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Responsável

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 180-194)

Parte II – Parte Especial

1. Responsável

Não há dúvidas de que o devedor é o principal responsável pelo pagamento da multa pelo não cumprimento espontâneo da decisão judicial que condena ao pagamento de quantia certa. A lei determina expressamente que é o devedor quem deve cumprir a obrigação de pagar quantia certa à qual foi condenado, logo, somente a ele é que pode ser imposta a penalidade pelo não cumprimento dessa obrigação.293

Havendo litisconsórcio unitário,294

todos serão responsáveis pela obrigação de pagar a multa no cumprimento de sentença, entretanto, o cumprimento da condenação por um dos litisconsortes impede a aplicação da multa em relação aos demais. De resto, observar-se-á o regime da relação jurídica de direito material existente entre os litisconsortes, se de solidariedade ou de obrigação cuja prestação possa ser considerada

o devedor, no caso da situação imaginada, é a pessoa jurídica de direito público, não os agentes ou servidores que representam as pessoas jurídicas de direito público” (A Nova Etapa da Reforma do Código de Processo Civil, Vol. 1, p. 84).

293Neste sentido: “...cabe ao credor pagar o valor da condenação no prazo de quinze dias, sob pena de

incidência da multa de dez por cento sobre a integralidade do débito” (ANA LAURA GONZÁLES POITTEVIN

e VIVIAN RIGO, A Multa no Cumprimento da Sentença e Outros Aspectos da Lei n.° 11.232/05, p. 22).

294 Conforme ensina ARRUDA ALVIM, “no litisconsórcio unitário existe, por definição, a

imprescindibilidade de decisão uniforme, no plano do Direito Material, para todos os que no pólo do processo figurem como litisconsortes, no sentido de a ação ter de ser julgada procedente para todos, ou, então e sempre, haver de ser julgada improcedente para todos os litisconsortes” (Manual de Direito Processual Civil, Vol. 2, p. 93).

indivisível, embora esta última hipótese seja de mui difícil verificação nos casos em que o objeto da prestação é o pagamento de quantia certa.

Particularidade importante em relação ao litisconsórcio unitário295 é a de que, para que se possa cogitar de aplicação da multa, é necessário que o devedor solidário tenha sido condenado ao pagamento da quantia devida. Se, apesar de devedor, não tiver ocorrido a sua regular citação, não se pode falar de condenação deste ao pagamento de quantia certa, muito menos de possibilidade de aplicação da multa em razão do descumprimento desta suposta condenação.

Em caso de litisconsórcio simples, cada devedor arcará com a multa sobre o montante de sua obrigação específica, conforme tenha sido acertada a relação jurídica de direito material na sentença. Sendo simples o litisconsórcio, o pagamento por um litisconsorte não extingue a obrigação dos demais em relação aos seus respectivos débitos para com o credor comum, conforme determina o art. 48, do CPC.296

295 Vale a pena lembrar que nem todo o litisconsórcio unitário é necessário, razão pela qual podem ocorrer

casos onde um, ou alguns, dos devedores não são citados para integrar o pólo passivo da lide. Como

adverte HUMBERTO THEODORO JÚNIOR “acontece que o litisconsórcio unitário nem sempre é necessário,

bastando lembrar os casos de condôminos que reivindicam a coisa comum e de credores solidários frente à cobrança da dívida única. Agindo em conjunto ou separadamente, o resultado será uniforme para todos os interessados, mas o litisconsórcio não é obrigatório” (Curso de Direito Processual Civil, Vol. I, p. 103).

296 Neste sentido, SÉRGIO SHIMURA, explica que “havendo vários devedores, a multa incide somente uma

única vez, sobre o montante fixado na sentença, e não para cada réu, exceto se envolver dívida consubstanciada em quotas-partes” (A execução da sentença na reforma de 2005, p. 568).

Embora o patrimônio do responsável executivo secundário esteja sujeito à execução por expropriação,297

mesmo não figurando ele diretamente no título executivo, não se pode cogitar de aplicação da multa do art. 475-J, do CPC, em relação a ele. Cabe perfeitamente aqui a clássica distinção entre a responsabilidade e a obrigação298

para o fim de esclarecer que somente o efetivamente obrigado ao cumprimento do comando judicial, vale dizer, somente o devedor devidamente condenado em um processo que observou todas as garantias legais e constitucionais atribuídas às partes é que pode ser apenado com a multa em caso de não atendimento da decisão judicial que condena ao pagamento de quantia certa.

