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Quando 8: Características da amostra

3.3 Coleta de dados

3.3.1 Processo

Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas em profundidade. Sierra (1999), citado por Godoi e Matos (2006), afirma que a entrevista em profundidade é um tipo de abordagem em que o objeto de investigação está constituído pela vida — experiências, ideias, valores e estrutura simbólica – do entrevistado. Godoi e Matos (2006) se referem à entrevista em profundidade como uma forma de realização de conversações com fins de pesquisa, aproximando-se de Minayo (1996), para quem a entrevista é uma conversa com finalidade.

Para Richardson et col. (2008), a entrevista em profundidade, em vez de responder à pergunta por meio de diversas alternativas pré-formuladas, visa a obter do entrevistado o que ele considera os aspectos mais relevantes de determinado problema. Para esses autores, a melhor situação para participar na mente de outro ser humano é a interação face a face, pois tem o caráter, inquestionável, de proximidade entre as pessoas, que proporciona as melhores possibilidades de penetrar na mente, vida e definição dos indivíduos.

Para o estudo qualitativo de relacionamentos de mentoria, a entrevista em profundidade é referida como um recurso que oferece um contexto adequado para que as questões pessoais possam surgir, ser exploradas e conduzidas de modo sensível e confidencial. Pode haver certos aspectos ou problemas que um entrevistado possa ter dificuldade de compartilhar. É importante, nesse caso, que o método de coleta de dados ofereça uma atmosfera que possa explorar as questões potencialmente difíceis, minimizando ou evitando desconforto para o participante (FOWLER, 2002).

As entrevistas foram realizadas na sede da Chesf, quase sempre em salas reservadas por iniciativa do administrador da academia. Excetuando-se um caso, foi possível o pesquisador e o entrevistado instalarem-se em ambiente isolado, sem sofrer interferências de terceiros durante a entrevista. Estas foram gravadas em meio eletrônico e posteriormente transcritas por pessoa contratada pelo pesquisador, resultando em 18 horas de gravação e 440 páginas de transcrição, contando-se as 17 entrevistas com os usuários da academia e as 4

realizadas com os professores. Cada entrevista foi lida duas vezes pelo pesquisador, simultaneamente à audição da respectiva gravação.

As entrevistas foram apoiadas pelo roteiro adiante referido, composto de questões de direcionamento, ou seja, questões que envolvem aspectos investigativos do estudo específico. As questões foram não-estruturadas, isto é, não limitavam as respostas, mas forneciam uma estrutura de referência para elas (COOPER; SCHINDLER, 2003).

O fechamento da série de entrevistas se deu por saturação teórica, ou seja, ocorreu quando as informações fornecidas pelos novos participantes da pesquisa pouco acrescentavam ao material até então obtido, não mais contribuindo significativamente para o aperfeiçoamento da reflexão teórica fundamentada nos dados que estavam sendo coletados (FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008). Bauer e Gaskell (2007) afirmam que esse é o ponto em que o pesquisador se dá conta de que não aparecerão novas surpresas ou percepções. Foi o que sucedeu.

3.3.2 Instrumentos

Foi utilizado um roteiro (Apêndice C) para realizar as entrevistas com os usuários da academia. Bauer e Gaskell (2007) se referem a esse instrumento como “tópico guia”. Segundo esses autores, um bom tópico guia irá criar um referencial fácil e confortável para uma discussão, fornecendo uma progressão lógica e plausível dos temas em foco. Sobre o roteiro de entrevista Minayo (1996. p. 99) afirma:

... deve ser o facilitador de abertura, de ampliação e de aprofundamento a comunicação. Dele constam apenas alguns itens que se tornam indispensáveis para o delineamento do objeto, em relação à realidade empírica e devem responder às seguintes condições: (a) cada questão que se levanta faça parte do delineamento do objeto e que todas se encaminhem para lhe dar forma e conteúdo; (b) permita ampliar e aprofundar a comunicação e não cerceá-la; (c) contribua para emergir a visão, os juízos e as relevâncias a respeito dos fatos e das relações que compõem o objeto, do ponto de vista dos interlocutores (MINAYO, 1996, p. 99).

Para a elaboração do roteiro de entrevista, tomaram-se alguns elementos do guia de entrevista utilizado por Kram (1980) em sua pesquisa seminal, que se tornou a fonte de referência dos conceitos básicos até hoje utilizados na literatura de mentoria. Também foram empregados alguns tópicos que compõem o Guia de Entrevista da História do Participante, elaborado por Leutzinger e Harris (2006) para estudar mudanças de hábitos em saúde. Este instrumento faz referências a aspectos como a história de vida do entrevistado, buscando

identificar aspectos como comportamentos em saúde; momentos de mudança ou controle do comportamento; processo de mudança (percepção de progressão por estágios e de etapas cumpridas); suporte de familiares, amigos, colegas de trabalho; influência de estruturas de suporte, recursos informativos ou educacionais, aconselhamento, coaching e profissionais de saúde. Foram anotados, ainda, em cada entrevista, a idade e o gênero do entrevistado, na Ficha de Entrevista (APÊNDICE D), que também serviu de campo de anotações do pesquisador durante a entrevista.

Como suporte ao roteiro, outro recurso, o Gráfico de Estágios da Mudança, foi utilizado, em duas versões (Apêndices E e F). Esse gráfico corresponde à sequência de estágios proposta por Prochaska e DiClemente, conforme se tratou em 2.1.3. A versão 1 objetivou estimular o entrevistado em seu esforço de rememoração de fatos relevantes, ao longo de seu processo de mudança. A versão 2, além disso, define as fases que ficaram estabelecidas para este estudo: pré-adesão (estágios anteriores à ação) e adesão (ação e manutenção). A sequência de estágios é apresentada na literatura em forma de espiral (PROCHASKA; DICLEMENTE; NORCROSS, 1992; PROCHASKA; NORCROSS; DICLEMENTE, 2006). O pesquisador, contudo, preferiu utilizar um modelo linear, por lhe parecer que seria de mais fácil visualização e entendimento para os entrevistados.

Seguindo procedimento adotado por Kram (1980), em sua pesquisa original, não foi mencionada na entrevista a palavra “mentor” nem qualquer outra de sua família etimológica. Consequentemente, também não foi oferecida qualquer definição de mentoria ou mentor. Para Kram (1988), a palavra “mentor” possui uma variedade de conotações e, do ponto de vista de pesquisa, seria melhor não usá-la. Com efeito, conotações preconcebidas dos entrevistados poderiam influenciar suas interpretações sobre o que lhes era perguntado e, consequentemente, provocar desvios nas respostas. Assim, sendo, adotaram-se, ao longo das entrevistas, expressões como “pessoa/indivíduo que influenciou/influente”, relação/relacionamento influente/que influenciou” e assemelhadas, que encerram um sentido mais geral. As inferências do pesquisador, à luz do referencial teórico, sobre os dados coletados é que permitiriam, na análise, concluir sobre a presença de relacionamentos de mentoria e mentores.