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A aprendizagem tem sido interesse para filósofos, psicólogos, educadores há muito tempo. A investigação deste fenômeno tem

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resultado em muitas explicações e teorias de “como as pessoas aprendem”. Ao revisar as teorias da aprendizagem optou-se por apresentar, resumidamente, as discussões de Biaggio (1988) acerca de algumas teorias, dentre as quais o autor destaca:

Teoria conexionista: Iniciada por Edward Lee de Thorndike. O elemento básico desta teoria é a conexão que resulta da associação entre a impressão dos sentidos e os impulsos para a ação, ou seja, associação entre a verdadeira situação (S) e a resposta (R). Para Thorndike, a situação ou estímulo constitui-se por qualquer estado de coisa ou fatos que influenciam uma pessoa. A resposta resume-se em qualquer condição ou estado de coisas dentro do organismo. A conexão define a probabilidade de um dado estímulo provocar uma determinada resposta. Para os conexionistas, quanto mais freqüente é exercitada uma conexão tanto mais forte se torna. A força de uma conexão diminui quando não é exercitada. É a lei do exercício. Nesta teoria predominam as atividades com reforço para produzir aprendizado. O envolvimento ou a ajuda ao estudante é um aspecto irrelevante. Aprendizagem nesta teoria é a formação de conexões do tipo situação-resposta (S-R) ou a modificação de conexões já formadas. A aprendizagem realiza-se pela seleção de reações já formadas no sistema nervoso por um processo de ensaios e acertos ocasionais em que o prazer fixa as conexões nervosas e a insatisfação tem o efeito de eliminá-las. O homem analisa, na situação, o real e o abstrato. Emprega também, quando se faz necessária, a linguagem nas reações. A conduta verbal reforça a reação.

Teoria do condicionamento clássico ou reflexológico: Iniciada por Pavlov é de natureza fisiológica e reproduz, em parte, a teoria conexionista, no sentido que ocorre pela ligação entre a situação estímulo e a reação. Sendo o organismo dotado de um cabedal de

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respostas, tendências ou reação, basta a tendência de estímulos apropriados, naturais, incondicionantes para que tal organismo entre em ação e produza uma resposta. É baseada nos reflexos, reações inatas, que podem ser definidas como reações imediatas, fixas e não aprendidas, de um músculo ou glândula, em face de um estímulo sensorial. Para que se processe a aprendizagem por condicionamento são necessárias algumas condições: (a) Existência de respostas incondicionadas naturais do organismo ou respostas condicionadas muito bem estabelecidas. (b) Repetição da reação ou duração no tempo, a fim de permitir que os fatores efetivos operem. (c) Recentividade, ou seja, o espaço de tempo separando os dois estímulos ou respostas, a serem ligados, não deve ser tão grande, para que a associação não se espalhe ou irradie. (d) Motivação e predisposição para realização. A aprendizagem nesta teoria consiste na aquisição de uma reação pela substituição de estímulos naturais por estímulos neutros, que se tornam condicionados, pela sua ocorrência simultânea ou contígua com os primeiros. Requer pouca ou nenhuma compreensão. Pode-se dizer, também, que a aprendizagem consiste na modificação de respostas naturais, próprias da natureza do organismo, e sua transformação em respostas artificiais adquiridas ou condicionadas.

Teoria do Condicionamento operante: Tendo Skinner como seu iniciador baseia-se também nas teorias do tipo estímulo-resposta, como o conexionismo e o behaviorismo. Skinner supunha que o homem é neutro e passivo e que todo comportamento pode ser descrito em termos mecanicistas. Limita seus estudos ao comportamento do observável dos organismos, cujos únicos dados são obtidos pela observação sensorial. Opõe-se ao emprego dos termos como vontade, sensação, imagem, impulso ou instinto, porque hipoteticamente,

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referem-se a impulsos não físicos. Segundo esta teoria, a aprendizagem é definida como uma mudança na probabilidade de resposta. Na maioria dos casos, a mudança é determinada pelo condicionamento operante que é o processo de aprendizagem no qual uma resposta se torna mais provável ou mais freqüente.