Tanto as pessoas físicas quanto as pessoas jurídicas podem ser alvo da punição, caso não cumpram o provimento condenatório. Mesmo as sociedades de economia mista, que não gozam do privilégio de serem executadas pelo regime específico da execução contra a Fazenda Pública, podem sofrer a penalidade.299 Sendo o patrimônio destas últimas

297 Art. 592, do CPC.

298 Sobre o tema, ANTUNES VARELLA explica que “bastante mais consistente, na forma como procura

retratar a estrutura da relação creditória, é a doutrina que decompõe a obrigação em dois elementos distintos: o débito (Schuld; debitum) e a responsabilidade (Haftung; obligatio). O primeiro consiste no dever de prestar, na necessidade de observar determinado comportamento; o segundo, na sujeição dos bens do devedor ou do terceiro aos fins próprios da execução, ou melhor, na relação de sujeição que pode ter por objecto, tanto a pessoa do devedor (antigo direito romano), como uma coisa ou complexo de

coisas do devedor ou do terceiro” (JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações em Geral, Vol. I,

pp. 143-144).

299 Conforme entendimento jurisprudencial, as Sociedades de Economia Mista não estão inseridas no

conceito de Fazenda Pública: “Cobrança. Empreiteira de obras públicas. Inadimplência contratual. Pagamento da condenação com correção dos valores em cobrança, sob pena de enriquecimento sem causa. Verba honorária. Sociedade de economia mista. Fazenda pública. Sucumbência. 1. A simples intervenção do Município do Rio de Janeiro na fase recursal, como terceiro prejudicado, não impõe à causa o regime fazendário da sucumbência. Em primeiro lugar porque o terceiro não é parte, e em segundo plano, porque a sociedade de economia mista distingue-se da pessoa jurídica de direito público

penhorável,300

não há dúvida de que devem elas cumprir o provimento condenatório no prazo de 15 dias, sob pena de terem que arcar com a multa de 10% prevista no art. 475-J, do CPC.

É necessário, contudo, fazer uma ressalva: se a sociedade de economia mista destina-se exclusivamente à prestação de serviços públicos e não à exploração de atividade econômica, seu patrimônio deverá ser considerado público, em razão da destinação que lhe foi dada e, portanto, impenhorável.301

Neste caso específico, a execução contra essa entidade

que a constituiu. Deveras, na recentíssima reforma processual as sociedades de economia mista não foram, e poderiam tê-lo sido, consideradas integrantes da fazenda pública (art. 475, CPC) 2. Recurso Especial provido.” (STJ, REsp 331.480/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª T., j. 05.09.2002, DJ 07.10.2002 p. 187).

300 Neste sentido: “PROCESSUAL CIVIL. PENHORA. BENS DE SOCIEDADE DE ECONOMIA

MISTA. POSSIBILIDADE. 1. A sociedade de economia mista, posto consubstanciar personalidade jurídica de direito privado, sujeita-se, na cobrança de seus débitos ao regime comum das sociedades em geral, nada importando o fato de prestarem serviço público, desde que a execução da função não reste comprometida pela constrição. Precedentes. 2. Recurso Especial desprovido.” (STJ, REsp 521.047/SP, rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, j. 20/11/2003, DJ 16/02/2004 p. 214); “Processo Civil. Bilheteria de

empresa concessionária de serviço público - transporte público coletivo. Companhia do Metropolitano de São Paulo - METRÔ. Penhora. Sociedade de economia mista estadual. Possibilidade. A receita das bilheterias que não inviabilizam o funcionamento da devedora sociedade de economia mista estadual pode ser objeto de penhora, na falta de vedação legal, e desde que não alcance os próprios bens destinados especificamente ao serviço público prestado, hipótese que é diversa daquela da ECT - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, amparada pelo Decreto-lei n. 509/69.” (STJ, REsp 343.968/SP, rel.

Min. NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, j. 05/02/2002, DJ 04/03/2002 p. 255).

