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As estratégias de ensino vêm responder a uma pergunta muito comum entre os professores universitários: “Como é que eu posso dar esta aula para meus alunos alcançarem os objetivos de aprendizagem propostos?”. Este é um dos pontos que causa preocupação aos professores, principalmente aos iniciantes. Uma outra pergunta também comum entre os professores universitários é: Mas o que eu vou fazer com mais de cinqüenta alunos na minha frente, me olhando? Ao professor experiente esta questão “estratégias de ensino” também causa preocupação, pois a maioria se mostra desejosa de renovar, de se aperfeiçoar em termos pedagógicos.

No grego, segundo Veiga (1996), ancora-se a etimologia da palavra “técnica”, significando “arte, habilidade”. Com esse sentido, em versão dicionarizada, técnica é um “conjunto de processos de uma arte” ou “a maneira ou habilidade especial de executar ou fazer algo”, designando uma atividade prática, diferenciada da ação de compreender, o que vem corroborar o entendimento da autora.

Considera ainda a autora, as técnicas de ensino não são naturais ao processo de ensinar, mas são condições que dão acesso ao mesmo. São compreendidas, portanto, como “arti-fícios”, que se interpõem na relação entre o professor e o aluno, submissas à intencionalidade e autoridade do primeiro.

No entendimento de Veiga (1996), as técnicas de ensino constituem um componente da racionalidade que se busca imprimir ao processo

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pedagógico. Na realização de tal racionalidade, a técnica tem seu lugar como condição necessária e indispensável, mas não suficiente, uma vez que favorece e condiciona o próprio processo pedagógico em sua realização concreta. Alerta a autora que não se pode descuidar de que a racionalidade que se busca imprimir ao processo pedagógico não tem um caráter apenas teórico, mas também prático.

Acrescenta, ainda, que as técnicas de ensino possibilitam variadas intermediações entre o professor e o aluno, pois ora estão mais ou menos centradas no professor (no caso de exposições e demonstrações) ou no aluno (estudo dirigido, estudo de texto, pesquisa bibliográfica), ora mais ou menos centradas na individualização (ensino programado) ou na socialização do aprendente (estudo do meio, seminário, debate, discussão ou qualquer outro trabalho que envolva grupos).

Considerando que o processo de comunicação professor-aluno não pode ser absolutamente formalizado, sob pena de diluir o processo pedagógico, lembra a autora que as técnicas de ensino, portanto, não devem ser concebidas como se fossem algo pronto, destinadas a formalizar o processo de ensino. Enfatiza que as técnicas estão a serviço do processo de ensino, destinadas ao professor e ao aluno como meios auxiliares da consecução de seus objetivos.

Para Mansur e Moretto (2000), não há um método único de ensino, mas a necessidade de métodos cuja escolha dependerá dos conteúdos da disciplina, das situações e das características socioculturais de desenvolvimento mental do aluno. Eles apresentam a seguinte classificação aos métodos de ensino:

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Método de exposição pelo professor: aula expositiva, na qual a atividade dos alunos é receptiva.

Método de trabalho independente: consiste em tarefas dirigidas e orientadas pelo professor, para que os alunos as resolvam de modo relativamente independente. Podem ser citados como exemplo o estudo dirigido e a instrução programada, dentre outros.

Método de elaboração conjunta: interação ativa entre professor e aluno, buscando a construção de novos conhecimentos, habilidades e atitudes, bem como a fixação e consolidação de conhecimentos já adquiridos. Ex. A aula numa perspectiva dialética.

Método de trabalho em grupo: a finalidade principal é obter a cooperação dos alunos entre si na realização de uma tarefa, socializando o pensamento e as relações afetivas. Ex, dinâmica de grupo, estudo de caso e outras.

Para Abreu e Masetto (1990) nem se discute que seja absolutamente importante para o professor pensar, informar-se e treinar-se em relação às estratégias de ensino. Entre alguns, ainda se generaliza a idéia de que a renovação de técnicas, incluindo recursos audiovisuais e recursos de dinâmica de grupo, é sinônimo de renovação educacional.

Alguns professores levantam uma questão oposta: Por que falar em estratégias de ensino? O que importa é que o professor saiba o conteúdo o resto vem naturalmente. Estes, segundo Abreu (1990), estão preocupados com a tarefa de ensinar, não com a aprendizagem do aluno, ou talvez não tenham conhecimento da afirmação de MCLuhan “o meio é a mensagem”.

