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Relação entre tipos de suporte social e funções de mentoria no contexto da

Quando 8: Características da amostra

4.2 Relação entre tipos de suporte social e funções de mentoria no contexto da

A questão norteadora 2 assim foi apresentada:

De que modo os tipos de suporte social providos pelas fontes que influenciaram os indivíduos a aderir à atividade física correspondem à tipologia de funções de mentoria tradicionalmente adotada pela literatura?

A análise dessa questão requereu considerar todos os suportes identificados na resposta à questão norteadora anterior e cotejá-los com o referencial teórico sobre funções de mentoria habitualmente adotado pela literatura: o conjunto de funções levantado por Kram (1988) para o ambiente organizacional (conforme apresentado em 2.2.6.2). A possibilidade de aproximação entre tipos de suporte e funções de mentoria, fundamentada na literatura (conforme 2.2.7.1), abre as portas para esse procedimento. E funções de mentoria, afinal, são tipos de suporte (SCANDURA; PELLEGRINI, 2007).

Foi também preciso levar em conta que a pesquisa se deu em um novo contexto, distinto do organizacional. Tal circunstância exigiu do pesquisador, tendo a tipologia de Kram(1988) como referência desde a coleta de dados, manter-se alerta a diversos tipos de possíveis evidências: no novo contexto, determinados tipos de suporte poderiam operar de modo diferente, alguns tipos de suporte poderiam não estar presentes e suportes não previstos poderiam emergir. Essas possibilidades foram confirmadas, resultando em um conjunto de suportes (que a partir deste ponto serão denominados de funções) diferente do que foi proposto por Kram, tanto em relação às dimensões funcionais encontradas (funções instrumentais, psicossociais e modelares) como no que tange ao número de funções e à sua própria natureza, em cada uma das dimensões. Serão inicialmente apresentadas as funções encontradas e mais adiante, na seção de discussão, as diferenças em relação às funções levantadas por Kram serão comentadas com maior profundidade.

Antes de continuar, porém, é necessário fazer uma observação de natureza formal. Em diversas situações de subseções seguintes, seria necessário retomar os mesmos recortes de texto já exibidos na seção anterior para ilustrar a análise e a discussão. Essas repetições ipsis verbis provavelmente tornariam o texto muito longo e enfadonho. Para evitá-las, os textos correspondentes às unidades de registro foram substituídos quase sempre por breves referências aos conteúdos neles compreendidos, acrescentadas da menção às respectivas fontes. Eventualmente, porém, novas unidades são apresentadas para enriquecer a explanação com aspectos não previamente comentados. Feito o esclarecimento, segue-se a análise.

4.2.1. Funções instrumentais

Para Kram (1988), as funções instrumentais são aquelas que contribuem para o indivíduo dominar o conhecimento que é necessário para desempenhar o trabalho e conseguir crescer na organização. No contexto da adesão à atividade física, as funções instrumentais são aquelas que contribuem mais objetivamente para o indivíduo operacionalizar o seu processo de mudança do comportamento e manter-se regularmente ativo. Para aderir à atividade física habitual (que representa a mudança), o indivíduo poderá necessitar de suportes cognitivos e materiais. Esses suportes possuem correspondência com as funções a seguir apresentadas. 4.2.1.1. Conscientização

Significa alertar o indivíduo sobre suas condições de saúde e direcioná-lo para a prática de atividade física como recurso preventivo e/ou terapêutico. O acompanhamento dos indicadores de seu estado de saúde não só podem alertar o indivíduo para uma premência, mas também para uma necessidade continuada, visto que, uma vez retirada a ação geradora da melhora (no caso, a atividade física), os indicadores poderão piorar, em qualquer etapa da vida. Portanto a conscientização é uma função encontrada antes da adesão e durante esse processo.

Uma abordagem de caráter mais científico é mais propriamente oferecida por médicos, sejam eles pertencentes ou não ao quadro de profissionais da empresa ou, ainda, aqueles expostos pela mídia. A empresa provê essa função quando leva seus empregados a realizar os exames periódicos (anuais), que vão resultar no conhecimento dos indicadores de saúde e nos episódios de orientação para a atividade física. Já os familiares, em grande parte, oferecem essa função embasados em seu conhecimento leigo sobre saúde e sobre os benefícios da atividade física.

