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Os títulos executivos parajudiciais e a multa do

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 194-199)

Parte II – Parte Especial

2. Os títulos executivos parajudiciais e a multa do

A alteração do rol dos títulos judiciais não repercutiu somente na exclusividade da sentença condenatória, dentre as demais modalidades de provimento cognitivo, para figurar como título executivo judicial.318 A

318 O referido dispositivo legal, que revogou o art. 584 do Código de Processo Civil, tem a seguinte

doutrina costuma se referir a estes títulos executivos como parajudiciais ou

mistos ou impróprios. Não é a sua classificação propriamente dita que

importa, mas sim os efeitos jurídicos destes títulos em relação à multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa.

A sentença penal condenatória transitada em julgado tem como um dos seus efeitos “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” (art. 91, I, do Código Penal). Todavia, a obrigação indenizatória dali decorrente será ilíquida,319 o que impede a incidência imediata da multa do art. 475-J, do CPC, logo após a formação deste título. Após a liquidação, entretanto, parece perfeitamente possível a incidência da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa tendo em vista o

reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia; II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo; IV – a sentença arbitral; V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente; VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal”.

319 Sobre a impossibilidade de incidência da multa quando não há liquidez da obrigação de pagar quantia

certa retratada no título executivo, ver Cap. XIII, item 1, infra. Neste sentido, BRUNO BURINI esclarece

que “se a sentença penal condenatória fixa o an debeatur, resta ainda indispensável a verificação do quantum debeatur feita por meio de liquidação de sentença (rectius, liquidação da obrigação) que, de acordo com a reforma do Código de Processo Civil, ficou a cardo dos arts. 475-A a 475-H. Afinal, tal sentença é título hábil a viabilizar a tutela executiva desde que a obrigação declarada seja líquida ou a partir do momento em que se torna ilíquida. E a sentença penal condenatória, de regra, não é revestida desta liquidez. O contrário acarretaria transgressão ao sistema de coordenação da esfera civil e penal vigente no Brasil. A sentença penal condenatória é tratada pelo Código de Processo Civil como se fosse uma sentença genérica, criando um juízo hipotético ou de grande probabilidade de que realmente ocorreu um dano quantificável originado de um ato ilícito reconhecido diante da condenação penal do acusado. Seu momento declaratório e sua fundamentação contém o an debeatur, que precisa ser integrado mediante o acréscimo da declaração de existência de crédito e de sua quantificação” (Efeitos Civis da Sentença Penal, p. 114).

efeito claramente condenatório da sentença penal em relação à obrigação civil.320

A sentença que homologa transação ou conciliação, não obstante a divergência doutrinária existente a respeito da matéria, pode vir a preencher todos os requisitos de uma verdadeira decisão de mérito, especialmente quando a matéria transacionada versar especificamente sobre a pretensão deduzida em juízo.321 Nesta hipótese, havendo a determinação de pagamento de quantia certa, é perfeitamente possível a incidência da multa do art. 475-J, do CPC, uma vez que o acordo das partes foi chancelado pelo Poder Judiciário que lhe atribui imperatividade, substituindo sua vontade pela ordem judicial, a fim de eliminar o litígio sobre o qual versava o feito.

Todavia, quando a transação versa sobre matéria não posta em juízo, ou quando se tratar de acordo extrajudicial homologado judicialmente, não

320 Neste sentido, ARAKEN DE ASSIS esclarece que “embora o art. 91, I, do Código Penal utilize a locução

‘tornar certa’, resevada à declaração, em verdade previu efeito condenatório, que reponta, de modo claro e indiscutível, na formação de título executivo (art. 63 do Cód. de Proc. Penal e art. 584, II, do Cód. de Proc. Civil). Não se outorgou efeito executivo à simples ‘declaração’. Tampouco parece totalmente exata a assertiva de que, desprovida da obrigação expressa ‘de o condenado reparar o dano’, o ato decisório penal se completaria por força dos ‘mandamentos legais’. O efeito anexo se basta em si mesmo para produzir o título. Ele nada ostenta de imperfeito ou truncado. ...<omissis>... Não se trata, percebeu Barbosa Moreira, de pronunciamento explícito ou de condenação implícita. A explicitude requerida se limita à eficácia condenatória anexa: porque anexa, dispensa qualquer resolução judicial; e, por decorrência da própria anexação, é explicitada em lei” (Eficácial Civil da Sentença Penal, pp. 92-93).

