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Uma função essencial da linguagem é expressar sentimentos e desejos. A emoção está tão presente na comunicação, no modo de falar que, quando uma pessoa está com um nível físico emocional baixo, costuma-se dizer que ela está em “péssimo estado”. Sabe-se também que, para produzir com qualidade, para se obter bons resultados é preciso estar num bom “estado mental”.

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O estado mental inclui os pensamentos, as emoções e a fisiologia que se expressa num dado momento. São as imagens neurais, sons, sentimentos e os padrões da postura física e da respiração. Como corpo e mente estão interligados, os pensamentos influenciam imediatamente a fisiologia e vice-versa.

As emoções constituem o estado mental consciente. O estado mental muda continuamente e, em conseqüencia, o mundo externo parece mudar. Em geral, se tem mais consciência do estado emocional do que da fisiologia, postura, gestos e padrões respiratórios. Na verdade, acredita-se que as emoções estão fora do controle consciente, sendo a porta visível de um iceberg. Não se percebe a fisiologia nem os processos mentais subjacentes às emoções. Tentar influenciar as emoções sem modificar o estado mental pode tornar-se inútil, pois a mente ordena e o corpo obedece. Assim, as emoções habituais estão estampadas no rosto e na postura de uma pessoa, a qual na maioria das vezes não percebe até que ponto suas emoções moldam sua fisiologia.

Recordações podem desencadear emoções. Sempre que alguém tem recordações desagradáveis e entra num estado mental negativo, seu corpo inteiro recebe esse estado negativo e o mantém na forma de determinados padrões de tônus muscular, postura e respiração. Essas lembranças armazenadas fisicamente podem contaminar suas futuras experiências por minutos ou horas.

As pessoas que sofrem de depressão adquirem, inconscientemente, a capacidade de manter-se num estado negativo por longos períodos. Outras pessoas são capazes de modificar seu estado emocional sempre que desejam, criando para si mesmas uma liberdade emocional que lhes dá uma melhor qualidade de vida. Elas vivenciam os altos e baixos

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emocionais da vida, mas aprendem com eles e seguem em frente, sem prolongar uma dor emocional desnecessária.

As relações entre seres humanos podem tornar-se complexas, já que muitas coisas acontecem simultaneamente. Não se pode prever exatamente o que vai ocorrer, porque a reação de uma pessoa influencia a comunicação de outra. O relacionamento é um ciclo, no qual se reage a feedbacks para saber o que se deve fazer em seguida. A mente consciente é limitada e nunca consegue ver o circuito inteiro da comunicação, apenas pequenos segmentos dela.

Maturana (1999) confirma o exposto ao reconhecer que, ao mudar a emoção, muda-se o domínio da ação. Este é um saber existente na práxis da vida cotidiana. Saber este negado quando se afirma que o que define a conduta como humana é o racional. Sabe-se, portanto, que a emoção determina o que se pode ou não fazer sob domínio da emoção.

Esta afirmação permite que se destaque a importância de se compreender que emoção e comunicação estão interligadas no domínio das ações, ou seja, das relações humanas, pois, segundo o autor, a linguagem é um instrumento de comunicação que ocorre não somente no corpo como um conjunto de regras, mas no fluir de coordenações consensuais de conduta.

A emoção é fator importante na comunicação humana, podendo interferir de forma positiva ou negativa. Os gestos e movimentos corporais traduzem a intensidade das emoções sentidas. No entanto, a natureza do estado emocional (medo, raiva, tristeza, alegria), é expressa, principalmente, pelos movimentos faciais. No plano das expressões, os gestos constituem mais precisamente, dentre os

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movimentos corporais, os indícios da ativação emocional. A postura adotada pelas pessoas também influencia a receptividade ou não das mensagens verbais e pode demonstrar emoções.

