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Quando 8: Características da amostra

4.1 Fontes e tipos de suporte no contexto da atividade física

4.1.3 Discussão

De forma geral, os resultados sinalizam para as seguintes fontes de suporte: colegas, médicos, professores de Educação Física, membros da família, pessoas externas à rede de relacionamentos e a empresa.

Colegas (aqui incluídos amigos e pares), particularmente os que pertencem ao ambiente da Chesf, tiveram uma grande importância, particularmente na fase anterior à adesão, em que foram a fonte de suporte citada com maior frequência. Essa constatação vai ao encontro de diversos achados, como os de Sallis e Owen (1999, citados por Bauman et al., 2002) e de Burton (2006). Ocorreu referência ao suporte proporcionado, na infância e juventude, por um grupo de colegas, não por um indivíduo em particular. Tal achado encontra ressonância em estudo de Jago et al. (2009), que verificaram haver, entre jovens, influência de grupos de amigos tanto na iniciação quanto na manutenção de atividade física. Annesi (1999) e Tahara, Schwartz e Silva (2003) apresentam a importância do grupo como fator de influência. Particularmente, os últimos referem a influência de um grupo com expectativa homogênea como um fator importante na aderência e manutenção dos indivíduos nas academias. Esse aspecto particular foi constatado através do entrevistado 14, que ressaltou a satisfação de fazer exercícios junto a pessoas com cujos interesses e necessidades ou objetivos ele se identifica. A companhia dos colegas se revelou, portanto, no presente estudo, como fator significativo ao longo da manutenção na prática de exercícios, o que também se alinha com a afirmação de Loughead, Colman e Carro (2001), segundo os quais a adesão tem melhor sustentação quando se realizam atividades em companhia de outros. Colegas também serviram como modelos, em conformidade com o que foi relatado por Burton (2006).

Em relação ao papel dos médicos, as constatações se associam aos resultados encontrados por Ribeiro, Martins e Carvalho (2007) e por Sallis e Owen (1999, citados por Hurtz e King, 2004), que apontam a importância do aconselhamento do médico no processo de mudança do comportamento em relação à atividade física. Os relatos também corroboram a valorização que os pacientes conferem à orientação do médico e ao interesse daqueles em receber orientação sobre atividade física, conforme destacam Calfas e Hagler (2006). Os médicos tiveram posição de destaque, o que se justifica diante da estrutura de atendimento à saúde do empregado que é proporcionada pela empresa. Na maior parte dos casos, os médicos referidos pelos entrevistados foram profissionais dos quadros da Chesf. Diferentemente do que ocorre na maioria das situações de atendimento médico nos consultórios em geral, o

atendimento realizado no ambulatório na empresa tem caráter mais pessoal e dedicado, proporcionando mais tempo para a relação médico-paciente. Esse aspecto é ressaltado por Fabius e Frazee (2008), que afirmam haver vantagens em oferecer os serviços de profissionais clínicos confiáveis no ambiente de trabalho. Esses profissionais com mais frequência são capazes de dedicar tempo aos pacientes e pode ocorrer um aumento do vínculo entre as partes. Suportes significativos proporcionados pelos médicos referidos nesta pesquisa, inclusive com a presença de interesse autêntico, disponibilidade-com-dedicação e abertura do relacionamento (como ocorreu com o entrevistado 4 e sua médica), corroboram a posição desses autores.

Os profissionais de Educação Física se afiguraram como a mais frequente fonte de suporte citada como influência no processo de adesão à atividade física. Corroborando McClaran (2002), verificou-se que foi proporcionado por eles um atendimento individualizado e que, de acordo com os alunos, esse comportamento influiu na adesão aos exercícios. Alinhados com as conclusões de Loughead, Colman e Carro (2001), os dados revelaram que a disponibilidade, a atitude motivadora e a demonstração de entusiasmo desses profissionais contribuem para o comparecimento dos seus clientes, promovendo adesão e continuidade nos exercícios. Esse modo de atuação ficou evidente através das diversas formas de encorajamento e pelo acompanhamento próximo e dedicado que foram por eles proporcionados aos alunos, paralelamente a todas as tarefas inerentes ao treinamento, que é a base de seu trabalho. É tamanha a disponibilidade e atenção de certos professores da Academia Chesf referidos nas entrevistas, que chegam a ser comparados com treinadores pessoais (personal trainers), embora efetivamente não seja esse o formato de prestação de serviços da academia:

