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Na América Latina, as primeiras investigações sobre comunicação surgem marcadas por uma forte influência americana, tanto do ponto de vista do modelo teórico como da formulação das temáticas a serem investigadas. Os Estados Unidos abrigaram diferentes tradições de estudos da comunicação. No início do século, Park, Burgess e Cooley, membros da escola de Chicago, realizaram estudos com um enfoque microssociológico de processos comunicativos. Charles Peirce inaugurou a Semiótica, campo de estudo preocupado com os processos de formação de significados a partir de uma perspectiva pragmática. Blumer por sua vez, inaugurou o termo interacionismo simbólico com pressupostos teóricos próprios. Nos anos 40, autores da Escola de Palo Alto, procedentes de áreas distintas como a Antropologia, a Lingüística, a Matemática, a Sociologia e a Psiquiatria, emergem com uma outra tradição de estudos em comunicação com Bateson, Goffman e Watzlawick, entre outros, os quais propõem uma compreensão da comunicação como processo social permanente que deve ser estudado a partir de um modelo circular.

Tais correntes constituíram campos de pesquisa restritos às áreas em que tiveram origem e com pouca influência no restante do mundo até a década de 60. Entre os anos 20 e 60, as pesquisas foram marcadas pela hegemonia de um campo de estudos denominado Mass

Comunication Research. Tradição essa composta por abordagens e

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passando pela psicologia e sociologia com pressupostos teóricos e resultados distintos e em muitos casos quase inconciliáveis.

A obra de Lasswell, Propaganda Techniques in the World War, publicada em 1927, costuma ser identificada como o marco inicial da

Mass Comunication Research. O campo de estudo da comunicação

abriga uma variedade de correntes que podem ser distribuídas em quatro grandes grupos.

A teoria matemática da comunicação constitui um deles. É também conhecida como a teoria da informação. Elaborada por dois engenheiros matemáticos, Shannon e Weaver, em 1949, traz uma sistematização do processo comunicativo a partir de uma perspectiva puramente técnica, com ênfase nos aspectos quantitativos. O sistema é assim representado:

“Fonte de informação=>Transmissor=>Canal=>Receptor=>Destino”

A comunicação é apresentada como um sistema no qual uma fonte de informação seleciona uma mensagem desejada a partir de um conjunto de mensagens possíveis, codifica esta mensagem transformando-a num sinal possível de ser enviado por um canal ao receptor, que fará o trabalho do emissor ao inverso. Ou seja, a comunicação é entendida como um processo de transmissão de uma mensagem por uma fonte de informação, através de um canal, a um destinatário.

Alguns conceitos correlatos são trabalhados por esta teoria. A noção de informação (ligada à incerteza, à probabilidade, ao grau de liberdade na escolha das mensagens), de entropia (a imprevisibilidade, a desorganização de uma mensagem, a tendência de os elementos fugirem da ordem), o código (que orienta a escolha, atua no processo

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de produção da mensagem), o ruído (interferência que atua sobre o canal e atrapalha a transmissão) e a redundância (repetição utilizada para garantir o perfeito entendimento). Esses elementos e conceitos do processo são encaixados em teoremas que utilizam matrizes e logaritmos num estudo puramente matemático e quantitativo. O objeto de estudo é, assim, a transmissão de mensagens através de canais mecânicos, e o objetivo é medir a quantidade de informação passível de se transmitir por um canal evitando-se as distorções possíveis de ocorrer neste processo.

Neste caso, a comunicação não é vista como processo e sim como sistema, com elementos que podem ser relacionados e montados num modelo. A proposta é de um modelo linear, em que os elementos são encadeados e não podem se dispor de outra forma. Há um enrijecimento da apreensão do fenômeno comunicativo com sua cristalização numa forma fixa. Esta teoria não se preocupa com a inserção social da comunicação.

Outro grupo é constituído pela Corrente Funcionalista, originada a partir dos estudos de Lasswell, que deu origem à teoria sociológica da comunicação. Tem sua motivação de pesquisa nas funções exercidas pela comunicação de massa na sociedade. Esta corrente aborda hipóteses sobre as relações entre os indivíduos, a sociedade e os meios de comunicação. A partir de uma linha sócio-política, tem como centro de preocupações o equilíbrio da sociedade, na perspectiva do funcionamento do sistema social no seu conjunto e seus componentes. Não é a dinâmica interna dos processos comunicativos que define o campo de interesse de uma teoria de comunicação, mas sim a dinâmica do sistema social.

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A teoria sociológica de referência para esses estudos é o estrutural- funcionalismo. O sistema social na sua globalidade é entendido como um organismo cujas diferentes partes desempenham funções de integração e de manutenção do sistema. A natureza organísmica da abordagem funcionalista toma como estrutura o organismo do ser vivo, composto de partes, e no qual cada parte cumpre o seu papel e gera o todo, torna esse todo funcional ou não. Entre alguns modelos de funções destaca-se neste estudo o de Lasswell (1978), que apresenta as seguintes funções: de vigilância (informativa, função de alarme), de correlação das partes da sociedade (integração) e de transmissão da herança cultural (educativa).

