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Tipos de decisão judicial reconhecidas no ordenamento jurídico

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 32-44)

Sendo a decisão judicial um pressuposto básico para a aplicação da multa pelo não cumprimento da sentença que condena ao pagamento de quantia certa, é necessário analisar, dentre os atos passíveis de serem praticados pelo órgão jurisdicional, quais são os que contêm cunho decisório suficiente para ensejar a aplicação desta sanção. Nessa senda, vale a pena destacar que o órgão jurisdicional pratica, via de regra, duas modalidades de atos jurisdicionais, os decisórios e os não decisórios. Estes últimos são aqueles praticados no exercício de mera função administrativa ou de polícia judicial37 e não interessam no momento, uma vez que a multa no cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa só pode ser cogitada em caso de condenação do réu, condenação essa que, obviamente, pressupõe atividade decisória por parte do órgão jurisdicional.

A atividade jurisdicional tem um escopo político de extrema importância para a vida em sociedade, qual seja, a consecução do bem estar social através da garantia, aos seus cidadãos, dos direitos considerados

essenciais para uma vida com a liberdade e a dignidade que se espera do chamado welfare state.38 Para garantir o bem estar geral através da garantia destes valores tão importantes para a sociedade civilizada, faz-se necessário que a atividade jurisdicional resolva as questões diretamente ligadas aos interesses dos cidadãos, isolada ou conjuntamente considerados.39

Diante dos interesses em conflito retratados no processo, o órgão jurisdicional tem, portanto, a obrigação legal de resolver as questões postas em juízo, mesmo que não haja expressa previsão legal que regulamente a situação fática sub judice.40 Para solucionar estas questões, o órgão jurisdicional vale-se, precipuamente, de atos jurisdicionais decisórios denominados decisões interlocutórias e das sentenças,41 aos quais podem ser acrescentados o despacho e o acórdão.

38 CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO destaca que a jurisdição predispõe-se a influir politicamente na vida do

cidadão sob três aspectos: “primeiro, afirmar a capacidade estatal de decidir imperativamente (poder), sem a qual nem ele (Estado) mesmo se sustentaria, nem teria como cumprir os fins que o legitimam, nem haveria razão de ser para o seu ordenamento jurídico, projeção positivada do seu poder e dele próprio; segundo, concretizar o culto ao valor liberdade, com isso limitando e fazendo observar os contornos do poder e do seu exercício, para a dignidade dos indivíduos sobre os quais ele se exerce; finalmente, assegurar a participação dos cidadãos, por si mesmos ou através de suas associações, nos destinos da sociedade política” (A Instrumentalidade do Processo, p. 233/234).

39 Conforme ensina JOÃO BAPTISTA MONTEIRO, “... colocado perante as questões processuais, o juiz é

obrigado a dirimi-las. Pratica um ato de vontade, pelo qual examina a questão, atribui a prevalência a um dos interesses em conflito, escolhendo aquele que merece a proteção legal. Depois, impõe ao interesse que não foi protegido, a aceitação da hierarquização que estabeleceu. O fenômeno da aceitação, manifestado pela resistência à pretensão, é coercitivamente imposto ao interesse dominado, em benefício do interesse dominante. Mediante a decisão é vencida a resistência que o direito material não foi capaz de assegurar. Ao decidir, o juiz aplica o direito à questão. Estabelece a hierarquia dos interesses e assegura ao interesse prevalente a utilização do bem da vida sobre o qual se manifestou o conflito.” (O Conceito de Decisão, p.72-73).

40 Art. 4°, da LICC, e art. 126, do CPC.

41 ARRUDA ALVIM pontifica que “As sentenças e as decisões interlocutórias são, tipicamente, atos

decisórios; são as espécies que formam o gênero decisões, latu sensu, constituindo-se as decisões interlocutórias em decisões strictu sensu.” (Sentença no Processo Civil: as diversas formas de terminação do processo em primeiro grau, p. 20)

i. Despacho

A inércia da jurisdição impõe aos jurisdicionados o dever de dar início ao processo, caso pretendam obter a tutela jurisdicional de suas pretensões. Contudo, uma vez iniciado o processo, ele se desenvolve por impulso oficial, conforme determina o art. 262, do CPC. Isto se dá porque, levada a pretensão a juízo, passa a existir um interesse social na resolução do conflito, razão pela qual ao órgão jurisdicional resta a incumbência de, em colaboração com as partes, promover o regular andamento do feito até o desfecho que o mesmo merecer.

