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Regime Jurídico da intimação pessoal

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 171-177)

Parte II – Parte Especial

2. Regime Jurídico da intimação pessoal

Verificado que o prazo de 15 dias para o cumprimento espontâneo pelo devedor não começa a correr enquanto este não for pessoalmente intimado da decisão que condena ao pagamento de quantia certa,280 há a necessidade de analisar como essa intimação deve se dar, vale dizer, qual é o seu regime jurídico.

Tratando-se de intimação pessoal, o prazo somente pode ser considerado efetivamente deflagrado após a juntada aos autos do aviso de recepção ou do mandado cumprido, conforme a intimação se dê pelo correio ou por oficial de justiça, respectivamente. Aplica-se, portanto, o disposto no art. 241 do CPC, que regulamenta exatamente o início da contagem do prazo quando a intimação é pessoal.

Do mandado, ou da carta de citação, deverá constar obrigatória e expressamente que, não cumprida a obrigação no prazo legal, haverá a

280 Ver Cap. IX, item 1, v, supra. É necessário lembrar sempre, todavia, que, conforme alerta LUIZ

GUILHERME AIDAR BONDIOLI, “em se tratando de obrigação atrelada a condição ou termo, o prazo

quinzenal do caput do art. 475-J começa a correr somente após o advento do acontecimento programado para sua exigibilidade, independentemente do título executivo judicial em que ela estiver inserta. Todavia, o início do prazo é instantâneo, o que torna novamente pertinente a regra dies interpellat pro homine” (O Novo CPC: a terceira etapa da reforma, p. 91).

incidência imediata da multa do art. 475-J, do CPC. A sanção para a omissão é a proibição de cobrança da penalidade.281 A exigência de informação da incidência da multa do art. 475-J no caso de não cumprimento da obrigação decorre diretamente dos princípios constitucionais do devido processo legal e do contraditório, que restarão frontalmente violados caso não seja observada essa sistemática.

Decorrido in albis o prazo para cumprimento espontâneo da decisão judicial, incide imediatamente a multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa, sem qualquer necessidade de decisão judicial a esse respeito,282 como já se demonstrou em diversos trechos deste estudo.

281 A jurisprudência nacional tem fixado com rigor e inteiro acerto a necessidade da prática de atos de

comunicação à parte (citações e intimações pessoais) das conseqüências do não atendimento da ordem retratada no instrumento de comunicação da ordem judicial a ser cumprida (mandado ou carta). Trata-se de aplicação do princípio constitucional do contraditório em uma das suas três vertentes, qual seja o direito de informação. Como se sabe, o princípio do contraditório é composto por três direitos básicos, de informação, de manifestação e de ver os seus argumentos considerados (v., sobre essa matéria, o paradigmático acórdão: STF, Tribunal Pleno, MS 24.268-0/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 05.02.2004). Vejam-se, a esse respeito, alguns exemplos: “(...) II – É indispensável que conste do mandado citatório o prazo para contestar (art. 225, II, CPC) e as cominações legais para eventual não comparecimento do réu (art. 225, IV, CPC), independentemente do tipo de processo ou procedimento, sob pena de nulidade da citação. (...)”. (STJ, REsp 178.145/MA, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. 23.11.1998, DJ 15.03.1999 p. 238). “(...) Há ofensa aos arts. 225, II, III e VI, e 285 do CPC, sobretudo quando sendo o réu pessoa humilde, o mandado citatório, expedido em ação de reintegração de posse, que apenas o convoca para comparecer a audiência de justificação, sem instá-lo a contestar e, muito menos, sem adverti-lo sobre os efeitos de sua inércia. (...)” (STJ, REsp 124.024/AM, Rel. Min. César Asfor Rocha, Quarta Turma, j. 18.11.1997, DJ 16.03.1998, p. 140).

282 Nem mesmo de ofício pode o órgão jurisdicional determinar a incidência da multa, cabendo ao credor

acrescentar esta verba acessória em sua pretensão recursal. Neste sentido: “DETERMINAÇÃO DE MULTA EX OFFICIO - IMPOSSIBILIDADE - AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO - DETERMINAÇÃO DE INCIDÊNCIA DA MULTA PREVISTA NO ART. 475-J DO CPC, EX OFFICIO - IMPOSSIBILIDADE - REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES AO BACEN, SOBRE CONTAS BANCÁRIAS DA EXECUTADA - CONVÊNIO BACEN-JUD - NÃO-COMPROVAÇÃO, PELO CREDOR, DO EXAURIMENTO DE MEIOS PARA LOCALIZAÇÃO DE BENS PASSÍVEIS DE CONSTRIÇÃO - INDEFERIMENTO. - Não pode o Magistrado, ex officio, determinar a incidência da multa disposta no art. 475-J do CPC, pois não é dado ao órgão jurisdicional, sem o requerimento da parte exeqüente, acrescer valores na execução, além daqueles pleiteados pela parte. Essa conclusão advém do princípio dispositivo, pois o Juiz deve proferir suas decisões nos limites do pleito das partes e, se não há pedido, não pode ele decidir. Assim, nesse tópico, deve ser cassada a decisão hostilizada. A medida requerida pelo exeqüente, no sentido de requisitar informações ao Banco Central sobre contas da executada, por meio do convênio Bacen-Jud, do qual o TJMG é signatário, deve ser indeferida, porquanto

