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Diferentes perspectivas sobre funções de mentoria

Quando 8: Características da amostra

2.2 Mentoria

2.2.6 Funções de mentoria

2.2.6.3 Diferentes perspectivas sobre funções de mentoria

Como se verificou, a tipologia de funções proposta por Kram (1980, 1988), derivada de estudo qualitativo, apresenta nove funções agrupadas em duas categorias: funções de carreira e funções psicossociais. Diversos pesquisadores realizaram estudos quantitativos, avaliando e adaptando empiricamente o modelo através da utilização de escalas. Os resultados são variados e, de modo amplo, não se pode dizer que uma medida padrão de mentoria tenha sido estabelecida, apesar de haver similaridades entre quase todas as escalas propostas, visto que a maioria deriva do mesmo trabalho original (SCANDURA; PELEGRINI, 2007). Uma síntese sobre alguns desses estudos é apresentada a seguir.

• Burke (1984) levantou um modelo tem três categorias de funções: desenvolvimento de carreira, psicossociais e modelagem de papel. Escala de 15 itens: confiança em mim me fez confiante, modelo ou exemplo positivo, professor/coach/treinador, defendeu meus interesses/lutou por mim, desenvolveu meu talento por meio de tarefas do trabalho, representou um nível mais avançado pelo qual eu me esforçava, conselho e apoio moral sob estresse, um patrocinador/visibilidade, anfitrião de um novo mundo, um protetor/aprendi sem arriscar meu cargo, abriu portas para mim, contornar a burocracia/informações internas/atalhos, poder refletido/apoio de uma pessoa influente, acreditou meu sonho/apoiou meu sonho, à medida que o mentor crescia eu também crescia.

• Schockett (1984) fez um levantamento de funções que se deseja receber de um mentor. Aplicou um modelo com duas categorias de funções previamente definidas (vocacionais e psicossociais) e oito itens. Funções vocacionais: educação (ensino, desafio e avaliação), consultoria e coaching, patrocínio e visibilidade-e-exposição, proteção. Funções psicossociais: modelagem de papel, encorajamento (equivalente, na tipologia de funções de Kram, a aceitação-e-confirmação), aconselhamento e mudança de figura transicional para amigo.

• Noe (1988) ratificou o modelo de duas categorias de Kram em uma escala de 21 itens, que ele chamou de Escala de Funções de Mentoria. Utilizou os mesmo rótulos de Kram para as funções. Coaching, porém, se apresentou como função psicossocial. A função amizade não se confirmou.

• Dreher e Ash (1990) procuraram construir uma medida globalizada de mentoria. Conseguiram abranger todas as funções de Kram em uma única categoria. Escala de 18 itens.

• Ragins e McFarlin (1990) apresentaram um modelo de 11 funções previamente separadas em 2 categorias: funções de carreira e psicossociais. Acrescentaram duas funções à categoria psicossocial de Kram: parental e social. As autoras denominaram seu questionário de Instrumento do Papel do Mentor (sigla em Inglês: MRI). Escala de 33 itens.

• Viator e Scandura (1991) levantaram um modelo de três fatores: atividades de coaching, atividades de suporte social e atividades de modelagem de papel. Escala de 15 itens.

• Scandura (1992) Obteve um modelo com 3 categorias de funções: vocacionais, de suporte social (correspondendo à categoria psicossocial) e modelagem de papel. Escala de 18 itens. Pelegrini e Scandura (2005) se referem a essa escala como Questionário de Funções de Mentoria (sigla em Inglês: MFQ).

• Scandura e Ragins (1993) Confirmaram o MFQ – modelo de três categorias de funções de Scandura (1992) – e as denominaram de coaching, psicossociais e modelagem de papel. A escala passou a ter 15 itens.

• Castro e Scandura (2004), citados por Fowler (2002), Pellegrini e Scandura (2005) e Hu (2008), reduziram o MFQ a 9 itens, divididos em três categorias, que denominaram suporte vocacional, suporte psicossocial e modelagem de papel.

• Turban e Dougherty (1994) utilizaram a escala de 18 itens de Dreher e Ash. Encontraram uma configuração de 3 categorias de funções: de carreira, psicossociais e de proteção-e-assistência.