Para dar andamento ao processo, é necessária a prática de diversos atos, como determinar a intimação de peritos e testemunhas, designar audiências, abrir vista às partes quando lhes competirem falar nos autos

etc.. Estes atos jurisdicionais não se destinam a solucionar diretamente

nenhuma das questões postas pelas partes em juízo, mas sim apenas dar o regular impulso ao processo para que ele possa alcançar a sua próxima fase. Estes atos são denominados pela lei de despachos (art. 162, § 3°, do CPC) e classificados pela doutrina como de mero expediente ou ordinatórios.

Via de regra, os despachos de mero expediente ou ordinatórios não causam quaisquer prejuízos às partes (por isso é que são irrecorríveis), entretanto, se tal fato ocorrer, significa que, apesar de aparentar não possuir

conteúdo decisório, o ato jurisdicional acabou resolvendo uma questão, incidental ou não, dentro do processo. Quando se dá tal fato, o ato perde imediatamente a natureza de despacho e passa a ser considerado decisão interlocutória.

ii. Decisão interlocutória

A decisão interlocutória é o ato decisório por meio do qual o órgão jurisdicional resolve questões incidentais no feito.42 Destinam-se, portanto,

as decisões interlocutórias a preparar a solução final do feito sem, todavia, versar diretamente sobre o mérito da demanda ou determinar a sua extinção sem a resolução do mérito.

O critério que parece ser o mais adequado para identificar o caráter interlocutório de um determinado pronunciamento judicial é o do conteúdo, segundo o qual o importante é analisar se a decisão resolve uma questão incidente no processo.43 Questão incidente é aquela que surge

42 Decisão interlocutória é pronunciamento próprio do juízo de primeiro grau de jurisdição. No âmbito

dos tribunais, questões incidentais também são objeto de decisão, tanto no processamento de recursos, quanto no processamento de questões de competência originária dos tribunais. Entretanto, essas decisões, quando colegiadas, não são meras “decisões interlocutórias”, mas sim acórdãos (artigo 163, do Código de Processo Civil).

43 Sobre o conceito de questão incidente,MARCELO ABELHA RODRIGUES,expõem que “trata-se de um

fato jurídico superveniente, seja decorrente da vontade humana (ato jurídico), seja decorrente de agente da natureza ( fato jurídico em sentido amplo), como a morte de uma das partes e procuradores, tal como arrolado no art. 265, I, do CPC, que cai sobre a relação jurídica processual em movimento. Em se tratando de ato jurídico processual, pensamos que o incidente pode manifestar-se (aproveitando a classificação de Menestrina quando analisa o tema da prejudicialidade) por intermédio de pontos incidentes, questões incidentes ou causas incidentes. ...<omissis>... Constituirão questões incidentes quando o incidente

acidentalmente no feito. Não diz respeito ao mérito, propriamente dito, mas sim a algum aspecto acessório, como, v.g., a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional, a realização de provas, o acolhimento de qualquer defesa processual dilatória (conexão, incompetência etc.).44

Antes de decidir diretamente sobre o mérito da causa, ou sobre a impossibilidade de sua análise, o órgão jurisdicional deve analisar uma série de questões precedentes. Primeiramente, deve o magistrado analisar se estão presentes os pressupostos de existência do processo. De nada adianta analisar o pedido do autor se este não for veiculado através de uma relação jurídica processual, tendo em vista as exigências legais do Estado de Direito.

Em segundo lugar, são analisados os pressupostos processuais de validade da relação jurídica processual. Com efeito, não basta que a relação processual exista, é necessário que ela seja eficaz, vale dizer, que seja apta a produzir efeitos jurídicos. Em seguida, é preciso verificar a inexistência de pressupostos processuais negativos (litispendência e coisa julgada), bem como a inocorrência de quaisquer outras das hipóteses

processual possuir natureza jurídica de questão, isto é, quando, no curso normal do processo, surgir uma controvérsia ou dúvida sobre aquilo que se afirma na razão da pretensão (ponto), de modo que pode tratar-se de uma questão incidental relativa ao mérito, ao processo ou até mesmo à ação. Exemplos de questões incidentais são as que surgem na admissão ou não do assistente, na impugnação do valor da causa, na verificação da aceitação da nomeação à autoria etc.” (Suspensão de Segurança, pp. 26-28).