Também não é necessária a prática de qualquer ato de formalização deste fenômeno como, por exemplo, a lavratura de certidão atestando que o prazo decorreu sem que tivesse havido o cumprimento espontâneo da decisão judicial, até porque a prova do cumprimento pode nem vir a ser apresentada em juízo, sem que daí se possa extrair qualquer irregularidade.

Por fim, resta ressaltar que o prazo previsto para o cumprimento voluntário da sentença não é processual. Sendo o adimplemento um ato de direito material283 não há como atribuir caráter processual ao prazo fixado para a sua efetivação. Note-se que o cumprimento espontâneo da sentença não cria, modifica ou extingue nenhum direito processual, mas sim satisfaz o direito material retratado no ato jurisdicional que o materializa.

Por tal razão, apesar de estar previsto no Código de Processo Civil, não se aplica o disposto no art. 184 do Código de Processo Civil, mas sim o disposto no art. 132 do Código Civil284ao prazo do art. 475-J, para o cumprimento voluntário da decisão. Note-se, todavia, que a disciplina básica da contagem destes prazos não difere substancialmente. Não obstante, a distinção parece relevante na medida em que questões como suspensão, interrupção e impedimento do prazo serão disciplinadas pelo

não comprovado o seu esforço, no sentido de exaurir os meios para localização de bens passíveis de penhora.” (TJMG - 17ª Câm. Cível; Ag nº 1.0024.97.045705-7/001 - Belo Horizonte - MG; Rel. Des. EDUARDO MARINÉ DA CUNHA; j. 9/2/2007; v.u.) BAASP, 2555/503-m, de 24.12.2007.

283 Ver, a esse respeito, o que se falou no Cap. VIII, item 3, supra.

284 Em sentido contrário: ARAKEN DE ASSIS (Cumprimento da sentença, p. 212) e CASSIO SCARPINELLA

ordenamento jurídico material e não pelo ordenamento jurídico processual.285

X- Percentual e base de cálculo da multa do art. 475-J do CPC

Diz a lei que a multa acresce o valor da condenação em 10%, caso não haja cumprimento voluntário da sentença que condena ao pagamento de quantia certa. O percentual é expressamente previsto no texto da norma que não parece deixar qualquer espaço para interpretação que vise modular tal valor. Essa é a diferença entre a multa do cumprimento de sentença e a multa cominatória (astreinte).

Sendo institutos completamente distintos, afigura-se forçosa a conclusão de que o disposto no art. 461, § 6°, do CPC, não é aplicável ao

285 Um único dia de atraso já é suficiente para fazer incidir a multa, conforme decidiu o TJRS, in verbis:

“PRAZO PARA APLICAÇÃO DE MULTA - AGRAVO INTERNO - LEI Nº 11.232/2005 - ART. 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - APLICABILIDADE NA HIPÓTESE. - Passaram-se 16 (dezesseis) dias desde o trânsito em julgado da sentença que condenou a agravante ao pagamento da verba indenizatória até o efetivo pagamento. Excedido 1 (um) dia, portanto, do prazo previsto no art. 475- J do Código de Processo Civil. Aplicável, pois, a multa de 10% prevista nesse dispositivo. Agravo Interno

improvido. Por maioria.” (TJRS - 9ª Câm. Cível; AI nº 70021707856-Canoas-RS; Rel. Des. ÍRIS HELENA

MEDEIROS NOGUEIRA; j. 31/10/2007; m.v.) BAASP, 2555/504-m, de 24.12.2007. Em sentido contrário,

MARCELO JOSÉ MAGALHÃES BONÍCIO afirma que “... seria excessivamente rigoroso o entendimento de que tal prazo seria peremptório, porque, conforme ficou claro na reforma, a multa foi instituída para estimular o cumprimento voluntário da obrigação. Se ocorreu o cumprimento voluntário, mas o prazo foi ultrapassado em alguns dias, não há motivos para imposição da multa, principalmente quando se tratar de quantias elevadas. Assim, por exemplo, se o devedor pagar integralmente a dívida no vigésimo dia, pela letra da lei estaria sujeito ao pagamento da multa, mas, se ainda não houve nenhum ônus para o credor, ou sequer surgiu a necessidade de movimentação dos meios de tutela jurisdicional, não há motivos para imposição de uma multa tão expressiva. Considerando que a multa está relacionada com a necessidade de adoção efetiva de meios de execução, ante a inadimplência do executado, quando não houver tal necessidade, em certa medida não há por que exigir a incidência da multa. Em outras palavras, o prazo de quinze dias não parece ser peremptório, admitindo, como no exemplo mencionado, alguma flexibilização, principalmente por conta do princípio da proporcionalidade” (Comentários à Execução Civil, p. 48).

cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa. Nem a periodicidade nem o percentual da multa do art. 475-J, do CPC, podem ser alterados pelo órgão jurisdicional, pouco importando as peculiaridades do caso concreto.