321 BERENICE SOBHIE NOGUEIRA MAGRI afirma, neste exato sentido, que “quanto à transação, não

obstante a divergência doutrinária sobre o tema, adotamos a seguinte posição: c-1) a sentença homologatória da transação que tenha apreciado o mérito, acolhendo ou rejeitando o pedido, será rescindida, invalidando a transação, mediante ação rescisória, porque a decisão extinguiu o processo com julgamento do mérito, operando a coisa julgada material; c-2) de outra parte, se a sentença for simplesmente homologatória (‘meramente homologatória’) da transação, sem apreciar o mérito, nem acolher ou rejeitar o pedido, contra esse ato de transação inválido caberá ação anulatória do art. 486 do CPC, esvaziando-se, por conseqüência, a sentença ‘meramente homologatória’; c-3) também cabível será a ação anulatória enquanto estiver pendente o processo, caso em que, havendo transação inválida, essa ação poderá ser proposta no processo pendente, suspendendo-se o seu julgamento, nos termos do art. 265, inc. IV, a, do CPC” (Ação Anulatória: art. 486 do CPC, p. 232/233).

há comando jurisdicional a impor o cumprimento das obrigações ali contidas, mas sim a mera atestação de que foram preenchidos os requisitos necessários para a celebração da avença. Desta forma, eventual descumprimento das obrigações ali estampadas, mesmo que sejam para pagamento de quantia certa, não ultrapassarão a esfera do direito material das partes, vale dizer, não representaram uma afronta à autoridade do Estado-juiz, razão pela qual não incidirá a multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa.

A sentença arbitral, quando condenar ao pagamento de quantia certa, também enseja a aplicação da multa do cumprimento de sentença, caso não seja cumprida no prazo de 15 dias, observados os demais requisitos já apontados. Referida sentença produz entre as partes os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário,322 dentre eles a multa pelo não cumprimento voluntário de seu comando que determine o cumprimento de uma obrigação pecuniária. Não se trata, no presente caso, de interpretação extensiva, mas sim de interpretação literal e sistemática da normas legais que regem a matéria (art. 31, da lei n.° 9.307/96 e art. 475-J, do CPC).

A homologação de sentença estrangeira, seja ela judicial seja ela arbitral, ensejará a aplicação da multa do art. 475-J, do CPC, se ela contiver

ordem para pagamento de quantia certa que não for cumprida pelo devedor no prazo de 15 dias, previsto no referido dispositivo legal. Apesar de se falar em “homologação” de sentença estrangeira arbitral ou judicial, não se pode perder de vista que o exequatur é a determinação proferida no âmbito do regular exercício da atividade jurisdicional para cumprimento do

decisum estrangeiro.323 Não se trata, portanto, de apenar o devedor pelo

descumprimento de comando judicial proveniente de autoridade estrangeira, mas sim de afrontar o comando proferido pelo Poder Judiciário brasileiro que determinou o cumprimento daquela decisão.

No caso do formal e certidão de partilha, entretanto, já não é possível falar em aplicação da multa do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa uma vez que não há propriamente condenação ao pagamento de qualquer quantia, mas sim mera resolução a respeito da divisão dos bens inventariados.

323 Conforme esclarece BARBOSA MOREIRA, “na conformidade do art. 484, segunda parte, do Código de

Processo Civil, a execução da sentença estrangeira ‘obedecerá às regras estabelecidas para a execução da sentença nacional da mesma natureza’. A execução, no sentido estrito que ora lhe atribui o art. 475-I, caput, introduzido pela Lei n° 11.232, cinge-se aos casos de ‘obrigação por quantia certa’. Incidem, destarte, os arts. 475-J e seguintes, com a peculiaridade, a que já se aludiu, de incluir-se no mandado inicial a ordem de citação do devedor (art. 475-N, parágrafo único, combinado com o inciso VI). Reitere- se que aqui, diversamente do que passou a acontecer em regra, a execução não constitui mero prosseguimento do mesmo processo em que proferida a decisão exeqüenda, senão que se efetua em outro” (Breves observações sobre a execução de sentença estrangeira à luz das recentes reformas do CPC, p. 364).

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 194-199)