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Considera-se com naturalidade a idéia de que a aparência física e os movimentos do corpo desempenham um importante papel no relacionamento social. Eles exprimem características do modo de ser e agir das pessoas.

Na Antigüidade, os tratados de retórica já cotejavam os méritos respectivos dos gestos e da palavra. Hoje, políticos buscam, através de treinamento, aprimorar sua expressão diante das câmeras; executivos fazem estágios visando desenvolver seu potencial “não-verbal”; psicólogos, através de técnicas de “afirmação do eu”, ensinam aos tímidos como se mostrarem mais seguros de si; publicam-se livros que permitem identificar, na expressão fisionômica e na postura das pessoas, os sinais da sinceridade ou da mentira.

A imagem transmitida através dos sinais corporais exerce efeito sobre as demais pessoas. Esse efeito pode vir a ser importante na vida, nas interações pessoais e organizacionais. Os comportamentos não-verbais são correlacionados com os comportamentos verbais ou interagem com eles. Os movimentos da cabeça e da mão feitos enquanto se fala, podem estar ligados ao estilo da fala ou à entonação.

As pessoas comunicam-se não apenas pela linguagem falada e escrita, mas também pela linguagem do corpo, envolvendo postura corporal, expressão facial, posição de sentar e outros sinais corporais. Tal comunicação não-verbal, embora muito sutil, pode ser interpretada com grande precisão.

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Os sinais não-verbais transmitem mensagens. As palavras são abstrações, próprias da linguagem. Podem manifestar-se simultaneamente mudando de forma sutil e rápida, sem que, às vezes, chegue à mente consciente. Estudos têm demonstrado que numa apresentação diante de um grupo de pessoas, o maior impacto da comunicação é determinado pela linguagem corporal, seguido pelo tom de voz. Não é “o quê” se diz, mas “como” se diz que faz a diferença. As palavras são o conteúdo da mensagem; a postura, os gestos, a expressão e o tom de voz são o contexto no qual a mensagem está embutida. Juntos, eles formam o significado da comunicação.

Segundo Feyereisen e Lannoy (1985), existem três orientações principais que caracterizam o estudo da comunicação corporal e, em particular, da comunicação gestual. De acordo com a primeira, os gestos podem ser considerados detentores, assim como as palavras, da propriedade de exprimir as representações mentais que constituem o pensamento: existiria de acordo com essa concepção, uma linguagem dos “gestos”, que os lingüistas, os antropólogos e os sociólogos procuram descrever. A segunda perspectiva ressalta o fato de que certos modos de comunicação são comuns aos homens e aos demais animais, do que decorre a formulação de hipóteses quanto a sua filogênese (desenvolvimento da etnologia humana, dos mesmos autores, l987). A terceira perspectiva é de que a gestualidade pode apresentar especificidade com relação à linguagem oral, qual seja, a de servir, antes de tudo, à expressão das emoções, dos estados afetivos, das atitudes interpessoais e possíveis gestos químicos.

A idéia de que o ser humano não fala apenas com as palavras, mas também com o seu corpo suscitaram vários estudos. A analogia entre os gestos e a língua repousa em certo tipo de lógica, que começa pela observação de que os usos corporais variam segundo os povos e as

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culturas; assim como as línguas faladas no mundo, as práticas gestuais diferem segundo o lugar e a época. Em seguida, vem a observação de que as regularidades no uso corporal parecem obedecer a um sistema de regras que podem ser comparadas a uma sintaxe. Os gestos parecem constituir uma língua, pode-se inferir que os métodos lingüísticos desenvolvidos para sua análise podem aplicar-se ao estudo dos movimentos corporais. Além da analogia entre o gesto e a língua, a noção de linguagem do corpo convida a descrever os gestos, a classificá-los, a analisar seu funcionamento à luz daquilo que se sabe acerca da linguagem oral.

Os indivíduos, à semelhança do que ocorre com a língua falada na sociedade a que pertencem, aprendem os gestos, as mímicas, as expressões corporais próprias a seu meio de origem. Mesmo que certos movimentos possam ter um significado universal, como talvez seja o caso de certas expressões da emoção, e de alguns gestos descritos pelos etólogos a respeito do ritual de receber uma pessoa, a cultura pode influenciar os comportamentos regrando as condições de sua utilização, prescrevendo ou reprimindo.

Sabe-se que os gestos que acompanham a fala são mais freqüentes em certas culturas que em outras. Por outro lado, segundo a região, movimentos semelhantes correspondem a significados diferentes. Um dos exemplos mais conhecidos é o dos movimentos da cabeça que exprimem afirmação e negação. Em certas regiões do sudeste europeu, a negação se exprime através de um movimento de cabeça para cima, muito semelhante ao movimento de afirmação, utilizado em outras regiões européias (JAKOBSON, l973).