301 Sobre o tema, CELSO ANTÕNIO BANDEIRA DE MELLO ensina que “...são inconfundíveis, ao lume do

diploma constitucional, duas noções: atuação do Estado para prestação de serviços públicos e desempenho estatal para exploração de atividade econômica. O Decreto-lei nº. 900 define a sociedade de economia mista como entidade criada para exploração de atividade econômica. Poder-se-ia, então, em primeiro exame, aferrado ao texto, concluir que as pessoas deste gênero, voltadas à prestação de serviços públicos, por não se encontrarem em consonância com os termos exatos da terminologia legal, não são sociedades de economia mista; isto é, que foram deixadas ao largo da Reforma Administrativa Federal, excluídas de seu âmbito de abrangência. Daí que, por não serem sociedades de economia mista nos termos legais e por não serem também, evidentemente, sociedades comerciais idênticas às empresas privadas — uma vez que praticamente todas se submetem a certas normas especiais impostas por lei — corresponderiam a uma categoria inominada” (Prestação de Serviços Públicos e Administração Indireta, pp. 111/112). Entretanto, o STJ já decidiu que “PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. PENHORA EM BENS DE SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA QUE PRESTA SERVIÇO PÚBLICO. A sociedade de economia mista tem personalidade jurídica de direito privado e está sujeita, quanto à cobrança de seus débitos, ao regime comum das sociedades em geral, nada importando o fato de que preste serviço público; só não lhe podem ser penhorados bens que estejam diretamente comprometidos com a prestação do serviço público. Recurso especial conhecido e provido.” (STJ, REsp 176.078/SP, rel. Min. ARI PARGENDLER, Segunda Turma, j. 15/12/1998, DJ 08/03/1999 p.

observará o regime da execução contra a Fazenda Pública, tornando, assim, inadmissível a incidência da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa.302

Havendo denunciação da lide, seja ela feita pelo réu ou pelo autor, a relação entre denunciante e denunciado, em relação à parte contrária, será de litisconsórcio, podendo, inclusive, a decisão ser executada diretamente contra este último.303

Torna-se o litisdenunciado, portanto, devedor solidário da obrigação contida na decisão condenatória,304

razão pela qual se afigura perfeitamente possível a imposição a ele da multa do art. 475-J, do CPC, caso não haja o cumprimento da obrigação no prazo de 15 dias ali previsto.

2. Beneficiário

Sendo a multa do cumprimento de sentença uma sanção que visa penalizar aquele que descumpre o comando judicial que o condena ao

302 Sobre a impossibilidade de aplicação da multa do art. 475-J na execução por quantia certa, ver

Cap.XII, item 7, infra.

303 DANIEL USTÁRROZ após fazer amplo estudo da evolução da jurisprudência nacional sobre o tema,

conclui que “é possível estabelecer, em determinados grupos de casos, a vinculação entre denunciado e adversário do denunciante, a partir da ponderação do direito material posto em causa. Identificado o liame, incide a norma prevista no art. 75, I, CPC, que ordena a equiparação ao litisconsórcio facultativo e ulterior, quando houver o aceite da denunciação” (Novas Reflexões Sobre a Condenação Direta do Litisdenunciado, p. 124).

304 Neste sentido: “(...) Se a seguradora comparece a Juízo aceitando a denunciação da lide feita pelo réu e

contestando o pedido principal, assume ela a condição de litisconsorte passiva, formal e materialmente, podendo, em conseqüência, ser condenada, direta e solidariamente, com o réu. Precedentes do STJ. (...).”

(STJ, REsp 188158/RS, rel. Min. FERNANDO GONÇALVES, Quarta Turma, j. 15/06/2004, DJ 01/07/2004

pagamento de quantia certa, seria perfeitamente razoável que o destinatário desta multa fosse o Estado, já que é a sua autoridade que está sendo afrontada. Não obstante, nota-se uma tradição já consagrada no direito brasileiro de destinar o produto das sanções pecuniárias impostas às partes que afrontam a imperatividade da ordem jurídica ao particular que figura na relação jurídica objeto da quizília, especialmente no plano processual.305

No caso da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa a situação não é diferente. O seu beneficiário é o credor, vale dizer, aquele em favor de quem o provimento condenatório foi proferido.306 Ao determinar que, em caso de inadimplência de obrigação de quantia certa retratada em título executivo judicial, o montante da condenação “será

acrescido de multa no percentual de dez por cento”, o dispositivo legal

parece deixar fora de dúvidas que o beneficiário do valor da multa é exatamente aquele que também é beneficiário do valor da condenação,307 qual seja o credor, assim reconhecido na sentença (art. 566, I, do CPC).

