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COMPARTILHAMENTO SOBRE RODAS

No documento Urbanismo entre pares: cidade e tecnopolítica (páginas 145-148)

URBANISMO ENTRE PARES

3.2 CATEGORIAS E EXEMPLOS

3.2.2 COMPARTILHAMENTO DE BENS E RECURSOS URBANOS

3.2.2.1 COMPARTILHAMENTO SOBRE RODAS

Um dos traços mais fortemente criticados do planejamento urbano moderno é justamente seu caráter rodoviarista, que transmitiu à maior parte das grandes cidades contemporâneas uma herança de graves problemas de trânsito, causados pelo excesso de veículos particulares em circulação e pela baixa priorização dada ao transporte coletivo. Sendo assim, uma prática colaborativa em crescimento que sinaliza perspectivas promissoras é o compartilhamento de carros (usualmente identificado pelo termo em inglês car sharing) e de bicicletas.

Projetos-piloto de veículos compartilhados remontam às décadas de 1960 e 1970, mas a ampliação da comunicação em rede permitiu sua expansão sem precedentes por meio da web e de aplicativos para smartphones. Só na Alemanha, por exemplo, programas de car sharing já contabilizam cerca de quatrocentos mil adeptos.453 Dentre empresas que oferecem o serviço, a maior delas é a multinacional Zipcar, com aproximadamente setecentos e sessenta mil membros em todo o mundo.454 No Brasil, por enquanto, apenas a Zazcar atua no setor, na cidade de São Paulo, com uma rede de cerca de sessenta carros e três mil e quinhentas pessoas cadastradas.455

Em geral, o usuário se inscreve em uma (ou várias) plataforma(s) e recebe um chip que destrava os veículos estacionados em vagas espalhadas pela cidade, designadas exclusivamente para carros desse tipo. Paga-se apenas pela quilometragem ou pelo tempo utilizado, devolvendo-se o carro, após o uso, em outra vaga indicada, onde ele fica disponível para futuros interessados. As plataformas existentes variam amplamente quanto à natureza e à escala, abrangendo desde pequenas organizações autogestionadas até grandes empresas automobilísticas (como Mercedes Benz ou Citroën) e operadoras de transporte                                                                                                                

453 HÜETLIN, 2013.

454Fonte: <http://thecityfixbrasil.com/2013/01/10/a-compra-da-zipcar-pela-avis-sucesso-ou-fracasso-do-car-sharing/>. Acesso em: 10 ago. 2015. 455 Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Carsharing>. Acesso em: 10 ago. 2015.

coletivo, como a alemã Deutsche Bahn. É possível se inscrever em vários programas simultaneamente, e há aplicativos que combinam dados de muitos deles para localizar o veículo disponível mais próximo ou com características específicas desejadas.

A adesão a iniciativas desse tipo não indica apenas que haja pessoas interessadas em se livrar das despesas e dos aborrecimentos da manutenção de um carro, mas também que, para muitos, aquele que era um dos bens de consumo mais desejados deixa de ter o mesmo valor. Por outro lado, o custo mais baixo oferece, a quem não teria condições de possuir e manter um carro, a oportunidade de usufruir eventualmente de suas facilidades. Os adeptos do sistema, em geral, não fazem uso cotidiano dos veículos – reservando-os para viagens ou para situações esporádicas – e dão prioridade ao transporte coletivo, contribuindo para a redução do volume final de carros em circulação. Sendo assim, a abrangência e a qualidade do transporte público local se tornam fundamentais para o sucesso da proposta, que perde o sentido caso não existam tais condições.

Ainda dentre as soluções voltadas à melhoria da mobilidade urbana, o compartilhamento de bicicletas é outra prática que tem se expandido significativamente nos últimos anos, tendo sido facilitada pelas tecnologias de comunicação em rede. Estima-se que, em meados de 2014, sistemas do tipo estivessem disponíveis nos cinco continentes do globo, distribuídos por mais de setecentas cidades, reunindo aproximadamente oitocentas mil bicicletas. Os serviços com o maior número de bicicletas identificados ficam na China, em Wuhan e Hangzhou, oferecendo, respectivamente, noventa mil e sessenta mil veículos. A parisiense Vélib é a rede com maior penetração, contando com uma bicicleta para cada noventa e sete habitantes, e o país com o maior número de sistemas é a Espanha, onde cento e trinta e duas cidades oferecem o serviço.456

Assim como no caso do car sharing, o compartilhamento de bicicletas pode ser organizado tanto por organizações autônomas sem fins lucrativos quanto pelo poder público ou por parcerias público-privadas (como é o caso dos sistemas mantidos pelo banco Itaú, encontrados em várias cidades do Brasil). O mais frequente é que os usuários se cadastrem em algum programa e paguem uma taxa periódica (mensal, semestral ou anual) para terem acesso ao serviço. Usualmente, as bicicletas ficam em terminais distribuídos pela cidade e são destravadas a partir de um cartão ou do telefone celular. Após a viagem, o usuário deve encontrar outro terminal para depositar o veículo. Há sistemas, contudo, que estão descartando o uso de terminais, fazendo com que as bicicletas, rastreáveis por GPS, possam ser

                                                                                                               

deixadas em qualquer ponto da cidade. Vários aplicativos de smartphones mapeiam os pontos onde bicicletas estão disponíveis ou onde possam ser devolvidas.

Mais uma prática que vem conquistando adeptos com a proposta de lidar com os problemas de trânsito e transporte é a carona compartilhada ou solidária. Nesse caso, internautas se registram em uma plataforma online e anunciam viagens que vão fazer de carro. Pessoas em busca de carona localizam destinos que os interessam, solicitam a aprovação do motorista e dividem o custo do trajeto. No Brasil, o aplicativo Tripda457 oferece esse tipo de serviço. Tanto condutores quanto passageiros são submetidos a avaliações, para que demais usuários possam conferir sua credibilidade. Além disso, há procedimentos de verificação de documentos, validação de e-mail e números de telefone, ou mesmo a opção de caronas só para mulheres (oferecidas, também, apenas por outras mulheres), recursos voltados a garantir segurança nos percursos. Os termos de uso do aplicativo deixam claro que apenas os custos efetivos da viagem devem ser divididos, de maneira a evitar que caronas sejam oferecidas com fins lucrativos, de modo que não se converta em um serviço de transporte pago.458

                                                                                                               

457Ver:  <https://www.tripda.com.br/>. Acesso em: 10 ago. 2015. 458 Fonte: <https://www.tripda.com.br/>. Acesso em: 10 ago. 2015.

No documento Urbanismo entre pares: cidade e tecnopolítica (páginas 145-148)