44 Desta forma, “não é o conteúdo específico que elas apresentam que as distingue dos demais

pronunciamentos judiciais, mas a natureza deste conteúdo, que tem de ser decisória, desde que não se

encarte nos arts, 267 e 269 do CPC.” (TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER, Os Agravos no CPC

previstas no artigo 297, do Código de Processo Civil. O último passo a ser dado antes de adentrar propriamente no mérito é a análise das condições da ação uma vez que estes elementos apresentam-se como requisitos para que se possa proferir uma decisão sobre o mérito da lide.

Reconhecida a existência de algum ou alguns elementos que impedem a análise do mérito, deve o órgão jurisdicional proferir, desde logo, decisão terminativa do feito que terá a natureza jurídica de sentença. Todavia, a decisão que reconhece a inexistência de qualquer dos fatores impedientes da análise do mérito acima apontados tem a nítida natureza de decisão interlocutória, vale dizer, de decisão dada no curso do processo que resolve questão incidente preparando, assim, a decisão final a respeito do litígio.

A distinção entre as decisões interlocutórias e os despachos de mero expediente costuma ser muito analisada pela doutrina mais para fins de determinar a possibilidade de recurso, uma vez que somente aquelas a admitem. Todavia, para este estudo, a distinção é feita para o fim de se determinar, desde logo, que os despachos de mero expediente jamais ensejarão a possibilidade de incidência da multa pelo não cumprimento da obrigação de pagar quantia certa objeto de condenação judicial.

iii. Sentença

Resolvidas as questões incidentais surgidas no curso do processo, este se encontra em condições de ter solução final, que é a sentença. 45 Desde o advento do atual Código de Processo Civil, para o direito positivo brasileiro, sentença era “o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”. O acerto ou falha da legislação em adotar esse conceito essencialmente pragmático, foge aos limites deste estudo.46

Com o advento da lei n.° 11.232/05, sentença passou ser “ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269” (art. 162, § 1°, do CPC). Deixou-se de lado, portanto, a classificação da sentença pelo critério meramente pragmático para se adotar o critério do conteúdo, segundo o qual o ato decisório denominado sentença é todo aquele que resolver o mérito do processo47 ou que atestar a impossibilidade de o fazer, decretando a extinção do processo.48

45 Valendo-se novamente dos ensinamentos de ARRUDA ALVIM, tem-se que “a sentença é o ato

culminante do processo de conhecimento. Na sentença, o juiz, na qualidade de representante do Estado, dá, com base na lei e no direito, uma resposta imperativa ao pedido formulado pelo autor, bem como à resistência oposta a esse pedido, pelo réu, na defesa apresentada.” (Sentença no Processo Civil: as diversas formas de terminação do processo em primeiro grau, p. 20).

46 Não se pode deixar de ressaltar, todavia, que a sentença nunca pôs fim efetivamente ao processo, mas

sim ao procedimento, mormente, ao procedimento em primeiro grau de jurisdição.

47 “O Projeto só usa a palavra ‘lide’ para designar o mérito da causa.” (ALFREDO BUZAID. Exposição de

Motivos do Código de Processo Civil. Capítulo III, II, 6).

48 “É, portanto, o conteúdo do ato sentencial que o distingue dos demais pronunciamentos judiciais e não

o efeito que, como regra geral, gera, pois, o gera exata e precisamente porque é sentença, porque tem conteúdo de sentença. Os conteúdos específicos das sentenças (arts. 267 e 269 do CPC ) são, assim, o

Para fins de análise do ato jurisdicional que pode dar ensejo à aplicação da multa prevista no art. 475-J, do CPC, pouco interessa a sentença que decreta a extinção do processo sem resolução do mérito, a não pela condenação acessória do vencido ao pagamento das despesas processuais e dos honorários advocatícios. Desta forma, será centrada a atenção na sentença que resolve o mérito da causa.49

