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Quando 8: Características da amostra

4.1 Fontes e tipos de suporte no contexto da atividade física

4.1.1 Fontes e tipos de suporte antes da adesão

4.1.2.3 Médicos

Os médicos também marcam a sua presença entre as fontes de suporte relatadas na adesão. Citada pelo entrevistado 4, uma médica exerceu influências diversas. Por exemplo, após a avaliação dos indicadores de saúde ela disparou um alerta sobre a necessidade de manutenção dos exercícios, buscando promover a conscientização do paciente:

(...) quando a minha taxa está... aumenta alguma taxa, aí ela diz assim: “Você não está fazendo exercício, não? Porque quando você está fazendo exercício sua taxa fica tão boa...”.

Essa profissional oferece acolhimento, demonstrando interesse genuíno pela pessoa que é o paciente.

É uma médica que é psicóloga, mãe e médica. (...) como médica ela não trata a pessoa como um paciente: ela trata como um ser humano. Por isso que mãe, assim... (...) porque ... quando eu digo mãe, assim, ela bota debaixo da asa.

Também mostra disponibilidade, garantindo dedicação ao paciente:

(...) eu chego lá: “É porque eu meio estou assim, eu acordei assado, estou me sentindo mal”. Aí eu vou lá falar com ela. Então existe um relacionamento interpessoal, muito mais do que um relacionamento médico-cliente. (...) Ela não tem hora, dia, momento, qualquer coisa, a hora que eu ligar para ela... Eu disse assim, eu até pedi para ela uma coisa. Eu disse assim: “Olhe, se eu for hospitalizado num dia você vai..., eu queria que você fosse.”. Ela disse: “Não, eu vou. Não se incomode que eu vou.”.

Além disso, a médica o estimula com a perspectiva de melhora (e no contexto da entrevista, a atividade física surge como um recurso prescrito pela médica):

Agora, ela não chega assim: “Você vai morrer” [comparando com outros médicos]. Não. Ela diz: “Nada..., tudo na vida tem recuperação. Vamos ver, vamos fazer os exames e vamos chegar lá.”.

Na visão do paciente, essa interação se abre para o surgimento de uma amizade:

Ela virou uma grandíssima amiga, um ser humano maior do que o mundo. E para mim ela é nota mil.

Em outro caso, verifica-se que um médico elogiou os resultados alcançados pelo paciente através dos exercícios:

Eu, quando fiz o periódico agora, o doutor [nome do médico] me deu um abraço, me deu os parabéns! (E8)

Médicos, portanto, participam com os seguintes suportes: alerta e orientação para a mudança, interesse autêntico, disponibilidade-com-dedicação, encorajamento por perspectiva de benefícios, abertura para o relacionamento e encorajamento por elogio ao desempenho. 4.1.2.4 Familiares

Familiares foram apontados como significativos nessa fase. Quando foi solicitado ao entrevistado 13 que apontasse quem teve uma intenção sincera de vê-lo fazendo exercícios, alguém que tenha investido nele, com vontade de ver o seu sucesso, ele prontamente respondeu: “A mulher.”. Imbuída de interesse autêntico, a esposa desse entrevistado proporcionou-lhe companhia para exercícios:

(...) minha esposa: “Eh, rapaz, está com preguiça? Não vai fazer, não? (...) Não vai andar?”. Eu digo: “Não, rapaz, hoje eu não aguento, não.”. [Esposa:] “Não, rapaz, eu vou fazer também.”. Aí, pronto: ela vai fazer, aí eu vou fazer também (...).

fez sugestões para proteger a imagem do esposo, quando ele, ao sair de uma recaída, teve vergonha de voltar à Academia Chesf. Simultaneamente, essa iniciativa cumpre um objetivo de prevenir que o indivíduo incorra em recaída:

(...) quando eu tive nesse período aí, o que é que aconteceu? Eu aumentei o peso e dá aquela sensação de que meu esforço está sendo inútil, porque eu continuei fazendo o exercício e não estava tendo resultado (...). Aí eu comecei a reclamar: "A minha roupa está apertada.". E ela foi lá, por conta própria, comprou tudo GG. "Não é por conta de roupa que você não vai mais." (...) Até chegou a sugerir que (tem uma academia bem pertinho de onde eu moro): “Você pode até deixar um tempo de ir para a da Chesf e ficar indo para essa aqui, que ninguém te conhece. Ninguém sabe se está magro, se engordou, como é que você estava... Ninguém vai comentar!”.

