundida com tristeza genuína. É produzida por quatro mecanismos principais: excessiva autocrítica interna ou perfeccionismo; proibição para sentir/expressar raiva; falta de carícias positivas ou suficientes; falta de planos positivos em longo prazo.

Culpa: outro disfarce aprendido na infância. Pode surgir na aprendizagem de prêmio e castigo, nos primeiros anos ou por ensinamentos éticos a partir dos seis e oito anos.

Inadequação: sentir-se inapto, incapaz, fora do lugar.

Vergonha: semelhante à inadequação podendo ser acompanhada de rubor.

Crema (1985), baseado em Berne (1977), também classifica as emoções em autênticas e disfarces. Para fazer esta diferenciação faz uso de determinados critérios. Considera como emoções autênticas: o afeto (amor), a alegria, a tristeza, o medo e a raiva. Para o autor, essas emoções denotam:

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Reações a estímulos ambientais reais que as eliciam.

Reações de acordo e proporcionais à qualidade, intensidade e magnitude do estímulo ambiental provocador.

Reações situacionais, ocorrendo em “pico”, permanecendo o tempo que durar a estimulação ambiental.

Há congruência da emoção com as reações não-verbais, posturas e atitude geral.

Como emoções disfarces, cita o autor: Ódio, Ressentimento, Desconfiança, Desafio, Ciúme, Inveja, Orgulho, Triunfo Maligno, Explosão de Ira, Falsa Alegria, Falso Afeto, Depressão, Fobia, Ansiedade, Angústia, Inadequação, Preocupação, Insegurança, Culpa, Confusão, Vergonha, Desespero e Sentir-se Rejeitado/Fracassado. Essas emoções são identificadas como:

Reações autogeradas, independente dos estímulos ambientais.

Reações em desacordo e desproporcionais à qualidade, intensidade e magnitude dos estímulos ou situações onde ocorrem.

Reações que ocorrem, geralmente, em “platô”, permanecendo muito além da duração da situação.

Há incongruência da emoção com as reações não-verbais, posturas e atitude geral. (Ex. “chorar de raiva”).

Resumindo, as emoções autênticas apresentam-se em estado potencial, desde o nascimento, apenas carecendo dos estímulos ambientais para sua atualização, sendo um patrimônio comum da humanidade. As emoções disfarces são adquiridas posteriormente, em função das peculiaridades do meio.

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