A sentença de mérito é o meio por excelência pelo qual o Estado-juiz presta a tutela jurisdicional. Ao proferir uma sentença, o magistrado não

critério que as distingue das decisões interlocutórias. ...<omissis>... Ter ou não aptidão para extinguir o processo não é, efetivamente, critério hábil a definir se está ou não diante de sentença, já que, nas ações executivas lato sensu, a sentença antes de dar cabo ao processo, dá início a uma nova fase processual, voltada à atuação executiva do direito, cuja existência foi reconhecida. ...<omissis>... Em tais situações, o pronunciamento pode ter conteúdo de sentença, mas assim não será considerado, para fins de recorribilidade. É que, em casos como os ora exemplificados, será necessário que o procedimento continue, para que o juiz examine os pedidos – rectius, as ações - que ainda não foram julgados, e, por tal razão, os autos devem permanecer perante o juízo de primeiro grau. Somente se considerará sentença o pronunciamento que resolver a lide (CPC, art. 269) ou declarar que isso é possível (CPC, art. 267) em relação à integralidade das ações ajuizadas ou daquelas que remanesceram, depois que parte delas tiver sido julgada, no mesmo processo. O fato de restar alguma ‘porção’ da lide pendente de julgamento demonstra que o pronunciamento proferido antes da sentença ‘final’ não atendeu, integralmente, ao objetivo da ação de conhecimento, ou não esgotou totalmente a finalidade da fase cognitiva na ação executiva lato sensu. Assim, mesmo nos casos em que o pronunciamento judicial tem conteúdo encartável em uma das hipóteses referidas nos arts. 267 e 269 do CPC, não será cabível apelação, se parte do objeto do processo ainda depender de julgamento. A apelação somente será admissível se o pronunciamento jurisdicional, conquanto fundado no art. 267 ou no art. 269 do CPC tiver esgotado a atividade cognitiva que deveria ter-se realizado perante o juízo de primeira instância, seja porque não há mais mérito a ser julgado, seja porque o mérito não poderá ser julgado” (TERESA ARRUDA ALVIM

WAMBIER, Os Agravos no CPC Brasileiro, p. 109-113). BARBOSA MOREIRA, por sua vez, é pontual ao

afirmar que “...o conceito de sentença, à luz da nova sistemática, deixa de fundar-se em critério topológico para ligar-se ao conteúdo do ato. Nessa perspectiva, a dualidade de referencias, aos arts. 267 e 269, reflete a variação possível desse conteúdo.” (JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA, A nova definição de

sentença, p. 172).

49 Importante ressaltar, todavia, que o novo conceito de sentença trouxe importantes reflexos no âmbito

recursal e na possibilidade de formação gradual da coisa julgada, como bem esclarece JOSÉ HENRIQUE DE

MOUTA ARAÚJO: “...havendo capítulos de mérito já maduros e outros, não, sendo desacumuláveis, não há

razão para se adiar a apreciação de parte do objeto litigioso para momento posterior. Se o sistema incentiva a cumulação de pedidos, também a desacumulação deve ser prestigiada. ...<omissis>... Inicialmente, mister é destacar que a sentença de mérito, em que pese ser um único pronunciamento judicial, pode ser analisada sob o enfoque de vários capítulos decisórios, o que irá ensejar, de um lado, a multiplicidade de interesse recursal – cada um com possível(eis) sucumbente(s) – e, de outro, a imutabilidade de seu conteúdo em momentos diferenciados. ...<omissis>... O estudo dos capítulos da sentença também reflete a possibilidade de um único julgado ter ‘vários conteúdos’. Destarte, é possível que uma sentença, como um todo, tenha um capítulo declaratório e outro, condenatório, ou que tenha um capítulo principal e outro, acessório.” (Coisa Julgada Progressiva e Resolução Parcial do Mérito, pp. 341-342).

exerce uma atividade somente técnica, mas também uma atividade política e social. O que não se pode perder de vista, todavia, é que estes dois aspectos, não podem, jamais, suplantar o aspecto eminentemente jurídico da prestação jurisdicional.