Além disso, elogiou a boa forma que ele alcança com seu esforço:

Isso aí [ela] sempre comenta [o sucesso do entrevistado com os exercícios]. Bate- papo de família, ela sempre usa. [O] problema [é] que o meu irmão mais novo é completamente sedentário. Aí ela usa muito [para ele]: "[Nome do entrevistado] tá melhor que você.".

(...) aí, na continuidade, sim, aí ela dá força: "Tá ficando mais fortinho. Tá melhorando...".

A esposa do entrevistado 3 contribuiu com o processo de mudança, estimulando-o através da companhia em adaptações de comportamento:

Então eu acho que ela também teve que fazer uma série de mudanças, de tentar adaptar essa história e desde o primeiro momento [quando o entrevistado descobriu estar com taxas metabólicas elevadas] ela me deu muita força, muita força por conta do processo da minha pressão e ela dizia: “Não, vamos [promover uma mudança]...”. É e ela me deu essa força para mudar completamente esse processo [o comportamento não saudável]. (E3)

A entrevistada 6 apontou a filha como influência marcante, por monitorar as atividades da mãe, de modo a prevenir que não relaxe nos exercícios:

(...) então hoje ela é uma das minhas grandes incentivadoras. Ela fica vigiando mesmo se eu estou fazendo. Ela diz assim: “Vai fazer hoje, tem que ir”. (...) Ela fica observando mesmo se eu fiz a quantidade mínima de ir na academia. Se eu não tiver feito, ela me puxa para ir caminhar na Jaqueira: “Vamos!” (...) Não, não dá trégua. e por oferecer companhia durante os exercícios:

(...) minha filha é aquela pessoa que eu digo assim: “Minha filha, eu estou com vontade de dar uma caminhada lá em Boa Viagem. Vamos comigo?”. [Filha:] “Vamos”. (...) É a que mais passeia comigo. Ela, onde eu estou ela está.

A mãe da entrevistada 1 monitorou a adesão da filha ao exercício, estimulando-a para não desistir:

Ela ligava para mim (...). "Tu fosse caminhar hoje?” “Não, não fui.” “Mas por que tu não fosse caminhar?” “É que...” “Deixe tudo e vá caminhar.”

e a mãe da entrevistada 10 lhe serve de exemplo como praticante de atividade física:

(...) minha mãe fez 80 anos. Minha mãe caminha todos os dias. Minha mãe faz hidroginástica. Minha mãe é superativa.

O suporte financeiro, para pagamento das aulas de uma academia, oferecido pelos pais da entrevistada 7, foi garantido em sua fase inicial de adesão:

Nessa época, quando eu comecei a fazer, eu ainda não trabalhava. Meus pais pagavam a mensalidade para mim. Depois eu comecei a estagiar. Com o dinheiro do estágio, eu comecei a pagar a academia.

Mas os pais também funcionam nessa fase como modelo às avessas, como exemplo de uma condição indesejável de saúde:

E tem outra coisa que me motiva muito que é ver o estado de saúde dos meus pais que têm na faixa dos 80 (...). Aí eu não quero ficar desse jeito. (E6)

Em síntese, os suportes providos pelos familiares se inserem nas seguintes categorias: oferecimento/pagamento de estrutura/serviços, prevenção de lapso ou recaída, interesse autêntico, proteção da imagem pessoal, encorajamento por elogio ao desempenho, encorajamento por companhia, modelo positivo em atividade física e modelo negativo pelo estado de saúde indesejável.