Da mesma forma, o gesto de levantar os dedos em forma de V, os europeus do continente consideram como equivalente a duas formas

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de fazê-lo, seja com a palma da mão voltada para quem faz o gesto, seja com a palma da mão voltada para a outra pessoa. Para os britânicos, ao contrário, no primeiro caso o gesto é considerado obsceno e no segundo, significa “vitória” (MORRIS, 1979). Na comunicação entre pessoas de culturas diferentes podem ocorrer, portanto, erros de compreensão.

O estudo da linguagem do corpo pode ser aprofundado e respaldado por abordagens de diversos pesquisadores, considerando a análise intercultural dos gestos, os usos do corpo nos rituais de interação, os gestos na perspectiva da sociologia da conversação, os gestos nas situações de conflito, a comunicação não-verbal, os gestos e a palavra como sistemas distintos de comunicação, a comunicação dos estados emocionais, a comunicação e os comportamentos, a relação entre os gestos e a palavra na comunicação, os efeitos da eliminação dos sinais não-verbais, quando gestos e palavras se contradizem, etc.

De maneira geral, as dificuldades encontradas no estudo da “comunicação não-verbal” decorrem da constituição, no seio da Psicologia Social, de um domínio de estudo particular, consagrado à análise de um “código” que se supõe distinto e estritamente definido ou, mais amplamente, à análise dos diferentes índices não-verbais que dão origem a uma interpretação. (SHERER e WALBOT, 1985; WIENER et

al., 1972).

Esta concepção não levou, ainda, a interrogação a respeito dos processos de “codificação” e “decodificação”; a imagem da relação bifocal que permite descrever as relações probabilísticas entre as condições do indivíduo e os comportamentos manifestos, ou entre esses comportamentos e as inferências que a ele suscitam, mas não

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permitem analisar os mecanismos subjacentes à produção e à compreensão de tais sinais.

O estudo das relações entre gestos e língua não se impõe, portanto, somente porque esses componentes são estritamente associados, mas também porque os dois sistemas podem interagir de diferentes maneiras.

O corpo é um meio muito importante para a comunicação de uma mensagem. Segundo estudos de Mehrabian (1984), o corpo tem uma influência de 55% na condução da mensagem, 7% para a palavra e 38% para a voz, o que demonstra relevância da comunicação corporal. No entanto, é importante lembrar que o gesto não pode ser interpretado e analisado isoladamente, e sim dentro de um contexto maior de que ele esteja participando.

Nierenberg e Calero (1986) consideram a importância dos gestos ao afirmar que: “Cada gesto é como uma palavra em uma língua. Para que possamos ser entendidos, devemos estruturar as palavras em unidades e ‘sentenças’ que expressam pensamentos completos”. Os autores tentam desencorajar os indivíduos a tirar conclusões precipitadas baseados na observação e na compreensão de gestos isolados. Entender a congruência de gestos em harmonia com outros é muito mais importante. Um gesto estático, que dura alguns segundos, pode ser contestado por um movimento anterior do corpo.

Tubbs e Moss (1987) explicam que Ekman, em seus estudos, ao perguntar se as pistas dadas pelos movimentos do corpo eram diferentes das pistas observadas através dos movimentos faciais e da cabeça, constatou que a cabeça e o rosto sugerem qual emoção está sendo experimentada, ao passo que o corpo dá pistas a respeito da

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intensidade dessa emoção. As mãos, contudo, podem passar as mesmas informações recebidas da cabeça e do rosto.

Reich (1988) afirma que “o organismo possui uma linguagem expressiva própria, antes de, para além de, e independente de toda a linguagem verbal.

Stoner e Freemann (1995) agrupam a comunicação não-verbal em três categorias:

Linguagem por sinais: Mensagens não-verbais substituindo as palavras, tais como: agitar uma bandeira no local em obra de uma estrada, para orientar os motoristas no sentido de irem mais devagar, pararem ou prosseguirem; inclinar a cabeça para baixo indicando “sim”, para os lados indicando “não”; erguer os ombros e levantar as palmas das mãos para cima indicando “não sei”; uma continência, entre os militares, indicando respeito por um superior.

Linguagem por ação: Consiste em movimentos do corpo ou ações que não tencionam especificamente substituir as palavras, mas transmitem significados. Por exemplo: Levantar-se e encaminhar-se para a porta indica prontidão para terminar uma conversação. Caminhar com passos rápidos indica que a pessoa está com pressa. Um dedo fortemente apontado pode transmitir uma repreensão. Um olhar vazio quando alguém está lhe falando pode significar que sua mente está em outro lugar.

Linguagem por objetos: São itens físicos, como roupas, móveis, carros, canetas, propriedades físicas ou outras coisas que transmitam mensagens. Uma sala de aula, por exemplo, comunica uma certa atmosfera de formalidade ou informalidade; o tamanho, o mobiliário e a localização de um

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escritório indicam o status do ocupante, os prêmios e diplomas exibidos indicam realizações.