4.2.1.2 Coaching

No contexto do presente estudo, a função coaching proporciona ao indivíduo navegar na rota de seu desenvolvimento como praticante de atividade física. Para tanto ele é envolvido em um processo de aprendizagem geral sobre os recursos que lhe permitam alcançar a prática

habitual e adequada de exercícios. Isso pode incluir três facetas. A primeira delas é a disponibilização de informações sobre quais tipos de exercícios estão disponíveis, onde, quando, por que custo.

A segunda faceta, essencial ao coaching, é associada à prática da mudança do comportamento. Trata-se do treinamento, sob responsabilidade dos profissionais de Educação Física. O treinamento envolve aspectos que foram aqui separados em dois grupos. O primeiro é a instrução técnica: planejamento dos exercícios apropriados ao caso de cada aluno (“fazer a ficha”, como eles dizem); explicar como se realiza cada tipo de exercício (“dar uma aula”, como afirmou o entrevistado 14), inclusive demonstrando, quando necessário, como ressaltou a entrevistada 11; fornecer feedback sobre a forma como o aluno está executando a tarefa, conforme percebeu o entrevistado 4; protegê-lo contra lesões que o exercício mal ou excessivamente realizado pode acarretar, o que ocorreu com o entrevistado 5, e, suplementarmente, oferecer ao aluno informações de outra área de conhecimento (nutrição, por exemplo, que foi o caso da entrevistada 7) que podem ajudá-lo em seu desenvolvimento na atividade física. O segundo aspecto é a proposta de exercícios desafiadores: uma gradação de dificuldade nos exercícios. Na medida em que o aluno vai conseguindo superar cada desafio, segue percebendo sua evolução e ganhando confiança no processo de mudança, conforme relatado pelo entrevistado 3.

Por fim, a função coaching também abrange um comportamento com foco preventivo, aqui denominado prevenção de lapso/recaída. A prevenção de lapso/recaída é exclusiva da fase de adesão. Significa tentar evitar que o ritmo dos exercícios decaia e o aluno chegue até a desistir da atividade. Esse comportamento se apresentou sob formas diversas. Relatos do entrevistado 13 mostraram o oferecimento de variações nos exercícios para que o aluno não perceba o processo como enfadonho, adaptação a estados momentâneos de desânimo do aluno mediante a redução da carga de exercícios e, ainda, proposta de exercícios alternativos para os feriados, dias em que a academia não está disponível. Também foi verificada, através do entrevistado 2, a preocupação do professor pelo fato de o aluno ter faltado à aula da academia. Igualmente considerada como prevenção de lapso/recaída é a imposição de normas de frequência à academia, comentada pela entrevistada 6.

4.2.1.3 Patrocínio

O patrocínio, no contexto do caso estudado, é representado por recursos para o desenvolvimento do patrocinado no seu processo de adesão à atividade física. Esses recursos

se apresentam principalmente sob a forma do oferecimento de estrutura e serviços pela Chesf. Isso envolve os exames médicos periódicos e a Academia Chesf, destacada por sua qualidade, comodidade e gratuidade. A gratuidade foi apontada como fator de influência:

Bem, quando eu entrei na academia aqui na Chesf eu estava aqui na [outra academia], aqui na [endereço da outra academia]. Já estava com um ano e pouco e aí, quando abriu a academia aqui da Chesf, claro você tinha uma série de razões para querer vir para cá. (...) Você teve a comodidade de que você não pagava mais... (E15)

O patrocínio, contudo, também pode ser representado por auxílio financeiro diretamente prestado ao indivíduo, como foi o caso do suporte financeiro que os pais da entrevistada 7 lhe ofereceram para que ela iniciasse as aulas em uma academia e lá permanecesse até possuir recursos próprios.

Sumarizando, dentro da dimensão instrumental foram três as funções encontradas nos relacionamentos de suporte que influenciam os indivíduos a aderir à atividade física: conscientização, coaching e patrocínio. Cotejando-se com a tipologia de Kram (1988), verifica-se que tarefas desafiadoras, proteção e exposição-e-visibilidade não foram consideradas como funções independentes. Esse aspecto será comentado adiante, na discussão sobre os achados desta seção sobre as funções.