Ele só deixa de ficar do teu lado (...) se você quiser. Aí ele fica com você, até ter certeza que está fazendo o exercício certo. Isso não existe! A não ser que seja um personal trainer. (E11)

No caso personal trainers, Sweet (2008) afirma que os resultados positivos fazem com que o relacionamento treinador-aluno ao longo do tempo se vá tornando mais amistoso. O que se verificou nesta pesquisa ultrapassa a mera qualificação de “amistoso”. Alguns professores ofereceram demonstrações de interesse legítimo, pelo aluno, transpuseram positivamente a fronteira profissional, ajudaram voluntariamente na resolução de problemas pessoais e chegaram a desenvolver relações de amizade, em níveis diversos.

Cônjuges (no caso, esposas) se apresentaram na fase de adesão com um papel importante no encorajamento à mudança. A presença dessa fonte de suporte se associa aos trabalhos de Sallis e Owen (1999, citados por Bauman et al., 2002) e Burton (2006). Contudo o papel de modelo para atividade física conferido a cônjuges no estudo de Burton não foi verificado na pesquisa.

Outros familiares estão presentes como fonte de suporte. Na literatura consultada, encontraram-se diversas referências, em tom genérico, a familiares nesse papel (e.g., BURTON, 2006; SPANIER; ALISSON, 2001). Referências ao suporte social de pais no contexto da atividade física parecem ser freqüentes em relação a crianças e adolescentes (e.g., SALLIS; PROCHASKA; TAYLOR, 2000; ORNELAS; PEREIRA; AYALA, 2007; GRIFFITH et al., 2007), mas não parecem ser comuns em relação a indivíduos com idade próxima à média da amostra da pesquisa (idade média = 51,2 anos)23. O presente estudo, porém, verificou que pais atuam como fonte de suporte para entrevistados com 30, 53, 56 e 57 anos. Outro aspecto incomum à literatura consultada foi o suporte proporcionado por filhos. A pesquisa, no entanto, revelou influências de filhos em ambas as fases.

Pessoas não pertencentes à rede de conhecidos do entrevistado exerceram influência por meio dos exemplos que representaram. Em um caso, o modelo também era uma pessoa (K. Cooper) que buscava contribuir com o processo de conscientização da população sobre a necessidade de exercícios. A literatura faz referências ao fato de que o papel de modelo para atividade física pode ser representado por familiares, amigos, cônjuge, vizinhos e mesmo empregadores (BURTON, 2006), bem como pais, tutores, estudantes, estudantes universitários, professores e treinadores (HUMBERT et al., 2006). Também atletas podem atuar como modelos (GLOBUS, 1998).

A empresa deve ser também considerada como uma significativa fonte de suporte em todas as fases do processo de adesão à atividade física. A atuação da empresa, pautada principalmente por suporte de natureza informacional e instrumental, permite aproximá-la da sugestão de Okie (2007), segundo a qual a empresa pode assumir para seus empregados o papel de coach quando se trata da saúde dessas pessoas. Para a autora, esse papel envolve monitorar fatores de risco e persuadir os empregados a mudar seus hábitos, oferecendo, entre outros recursos, avaliação de risco, incentivos à participação em programas de redução de riscos, serviços preventivos gratuitos no ambiente de trabalho, ambulatório médico e

23 Um trabalho consultado (KAEWTHUMMANUKUL et. al., 2006) encontrou o suporte de pais em uma amostra de 33 a 40 anos.

academia de ginástica. Trata-se, precisamente, do caso da Chesf, com seu Plano Corporativo de Saúde e Qualidade de Vida.

À luz da literatura consultada sobre suporte social, pode-se afirmar que os tipos de suporte social encontrados têm correspondência com a classificação proposta pelos autores estudados (2.1.2). O quadro a seguir apresenta uma visão detalhada sobre essa correspondência.