LeDoux (1998) cita Darwin, ao dizer que os movimentos de expressão no rosto e no corpo, qualquer que seja sua origem, são por si só tremendamente importantes para o bem-estar das pessoas. Funcionam como os primeiros meios de comunicação entre mãe e filho; ela sorri e assim encoraja seu bebê a trilhar o caminho certo, ou franze o cenho em desaprovação. Facilmente percebe-se a solidariedade na expressão do outro. Desse modo, os sofrimentos são atenuados e a satisfação ampliada; conseqüentemente, fortalecem-se os bons sentimentos. As expressões imprimem vivacidade e energia à palavra falada. Revelam os pensamentos e intenções de outras pessoas com mais autenticidade do que as palavras, as quais podem ser falseadas.

Schulz (1998) concorda com o proposto, ao afirmar que “a expressão emocional, o modo como lidamos com ela e comunicamos o que sentimos, é foco de nosso centro emocional. Ligado a ele está a vida emocional de nossas parcerias, os relacionamentos íntimos que formamos com os outros, já que esses são os outros atores da peça de nossas vidas, as pessoas para quem nos expressamos e dirigimos nossas emoções e a quem dirigimos nossas falas”.

Maturana (1999) considera que a linguagem se manifesta como fenômeno de vida e acompanha os seres humanos em sua evolução através da história, fazendo com que o homem, no movimento do fluir constante de ações e interações, passe a ter uma experiência de vida em duas vertentes simultâneas e recíprocas. A primeira e imediata é a emocional, que é comum a todos os animais e dinamiza suas ações. A

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segunda é a racional, única para o ser humano, que distingue as coerências existentes no operar da linguagem.

Assim sendo, a vida humana é sempre um fluir entrelaçado do emocionar e da racionalidade, através do qual ocorrem diversos domínios da realidade. Vive-se nos diferentes domínios de realidade em interações com outros, explícita ou implicitamente, de acordo com o fluir do emocionar. O entrelaçamento entre a emoção e a linguagem fundamenta a compreensão das dimensões humanas.

Maturana ressalta, também, que aquilo que se distingue como “emoções”, ou que se conota com a palavra “emoções”, são disposições corporais que especificam a cada instante o domínio de ações em que se encontra um animal (humano ou não) e que o emocionar, assim como, o fluir de uma emoção à outra, é um fluir de um domínio de ações do outro. Daí a relevância do estudo das emoções relacionadas ao processo da comunicação humana.

Maturana (1999) assim como Reich (1988) considera que o componente emocional é inerente a todo animal, mas afirma que a existência humana só se realiza na linguagem e no racional partindo do emocional.

Chalhub (2000), ao tratar da função emotiva da linguagem, proposta por Jakobson, traz as palavras do autor: “A chamada função emotiva ou ‘expressiva’, centrada no remetente, visa a uma expressão direta da atitude de quem fala em relação àquilo de que está falando. Tende a suscitar a impressão de uma certa emoção, verdadeira ou simulada”. A emoção do emissor, verdadeira ou não, pode influenciar o ânimo e o julgamento dos ouvintes.

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No entanto, é importante ressaltar que, se a emoção utilizada na comunicação for simulada, o comunicador poderá estar confundindo o seu papel com o papel de um ator e, portanto, agredindo a conduta ética de não manipular o ouvinte.

4 APRENDIZAGEM

“A arte suprema do mestre consiste em despertar o gozo da expressão criativa e do conhecimento”. (Albert Einstein).

Explicar o mecanismo da aprendizagem é esclarecer a maneira pela qual o ser humano se desenvolve, toma conhecimento do mundo em que vive, organiza sua conduta e se ajusta ao meio físico e social. Não existe a pretensão de, neste capítulo, realizar análise aprofundada das teorias da aprendizagem, mas fazer uma revisão da literatura acerca das mesmas para se compreender melhor o processo de aprendizagem e avaliar a contribuição da comunicação e o como adaptá-la às diferentes formas de aprendizado dos alunos. Cabe explicar que merecem destaque para efeitos deste estudo os autores que privilegiam a presença das emoções, sentimentos, ou seja, do afetivo, no processo ensino-aprendizagem.