Teoria gestáltica clássica: Tem como destaques Wertheimer, Köhler Koffka e Krüger. Orienta-se por pontos de vista fenomenológicos, ou seja, descreve a experiência imediata, determina as condições de uma melhor estrutura na percepção e as leis de sua transformação. A vida mental não consiste numa soma de elementos simples, existe algo mais do que a adição de partes elementares, que é a interpretação da situação, pela percepção da relação dos elementos. Os elementos não constituem toda a realidade; o todo, o conjunto, “a forma” também é real e resulta da descoberta das relações entre as partes. Nesta teoria a percepção resulta da interação sujeito-objeto e do relacionamento dos elementos do objeto ou situação percebida. Assim como os interacionistas, os gestaltistas concordam que a aprendizagem consiste em perceber, responder e generalizar, mas discordam da importância relativa de cada elemento e na forma como a compreensão se realiza. Nesta teoria o todo é maior do que a soma de suas partes, isto é o, que é aprendido é mais do que a soma. A aprendizagem, portanto, nesta teoria é determinada pelo padrão, ou configuração, ou gestalt dos estímulos. É um processo ativo, inteligente e global. Constitui uma aquisição de estruturas, de formas, implicando sempre discernimento e compreensão da situação.

Teoria de campo ou topológica: Tem Kurt Lewin como seu iniciador. Esta teoria considera que o comportamento humano resulta da interação do indivíduo e do seu ambiente, determinado pela necessidade de sobrevivência e regido pelas mesmas leis que regem o

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universo. Vê a conduta humana como uma função das forças em ação no universo. Considera a aprendizagem como um processo de adaptação e, ao mesmo tempo, um recurso para manter o equilíbrio na luta contra a natureza. É um processo de reestruturar o espaço vital. A pessoa aprende através da diferenciação, generalização e reestruturação de sua pessoa e de seu ambiente psicológico, de modo a formar novos ou mudar insights ou significados e conseguir mudanças na motivação, no pertencimento ao grupo, nas perspectivas de tempo e ideologia.

Teoria psicanalítica: Surgiu com Freud. Muitas das suas idéias se assemelham as afirmações dos teóricos contemporâneos da aprendizagem. Freud pressupõe que uma excitação surge em uma parte do corpo e a função do comportamento é reduzir a excitação, e esta redução da excitação é experimentada como uma gratificação. Freud contribui também com sua ênfase nos processos inconscientes, mostrando que o consciente compreende tudo o que a pessoa se dá conta em determinado momento, e o pré-consciente se refere a fatos que podem tornar-se conscientes se a atenção for dirigida a eles. Freud respalda os teóricos da aprendizagem com seu princípio hedonístico, pois as interpretações mais antigas da conduta humana já se valiam do princípio de que o homem procura o prazer e evita a dor, fato este considerado por algumas teorias da aprendizagem.

Teoria Funcionalista: Cabe ressaltar também o funcionalismo e seus representantes John Dewey e Angell H. Carr. No ponto de vista funcionalista a aprendizagem consiste num processo de reajustamento, que se inicia com o aparecimento de um problema, quando uma atividade em andamento é bloqueada por um obstáculo. Eventualmente, o organismo, por meio de comportamento variado, resolve o problema e prossegue seu caminho. Se o processo é repetido,

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a resposta adequada reaparece em menor tempo, com redução na atividade desnecessária.

Teoria da aprendizagem social: Teve origem com os trabalhos de Miller, Dollard, Mowrer, Sears e outros. Nesta teoria pode-se dizer que todos os comportamentos habituais de uma pessoa, ou seja, sua personalidade pode ser explicada em termos de condicionamento e imitação. A pessoa é capaz de aprender novos comportamentos adequados e desaprender comportamentos inadequados.

Teoria do Processamento da Informação: Emerge na década de 70, originária da lingüística, donde vieram questões a respeito de como a gramática e a sintaxe são construídas e compreendidas e a respeito de como as pessoas entendem sentenças que nunca ouviram antes. Das ciências da computação veio o reconhecimento de que tanto o computador como os seres humanos são manipuladores de símbolos. Da teoria das comunicações, vieram as noções de codificação e capacidade dos canais. Contribuiu para a compreensão de como o cérebro humano acrescenta e apaga conhecimentos, onde e como armazena e processa a informação, como a memória funciona e sob que condições o cérebro recebe sinais claros ou confusos.

Teoria Humanista: Esta teoria, em contraste com as teorias behavioristas que se concentram no comportamento observável representado pelas forças ambientais, e as teorias cognitivistas que partilham com o processo mental de informação, considera a aprendizagem proveniente da perspectiva do potencial humano de crescimento. Os seres humanos podem controlar seus próprios destinos, as pessoas são inerentemente boas e lutarão por um mundo melhor. “As pessoas são livres para atuar, e o comportamento é conseqüência da escolha humana; as pessoas possuem potencial ilimitado para crescer e

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desenvolver-se.” (ROGERS, 1997; MASLOW, 1969). No que concerne às teorias da aprendizagem, o humanismo enfatiza as percepções das pessoas centrando-as na experiência, assim como a liberdade e a responsabilidade, tornando o indivíduo naquilo que ele é capaz de vir- a-ser. A motivação para aprender é intrínseca, emana do aprendiz. Para Maslow, a auto-realização é a meta de aprendizagem e os educadores devem empenhar-se em aproximar-se dela.