4.2.2 Funções psicossociais

A dimensão psicossocial das funções de mentoria, segundo Kram (1980, 1988) se prende aos aspectos relacionais que aumentam no indivíduo o seu senso de competência, identidade e eficiência no cumprimento de um papel profissional. No contexto dos relacionamentos que estimulam a mudança positiva de comportamento em atividade física, pode-se, analogamente, observar que as funções psicossociais contribuem para que o indivíduo alcance níveis crescentes de percepção da sua própria competência para realizar exercícios. A análise dos relacionamentos nesse processo de evolução levou à identificação de suportes representados pelas funções a seguir.

4.2.2.1 Aceitação-e-confirmação

Essa função mantém a denominação proposta por Kram (1988), porém aqui é considerada com uma abrangência maior. Significa acolher o outro, respeitá-lo como ele é,

desenvolver com ele confiança e intimidade, ao passo em que se contribui para potencializá-lo intrinsecamente, ajudando-o a superar obstáculos que os desafios da mudança de comportamento lhe impõem. A aceitação-e-confirmação compreende as seguintes facetas: interesse autêntico, disponibilidade-com-dedicação, proteção da imagem pessoal, escuta-e- aconselhamento e abertura para o relacionamento. A primeira foi verificada durante a adesão e antes dela. As demais, apenas na adesão.

O interesse autêntico – provavelmente a faceta-mãe desta função – revela-se por várias formas. Na fase anterior à adesão, foi identificado implicitamente no comportamento relatado sobre os pais: a maneira como estes atentavam às necessidades dos filhos em relação à preservação da saúde, o modo como insistiam para que os filhos se dedicassem à prática de atividade física, enfim, a representação do cuidado afetuoso comumente associado ao papel dos pais que cuidam e protegem (sem que seja um comportamento possessivo). Contribuiu para essa observação do pesquisador o fato de que tais relatos foram construídos pelos entrevistados com matizes de sentimento e entusiasmo marcantes, com uma intensidade emocional que pontuou essa legítima preocupação das citadas fontes de suporte. Já na fase de adesão, esse comportamento foi observado nos relatos sobre profissionais de educação física, uma médica, uma colega de trabalho e uma esposa. No caso da esposa, a inferência do pesquisador sobre esse tópico originou-se de forma semelhante à ocorrida com os pais na pré- adesão. Em relação às três outras fontes, os entrevistados foram mais explícitos em seus relatos e o interesse autêntico permeou referências variadas. De um modo ou de outro, verificou-se um nível de atenção que vai além do que comumente se espera do desempenho funcional da pessoa, como ocorreu em relação a um professor de educação física:

(...) durante o contato que tá na academia, assim, você percebe que é um interesse que vai além do profissional. (E13)

Ele se interessa mesmo, (...) então ele tem essa preocupação, além de fazer o lado profissional dele como professor (...) (E10)

ou em relação a uma médica do entrevistado 4, que, segundo ele, o coloca “debaixo da asa”, ou, ainda, no tocante à colega de trabalho do entrevistado 3, a qual ultrapassa a função organizacional para assumir outra condição: “ser pessoa, ser gente”. O interesse autêntico pode chegar a um nível muito especial de atenção pessoal, percebido em gestos de ajuda fora do ambiente em que o relacionamento habitualmente ocorre – como foi o caso do professor de educação física da entrevistada 7, que chegou a acompanhá-la e orientá-la na compra de um

par de tênis – ou em comportamentos que revelam a conexão pessoal e o cuidado com o outro, como foi revelado enfaticamente pela entrevistada 11:

Ele realmente está preocupado com o resultado das pessoas. Acho que se preocupa até demais. (...) Eu passo uma semana sem ir, eu chego na outra semana, ele chega e diz: "Olhe, por que você não veio na semana passada? (...) Por que você não passou um e-mail, dizendo o que é que aconteceu, se você estava doente?". (...) Eu acho isso incrível! Essa atenção não existe em lugar nenhum!

Disponibilidade-com-aceitação significa estar presente junto ao outro, não por dever de ofício, mas por decisão autônoma de prestar ajuda, de ser solidário, de querer doar tempo e atenção para que o outro conquiste graus de desenvolvimento cada vez maiores na sua evolução nos exercícios. Da parte de quem recebe o suporte, a sensação é de que ele é um alvo especial da atenção. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o entrevistado 14, que considerou o comportamento de um professor de educação física como o de “um cara que estivesse preocupado só comigo”.

