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Conclusão

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 150-155)

Parte II – Parte Especial

3. Conclusão

Analisados os pontos atinentes à essência da natureza jurídica da multa do cumprimento de sentença, afigura-se necessário, agora, para tornar o estudo desta faceta do instituto completo, considerar outros elementos que também lhe são inerentes. Restou claro, assim, que a multa no cumprimento de sentença é uma sanção de caráter punitivo e que o seu objetivo é apenar o descumprimento da decisão judicial que condena ao pagamento de quantia certa, e não o inadimplemento desta obrigação em si mesma considerada.252

252 “Como se vê, o legislador espera agora uma postura ativa do devedor, no sentido de que ele

voluntariamente cumpra a obrigação reconhecida no título executivo judicial, sem que seja necessária a instauração da execução. Trata-se de uma inversão de papéis, na medida em que não mais cabe ao credor provocar o devedor para pagamento. Daqui por diante, num primeiro momento, é este quem deve automaticamente cuidar de providenciar a satisfação do direito daquele. Inclusive, isso deixou sem sentido o revogado art, 570, pois a regra daqui por diante já é a de que o devedor tome a iniciativa para satisfazer o credor. E a intenção é clara: agilizar a satisfação dos direitos reconhecidos em juízo.” (LUIS

Não obstante, tal sanção, ao contrário do que se poderia imaginar, é de direito material, e não de direito processual.253 Não é o simples fato de a hipótese nela prevista derivar de uma situação que se verifica no processo capaz de impor à multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa a natureza de instituto processual. O adimplemento, ainda que considerado sob a ótica do necessário cumprimento de um comando judicial, é ato de direito material. Pode se dar em juízo ou fora dele. Não se trata, portanto, de regular o exercício da função jurisdicional do Estado, que é o objeto do Direito Processual Civil, mas sim de regular a conduta dos súditos do Estado, ainda que em relação ao cumprimento de uma decisão judicial. Tal matéria é sabidamente afeita ao direito material, e não ao direito processual.254

253 Neste sentido, SÉRGIO SHIMURA, afirma peremptoriamente que a multa do cumprimento de sentença

para pagamento de quantia certa, “difere da multa diária, prevista nos arts. 461 e 461-A do CPC, seja porque tem percentual fixo (10%), seja porque é de natureza de direito substancial, incidindo somente nos casos supervenientes à lei nova.” (A execução da sentença na reforma de 2005, p. 567). Em sentido

contrário, entretanto, CÁSSIO SCARPINELLA BUENO afirma que “que o pagamento será feito pelo devedor

e não pelo seu advogado é entendimento irrecusável. Ocorre, contudo, que, para o art. 475-J, importam os efeitos processuais do pagamento e não, apenas, sua ocorrência no plano material. Por isto, é irrecusável ver, neste ato, um ato processual e, conseqüentemente, um ato de postulação. O advogado é, nos casos em que representa o seu constituinte em juízo, verdadeiro elo de contato entre o que ocorre no plano material e no plano processual. Trata-se de múnus ínsito à profissão, de inspiração, por isso mesmo, constitucional.” (Novas Variações Sobre a Multa do art. 475-J do CPC, p. 69).

254 Segundo ARRUDA ALVIM, “podemos, assim definir o Direito Processual Civil como sendo o sistema

de princípios e normas que regulam o funcionamento da jurisdição civil, tendo em vista o exercício do direito de ação, que contenha lide civil, e o direito de defesa, bem como a estruturação infraconstitucional dos órgãos do Poder Judiciário e seus auxiliares – exceto o que respeito à organização judiciária – e,ainda, a disciplina de todos os casos de jurisdição voluntária” (Manual de Direito Processual Civil, Vol. 1, p.