Uma das principais contribuições desta teoria foi a tentativa de formalização do processo comunicativo, a partir da “questão- programa” de Lasswell, elaborada nos anos 30 e proposta em 1948. Trata-se de um modelo que problematiza e soluciona a questão apontando que “uma maneira conveniente para descrever um ato de comunicação consiste em responder às perguntas”:

“Quem? Diz o quê? Em que canal? Para quem? Com que efeito?”

Esse modelo teve uma grande influência nas pesquisas americanas, servindo de paradigma para as distintas tendências de pesquisa e permanecendo durante muitos anos como uma verdadeira teoria da comunicação”.

A questão programa formalizou a estrutura de fenômeno comunicativo, tornando-a rígida, e, a partir da decomposição dos elementos, abriu caminho para que os estudos científicos do processo comunicativo pudessem concentrar-se em uma ou outra dessas interrogações. Qualquer uma dessas variáveis define e organiza um

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setor específico de pesquisa, entre os quais se destacaram as análises de conteúdo e, principalmente, os estudos sobre os efeitos da comunicação.

A fórmula Lasswell possui relação com a Teoria da informação,exploratory já que ambas se caracterizam pela unidirecionalidade, pela pré-definição de papéis, pelo congelamento e simplificação do processo. A teoria da informação preocupa-se com a eficácia do canal: cálculo da quantidade de informação, entropia, ruído. A questão-programa de Lasswell coloca como centro do problema os efeitos provocados pelas mensagens (ou pelos meios de comunicação), e a ênfase sobre a técnica é menor.

Uma outra corrente volta-se para os estudos dos efeitos da comunicação. Dela faz parte um setor de pesquisa formado na década de 20, composto por diversos estudos pontuais e que guardam certas características comuns. As pesquisas que se desenvolveram nessa época e nas décadas seguintes têm em comum um mesmo modelo teórico, denominado por vários autores “Teoria Hipodérmica” (Wolf, 1995, Mattelart, 1999), numa referência ao termo “agulha hipodérmica” criado por Lasswell para explicar a natureza da ação dos meios de comunicação junto aos indivíduos. De Fleur e Ball-Rokeach, apud Hohlfeldt (2001) apontam outras denominações, tais como “Teoria da Bala Mágica” ou “Teoria da Correia de Transmissão”.

Esta teoria abarca estudos ancorados nas teorias de sociedade de massa (Le Bon e Ortega Y Gasset), que viam a sociedade industrial do século XX como uma multidão onde os indivíduos estão isolados física e psicologicamente (não existem relações interpessoais, ou elas não são importantes no processo), e nas teorias behavioristas (Watson) que entendiam a ação humana como uma resposta a um estímulo externo.

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Da articulação dessas duas visões nasce um modelo comunicativo iniciado nos meios de comunicação, o qual atinge os indivíduos provocando determinados efeitos. Os meios eram vistos como onipotentes, causa única e suficiente dos efeitos verificados. Os indivíduos como seres diferenciados e totalmente passivos, expostos aos estímulos vindo dos meios. O máximo que os primeiros estudos distinguiram, em termos de diferenciações entre o público, foi dividi-lo de acordo com grandes categorias como idade, sexo e classe social- econômica. Os efeitos eram entendidos como sendo diretos, isto é, se davam sem a interferência de outros fatores. Daí a concepção que os meios agiam sobre as sociedades à maneira de uma “agulha hipodérmica”.

Um dos primeiros campos de estudo que promoveu essa superação foram as investigações empírico-experimentais conhecidas como “abordagem de persuasão”. Ao se debruçarem sobre os fenômenos psicológicos individuais que constituem a relação comunicativa, os estudiosos desta corrente perceberam que, entre a ação dos meios e os efeitos, atuava uma série de processos psicológicos, tais como o interesse em obter determinada informação, a preferência por determinado tipo de meio, a predisposição a determinados assuntos, as diferentes capacidades de memorização.

Embora o modelo teórico seja muito semelhante ao da teoria hipodérmica, a mesma concepção de causa e efeito, a mesma negligência em relação às relações interpessoais, aqui já se tem o desenho de um quadro analítico um pouco mais complexo, na medida em que se percebe que os efeitos não são diretos, a resposta ao estímulo se defronta com fatores psicológicos, quebrando a idéia de linearidade do processo.

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Nesta mesma corrente, um segundo campo de estudo procurou estabelecer fatores para garantir uma organização ótima das mensagens, de forma a atender às finalidades persuasivas. Percebeu-se que determinados fatores da organização das mensagens, como a credibilidade do comunicador, a ordem da argumentação, a integralidade das argumentações e a explicitação de conclusões, interferem na eficácia do processo e, assim, na natureza dos efeitos obtidos.

A corrente de estudos denominada Teoria dos Efeitos Limitados, trata de um ramo de estudos que abriga abordagens distintas, tanto psicológicas como sociológicas. No primeiro ramo, o principal representante é Kurt Lewin, interessado nas relações dos indivíduos dentro de grupos e seus processos de decisão, nos efeitos das pressões, normas e atribuições do grupo, no comportamento e atitudes de seus membros.