4.2.1.5 Pessoas externas à rede de relacionamentos do indivíduo

Também na fase de adesão foi encontrada referência a essa fonte de suporte. A entrevistada 1 mencionou dois nadadores olímpicos brasileiros, amplamente divulgados pela mídia, como estimuladores de atividade física e ressaltou que sua influência é sentida mesmo para quem já é fisicamente ativo:

(...) você vê um cara ganhando na natação, esse cara sério [César Cielo], o outro também, Gustavo [Borges]. (...) e quando você lê e aquilo ali você vê que dá um resultado, [você] acredita. (...) Então bora ver se isso acontece com a gente!

Trata-se, portanto, de mais um caso de modelo positivo em atividade física. 4.1.2.6 Empresa

A influência da empresa continua na fase de adesão. Os exames médicos periódicos continuam a ser apontados como importante fator de influência sobre o comportamento nesta fase, por alertar para as condições de saúde e pelas orientações que acarretam:

(...) não é só o fato de você pôr uma academia dentro da empresa. O fato de você ter um programa periódico, que, por mais que você não queira, aquilo está falando de alguma coisa, e você vai visualizando realmente quem é você, isso é outra coisa: a história de uma preocupação. (E3)

A gente faz todos os exames e, quando a gente vai para a academia, ele sabe o que a gente tem, o que a gente é e o que a gente precisa fazer. (...) Eu acho que uma academia numa empresa é muito bom, é uma coisa maravilhosa, principalmente quem faz o periódico, porque une a doença... a fome com a vontade de comer. (E4)

As vantagens dos serviços oferecidos pela empresa são fatores decisivos para a opção do empregado por se manter fazendo exercícios. As vantagens citadas envolvem a

comodidade em relação ao deslocamento, a gratuidade e a qualidade das instalações da academia e dos profissionais:

(...) eu estava aqui na [outra academia], (...), já estava com um ano e pouco aqui e aí, quando abriu a academia aqui da Chesf, claro que você tinha uma série de razões para querer vir para cá. Você tinha a comodidade de você não precisar sair, se deslocar para lá, pegar carro e aqui você já estava aqui dentro. Você teve a comodidade que você não pagava mais. Você passou a ter um acompanhamento muito superior do que você tinha nas outras academias, de assistência do pessoal e o próprio ambiente. As condições do ambiente aqui são outras em relação às academias aí fora. (E15)

A academia é muito bem organizada, limpa, muito bem estruturada (...). As máquinas, a situação das máquinas, que são muito bem mantidas, novas, (...) E, assim, eu sei que tem muitas empresas aí fora que não têm essa estrutura. Sem ser apenas empresas como a Chesf, mas até academias. Tem algumas que são mais precárias, que não têm essa estrutura. Muitas vezes não têm tantas máquinas como são necessárias para trabalhar diferentes tipos de músculos, diferentes exercícios, nem têm tantas modalidades assim (...). Então, assim, tudo isso influencia muito. (E7)

a conveniência de horários:

(... ) quando a [Academia] Chesf abriu, realmente foi excelente. Foi uma coisa que caiu do céu! Era uma coisa que eu já vinha procurando, mas os horários não encaixavam [na rotina]. (E1)

e a facilidade de, estando na academia, poder retornar rapidamente ao local de trabalho: Para mim é até bom, porque, se der uma bronca, eu estou aqui dentro da empresa. Eu visto a roupa e vou... Eu trabalho com [tipo de atividade]. Então às vezes dá bronca. Mas aqui, eu já estou aqui e resolvo a bronca. Coloco uma roupa e resolvo a bronca. Então para mim é até conveniente, porque eu já estou aqui na empresa. Então qualquer coisa que acontecer comigo aqui na empresa é melhor do que se eu estou em casa e tiver que me deslocar para aqui (...) (E14)

