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5.2 Motivação

5.2.1 Teorias motivacionais: uma visão geral

As primeiras visões da motivação eram parecidas, no sentido de que procuravam construir um modelo único para todas as pessoas em qualquer situação. Pode-se citar o modelo tradicional, associado a Frederick Taylor que presumia que as pessoas eram motivadas por incentivos; o modelo das relações humanas que enfatizava as necessidades sociais; as teorias de conteúdo da motivação que enfatizavam as necessidades internas do indivíduo; as teorias do processo da motivação que examinam os processos de pensamento pelos quais as pessoas decidem como agir; e, finalmente, a perspectiva sistêmica que considera as características individuais, as características de trabalho e as características da situação de trabalho de cada indivíduo.

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Pode-se dizer que na motivação estão incluídos os fatores que provocam, canalizam e sustentam o comportamento de um indivíduo. Para Chiavenato (2000), deve-se considerar algumas premissas para explicar o comportamento humano, pois embora os padrões de comportamento variem, o processo do qual resultam é parecido para todos os indivíduos. Portanto, afirma o autor que:

O comportamento humano é causado por estímulos internos e externos. Tanto a hereditariedade como o meio ambiente influenciam no comportamento das pessoas.

Existe uma finalidade em todo comportamento humano. Portanto, o comportamento humano é motivado.

O comportamento humano é orientado por objetivos. Em todo comportamento existe sempre um impulso, um desejo, uma necessidade, uma tendência que designam os motivos do comportamento.

Para esse autor, a motivação humana depende de três variáveis básicas: “da percepção do estímulo” (que varia conforme a pessoa e na mesma pessoa, conforme o tempo), (das necessidades que também variam conforme a pessoa) e da cognição da pessoa. Considera que a motivação ocorre sob forma de ciclo, iniciando com estado de equilíbrio no indivíduo. Se por algum motivo, um estímulo rompe o equilíbrio surge então uma necessidade. A tensão produzida por essa necessidade faz com que o indivíduo busque satisfazê-la, através de um comportamento por ele selecionado. Se este comportamento satisfaz a necessidade, o equilíbrio é retomado. Se a necessidade não for satisfeita, para alguns indivíduos vem a frustração; outros, buscam novas formas de comportamento para satisfazer esta necessidade. O ciclo da

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satisfação dessa necessidade se processa, conforme entendimento do autor, da seguinte forma:

A necessidade é uma força dinâmica e persistente que provoca um “comportamento”. Toda vez que surge uma necessidade esta rompe o estado de equilíbrio do organismo, causando um estado de tensão, de insatisfação, desconforto e desequilíbrio. Este estado leva o indivíduo a um comportamento, ou ação, capaz de descarregar a tensão ou livrá- lo do desconforto e do desequilíbrio. Se o comportamento for eficaz, o indivíduo encontrará a satisfação da necessidade e, portanto, a descarga da tensão provocada por ela. Satisfeita a necessidade, o organismo volta ao estado de equilíbrio anterior, a sua forma de ajustamento do ambiente. (CHIAVENATO, 2000, p.81).

Segundo Megginson, Mosley e Pietri (1986), as teorias do conteúdo da motivação têm como parâmetro a seguinte pergunta: “o que é que faz ocorrer e parar o comportamento? As respostas a esta pergunta, geralmente, se concentram em necessidades, motivos ou desejos que impulsionam, pressionam, instigam e forçam as pessoas à ação. Consideram os autores que as necessidades ou motivos são internos ao indivíduo. Levam as pessoas a escolherem um curso específico da ação para satisfação de uma necessidade sentida. Os “incentivos” são fatores externos que dão valor ou utilidade ao resultado do comportamento do sujeito.

Eles apresentam a teoria da hierarquia das necessidades de Maslow, baseada na hierarquia de necessidades, na qual se deve atentar para dois princípios básicos. Em primeiro lugar, as necessidades humanas podem ser dispostas em uma hierarquia de importância, progredindo de uma ordem mais baixa para uma mais alta de necessidades. Em segundo, uma necessidade satisfeita já não serve mais como um motivador principal de comportamento.

Maslow, apud Megginson, Mosley e Pietri (1986), indica que as necessidades podem ser imaginadas como categorizadas em uma

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hierarquia em que uma necessidade é mais importante que as outras até que seja satisfeita. Uma vez satisfeita essa necessidade, a mais importante seguinte se torna predominante. No entanto, diz o autor, a ordem pode ser invertida e até oscilar para cima e para baixo. Uma vez satisfeita uma dada necessidade esta já não motiva mais o comportamento.