Classificação

de acordo com a literatura Tipo de suporte adesão Pré- Adesão

Alerta e orientação para a mudança X X

Suporte informacional – conforme House (1981), Wills e Shinar (2000), Cutrona e

Russell (1990) Informações sobre oportunidade para fazer exercício X X Oferecimento/pagamento de estrutura/serviços X X

Treinamento: instrução técnica (planejamento,

explanação, feedback, proteção física, informação sobre área afim) e exercícios desafiadores

X

Suporte instrumental – conforme House (1981), Wills e Shinar (2000)

Prevenção de lapso/recaída X

Interesse autêntico X X

Disponibilidade-com-dedicação X

Escuta-e-aconselhamento X

Proteção da imagem pessoal X

Abertura para o relacionamento X

Encorajamento por perspectiva de benefícios X X

Encorajamento por elogio ao desempenho X

Suporte emocional –

conforme House (1981), Wills e Shinar (2000), Cutrona e Russell (1990)

Encorajamento por impulsão X

Suporte de companhia – conforme Wills e Shinar

(2000) Encorajamento por companhia X X

Modelo positivo em atividade física X X

Modelo positivo pela visão de vida X

Suporte de avaliação, através do componente comparação social – conforme Jacobi (1991), baseada em House

(1981) Modelo negativo pelo estado de saúde indesejável X X Quadro 11: Correspondência entre os tipos de suporte social verificados na pesquisa e a classificação de suporte social encontrada na literatura.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados da pesquisa e na literatura consultada (2.1.2).

Ao se estabelecer uma comparação entre os comportamentos nas duas fases, verifica- se que há comportamentos de suporte exclusivos de cada fase e comportamentos presentes em ambas as fases.

A razão para a existência de comportamentos exclusivos de uma fase parece ser primordialmente de natureza cronológica. Por exemplo, encorajamento por impulsão só pode denotar uma ação anterior à prática de exercícios, ao passo que treinamento, encorajamento por elogio ao desempenho e encorajamento por companhia só se realizam quando o indivíduo já é praticante.

Os comportamentos presentes em ambas as fases representam processos que podem contribuir em qualquer tempo e indefinidamente, desde a pré-adesão. Por exemplo, médicos poderão sempre contribuir com alerta e orientação para a mudança; os benefícios dos exercícios sempre poderão ser tema de iniciativas de encorajamento e a empresa poderá manter permanentemente o seu patrocínio. É provável que o conteúdo do suporte possa mudar ao longo do tempo, para ajustar-se às necessidades do indivíduo que o recebe e/ou à disponibilidade de quem os oferece.

Outro aspecto que merece destaque: a presença dos professores de Educação Física na fase de adesão. Em termos individuais, eles representam a fonte de suporte que mais tipos de suporte oferece. Porém a grande importância desses profissionais não se prende apenas à questão quantitativa, mas também à natureza dos suportes que são trazidos por esses profissionais quando eles são considerados no contexto – particularmente, os suportes emocionais. Apenas dois dos suportes emocionais da fase de adesão não foram providos por essa fonte: encorajamento por impulsão e encorajamento por companhia. O primeiro, por sua natureza, é mais provavelmente típico da pré-adesão. Quanto ao segundo, pode-se afirmar que a presença do professor junto ao aluno é um fato natural decorrente da prestação de serviços que o profissional realiza, portanto não há o sentido de uma companhia oferecida como suporte para a prática de exercícios. Ênfase, sim, foi dada à presença do professor junto do aluno, porém com a conotação de disponibilidade-com-dedicação. Enfim, apesar da existência de outras fontes de suporte emocional na adesão (colegas, médicos, familiares e empresa), nenhuma delas se configura tão abrangente para os comportamentos de ajuda emocional aos alunos da academia quanto os professores de Educação Física.

Finalizando esta seção, assinale-se que a existência de suporte originado de processos, eventos e ambientes pode encontrar sustentação em Allen e Finkelstein (2003). Essas autoras se referem a fontes de suporte “não relacionais” declaradas por pessoas entrevistadas como a atividade ou evento em si – não uma pessoa ou pessoas que os provocam ou proporcionam – parecem ser as fontes de suporte, provocando mudanças positivas nos indivíduos. Desse modo, o acidente da entrevistada 7, o processo terapêutico do entrevistado 3, o ambiente físico em que se criou o entrevistado 12 e o poder da mídia referido pelo entrevistado 14 podem ser vistos com fontes não relacionais24.

Na próxima seção, é construída a resposta à questão norteadora 2.

24 Sob esse ponto de vista, o ambiente físico da Chesf, com as instalações da Academia, poderia ser analisado como uma fonte não relacional. Preferiu-se, contudo, incluir a empresa como fonte relacional, pelo entendimento de que na origem de todo o suporte estão as pessoas que a dirigem (conforme comentado em 4.1.)

4.2. RELAÇÃO ENTRE TIPOS DE SUPORTE SOCIAL E FUNÇÕES DE