23). Assim, HUMBERTO THEODORO JÚNIOR,desenvolvendo um pouco mais o tema, afirma que “o Direito

Processual Civil pode ser definido como o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição civil. ....<omissis>... A autonomia do direito processual civil, frente ao direito substancial, é inegável e se caracteriza por total diversidade de natureza e de objetivos. Enquanto o direito material cuida de estabelecer as normas que regulam as relações jurídicas entre pessoas, o processual visa a regulamentar a função pública estatal. Seus princípios, todos ligados ao direito público a que pertence, são totalmente diferentes, portanto, daqueles outros que inspiram o direito material, quase sempre de ordem privada” (Curso de Direito Processual Civil, p. 6).

Por outro lado, como se disse, a incidência da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa se dá ope legis, antes mesmo do início da fase do cumprimento de sentença.255 É, desta forma, um efeito imediato do descumprimento da decisão judicial na medida em que dispensa qualquer ato judicial que a comine.

Quando se afirma que a multa é um efeito imediato do descumprimento da decisão judicial, é óbvio que não se está a equipará-la àqueles inerentes à própria decisão judicial, como são a eficácia declaratória ou condenatória da decisão judicial, por exemplo.

A inserção da multa do art. 475-J, do CPC, na categoria de efeito do descumprimento da decisão judicial deriva da própria estrutura com a qual este fenômeno foi inserido no ordenamento jurídico. Tendo em vista que, como se disse, o só inadimplemento da decisão judicial que condena ao pagamento de quantia certa é suficiente para ensejar a aplicação da multa, pode-se concluir que esta é um dos efeitos da decisão judicial que condena ao pagamento de quantia certa quando esta decisão não é cumprida. A palavra “efeito” aqui, portanto, tem o significado de conseqüência (jurídica, poder-se-ia complementar), vale dizer, nada tem a ver com a eficácia da decisão judicial propriamente dita.

A natureza jurídica da multa do art. 475-J, do CPC, portanto, é a de efeito material e imediato do descumprimento da decisão judicial que condena ao pagamento de quantia certa como forma de punir o réu pela sua conduta acintosa em relação a tal ato jurisdicional.

IX- Momento de incidência da Multa

Um dos aspectos mais polêmicos da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa diz respeito ao termo inicial do prazo de 15 dias após o qual tem lugar a sua aplicação, caso não se verifique o adimplemento espontâneo da obrigação por parte do devedor. A lei é absolutamente lacônica sobre o assunto, dando azo, assim, às mais variadas interpretações.

A discussão tem íntima ligação com a natureza jurídica do próprio cumprimento de sentença, cuja definição influi diretamente no entendimento a respeito do termo inicial do prazo ora referido. Realmente, é possível notar que as opiniões a respeito da matéria variam de acordo com a tese à qual se filia no que diz respeito à natureza jurídica do cumprimento de sentença.

Assim, via de regra, aqueles que entendem que a alteração no regime da execução dos títulos judiciais não representou a ruptura de princípios basilares da execução como, por exemplo, o princípio dispositivo, tendem a ter uma visão mais conservadora, por assim dizer, em relação ao termo inicial do tempus iudicati, entendendo ser necessária intimação específica, pessoal ou através do advogado, para cumprimento da decisão.

Já aqueles que entendem que o no novo regime do cumprimento de sentença passou a ser uma mera fase do processo de conhecimento, não raras vezes, têm se posicionado pela desnecessidade de intimação, seja da parte, seja de seu advogado, para o início do prazo para cumprimento espontâneo da decisão judicial que condena ao pagamento de quantia certa.

A análise destas orientações doutrinárias e jurisprudenciais permitiu a identificação de 5 teorias básicas a respeito do tema que, para sua melhor análise, serão expostas individualmente a seguir. Todavia, é importante, desde já, consignar que o simples fato de haver patente lacuna na lei a respeito do termo inicial do tempus iudicati não autoriza a adoção de qualquer critério para a sua definição.

A importância deste interregno de tempo e a possibilidade de seu decurso in albis poder vir a ensejar a aplicação de uma pena ao devedor impõem uma cuidadosa análise da questão, sempre com os olhos voltados para as garantias legais e constitucionais dos jurisdicionados.

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 150-155)