A pirâmide de Maslow inicia com as necessidades fisiológicas e biológicas que incluem as de alimentação, respiração, eliminação, sexo e descanso dentre outras. Quando estas necessidades estão, razoavelmente ou bem satisfeitas, as necessidades de segurança e previdência passam a ser importantes. Estas indicam proteção contra ameaça ou privação. Quando os indivíduos se sentem ameaçados ou dependentes, a maior necessidade é de garantia, proteção e previdência. Em seguida, vêm as necessidades sociais e de participação que incluem a necessidade de fazer parte do grupo, de associar-se, de ser aceito pelos colegas e de dar e receber amizade e amor. Acima destas, vêm as necessidades de ego e estima entre as quais se incluem as necessidades relacionadas com a auto-estima da pessoa ( autoconfiança, independência, realização, competência e conhecimento) e as necessidades que se relacionam com a reputação da pessoa (status, reconhecimento, apreço e o devido respeito dos colegas). Pode-se dizer que estas raramente são satisfeitas em sua totalidade, pois as pessoas procuram indefinidamente cada vez mais satisfação. E finalmente, existem as necessidades de auto-realização das próprias potencialidades, de autodesenvolvimento continuado e de criatividade.

Kondo (1994), ao se referir à hierarquia das necessidades de Maslow, considera que a teoria pode ser interpretada como incorreta, pois segundo ele, a motivação é algo interno ao ser humano. Há, portanto,

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que se levar em consideração que as necessidades humanas não seguem “em seqüência” ordenada. Para ele é importante reconhecer que os seres humanos estão sempre sentindo necessidades de vários tipos, o que se leva a concluir que não se pode motivar todas as pessoas da mesma forma.

Os autores apresentam, também, a teoria da manutenção de motivação de Herzberg que considera que as pessoas, a princípio, tendem a focalizar as necessidades mais baixas com predominância na segurança. Depois de satisfeitas, tendem a atender às necessidades de níveis mais elevados, tais como, iniciativa, criatividade, responsabilidade. Nesta teoria é importante distinguir os fatores motivadores e os fatores de manutenção. Os motivadores têm efeitos que produzem maiores resultados positivos em atitudes ou desempenho. Os fatores de manutenção, também chamados de higiênicos, previnem as perdas de moral ou eficiência embora não sejam motivadores em si, podem impedir a satisfação das pessoas.

Comparando com a hierarquia das necessidades de Maslow, os fatores motivadores estão relacionados com os níveis mais altos (estima e auto-realização) e os fatores de manutenção se relacionam às necessidades dos níveis mais baixos, principalmente às necessidades de segurança.

A teoria da realização de McCleland apresenta uma correlação positiva entre realização, desempenho e sucesso executivo. Constitui uma necessidade que pode ser desenvolvida em pessoas maduras, pois os impulsos ou motivos de um indivíduo não são fixos em resultado das experiências da meninice. É comum nas pessoas orientadas à realização que possuem, em geral, as seguintes características:

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Gostam de assumir riscos moderados, como uma função da habilidade, não do acaso, gostam de um desafio e querem responsabilidade pessoal pelas conseqüências.

Tendem a estabelecer metas de realização moderadas e assumem riscos calculados.

Têm forte necessidade de retroinformação sobre o quão bem estão desempenhando.

Têm perícia em planejamento de longo prazo e possuem capacidade organizacional.

Alguns autores se referem à motivação como algo intrínseco cabendo ao sujeito a responsabilidade pela sua própria motivação. Esta afirmação reporta a Sabbi (1999) que considera essencial o poder da automotivação. Define o autor a automotivação como “a capacidade de dirigir emoções a serviço de um objetivo, sincronizando o que a pessoa está sentindo, emoções, sentimentos e metas”. Desta forma, o indivíduo pode manter-se determinado a alcançar o que se propõe, manter-se no controle da situação e tornar a mente criativa na busca de soluções.

Sabbi (1999) acrescenta que o “autoconhecimento proporciona a compreensão de nós mesmos, percebendo o que nos motiva ou não, podendo ser o caminho para a busca do conhecimento do outro”. Isto pode gerar qualidade para as relações interpessoais já que o fato de a pessoa conhecer-se e conhecer melhor o outro pode evitar desentendimentos que afetam tanto a motivação pessoal quanto a motivação do outro.

Nos ambientes de aprendizagem é importante que o professor, como mediador do processo ensino-aprendizagem, saiba aproveitar e estimular a vontade que vem de dentro, da essência de cada ser que

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transita nesse ambiente, ser capaz de criar um ambiente externo que estimule e reforce essa motivação, quando ela existir. Daí a relevância do cuidado na escolha dos estímulos externos já que nem todas as pessoas se motivam do mesmo modo e pelas mesmas causas.

Segundo Sabbi (1999, p. 108), alguns elementos de motivação são comuns às pessoas:

A confiança que permite crer que temos a capacidade de executar uma tarefa, o que nos dá a esperança de que o desfecho terá uma solução positiva. A persistência que nos mantém centrados na tarefa, e estimula a começar tudo de novo se necessário. O entusiasmo que nos permite ter prazer no trabalho.