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Importante lembrar que não é dominando com destreza as mais variadas estratégias que o professor se constitui num eficiente orientador, moderador ou facilitador, para a aprendizagem do aluno. É imprescindível que seja capaz que seja capaz de dominar em extensão e profundidade os conteúdos a serem repassados, que saiba integrar ao processo de aprendizagem o processo de avaliação como outro elemento facilitador para o aluno junto com as estratégias de ensino. Que saiba ainda, a razão por que transmissão de tais conteúdos, aliada a tais estratégias e tais processos de avaliação pode ser útil para o desenvolvimento de um profissional, cidadão e ser humano. Os objetivos de aprendizagem dos alunos devem, portanto, constituir o critério de seleção das estratégias de ensino. “Aonde” se quer chegar determina o “como” chegar lá.

Estratégias, segundo Abreu (1990), são, portanto, os meios que o professor utiliza para facilitar a aprendizagem dos alunos, ou seja, para conduzi-los em direção aos objetivos da aula, das unidades, do semestre do curso. Para a autora, as estratégias para a aprendizagem constituem-se numa arte de decidir sobre um conjunto de disposições, de modo a favorecer o alcance dos objetivos educacionais pelo aprendiz.

O termo estratégias inclui o que normalmente se chama, por diferentes autores de metodologia, de técnicas de ensino, técnicas pedagógicas, métodos pedagógicos ou métodos didáticos. Para expressar o significado de “técnica”, algumas vezes, se usam as expressões estratégia, tática, instrumento. Portanto, metodologia de ensino, método de ensino, procedimentos de ensino, estratégias, técnicas de ensino, são algumas denominações encontradas para caracterizar as ações do professor através das quais ele organiza a forma de apresentação, desenvolvimento ou avaliação das atividades

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realizadas para atingir os objetivos de ensino. Morin apud Meirieu (1998 p.23), afirma que:

A estratégia é predeterminada em suas finalidades, mas não em todas as suas operações”. Portanto, o professor ao selecionar as estratégias para o seu fazer pedagógico exerce uma atividade diretiva de ensino tendo como foco principal os objetivos de aprendizagem do aluno. Afirma o mesmo autor que, a execução das estratégias representam a “aprendizagem em ação” fazendo parte de um processo subjetivo de construção, tanto do professor quanto do aluno.

Entende o autor que as estratégias de ensino incluem além da técnica, a capacidade do sujeito de utilizar-se de diferentes instrumentos, inclusive, externos ao processo, para alcançar os fins da maneira mais adequada e conveniente. Podem ser citadas como estratégias de ensino: Estudo de texto, Seminário, Mapa Conceitual, Estudo de Caso, Solução de Problemas, Explosão de Idéias, Júri Simulado, Simpósio, Painel, Técnica do Fórum, Aula Expositiva Dialógica, Produção Textual em Grupos ou Equipes, Oficinas, Estudo do Meio, Estudo Dirigido e Outras.

Abreu e Masetto (1990), ao definir estratégia de ensino, incluem toda organização da sala de aula que vise facilitar a aprendizagem do aluno; incluem a arrumação dos móveis na classe, o material a ser utilizado, textos, recursos audiovisuais, atividades que serão solicitadas aos alunos, atividades do professor, com o objetivo de complementar, iniciar, organizar o seu trabalho, tendo em vista a aprendizagem do aluno. Incluem, também, a própria relação professor-aluno estabelecida nos ambientes de aprendizagem.

O planejamento das estratégias de aprendizagem envolvem previsões minuciosas por parte do professor. Um planejamento falho no que se refere às estratégias de ensino pode impedir que se transmita o conteúdo de uma forma mais adequada mesmo que o professor o

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domine, prejudicando o alcance de outros objetivos de ordem não cognitiva.

Podem ocorrer fatos, a princípio, considerados mínimos, mas que poderão comprometer o trabalho do professor, tais como: um cálculo inadequado do tempo exigido para uma determinada atividade é capaz de provocar frustração do grupo ao final da aula por não ter conseguido chegar a uma conclusão, ou deixar o professor com o tempo ocioso sem saber o que fazer, além de dispensar os alunos, uma vez que os objetivos já foram alcançados.

O esquecimento de materiais essenciais para o trabalho que se quer realizar, o texto com o qual desencadearia a aula, ou a reserva de recursos imprescindíveis para aquela atividade (vídeo, TV, som, retroprojetor, etc.) evidenciam alguns transtornos. Esses inconvenientes podem ser perfeitamente evitados com o adequado planejamento das estratégias de ensino, incluindo os recursos necessários para a efetiva realização das mesmas.