Havendo litisconsórcio entre os beneficiários da condenação, a multa eventualmente aplicada será rateada entre eles na proporção do crédito que

305 É o que ocorre, por exemplo, com a astreinte, com a multa por litigância de má-fé, com o ato

atentatório à dignidade da justiça etc.

306 Nesse sentido, CASSIO SCARPINELLA BUENO.A nova etapa... cit., p. 84.

307 Que poderá levantá-la incontinenti. ARAKEN DE ASSIS afirma que, se o devedor, ao realizar o depósito,

impugnar o valor pretendido pelo credor, cria-se um incidente que deverá ser solucionado pelo órgão jurisdicional. Durante a tramitação desse incidente, alega o referido autor que o levantamento somente poderá ser realizado mediante a prestação de caução (Cumprimento da sentença. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 212). Denotando, mais uma vez, a lacunosidade da Lei 11.232/2005, deve-se atentar para o fato de que o incidente ora referido, bem como a exigência de prestação de caução, não encontram amparo legal.

lhes foi atribuído pela decisão judicial. Mais uma vez, será necessário recorrer ao regime da solidariedade ou da indivisibilidade da obrigação para solucionar eventuais questões referentes à divisão do valor da multa, de acordo com a natureza da relação jurídica que os credores ostentarem entre si.

Nem todo o valor da multa, entretanto, será destinado ao beneficiário da condenação reconhecido na decisão judicial. Com efeito, conforme determina o art. 23 da lei n.° 8.906/1994 (EA/OAB), o advogado tem direito e legitimidade autônomos para executar a parte da sentença que condena o vencido ao pagamento de honorários advocatícios.

Sendo assim, a parcela da multa que eventualmente incidir sobre o valor da verba honorária destina-se ao advogado. Pouco importa, no caso, se a execução da verba honorária será feita pela própria parte juntamente com o restante do valor da condenação, uma vez que, neste caso, não há dúvida de que se está diante de um caso claro de legitimidade extraordinária do credor em relação ao seu patrono.308

308 CARLOS ALBERTO DE SANTANA arremata a questão afirmando que “embora o art. 475-J do CPC não

faça referência, parece não existir dúvidas de que o destinatário da multa é o credor, sendo que ela, não obstante o seu caráter coercitivo, apresenta-se como compensação pelo retardamento no cumprimento da obrigação, lembrando que o credor dos honorários advocatícios é o advogado” (Cumprimento da Sentença & Multa do Artigo 475-J, p. 175). Todavia, lembre-se que já se demonstrou que a multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa não pode ser considerada nem medida coercitiva nem instrumento de ressarcimento do credor (v. Cap. VIII, item 2, i e iii, supra).

XII- Hipóteses de incidência da multa do art. 475-J do CPC

1. Modalidades de sentença que podem ensejar a aplicação da multa

i. Sentença condenatória

Os feitos que culminam com a prolação de sentença309 condenatória310 representam o âmbito mais adequado à de aplicação da multa do cumprimento de sentença para pagamento por quantia certa. A redação da norma (art. 475-J, caput, do CPC) dá a clara idéia de que é exatamente no caso de provimento condenatório, proferido nos termos do art. 475-N, I, é que se pode aventar a incidência da multa.

Condenar alguém significa reprovar a sua conduta, todavia, no caso específico da sentença condenatória, significa reprovar a violação às normas que informam o direito objetivo e determinar a adoção pelo acusado de uma determinada conduta ou impor uma determinada sanção. A condenação, portanto, contém em si um comando judicial para que o devedor cumpra um determinado dever ou obrigação que, na verdade, já foi descumprido.

309 Sobre o conceito de sentença em geral, ver Cap. II, item 1, iii, supra. 310 Especificamente sobre sentença condenatória, ver Cap. II, item 2, iii, supra.

Descumprida a determinação judicial, há a incidência da multa prevista no art. 475-J, do CPC, se tal decisão tiver por conteúdo uma obrigação de pagar quantia certa, como já se disse alhures.