Como já se disse, a multa incide imediatamente após o transcurso do prazo previsto na lei para o cumprimento voluntário da sentença independentemente de decisão judicial nesse sentido.286 Sua incidência se dá, portanto, uma única vez e no percentual de 10% previsto na legislação.287

A base de cálculo da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa contra devedor solvente é “o montante da condenação”, conforme prevê expressamente o caput do art. 475-J, do CPC. Compreendem-se no conceito de condenação empregado na lei todas as verbas acessórias que integram o montante da dívida (juros contratuais, juros de mora, correção monetária, honorários advocatícios, custas judiciais

etc.). Desta forma, todas as verbas, acessórias ou principais, que forem

286 Nesse sentido: ATHOS GUSMÃO CARNEIRO. Do “cumprimento da sentença”, conforme a Lei n.

11.232/2005. Parcial retorno ao medievalismo? Por que não?, p. 23; ARAKEN DE ASSIS,Cumprimento da

sentença, cit., p. 212; JOSÉ ROBERTO DOS SANTOS BEDAQUE.Algumas considerações..., cit., p. 73.

287 ANA LAURA GONZÁLES POITTEVIN e VIVIAN RIGO afirmam que “esta nova multa incide uma só vez e

seu valor corresponde a dez por cento sobre o valor da condenação. O percentual, a unicidade de sua incidência e o praz de quinze dias são aspectos que não podem ser modificados pelo juiz. Entretanto, haverá situações em que o julgador, diante da situação concreta e do direito posto em causa, estará impelido a adequar a aplicação da multa” (A Multa no Cumprimento da Sentença e Outros Aspectos da Lei n.° 11.232/05, p. 22).

devidamente reconhecidas na sentença condenatória como sendo devidas ao credor devem, necessariamente, integrar a base de cálculo da multa.288

Ao elaborar a planilha de cálculos referida nos arts. 475-B e 614, II, do CPC, deverá o credor atentar exatamente para aquilo que foi objeto de condenação no título judicial que será executado. Eventuais excessos poderão ser alegados pelo devedor em sede de impugnação (art. 475-L, V, do CPC), a quem incumbirá indicar, desde logo o valor devido, sob pena de rejeição liminar da impugnação, se esta for a única alegação, ou da própria alegação, caso outras matérias sejam ventiladas na impugnação (art. 475-L, § 2°). Sem prejuízo, o credor ficará objetivamente responsável pelos prejuízos que a sua cobrança excessiva causar ao executado (art. 574, do CPC).

Desta forma, é possível concluir que a multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa incide sobre todas as verbas que integram o quantum debeatur passível de execução, caso a decisão não

288 DANIEL AMORIM ASSUMPÇÃO NEVES afirma que, segundo lhe parece, a redação do art. 475-J não

estaria completa, pois não foi indicado sobre qual valor deve incidir o percentual de dez por cento da multa pelo não cumprimento voluntário da sentença que condena ao pagamento de quantia certa. A conclusão do referido autor é a de que o valor total pretendido pelo credor é que deve servir de base de cálculo (Reforma do CPC..., cit., p. 218). A lacuna apontada pelo referido autor, entretanto, data maxima venia, não parece estar presente. Com efeito, a norma determina que, não havendo pagamento da quantia certa à qual foi condenado o devedor, “o montante da condenação será acrescido de multa”. O valor total que foi atribuído ao credor por conta do título executivo judicial que embasa o cumprimento de sentença é que é a base de cálculo para os dez por cento da multa. Nesse mesmo sentido: LUIZ RODRIGUES

WAMBIER,TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER eJOSÉ MIGUEL GARCIA MEDINA, Breves comentários...

cit., p. 143; e HUMBERTO THEODORO JÚNIOR. As novas reformas..., cit., p. 143. Assim, o “valor

pretendido pelo credor” não parece ser o parâmetro mais correto uma vez que este pode pretender receber valor superior àquele retratado no título executivo judicial.

tenha sido cumprida ou tenha sido cumprida intempestivamente.289 O cálculo apresentado pelo credor serve apenas para fins de apuração deste

quantum debeatur. A multa do cumprimento de sentença para pagamento

de quantia certa só incide legitimamente em relação às verbas abrangidas na condenação e não sobre o valor pretendido pelo credor.

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 171-177)