Além de todo este planejamento cabe, ainda, ao professor a flexibilidade e criatividade, com bastante freqüência, para adaptar as estratégias planejadas para tempo mais longo ou mais curto de acordo com as respostas dos alunos.

Para Abreu e Masetto (1990), as estratégias selecionadas e planejadas pelo professor podem favorecer ou não o dinamismo das aulas. Dinamismo, neste caso, não é sinônimo de movimento, somente. Existem muitas variáveis que podem intervir no dinamismo de uma aula, tais como, a energia pessoal do professor, o conteúdo da disciplina, o estado físico e motivacional dos alunos, o clima de grupo estabelecido na classe, se a aula é no período da manhã, tarde ou noite. Segundo os

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mesmos, nenhum desses fatores, tomados isoladamente, tem uma influência tão forte como a estratégia para determinar a monotonia ou o dinamismo dos trabalhos.

As estratégias constituem, por isso, um forte elemento de atuação na motivação dos alunos e grande auxiliar para evitar a mesmice das aulas, como dizem os alunos. Ocorre, algumas vezes, que professores especialistas, profundos conhecedores de seus conteúdos, capazes de estabelecer um clima de descontração na sala de aula, de diálogo com os alunos, talvez por desinformação acerca das estratégias de ensino repetem uma única maneira de dar aula do início ao final do semestre. O desafio intelectual, somente, não é suficiente para manter os alunos em estado de alerta. É como se a turma começasse a se sentir cansada daquelas aulas, embora reconhecendo sua validade e o bom nível do conteúdo fornecido.

A variação das estratégias de ensino permite que se atenda às diferenças individuais existentes no grupo discente. Alunos com diferentes estilos de aprendizagem terão oportunidade para estabelecer aprendizagens mais significativas no decorrer do semestre ou do curso. Se o professor escolhe uma única maneira de ministrar a aula, sempre os mesmos alunos poderão ser favorecidos ou prejudicados. A variação de estratégias pode favorecer, ainda, o desenvolvimento de diferentes conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos. Para o professor, de igual forma, é salutar a variação, tornando suas atividades mais dinâmicas, desafiadoras, na medida que exige renovação, informações sobre novas estratégias, flexibilidade e criatividade. Entretanto, deve-se tomar os devidos cuidados para evitar o exagero de variações porquanto, ao invés de facilitar a aprendizagem, talvez causem confusão na cabeça dos alunos. Os balizadores serão sempre os objetivos, eles devem nortear a seleção

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das estratégias. As estratégias devem vir como recursos, meios facilitadores para o alcance e consecução dos objetivos de aprendizagem.

Outro cuidado ao selecionar estratégias de ensino é evitar optar por aquelas para as quais não possui habilidades desenvolvidas, cujos detalhes desconhece, que não sabe como concluir, ou quando não tem clareza dos objetivos. É importante que o professor conheça as estratégias, possua interesse para reciclar-se, as planeje adequadamente, fazendo uma descrição detalhada das mesmas. Neste caso, salienta-se, também, a criatividade do professor, bem como, sua habilidade em perceber situações grupais e conduzi-las, sua capacidade de adaptação a situações novas, o bom senso, sua experiência acumulada enquanto docente.

É necessário também que o professor se conheça para saber até que ponto uma estratégia será bem conduzida por ele, até que ponto está de acordo com suas características pessoais, incluindo seus valores. É bom lembrar que estratégias pressupõem habilidades e como todas as habilidades, podem ser treinadas, apreendidas.

Há que se considerar as estratégias como meios que facilitam aos alunos e ao professor o alcance dos objetivos da aprendizagem e não como fórmulas fechadas, intocáveis. Para chegar a um mesmo objetivo o professor pode selecionar vários caminhos possíveis.

Para Abreu e Masetto (1990), o conhecimento e o domínio das estratégias é uma ferramenta que o ‘artista’ professor maneja de acordo com sua criatividade, sua reflexão e experiência.

Para Mialaret, apud Abreu e Masetto (1990 p.17), “a educação é o domínio da arte: a arte de criar as condições favoráveis a uma ação

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profunda, susceptível de orientar para determinados objetivos aqueles que estão sob a nossa responsabilidade”. E para tal o professor precisa estar respaldado em mecanismos apropriados, procedimentos, técnicas e recursos, entendidos como estratégias de ensino para garantir o êxito do processo ensino-aprendizagem.

6 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta a contextualização da instituição pesquisada, a postura e perspectiva de estudo, a especificação da metodologia, os pressupostos e perguntas de pesquisa, o delineamento da pesquisa, a caracterização da população, os instrumentos de pesquisa e os procedimentos de campo.