A escuta-e-aconselhamento foi entendida, no estudo dos relacionamentos de suporte à adesão à atividade física, como uma manifestação da aceitação-e-confirmação. Em um contexto de confiança básica e respeito que os membros da relação desenvolvem entre si, o provedor do suporte oferece ao outro uma guarida onde podem ser discutidas abertamente ansiedades, receios e dúvidas pessoais. Ele escuta ativamente o outro, compartilha com ele experiências de vida, contribui para gerar uma clareza que pode conduzir às respostas que o outro precisa obter. Algumas vezes os dilemas que são foco de atenção desse processo relacionam-se diretamente com a prática dos exercícios, como ocorreu com o entrevistado 4, que recebeu apoio de seu professor de educação física:

Ele me mostrou que eu deveria fazer [exercícios] não por ele, mas porque eu precisava. Ele tirou a incerteza e a ansiedade, entendeu?

Porém, outras vezes, questões da vida pessoal interferem no estado emocional e podem afetar o indivíduo como um todo, inclusive na sua atenção e adesão ao exercício. A entrevistada 10 reportou uma questão dessa natureza (ser jovem e ter-se separado) e o papel que a sua professora de educação física desempenhou, como caixa de ressonância. Esse suporte, conforme relata a entrevistada, até mesmo chegou a lhe conferir mais maturidade.

Proteção da imagem pessoal é um comportamento que também revela preocupação com o outro. Fracassos na realização dos exercícios poderão ser prejudiciais à autoestima e à autoeficácia do indivíduo. E o efeito pode afigurar-se ainda pior quando as falhas são testemunhadas por terceiros, como os colegas de aula na academia. O provedor do suporte,

então, cuida de construir um disfarce para a situação, buscando evitar a exposição das falhas ao grupo. Foi o que ocorreu com a entrevistada 7: diante de um mau desempenho, o professor fingiu que era necessário explicar-lhe novamente como fazer determinado exercício. Protegeu-a, portanto, evitando que sua fragilidade fosse percebida.

Finalmente, a aceitação-e-confirmação pode abranger uma abertura no relacionamento. Em algum ponto no tempo, as interações já terão proporcionado experiências positivas de consideração, acolhimento e confiança, fazendo surgir uma sensação de bem- estar pela conexão com o outro e a percepção de algum nível de amizade. Os entrevistados reportam percepções diversas do estado para o qual a relação evolui. O entrevistado 8 referiu- se à relação com o seu professor de educação física como uma “amizade profissional”, ainda com certo grau de formalidade. Outros já começam a dissociar os papéis de professor e amigo, como faz a entrevistada 6, para quem depois de algum tempo os professores já atuam além do lado profissional, comportando-se mais como verdadeiros amigos. E há quem revele o estabelecimento de laços fortes, como o entrevistado 12, cuja amizade com seu professor de educação física do colégio perdura até hoje, décadas após se terem conhecido.

4.2.2.2 Encorajamento

Esta função abrange diversos comportamentos que são percebidos como “injeções de ânimo”, que estimulam os indivíduos a aderir aos exercícios. O encorajamento se realiza de formas diversas: por perspectiva de benefícios, por elogio ao desempenho, por impulsão ou por companhia. Encorajar por perspectiva de benefícios significa oferecer estímulos para o outro exercitar-se, utilizando-se argumentos baseados nos resultados positivos que ele pode usufruir dos exercícios. Não ocorre simplesmente uma transmissão de informação sobre os benefícios da atividade física: o estímulo implica uma intenção de ajudar o outro a adotar o exercício como um recurso que lhe trará resultados positivos. Esse suporte fica evidente, antes da adesão, quando o colega de trabalho do entrevistado 2 insiste para que ele comece a fazer exercícios porque os resultados que ele precisa vão aparecer. Também está presente na fase de adesão, quando a professora de educação física da entrevistada 10 afirma que a perna e a coluna vertebral da aluna vão beneficiar-se com a prática de determinado exercício.

