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5.1 Conhecimento: Definições e Conceitos

5.1.2 Tipos de Conhecimento

Os conhecimentos são classificados por Fialho (2001) em gerais e específicos. Os conhecimentos gerais se referem às classes de objetos, de acontecimentos, de situações ou de ações. Este tipo de conhecimento ocorre através de conhecimentos relacionais (declarativos) ou procedurais. Os relacionais descrevem os objetos, precisando seus componentes elementares e a natureza das relações existentes entre os componentes. Os procedurais incluem os procedimentos a serem seguidos e descrevem organizações de ações que permitem atingir um dado objetivo. Os conhecimentos específicos se referem aos objetos, situações, acontecimentos ou seqüências de ações particulares que foram objeto de uma experiência singular,

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dentro de um contexto bem definido. Os conhecimentos gerais constituem a memória semântica, os conhecimentos específicos, a memória episódica.

Segundo o mesmo autor, os conhecimentos podem se construir a partir de informações simbólicas veiculadas na aprendizagem em terceira pessoa, como por exemplo, através de textos. Produzem, neste caso, os conhecimentos relacionais que correspondem a uma aprendizagem por instrução. Podem, ainda, se construir pela ação, aprendizagem em primeira pessoa, a partir da resolução de problemas, produzindo os conhecimentos procedurais correspondendo à aprendizagem por descoberta.

Considera Fialho (2001) que o homem tem habilidades (conhecimento automatizado, tácito) segue regras (conhecimentos baseados em regras que pode ser explícito) e competências (para resolução de problemas que combinam conhecimento tácito e explicito).

Outros autores, conforme se apresenta resumidamente a seguir, separam o conhecimento em conhecimento tácito e conhecimento explícito.

Polanyi (1966) pondera que todo conhecimento é tácito ou se origina na prática. Glasersfeld (1988) afirma que todo conhecimento está relacionado à ação. Na visão de Dewey (1929), as idéias não têm valor, salvo quando se transformam em ações que rearrumam e reconstroem, de alguma maneira, em menor ou maior medida, o mundo vivido.

Hill (1997) afirma que o poder é fruto do conhecimento organizado e expressado em termos de ação; Heidegger (1962), por sua vez,

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acrescenta que há um relacionamento íntimo entre o conhecimento e a ação. Piaget, apud Longen (1997) considera que conhecer não consiste em copiar o real, mas em agir sobre ele e transformá-lo de modo a compreendê-lo em função dos sistemas de transformação a que estão ligadas estas ações. Caravantes e Pereira (1981) dizem que a aquisição do conhecimento começa com a prática, é adquirido por meio dela e, de uma maneira ou de outra, a ela se reverte. O conhecimento se dá a partir da evolução conjunta da prática e da teoria. Tal simbiose está sempre presente onde quer que ocorra o conhecimento. Laird (1925) afirma que é preciso fazer, para aprender, pois quem faz aprende. Entende Murray (1996) que conhecimento é a informação transformada em capacidade para ação efetiva, portanto, conhecimento é ação.

Apesar desses atributos é preciso que se atente para a característica de obsolescência do conhecimento, presente em períodos de grandes e rápidas mudanças. Para que outras características não sejam prejudicadas, é imprescindível que o conhecimento seja atualizado constantemente.

Polanyi (1996) entende que o conhecimento subjacente ao conhecimento explícito é fundamental e que todo o conhecimento é tácito ou tem raízes na prática. Corroborando com as idéias de Polanyi, Nonaka e Takeuchi (1997) confirmam que o conhecimento tácito é um tipo de conhecimento relevante, pois segundo eles o aprendizado mais poderoso vem da experiência direta.

Drucker (1993) também reconhece que “uma habilidade não poderia ser explicada por meio de palavras faladas ou escritas. Só poderia ser demonstrada e, portanto, a única forma de aprender uma habilidade seria através do aprendizado e da experiência”. De Bono

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(2001) afirma que “Fazer é muito importante, [...] nas escolas ensinamos gramática e matemática, mas não ensinamos “operática” , a destreza para fazer, que é uma habilidade muito importante. Não se trata apenas de possuir conhecimentos; a pessoa deve ser capaz de fazer”.