Todavia, é preciso ter em vista que não é qualquer determinação judicial que impõe a obrigação de pagar quantia certa que rende ensejo à aplicação da referida penalidade. É necessário que a sentença condenatória, para que se possa cogitar da aplicação da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa, seja fruto do regular exercício do contraditório, vale dizer, deve a decisão condenatória ser resultado da prática de atos processuais concatenados de acordo com a ordem legal em um procedimento permeado pelo devido processo legal.

Assim, não é possível cogitar da aplicação da multa do art. 475-J, do CPC, em relação ao descumprimento de decisões que determinam o pagamento de honorários periciais, o depósito dos valores devidos em razão de diligências de oficiais de justiça, o pagamento de custas judiciais

etc. Da mesma forma, decisões que determinam a simples devolução de

valores eventual e equivocadamente levantados a maior ou o pagamento de outras multas aplicadas no processo (por recurso manifestamente protelatório, por exemplo) prescindem, via de regra, do regular contraditório, razão pela qual, também em relação a elas, não há que se

falar em aplicação da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa.

Mesmo a decisão que comina a astreinte ao devedor que não cumpre a obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa não se encaixa no conceito de decisão condenatória para fins de incidência da multa do art. 475-J, do CPC. Com efeito, a multa cominatória é um meio executivo destinado a coagir o devedor ao cumprimento da obrigação, e não um provimento condenatório propriamente dito, razão pela qual não parece ser possível a incidência da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa quando o valor da astreinte não é pago pelo devedor no prazo de 15 dias.

Assim, a sentença condenatória que justifica a aplicação da multa do art. 475-J, do CPC, é aquela que resulta do exercício do direito de ação no qual o autor formula uma pretensão de caráter condenatório. Fora destas hipóteses, não há que se falar em aplicação desta sanção punitiva.

A lei, quando fala em “cumprimento de sentença”, não o faz por mero diletantismo. O termo “sentença”, neste caso, é utilizado no sentido mais técnico, vale dizer, é o ato judicial que resolve o mérito da demanda, reconhecendo a ocorrência de uma das hipóteses previstas no art. 269, do CPC.

A legítima incidência da multa do cumprimento de sentença, portanto, pressupõe o regular exercício da função jurisdicional, sob o seu aspecto finalístico, que é concretizar os comandos abstratos contidos nos preceitos do ordenamento jurídico de forma a expungir do convívio social os conflitos de interesses.

Não obstante, condenações acessórias ao pagamento de honorários advocatícios, ao ressarcimento de custas judiciais, ao pagamento de perdas e danos, ao reembolso de valores devidos a título de benfeitorias, dentre outras, rendem ensejo à aplicação da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa, caso não sejam cumpridas no prazo previsto na lei.

Embora não sejam resultado direto do acolhimento de uma pretensão condenatória propriamente dita, tais condenações acessórias são inerentes ao comando judicial principal concedido no processo e darão azo ao ajuizamento de posterior cumprimento de sentença, nos termos dos arts. 475-J e seguintes, do CPC, razão pela qual não teria sentido afastar a incidência da penalidade nestes casos.

ii. Sentenças declaratória e constitutiva

Com o advento da lei n. 11.232/05, que alterou o rol dos títulos executivos judiciais, a sentença condenatória, que sempre foi vista como o título judicial executivo por excelência, cedeu lugar à sentença que “reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia”, conforme determina, atualmente, o art. 475-N, I, do CPC.

A partir da nova redação do instituto, surgiu com grande força a idéia de que a decisão meramente declaratória seria passível de execução, tornando superado, assim, um dos grandes dogmas do direito processual civil que é exatamente o que determinava que a sentença meramente declaratória não seria passível de execução.311-312

311 TEORI ALBINO ZAVASCKI, considerado o principal precursor desta teoria, após estudar o tema em

ensaio doutrinário, chega às seguintes conclusões: “a) o título executivo é a representação documental de uma norma jurídica individualizada, contendo obrigação líquida, certa e exigível, de entregar coisa, ou de fazer, ou de não fazer, ou de pagar quantia em dinheiro, entre sujeitos determinados; b) a sentença civil condenatória é título executivo porque contém definição completa de norma jurídica individualizada com

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 180-194)