• Tepper, Shaffer e Tepper (1996) retomaram e refinaram a escala de Noe. Confirmaram coaching como função de carreira (e não psicossocial) e não avaliaram amizade. Escala de 16 itens.

• Fowler (2002) apresenta um modelo com oito funções de mentoria: aconselhamento pessoal e emocional, coaching, defesa (advocacy), facilitação do desenvolvimento de carreira, modelagem de papel, aconselhamento sobre estratégias e sistemas, facilitação de aprendizado e amizade. Escala de 36 itens.

• Rose (2003) desenvolveu a Escala do Mentor Ideal (sigla em Inglês: IMS), com 33 itens. Levantou três dimensões: integridade (honradez, princípios morais e exemplo digno de seguir), orientação (ajuda em tarefas e atividades) e relacionamento (compartilhamento de preocupações pessoais, atividades sociais, visão de vida e de mundo).

Entre esses estudos, o de Fowler (2002) merece atenção especial. A autora retornou aos alicerces da pesquisa qualitativa, conforme Kram (1980) houvera trabalhado. Em seguida,

procedeu a uma confirmação empírica de seus achados com mentores e com mentorados. Em relação à amostra utilizada por Kram (1980), a amostra da pesquisa de Fowler (2002) foi mais diversificada (sujeitos de diversos ambientes organizacionais), além de ter melhor distribuição (todas as combinações de gênero em díades mentor-mentorado estavam igualmente presentes). A autora defende que a classificação em categorias amplas, focando em dois ou três fatores, faz perder uma grande quantidade de informações, por não reconhecer ou não permitir a classificação em separado de funções individuais, o que seria de grande importância para a pesquisa empírica. Baseada nisso, testou seus achados qualitativos em trabalhos quantitativos sem ideia preconcebida de categorias. Além disso, seu trabalho tem a preocupação de apresentar uma visão contemporânea do fenômeno da mentoria, mais de duas décadas depois dos primeiros trabalhos.

Afora as coincidências entre as funções com o mesmo rótulo (coaching, amizade e modelagem de papel), as similaridades encontradas entre o modelo de Fowler (2002) e o modelo de Kram são as seguintes,: aconselhamento pessoal e emocional se aproxima tanto de aceitação-e-confirmação como de aconselhamento; defesa se relaciona com patrocínio; facilitação do desenvolvimento de carreira e aconselhamento sobre estratégias e sistemas de alguma forma parecem ser relacionados com a definição de coaching por Kram. A função tarefas desafiadoras (em Kram), não perece estar explicitamente relacionada com qualquer função levantada por Fowler, embora possa implicitamente ter alguma relação com facilitação de aprendizagem. Ficou ausente a função denominada por Kram como proteção. Essa ausência é relacionada com o fato de que as contínuas e rápidas mudanças na força de trabalho ao longo de vinte anos (tempo aproximado de defasagem entre os dois trabalhos) – como estruturas menos verticalizadas, downsizing, reestruturação e menor segurança no emprego – podem ter enfraquecido, pelo lado dos mentores, o poder de exercer esse comportamento protetor (FOWLER, 2002; FOWLER; O’GORMAN, 2005).

Como se pôde observar, variações em relação ao modelo de Kram se apresentam de diversas maneiras: redução do modelo a uma única categoria de funções, expansão do modelo para três categorias funcionais (geralmente com o entendimento de que modelagem de papel é uma categoria funcional independente, uma terceira categoria), supressão, acréscimo, desmembramento, combinação e novas denominações de algumas funções. Mas o fato é que permanece a essência da base teórica criada por Kram, nos trabalhos posteriores ao que ele inicialmente realizou. Diante disso, é digno de nota que uma pesquisa qualitativa com uma amostra de apenas 18 pares em uma única organização tenha dado origem a um arcabouço teórico que, de uma forma ou de outra, vem sendo replicado já por décadas.

O estudo das funções de mentoria permite saltar para mais uma etapa deste estudo que objetiva verificar a ocorrência da mentoria nos relacionamentos que influenciam a adesão à atividade física. Trata-se de uma abordagem conceitual que a literatura permite quando se colocam lado a lado os conceitos de mentoria e suporte social.