O conhecimento tácito encontra-se enraizado nas ações e experiências, nas emoções, valores ou ideais do ser humano. Possui uma importante dimensão cognitiva (esquemas, modelos mentais, crenças e percepções) que molda a forma com que o mundo é percebido. Nonaka e Takeuchi (1997) consideram que subjetividade, insights e pressentimentos são características deste tipo de conhecimento. Aprender fazendo é mais eficaz. As pessoas necessitam de métodos mais osmóticos semelhantes à tradicional transmissão de conhecimento do mestre para o aprendiz.

Polany (1996) chama de “tradição” ao aprendizado prático dos aprendizes com os mestres. Nesta forma de aprendizado, cabe aos mestres mostrar o “como” fazer e julgar os esforços dos seus discípulos. Os aprendizes tentam imitá-los e gradativamente, aplicam sozinhos as regras e adquirem proficiência. Além da ênfase na experiência é preciso lembrar que o aprendizado prático requer esforço e disciplina.

Para Senge (1990), os seres humanos aprendem melhor através da experiência prática. A prática exige “disciplina” para os iniciantes no sentido de esforço consciente e consistente, entretanto, após o tempo necessário para assimilação, as práticas de uma disciplina tornam-se mais e mais automáticas e ativas “em tempo real”.

Pela natureza subjetiva e intuitiva é bastante difícil formalizar o conhecimento tácito, gerando dificuldades na transmissão e compartilhamento por métodos sistemáticos ou lógicos. O

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compartilhamento do conhecimento tácito exige atividade, participação e envolvimento, sendo esta prática de fundamental importância nos ambientes de aprendizagem. Para Levitt (1991), os conhecimentos mais preciosos não podem ser ensinados, nem transmitidos. Para justificar esta afirmação, utiliza a metáfora de uma criança que se queima ao tocar o fogão quente, mostrando que inconscientemente se aprende com a experiência.

Davis e Botkin (1994) acrescentam que o conhecimento tácito é difícil de ser articulado e codificado e, conseqüentemente, mais difícil de ser transferido. Porém, é preciso estar atento para aprender corretamente e lembrar que, uma vez sedimentado, é difícil modificar o conhecimento tácito.

Stewart (1998) ressalta que “a maior virtude do conhecimento tácito é que ele é automático e por isto exige pouco ou nenhum tempo para reflexão. Porém, como toda virtude tem um conjunto de defeitos recíprocos, o conhecimento tácito tem três: pode estar errado, é difícil modificá-lo, e é difícil comunicá-lo”.

Vianna e Junqueira (1996) observam que “a prática só é boa mestra para quem sabe aprender com ela. Quem não sabe comete sempre os mesmos erros”.

O conhecimento explícito foi o modo dominante de conhecimento na tradição filosófica ocidental. Ele independe do indivíduo que o criou. É o conhecimento da racionalidade que envolve o conhecimento de fatos sendo adquirido principalmente pela informação. O conhecimento explícito pode ser facilmente expresso em palavras e números, comunicado e compartilhado sob a forma de dados brutos, fórmulas científicas, procedimentos codificados ou princípios universais.

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Pode ser, também, processado, armazenado e transmitido eletronicamente. É o conhecimento da mente, que é objetivo, teórico, digital.

Segundo Nonaka (1997), “o conhecimento explícito pode ser articulado na linguagem, inclusive através de afirmações gramaticais, expressões matemáticas e especificações manuais. Pode ser transmitido, formal e informalmente entre as pessoas”.

Sveiby (1998) sustenta que o conhecimento explícito envolve conhecimento dos fatos e é adquirido principalmente pela informação, quase sempre pela educação formal. Polanyi (1966) assevera que o conhecimento explícito ou codificado refere-se ao conhecimento transmissível em linguagem formal e sistemática. Conforme considera Sanchez (1996), o conhecimento explícito é mais facilmente adquirido e transferido do que o conhecimento tácito. Davis e Botkin (1994) associam o conhecimento explícito à noção de informação na forma de “dados organizados” podendo ser encontrado em recursos tangíveis como banco de dados, manuais, diretrizes ou jornais profissionais.

Mesmo sabendo que no processo de retenção do conhecimento, as pessoas aprendem muito mais facilmente o que fazem na prática, ambos conhecimentos, tácito e explícito, são necessários, pois se complementam.