Tal como foi pontuado na fase anterior, também na adesão todo esse processo de patrocínio resulta simultaneamente na informação aos empregados sobre oportunidade para praticar exercício. Outro fator que contribui para a adesão aos programas de exercício da academia são as normas de frequência que o usuário precisa seguir para manter-se usufruindo desses serviços. Trata-se uma forma de evitar desistências:

No começo é sempre muito difícil a gente manter aquela frequência, mas como há uma pressão – se a gente não atender essa frequência a gente pode ser mandado embora [da academia], (...) então a gente tem aquela obrigação de ir para não perder a vaga. Eu acho isso importante. É sempre um incentivo a mais. Até entrar no hábito mesmo... (E6)

Por fim, é citada a influência que a empresa exerce quando estimula os empregados reconhecendo publicamente seu desempenho na academia. O elogio é representado pelo oferecimento do Prêmio Chesf de Qualidade de Vida:

Tem o incentivo também da empresa que ela dá. (...) Assim, tipo medalha ao pessoal que melhorou fisicamente dentro da empresa. (...). Começou no ano passado. (...) É um incentivo, é uma medalha simbólica, mas foi uma coisa que incentiva não só quem ganha, mas quem não ganhou, porque tenta atingir aquele objetivo. Eu digo: “Mas, rapaz, fulano melhorou muito de saúde...” (E2)

(...) eu acho que eu fui digno de aplausos aqui dentro da Chesf. Com o pouco tempo que eu tenho de academia eu já fui medalha de [tipo da medalha que indica a classificação]. (E8)

(...) e eu ganhei uma medalha da academia. Eu acho que foi um estímulo. (E3)

A empresa, portanto, contribui com as seguintes formas de suporte: alerta e orientação em saúde, oferecimento de estrutura e serviços, informação sobre oportunidade para fazer exercício, prevenção de lapso ou recaída e encorajamento por elogio ao desempenho.

Fontes de suporte Colegas Familiares Tipo de suporte Profe ssore s de educaç ão física Médico s Cole ga s de tra balh o Cole ga s de outr os ambi en tes Espo sa Pais Filha P es so as ext ern as à rede de relacionamentos Empresa

Alerta e orientação para mudança X X

Informação sobre oportunidade para fazer

exercício X X

Treinamento: instrução técnica (planejamento, explanação, feedback, proteção física, informação sobre área afim) e exercícios desafiadores

X Prevenção de lapso/recaída X X X X X Oferecimento/pagamento de estrutura/serviços X X Interesse autêntico X X X X Disponibilidade-com-dedicação X X Escuta-e-aconselhamento X

Proteção da imagem pessoal X X

Abertura para o relacionamento X X X

Encorajamento por perspectiva de

benefícios X X

Encorajamento por elogio ao

desempenho X X X X X X

Encorajamento por companhia X X X

Modelo positivo em atividade física X X X X

Modelo positivo pela visão de vida X X

Modelo negativo pelo estado de saúde

indesejável X

Quadro 10: Fontes e tipo de suporte na adesão.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados da pesquisa.

Foram ainda apontados pelos entrevistados suportes (como fatores de influência sobre a adesão à atividade física) que não se originavam de pessoas, mas de processos, eventos e ambientes. A entrevistada 7 apontou um evento crítico: um acidente em que sofreu uma séria lesão física. Para o entrevistado 3, o processo terapêutico por que passou foi uma influência significativa (não o terapeuta). Para o entrevistado 12, a primeira influência que recebeu para a atividade física foi o ambiente físico propício e atrativo, em sua infância e juventude. Alguns entrevistados, como o 14, também se referiram ao poder da mídia (em geral, sem especificar pessoas) como fator de influência sobre seu comportamento.

Com a exposição até aqui elaborada foram apresentadas as fontes pessoais de suporte social que influenciaram os indivíduos a aderir à atividade física e os tipos de suporte providos por essas fontes. Configurou-se, desse modo, a resposta à questão norteadora 1. A seguir são discutidos os achados desta seção.