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Quando 8: Características da amostra

2.2 Mentoria

2.2.7 Mentoria e suporte social

2.2.7.2 Distinção entre mentoria e suporte social

A literatura sobre relações de desenvolvimento está em estado emergente e os acadêmicos têm tradicionalmente recorrido ao conceito de mentoria para descrever essas relações (ROCK; GARAVAN, 2006). Esse fato, em vez de ajudar a compreensão do que seja mentoria, termina por confundi-la com outros tipos de relação, como é o caso do suporte social. E esse problema pode ser agravado caso se use, nos estudos, uma abordagem simplesmente baseada na aproximação entre os conceitos: pode-se perder a ideia do que seja especificamente o relacionamento de mentoria.

Desde o início dos estudos de mentoria, um consenso sobre uma definição é algo longe de ser alcançado. Os pesquisadores têm trabalhado com diversas definições de mentoria, que podem enfatizar o comportamento, o conteúdo e o papel do relacionamento ou o resultado do relacionamento (SCHIPANI et al., 2009). Buscando justificar essa diversidade, Klasen e Clutterbuck (2007) afirmam que nunca uma prática gerencial foi acompanhada por

uma definição válida e robusta desde os seus primórdios: sempre se leva tempo para chegar a uma definição que tenha parâmetros completamente formulados. Assim, já se vão mais de trinta anos, e o debate continua.

Encontram-se, porém, na literatura, tentativas de reconhecer quais os traços distintivos da mentoria. Giblin (2006) propõe que a mentoria é um componente de suporte social ou um relacionamento que pode levar a relacionamento de suporte social. Goldner e Mayseless (2008) referem-se à mentoria como uma intervenção que intensifica o suporte social e sua disponibilidade. Acrescentam que o que é singular no relacionamento de mentoria se baseia na capacidade do mentor de se movimentar livremente entre diversos papeis (pai, terapeuta, amigo, professor) sem incorporar qualquer um deles, bem como saber lidar com a diversidade de necessidades emocionais do mentorado ou com as fases do relacionamento. Collins (1994) afirma que o mentor facilita o desenvolvimento do mentorado servindo como uma fonte de suporte social que vai além do que se supõe apenas com base em um relacionamento formal.

Na pesquisa que gerou a tipologia tradicional das funções de mentoria, Kram (1980, 1988) verificou que os relacionamentos que proviam tanto funções instrumentais como psicossociais eram caracterizados por maior intimidade e força do laço interpessoal e eram vistos como mais indispensáveis, mais críticos para o desenvolvimento e mais exclusivos que outros relacionamentos na vida do indivíduo. Por outro lado, relacionamentos em que estavam presentes apenas funções instrumentais eram caracterizados por menos intimidade e eram valorizados principalmente pelos próprios fins instrumentais a que serviam no contexto organizacional. Essa valorização das funções psicossociais se evidencia em Wanberg, Welsh e Hezlett (2003), para quem, apesar das diferenças entre tipologias de relações de desenvolvimento, é geralmente aceito que a relação de mentoria é a mais intensa e poderosa relação de desenvolvimento um-a-um, trazendo em si mais influência, identificação e envolvimento emocional.

A confiança é um aspecto que alguns autores propõem como fundamental no relacionamento de mentoria. A mentoria genuína, segundo Schnaiberg (2005), envolve um relacionamento bem mais profundo do que aconselhamento: para que o relacionamento se sustente, tanto o mentor como o mentorado têm de ser de algum modo mais abertos um com o outro. De acordo com Kram (1988) as funções psicossociais são possíveis em razão da existência de uma relação interpessoal que fomenta confiança mútua e intimidade crescente. Cunningham e Eberle (1993) afirmam que em relacionamentos de mentoria efetivos ambos os membros devem estar dispostos a confiar e demonstrar confiança. Essa é também a posição de Erdem e Aytemur (2008): a evolução de um relacionamento de mentoria ao ponto de tornar-se

uma experiência positiva para mentor e mentorado depende fortemente do nível de confiança que se desenvolve entre as partes.

O interesse do mentor no mentorado e a disponibilidade para atendê-lo são destacados na literatura como traços que identificam o relacionamento de mentoria. Para O’Neill (1997), o que caracteriza o comportamento do mentor em relacionamentos informais é a disposição de dedicar tempo e energia para outra pessoa sem que haja obrigação de fazê-lo. Murray (2001) declara que o papel do mentor é assumido por uma pessoa que deseja ajudar a outra a aprender e crescer. Por sua vez, Gibson (2005) propõe que a diferença entre suporte social e mentoria é que nesta o mentor tem como prioridade os melhores interesses do mentorado, sendo proativo e disponível, além de investir na relação. Este último aspecto encontra respaldo em Scandura e Schriesheim (1994), que consideram a mentoria um investimento pessoal, extraorganizacional no mentorado pelo mentor. O foco do interesse é reforçado por Crawford (2009): a essência do relacionamento de mentoria consiste em que o mentor assume um interesse direto e pessoal na educação, desenvolvimento e sucesso do mentorado. Contribuindo com todas essas perspectivas, retoma-se aqui a ideia da compaixão como um elemento básico no relacionamento de mentoria (citado anteriormente, em 2.2.2.1). Compaixão compreende empatia, dedicação à outra pessoa e vontade de agir em resposta aos sentimentos da pessoa (BOYATZIS, 2007; MCKEE; BOYATZIS, 2006; SMITH, BLAZE, 2006).

Diante do exposto, não obstante as semelhanças entre suporte social e mentoria, parece existir a possibilidade de encontrar relações de desenvolvimento que sejam de suporte social, porém não configuradas como relações de mentoria, ao mesmo tempo em que outras interações podem apresentar-se como relações de mentoria, conotadas, conforme qualifica Johnson (2002), como um relacionamento pessoal singular e diferenciado. Este trabalho, portanto, se propõe contribuir para trazer maior clareza ao entendimento dos relacionamentos de mentoria e distingui-los de outros relacionamentos de suporte. Com esse fim, é estabelecida a terceira questão norteadora:

Questão norteadora 3:

De que modo se pode estabelecer distinção entre relações de mentoria e relações de suporte social enquanto experiências relacionais que influenciaram os indivíduos a aderir à atividade física?