Não obstante, é através da sentença que o Estado-juiz soluciona a lide levada pelo autor a juízo. Sua função transcende a esfera jurídica, tem relevância política e social de primordial importância para as sociedades civilizadas na medida em que representa o ato mediante o qual o órgão jurisdicional põe fim aos diversos conflitos intersubjetivos de interesses submetidos à sua apreciação. 50

A dinâmica dialética do processo, cuja estrutura basilar funda-se na ação (tese), na jurisdição (antítese) e no processo (síntese),51 tem sua

50 PONTES DE MIRANDA afirma que “extingue-se o processo com o julgamento do mérito sempre que a

extinção resulta de algo que atinge o direito, a pretensão e a ação, ou a pretensão e a ação, ou a pretensão, ou a ação” (Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo III, p. 449).

51 A idéia de que a estrutura basilar do processo estaria calcada na ação como tese, na defesa como

antítese e no provimento jurisdicional como síntese é equivocada, pois não atenta para o fato de que a dialética é uma característica do processo como um todo, vale dizer, da relação jurídica processual, e não simplesmente do provimento jurisdicional. Com efeito, em todas as suas fases, o processo desenvolve-se dialeticamente.

A ação, considerada esta como a afirmação de direito feita pelo autor em juízo, é que caracteriza a tese porque é nela que se põem a descoberto as pretensões das partes, ou seja, é através do exercício do direito de ação e de defesa que se exteriorizam as teses das partes.

Por sua vez, o processo não é um instrumento pelo qual as partes fazem valer a sua vontade própria, mas sim, o instrumento pelo qual se efetiva a atividade jurisdicional, vale dizer, o instrumento que o Estado-juiz utiliza para dizer o direito. Sendo assim, a jurisdição apresenta-se, claramente, como antítese, uma vez que se contrapõe à aplicação arbitrária da vontade das partes.

Esclarecido que o processo é o meio pelo qual são equilibradas as forças entre a ação e a jurisdição, evitando que o Estado-juiz venha a cometer arbítrios, claro fica que é nele que se encontra a síntese que forma o trio de características que definem a dialética processual.

No sentido do que aqui se propugna, vale a pena atentar para a as palavras de FERNANDO LUSO SOARES:

“Como trânsito efectuado com vista à obtenção de um juízo decisório final, todo o processo é trabalho desenvolvido pelo juiz (e seus auxiliares) e pelas partes (e seus mandatários). Mas, se relativamente ao juiz tal trabalho se justifica a partir do exercício do poder jurisdicional que lhe pertence, no que concerne às partes ele resulta do direito de acção que ambas possuem, uma como demandante (direito de acção propriamente dito), outra como demandado (direito de defesa ou de contestação). Entretanto, e como

expressão máxima no momento da prolação da sentença de mérito que, ao analisar a pretensão do autor e a defesa do réu, confronta-os com os ditames do ordenamento jurídico, utilizando, para tanto, da forma determinada pela lei.

O aparato jurisdicional está estruturado para que, através do processo, seja possível a prolação de uma sentença de mérito quando presentes os pressupostos necessários à válida formação e desenvolvimento da relação jurídica processual, bem como quando presentes as condições da ação.

A atividade jurisdicional só se realiza, em sua plenitude, quando é possível, ao órgão jurisdicional, resolver a questão de fundo retratada no processo. Somente nesse momento é que está cumprida, por completo, a função jurisdicional do Estado.52

produto do trabalho desenvolvido, este corresponde à existência concreta do processo. E é desde logo evidente que aquelas três ordens de entidades (o juiz, as partes, o processo) se reduzem à chamada ‘trilogia estrutural’ – acção, jurisdição, processo. A acção (o direito de acção), de que são titulares (opostamente) as partes, e a jurisdição, que pertence ao juiz, constituem no seu encontro dinâmico as forças que fazem com que o processo nasça e se desenvolva a partir do seu modelo normativo. Têm os autores falado, a tal propósito, em dialéctica do processo – por exemplo, os professores MANUEL

RODRIGUES,MANUEL DE ANDRADE,CASTRO MENDES e muito explicitamente EDUARDO COUTURE: ‘O

que constitui a estrutura do processo – escreveu COUTURE – é a ordem dialéctica. O processo judiciário e

o processo dialéctico aparecem-nos assim ligados por um vínculo profundo. Atinge-se a verdade por meio de oposições e refutações; por teses, por antíteses e por sínteses. A justiça serve-se da dialéctica porque o princípio da contradição é que permite, pela confrontação dos opostos, chegar à verdade’.” (Processo

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 32-44)