Teoria do desenvolvimento intelectual: Iniciada por Piaget que considera que a inteligência é a forma de equilíbrio para a qual tendem todas as estruturas cognitivas. O termo equilíbrio, originário da física, implica um ajustamento harmonioso entre as ações mentais (estruturas cognitivas) da pessoa e do ambiente. Piaget afirma que a inteligência é um sistema de operações vivas e atuantes. Segundo esta teoria, a aprendizagem é influenciada pelo meio, pois no processo de interação com o ambiente se desenvolvem estruturas psicológicas.

A aprendizagem cognitivista tem em Jean Piaget (1978) seu maior expoente. Na teoria piagetiana, identificada pelo próprio Piaget como interacionista, não se pode analisar isoladamente homem e mundo. O ser humano, como sujeito em interação com o meio, deve ser descrito como sistema aberto que constrói progressivamente o conhecimento, ao agir sobre os objetos incorporando elementos cognitivos novos (assimilação) a uma estrutura já existente, determinando reajustes nessa estrutura (acomodação).

Piaget entende o termo assimilação com a acepção ampla de uma integração de elementos novos em estruturas ou esquemas já existentes. A noção de assimilação implica a noção de significação e expressa, ainda, o fundamento de que todo conhecimento está ligado a uma ação e que conhecer um objeto ou um acontecimento

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pressupõe assimilá-lo a esquemas de ação. Conhecer consiste em operar sobre o real e transformá-lo, a fim de compreendê-lo, em função do sistema de transformação a que estão ligadas todas as ações. Esquema de ação, para Piaget, é aquilo que numa ação é transponível, generalizável ou diferenciável de uma ação para a seguinte, ou seja, o que há de comum nas diversas repetições ou aplicações da mesma ação.

A acomodação é definida como toda modificação dos esquemas de assimilação, por influência de situações exteriores. Toda vez que um esquema não for suficiente para responder a uma situação e resolver um problema, surge a necessidade do esquema modificar-se em função da situação. Assimilação e acomodação são mecanismos complementares. A adaptação do sujeito ocorre através da equilibração entre os dois mecanismos.

A questão motivacional, diferente de outras teorias, que a interpretam em termos de estimulação externa, tendo o professor o papel de motivador, no enfoque piagetiano é colocada no contexto do processo adaptativo próprio do desenvolvimento intelectual do sujeito. Quando um problema desafia a inteligência, o sujeito tem necessidade de agir para restabelecer o equilíbrio. A motivação consiste, portanto, numa necessidade interna que origina o esforço a ser empregado numa atividade que permite à estrutura de conhecimento funcionar. O trabalho intelectual que resulta dessa atividade é dirigido para os objetos ou eventos que venham restabelecer o equilíbrio interno.

Segundo esta teoria, o sujeito não é passivo nem pré-formado, mas interage com o meio e nesta interação constrói o conhecimento

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através de descobertas e invenções. A proposta pedagógica concernente com esta teoria é definida como construtivista.

Para Piaget (1978, p.19), “[...] conhecer não consiste em copiar o real, mas em agir sobre ele e em transformá-lo, de como compreendê- lo em função de sistemas de transformação a que estão ligadas essas ações”. O mesmo autor (1976) assevera, ainda, que o desenvolvimento intelectual comporta dois aspectos: o cognitivo e o afetivo. Desta forma, o estudo proposto busca relacionar as categorias comunicação, ensino, aprendizagem e relacionamento professor-aluno com emoções e nesta categoria, mais especificamente, com as emoções denominadas positivas, tais como, amor, alegria, paixão e prazer.

A Figura 4.1 resume as teorias da aprendizagem tratadas neste capítulo. COMUNICAÇÃO APRENDIZAGEM TEOR IA FUNC IONA LISTA TEO R IA P SI C C T A Í NA L A TEORIA DE CAM PO OU TOP Ó OL GICA TEORI A GESTÁL ICT A CLÁSS AIC TEORI DA E A G PR A ENDIZ EM SOCIAL TEO A RI DO DES IM EN LV VO ENTO INTE LE L CT A U TEORIA D O PRO S CE SAM ENTO DA INFO A RM ÇÃO TEORIA CON IEX ONIST A TEO RIA N H A UM ISTA TE OR IA D O CO N N IO DIC AM EN TO E P O RA N T E T EO R D IA O C N O E N M D A IC ION TO U O CL CO Á SSI I G O R E E FL X CO

Figura 4.1: Teorias da Aprendizagem

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