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DA ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA E A IGUALDADE

5 EFETIVIDADE DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA NO PROCESSO

5.6 DA ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA E A IGUALDADE

A assistência judiciária gratuita consiste na isenção de todas as despesas com o processo em favor da pessoa necessitada, que não tem como provê-las sem prejuízo do próprio sustento ou da família. O benefício da assistência judiciária gratuita aos menos favorecidos economicamente, tem como fundamento à garantia do acesso à Justiça e o direito à igualdade (TUCCI; TUCCI E CRUZ, 1989, p.19-21). Apesar disso, essa assistência gratuita

acontece no processo judicial, caberia à autoridade administrativa superior, incumbida da apuração. E não cremos que daí pudesse resultar dificuldade insuperável para a Administração (Civil ou Militar), eis que para tanto se pode contar com o auxílio das Defensorias Públicas, da OAB e de várias organizações não governamentais dedicadas à Advocacia pro bono”.

190 Vale destacar que o amadorismo e o improviso das comissões disciplinares tem como resultado a anulação de

processos administrativos perante o Poder Judiciário, segundo levantamento realizado pelo Centro Ibero- Americano de Administração e Direito – Cebrad apontou que 86% dos processos submetidos à apreciação judicial restavam anulados ou comprometidos por decisão judicial em desfavor da autoridade administrativa (ALVES, 2004, p. 9).

191 Neste ponto, pode ser destacada a experiência da escritora como presidente da Comissão de Processo

Disciplinar da Prefeitura de Nossa Senhora do Socorro, quando as partes indiciadas são da categoria dos professores, o SINTESE – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe disponibiliza advogados para acompanhar os servidores nos processos, de modo que os professores não ficam descobertos pela ausência da defesa técnica.

não se resume ao ajuizamento de demandas judiciais, mas também a defesa do cidadão perante a atividade jurisdicional e a extrajudicial.

Cumpre trazer a distinção entre a justiça gratuita, a assistência judiciária e assistência jurídica. Para Didier Jr. e Rafael Oliveira (2012, p. 11), a justiça gratuita “consiste na dispensa da parte do adiantamento de todas as despesas judiciais ou não, diretamente vinculadas ao processo”; a assistência judiciária é o “patrocínio gratuito da causa por advogado público (ex. defensor público) ou particular (entidades conveniadas ou não com o poder público, como, por exemplo, os núcleos de prática jurídica das faculdades de direito)”. Por fim, a assistência jurídica é mais abrangente, porque “compreende, além do que já foi dito, a prestação de serviços jurídicos extrajudiciais192”.

Com efeito, o Estado193 tem o dever de prestar a assistência jurídica gratuita, através da acessibilidade econômica194 com a isenção de custas dos processos judiciais, bem como da acessibilidade técnica prestada através da Defensoria Pública da União, do Estado e do Distrito Federal, instituição permanente com competência para realizar fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal195.

Isso significa que a assistência judiciária gratuita não pode se restringir à atuação judicial, mas deve abranger toda atividade de consultoria, orientação, informação e defesa dos direitos individuais e coletivos, seja perante o processo judicial ou administrativo. Dentro deste parâmetro, o Estado não pode se esquivar de garantir o direito fundamental da assistência judiciária a quem dela necessitar, ainda que em processo administrativo, pelo simples fato de não ter defensores disponíveis para acompanhar os processos disciplinares ou ainda sob o argumento de que a defensoria não teria competência para tal finalidade.

192 “No nível infraconstitucional, a matéria é regulada pela Lei Federal n. 1.060/1950, a chamada Lei de

Assistência Judiciária (LAJ), que se aplica não só ao processo civil, mas também ao trabalhista, ao penal e ao administrativo” (DIDIER JR.; OLIVEIRA, 2012, p.11).

193 Constituição Federal de 1988 - Art. 5º, inciso LXXIV – “o Estado prestará assistência jurídica integral e

gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

194 Tucci e Tucci e Cruz (1989, p.19) apresentam dois enfoques da garantia de acesso à justiça: a acessibilidade

econômica e a acessibilidade técnica.

195 Lei Complementar n. 80/94 – “Art. 1º. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função

jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal”.

Ressalte-se que a Lei Complementar nº 80/94196, que dispõe sobre as normas gerais da defensoria pública, prevê a atuação da Defensoria Pública da União em processos administrativos disciplinares na defesa de acusados, portanto, mais um fator que contribui para a garantia da ampla defesa aos servidores que não tem condições de custear um advogado.

A razão da essencialidade do advogado perante os processos administrativos disciplinares reside justamente na necessidade de manter essa igualdade processual entre a administração-acusação e o servidor-acusado, e daí a importância do papel do defensor dotado de conhecimentos técnicos, com o domínio dos mecanismos procedimentais, como o instituto da prescrição dentre outros, que requer especificidades do direito para que propicie a tutela dos interesses de direitos individuais e restabeleça o equilíbrio do contraditório (TUCCI; TUCCI E CRUZ, 1989, p. 23).

Certamente, os servidores-acusados que possuem condições econômicas para contratar patrono terá a sua igualdade processual garantida, entretanto, o servidor-acusado menos favorecido economicamente terá a faculdade de apresentar a sua defesa sem a tecnicidade necessária para a concretização da igualdade.

No primeiro momento, o Supremo Tribunal Federal apresentou evolução no sentido de aplicar a garantia processual constitucional do contraditório e da ampla defesa também nos processos administrativos disciplinar antes mesmo da Constituição Federal de 1988, entronizado através da Súmula 20 e 21197 (ROCHA, 1999, p. 482), mas quando da apreciação da defesa técnica nestes processos, admitiu não ofender a garantia processual da ampla defesa.

Apesar dos fundamentos teóricos e argumentos até então apresentados, a Suprema Corte adotou o entendimento contrário, o da facultatividade da presença do advogado no processo administrativo disciplinar, materializado através da Súmula Vinculante n. 05. Tal decisão normativa encontra-se sustentada em diversas razões que merecem ser enfrentadas no próximo tópico.

196 Lei Complementar n. 80/94 – “Art. 18. Aos Defensores Públicos Federais incumbe o desempenho das

funções de orientação, postulação e defesa dos direitos e interesses dos necessitados, cabendo-lhes, especialmente: [...] VII - defender os acusados em processo disciplinar”.

197 Súmula n. 20 do STF - 13/12/1963 – “é necessário processo administrativo com ampla defesa, para demissão

de funcionário admitido por concurso”. Súmula n. 21 do STF – 13/12/1963 – “funcionário em estágio probatório não pode ser exonerado nem demitido sem inquérito ou sem as formalidades legais de apuração de sua