Leon Festinger desenvolveu, em 1957, a Teoria da Dissonância Cognitiva, um conjunto de pressupostos acerca da natureza do comportamento humano e suas motivações em relação ao mundo que é experienciado por cada indivíduo.

A escola de Frankfurt com seu coletivo de pensadores e cientistas também trouxe suas contribuições para a pesquisa em comunicação. Dentre eles destaca-se, por contribuir com o presente estudo, Habermas (1987) que, com sua teoria da ação comunicativa, se propõe a “investigar a ‘razão’ inscrita na própria prática comunicativa cotidiana e reconstruir a partir da base de validez da fala um conceito não reduzido de razão”. Para o autor, a ação comunicativa é uma forma de interação social em que os planos de ação dos diversos atores ficam coordenados pelo intercâmbio de atos comunicativos, fazendo, para

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isso, uma utilização da linguagem (ou das correspondentes manifestações extraverbais) orientada ao entendimento. À medida que a comunicação serve ao entendimento, pode adotar para as interações o papel de um mecanismo de coordenação da ação, e com isso tornar possível a ação comunicativa.

A escola estrutural francesa, a seu turno, por sua vez também contribui com estudos sobre comunicação. Lévy (1993), visualizou na rede uma forma de explicar o processo de comunicação “todos- todos”. Nesta teoria, a comunicação sai do estigma de manipulação para a utopia da mediação, privilegia a interatividade, a participação no imaginário do outro.

Para ele, num processo de comunicação, o emissor e o receptor estão mortos. Aparece a figura do emissor-receptor. Para Baudrillard é o interlocutor que não existe mais, pois não há troca, toda tentativa de contato resulta em decifração. Sfezs (1988) percebe um emissor- receptor-interlocutor lobotomizado. Virilo (1995) detecta um excesso de proximidade que simula interlocução, mas só cria ruído. Morin (1999) estabelece níveis diferentes de emissão, recepção e interlocução.

Mafesoli (1995) trata do “estar junto”, está mais interessado no meio de transmissão das mensagens do que no conteúdo.

Barros (1998), ao considerar o processo de recepção da mensagem, afirma que “no deslocamento do eixo de significação do processo de comunicação, pode-se pensar na adoção de um novo paradigma que busque estudar fenômenos da significação na interação mensagem/recepção”. Surge, então, a proposta de uma semiologia de contexto, na qual se busca um estudo da estética da recepção. Recepção entendida neste contexto, não como algo passivo, mas

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como uma verdadeira ação de fruição. Para alguns autores, este paradigma é interacionista e não comunicacional.

Analisando as correntes teóricas, paradigmas e tendências apresentadas pode-se chegar a algumas conclusões acerca dos elementos constitutivos do processo de comunicação.

Figura 2.1: Correntes teóricas

Fonte: Adaptado de vários Autores ( 2001)

Em decorrência dessas teorias, novos estudos e pesquisas em diferentes áreas do conhecimento foram acontecendo. Kotter (1977), ao estudar e desenvolver pesquisas em comunicação organizacional, baseado na teoria matemática ou teoria da informação, definiu comunicação como um processo que apresenta um emissor

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transmitindo uma mensagem, através de um meio, para um receptor que reage.

Este modelo indica que existem três elementos essenciais na comunicação, na falta de um deles não ocorre comunicação. Uma mensagem pode ser enviada, mas se não for ouvida ou recebida por alguém, não ocorrerá comunicação. Deve-se considerar, ainda, que nem sempre a informação enviada pelo transmissor é compreendida de forma consistente pelo receptor. Isto acontece porque toda informação é interpretada pela subjetividade do receptor, que a modifica segundo parâmetros pessoais e intrínsecos.

Segundo Kotter (1977), há mais de 40 anos, o modo de representar o fenômeno da comunicação tem sido dominado pelo esquema clássico da comunicação, conforme o seguinte diagrama:

Figura 2.2: Modelo do Processo de Comunicação Fonte: Adaptado de Stoner (1995)

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A figura apresenta um modelo operacional do processo de comunicação. Segundo a teoria matemática da comunicação, descrita anteriormente, o emissor, ou a fonte da mensagem, inicia a comunicação partindo de um propósito, um motivo, um desejo, uma necessidade. A codificação acontece quando o emissor traduz numa série de símbolos a informação a ser transmitida. O canal é o meio de comunicação entre um emissor e um receptor. O receptor é o sujeito cujos sentidos captam a mensagem do emissor. Codificação é a interpretação e tradução de uma mensagem em informação significativa. Ruído é qualquer coisa que confunda, perturbe, diminua ou interfira na comunicação. Feedback (interpessoal) é o reverso do processo de comunicação, que ocorre quando o receptor expressa sua reação à mensagem do emissor.

A figura mostra, ainda, que a comunicação pode ocorrer em um sentido ou em dois sentidos. Comunicação em um sentido é qualquer comunicação do emissor sem feedback do receptor. A comunicação em dois sentidos ocorre quando o receptor dá feedback ao emissor.