• Nenhum resultado encontrado

3.1 PRINCÍPIOS JURÍDICOS

3.1.2 Colisão entre normas

Para Alexy (2011, p.92-93) o conflito entre regras é resolvido através da declaração de invalidade39, sendo extirpada a regra inválida do ordenamento jurídico, ou ainda através da cláusula de exceção. Por outro lado, a colisão entre princípios é resolvida através da precedência de um princípio em face do outro através da dimensão de peso, por isso, afirma que “os princípios possuem pesos diferentes, e que os princípios com o maior peso têm precedência”40. Como os princípios possuem a natureza de “mandamentos de

otimização” diante das possibilidades fáticas e jurídicas, isso implica a “máxima da proporcionalidade” que se traduz nos três pontos: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito, aplicados no sopesamento decorrente da relativização das possibilidades fáticas e jurídicas41 do plano em concreto (ALEXY, 2011, p.117).

Humberto Ávila (2012, p.57) critica o “critério do conflito normativo” que distingue a colisão entre normas, afirmando que a ponderação ou balanceamento não é método privativo de aplicação dos princípios, nem que somente os princípios possuem uma dimensão de peso42. Pois, a ponderação das razões e contrarrazões culminam com a decisão

39 Para Alexy (2011, p.94) o conflito entre regras se verificam na dimensão de validade, enquanto as colisões

entre princípios ocorrem na dimensão de peso.

40 “A questão decisiva é, portanto, sob quais condições qual princípio deve prevalecer e qual deve ceder. Nesse

contexto, o Tribunal Constitucional Federal utiliza-se da muito difundida metáfora do peso. Em suas palavras, o que importa é se os interesses do acusado no caso concreto têm manifestamente um peso significativamente maior que os interesses a cuja preservação a atividade estatal deve servir. [...] Em um caso concreto, o princípio P1 tem um peso maior que o princípio colidente P2 se houver razões suficientes para que P1 prevaleça sobre P2

sob as condições C, presentes nesse caso concreto” (ALEXY, 2011, p.97). “(K) Se o princípio P1 tem precedência em face do princípio P2 sob as condições C: (P1 P P2) C, e se do princípio P1, sob as condições C,

decorre a consequência jurídica R, então, vale uma regra que tem C como suporte fático e R como consequência jurídica: C→R. [...] Essa lei, que será chamada de “lei de colisão”, é um dos fundamentos da teoria dos princípios aqui defendida” (ALEXY, 2011, p.99).

41“A máxima da proporcionalidade em sentido estrito decorre do fato de princípios serem mandamentos de

otimização em face das possibilidades jurídicas. Já as máximas da necessidade e da adequação decorrem da natureza dos princípios como mandamentos de otimização em face das possibilidades fáticas” (ALEXY, 2011, p.118).

42 Tratando sobre o assunto Ávila (2012, p.65) assevera que a “dimensão axiológica não é privativa dos

princípios, mas elemento integrante de qualquer norma jurídica, como comprovam os métodos de aplicação que relacionam, ampliam ou restringem o sentido das regras em função dos valores e fins que elas visam a

de interpretação, que também pode estar presente quando da interpretação da regra. A distinção é que as regras entram em conflito no plano abstrato, solucionado através da “problemática da validade das normas”, enquanto os princípios entram em conflito no plano em concreto, e a solução do conflito é resolvida através da “problemática de aplicação”.

Noutro ponto, Ávila (2012, p.57-58) assevera que há casos em que “as regras entram em conflito sem que percam sua validade, e a solução para o conflito depende da atribuição de peso maior a uma delas”, por isso “não é absolutamente necessário declarar a nulidade de uma das regras, nem abrir uma exceção a uma delas”, ou ainda retirar do ordenamento jurídico. Na realidade ocorre é um conflito concreto entre as regras, e nesta situação, o “julgador deverá atribuir um peso maior a uma das duas, em razão da finalidade que cada uma delas visa a preservar” (ÁVILA, 2012, p.58), logo, a solução também está no plano de aplicação e não no nível de validade.

Por essas razões que intensifica cada vez mais a importância do papel do intérprete no momento de aplicação das normas, pois, sejam regras ou princípios ambos passam pela interpretação e a ponderação dos argumentos.

Neste trabalho será abordada a discussão sobre a colisão entre o princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa e a regra que dispõe sobre o direito de defesa do acusado no Estatuto dos Servidores Públicos Federais (art. da Lei 8.112/90), que diante das condições do caso específico objeto de investigação, enfrentará as razões que levaram a edição da Súmula Vinculante n. 05, que manteve a facultatividade da defesa técnica nos processos administrativos disciplinares.

Apesar de o princípio do contraditório e da ampla defesa (P1) ser um direito

fundamental constitucionalmente garantido, logo, deveria ser exercido na sua maior medida possível43 dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Assim, no momento da interpretação e aplicação no caso concreto deve ser dada a máxima efetividade ao princípio constitucional, por essa razão pretende-se analisar a referenciada decisão da Corte Suprema. Pois, ainda que houvesse a colisão com outro princípio constitucional da liberdade e

resguardar. As interpretações, extensivas e restritivas, são exemplos disso” [...] “Vale dizer, a dimensão de peso não é um atributo empírico dos princípios, justificador de uma diferença lógica relativamente às regras, mas resultado de juízo valorativo do aplicador. Dessa forma, a dimensão de peso não é atributo abstrato dos princípios, “mas qualidade das razões e dos fins a que eles fazem referência, cuja importância concreta é atribuída pelo aplicador”.

43“Princípios exigem que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e

fáticas existentes. Nesse sentido, eles não contêm um mandamento definitivo, mas apenas prima facie. [...] Princípios representam razões que podem ser afastadas por razões antagônicas” (ALEXY, 2011, p. 104).

autonomia de elaborar sua própria defesa (P2), a problemática deve ser resolvida utilizando a

teoria defendida por Alexy da ponderação e sopesamento entre os princípios constitucionais, em que deve ser utilizada a máxima da proporcionalidade.

Este debate será posteriormente aprofundado no transcorrer desta dissertação, seguindo a sequência lógica da pesquisa, que primeiramente será estudado sobre a determinação do sentido e alcance deste princípio para que o mesmo seja aplicado ao caso em concreto.