Lodi (1991), ao se referir às teorias da motivação, salienta a importância da análise e a consideração de algumas características, que segundo ele são primordiais para a compreensão do fenômeno da motivação. Como a própria raiz da palavra pode significar “um motivo para a ação”, a origem do motivo pode ser um estímulo provocado pelo meio ou pela própria dinâmica mental do indivíduo que o conduz a uma determinada ação.

O comportamento humano é dirigido para metas. Quando uma necessidade ou desejo de satisfizê-la se liga à meta específica, na qual ele vê uma forma de satisfazer sua necessidade, isto gera no indivíduo forças para alcançar seu objetivo. Essas forças o movem para a meta. O comportamento só ocorre quando o indivíduo percebe um caminho que o leva à meta.

Freqüentemente existem muitos caminhos aparentes.

Os diversos caminhos podem diferir quanto à capacidade de satisfazer as metas individuais.

O caminho a ser escolhido dependerá do grau de satisfação e das barreiras que o indivíduo percebe ao atravessá-lo. Neste caso torna-se importante o conceito de percepção do indivíduo. A percepção pode ser compreendida como o processo pelo qual um evento externo passa a fazer parte da vida interna ou do campo psicológico do indivíduo. As percepções são individuais. As pessoas vêem as coisas de modo diferente. O que se vê depende da vida e experiência de cada um.

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As diferenças individuais de percepção podem ser entendidas em termos do campo psicológico de cada uma e em termos das suas necessidades e metas.

Toda nova situação é percebida como parte da experiência anterior. O processo da percepção envolve uma distorção da situação, de modo a torná-la congruente com as experiências ou expectativas pessoais. A tensão é proveniente das forças interiores agindo em direções opostas. Como os sentimentos de tensão são desagradáveis, eles geram uma motivação para resolver a indecisão e aliviar a tensão.(LODI, 1991, p.36)

Para Bergamini (1990, p.19), a motivação cobre uma grande variedade de aspectos comportamentais.

A diversidade de interesse percebida entre os indivíduos permite aceitar, de forma razoavelmente clara, que as pessoas não fazem as mesmas coisas pelas mesmas razões. Segundo a autora parece inapropriado que ao se falar de motivação humana, uma simples regra geral seja o recurso suficiente do qual se possa lançar mão, para se conseguir uma abrangente e mais precisa explicação sobre as verdadeiras razões que levam as pessoas a agirem.

Explica a autora que a partir do nascimento as pessoas já trazem na sua bagagem inata que consiste no seu código genético, suas experiências da vida intra-uterina e do momento do parto. Acumulam experiências que lhe são pessoais, ao longo das diferentes etapas da sua vida. Estas múltiplas variáveis levam a crer que devam ser revistos os postulados que reduzem a personalidade do ser humano a um elemento qualquer que não possua feições individuais ou próprias.

Bergamini (1990) pondera que a maior parte das teorias sobre motivação humana tem oferecido uma única explicação, segundo ela, genérica, a respeito de por que diferentes pessoas se predispõem à busca de suas metas próprias e individuais. Considera a autora que tais teorias têm sido concebidas a partir de um conjunto de dados estatísticos, e talvez, por isso abstratos podendo, portanto, refletir somente a amostra estudada, não explicando de maneira particular

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pela qual cada um dos membros estudados vive a sua existência de ser humano motivado.

Gooch e McDowll, apud Bergamini (1990), consideram que “a motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar ligada a um desejo. Uma pessoa não pode jamais motivar a outra, o que ela pode fazer é estimular a outra. A probabilidade de que uma pessoa siga uma orientação de ação desejável está diretamente ligada à força de um desejo”.

Existem posições antagônicas e contraditórias acerca do fenômeno motivação. Enquanto alguns pretendem aprender como fazer para motivar pessoas; outros afirmam que ninguém jamais consegue motivar outra pessoa. Bergamini (1990) alerta para o fato de que embora se reconheça que as pessoas possam agir movidas por agentes externos a elas, ou impulsionadas pelas suas próprias forças interiores é importante compreender-se que estas ações qualitativamente diferentes pressupõem comportamentos distintos. Esses dois tipos de comportamento motivacional demandam, por isso, ações distintas: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira espontânea, ou seja, são resultados de forças impulsoras internas. Para a autora as primeiras atitudes devem ser classificadas como condicionamentos e as segundas, como ações ou atos realmente motivacionais.

Considera a autora que os fatores que estão fora das pessoas só podem ser entendidos como reforçadores de comportamentos, mas não como elementos que, por si só, aumentem a satisfação emocional. Portanto, o que Herzberg, apud Stoner e Freeman (1995) denomina de fatores de Manutenção, Higiênicos ou de Movimento, nada mais são do

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que estimuladores de diferentes reações que surgem e perduram enquanto o reforçador positivo estiver presente mas que podem desaparecer quando se extingue a recompensa ou quando é substituída por reforçadores negativos ou indesejáveis.