Encorajamento por elogio ao desempenho é uma iniciativa de aplauso ao esforço e/ou aos resultados alcançados pelo indivíduo através dos exercícios. Ocorre, portanto, apenas na adesão. É um suporte provido por várias fontes (professores de educação física, médicos, colegas, familiares e empresa) e o tipo mais comum de encorajamento. Evidencia-se

principalmente por um elogio diretamente dirigido à pessoa. Isso ocorreu quando colegas da entrevistada 7 enalteceram sua dedicação aos exercícios, declarando querer ser como ela; quando a esposa do entrevistado 13 observou o progresso deste e lhe comentou que ele estava ficando “mais fortinho”, estava melhorando” ou no evento em que o médico do entrevistado 8 lhe deu um abraço e parabéns pelos bons resultados dos exames periódicos, que foram associados à dedicação do entrevistado aos exercícios. Mas o elogio também pode ser aberto, dirigido indiretamente, perante de terceiros, como ocorreu com o entrevistado 3, que foi apontado como exemplo a uma platéia por sua colega de trabalho. Insere-se nesse contexto da homenagem que a Chesf realiza anualmente (Prêmio Chesf de Qualidade de Vida), oferecendo, em sessão solene aberta aos empregados, medalhas àqueles que alcançam progresso em seus cuidados com a saúde, como, por exemplo, maior frequência na academia ou evolução positiva em seus indicadores de saúde (vários deles associados à prática de exercícios).

Encorajar por impulsão significa incentivar o indivíduo a tomar iniciativa, atraindo-o ou conduzindo-o a uma situação concreta em que ele é colocado em uma situação de aceitar o ingresso em um programa de exercícios. Esse suporte acontece, portanto, antes da adesão. A impulsão ocorreu de modo brando, quando o colega de trabalho do entrevistado 13 o atraiu para a academia, onde o apresentou aos responsáveis pelo trabalho lá desenvolvido. Mas também se realizou como uma intervenção mais firme, enérgica, como no caso do entrevistado 3, que há tempos adiando sua tomada de decisão, acabou por ser “carregado pelos braços” até a academia por duas colegas de trabalho, para que lá fizesse sua inscrição.

O encorajamento por companhia pode ser entendido por dois ângulos. O primeiro, pelo fato de alguém estar intencionalmente disponível para ir ao local das atividades e lá praticar exercícios conjuntamente (companhia voluntária). O segundo, pela existência de companheiros para a prática de exercícios em determinado local, mesmo que essas pessoas não estejam ali com intenção direta de ajudar o indivíduo: o simples fato de estarem ali e com ele interagirem proporciona-lhe algum tipo de bem-estar e o estimula a manter-se na atividade (companhia involuntária). Antes da adesão, a perspectiva de ter a companhia oferecida por uma colega de trabalho para frequentar a academia foi um fator importante para a entrevistada 6 tomar sua decisão favorável à atividade física. O mesmo estímulo ocorreu com o entrevistado 2, que garantiu que não teria ido a uma academia se o colega de trabalho não estivesse disponível para acompanhá-lo, inclusive no trajeto entre sua casa e a academia. A importância dessa companhia voluntária também ocorre na fase de adesão. Foi afirmada, por exemplo, pela entrevistada 6, que se referiu à companhia de uma colega de trabalho. A esposa

do entrevistado 3 compartilhou com ele até mesmo o processo de mudança de hábitos. Por sua vez, a companhia involuntária de colegas ocorre na adesão. Foi alegada como fator de estímulo pelo entrevistado 14, que encontrou no grupo de colegas uma identificação com seus valores. Ao mesmo tempo, os entrevistados 1 e 4 alegam que a presença de colegas nas aulas da academia lhes proporciona bem-estar, porque se cria um clima amistoso, divertido, e isso os estimula a participar das aulas.

4.2.3. Funções modelares

A dimensão modelar das funções levantadas pela pesquisa é representada por diferentes manifestações da modelagem de papel. Diferentemente da proposta de Kram (1988), a modelagem de papel foi percebida aqui como uma dimensão independente. Considerações sobre esse aspecto serão oferecidas mais adiante, na seção que discutirá os achados sobre as funções.

Em sua forma tradicional, a modelagem de papel ocorre quando um indivíduo encontra, no outro, valores, atitudes e comportamentos que se tornam objeto de admiração e respeito e que podem, assim, passar a servir de exemplo e ser imitados (KRAM, 1988). Assim