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Formas especiais de extinção da obrigação

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 77-94)

A partir do vencimento da obrigação, surge para o credor a pretensão de cobrança do valor que deve ser-lhe entregue pelo devedor. Todavia,

111 Segundo WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, “nas obrigações de resultado, obriga-se o devedor a

realizar um fato determinado, adstringe-se a alcançar certo objetivo. Por exemplo, no contrato de transporte, obriga-se o transportador a conduzir o passageiro, são e salvo, do ponto de embarque ao ponto de destino. Nas obrigações de meio, o devedor obriga-se a empregar diligência, a conduzir-se com prudência, para atingir a meta colimada pelo ato. Dessa índole, é exemplificativamente, obrigação assumida pelo médico, que se compromete a cuidar do enfermo; da mesma natureza, obrigação do advogado a quem se confia o patrocínio de uma causa. Por outras palavras, nas primeiras exige-se um resultado útil para o credor; a obrigação não se tem por adimplida enquanto não se atinge o objetivo colimado. Nas segundas, o devedor somente se obriga a usar de prudência ou diligências normas para chegar àquele resultado. Na primeira hipótese, a simples verificação material do inadimplemento basta para determinar a responsabilidade do devedor; na segunda, verificada a inexecução, cumpre examinar o procedimento do obrigado para averiguar se deve ou não ser responsabilizado” (Curso de Direito Civil: Direito das Obrigações, p. 56).

como já se disse,112 não se pode conceber que o devedor fique para sempre vinculado à prestação, de forma que, ou ele cumpre a obrigação voluntariamente, ou o credor utiliza os meios legais para a satisfação coercitiva de seu interesse pecuniário.

Acontece que a lei estipula um prazo para que o credor possa exercer essa pretensão, sob pena de extinção (dormientibus non sucurrit jus). O decurso do prazo previsto na lei para o exercício de um direito recebe o nome, conforme o caso, de prescrição ou decadência.113 Dentre as

112 Ver Cap. III, supra.

113 Muito se discute na doutrina a respeito de qual seria o critério adequado para distinguir prescrição de

decadência. JOÃO BAPTISTA MONTEIRO, esclarece que “apesar da resistência inicial por parte da doutrina

e da jurisprudência em aceitar o instituto da decadência como sendo diferente do da prescrição, é hoje em dia opinião quase unânime a que reconhece a diferenciação entre duas figuras, as quais acabaram por obter consagração legal, com regimes jurídicos diferentes, nos Códigos de muitos países. A relutância daqueles que não admitiam a separação dos dois institutos residia no fato de se ter em vista que, por ambos, se extingue o direito, não havendo, então, motivo para que sejam submetidos a regimes diferentes. A realidade, no entanto, demonstrou que, apesar das dificuldades encontradas, na sua diferenciação, a prescrição e a decadência são diferentes (Análise da teoria geral da prescrição considerando-se o fato, de direito positivo (Direito brasileiro), de que a ação é definida como direito abstrato, p. 118-119). Demonstra o referido autor que a prescrição não atinge necessariamente a ação, ao contrário do que

afirma grande parte da doutrina (SÍLVIO DE SALVO VENOSA, Direito Civil: parte geral, p. 576; RENAN

LOTUFO, Curso Avançado de Direito Civil (parte geral), p. 325-332) “(...) O exercício do direito de ação

não interfere no exercício do direito material. A ação poderia até, se isso fosse possível, prescrever, sem que se pudesse falar de inércia, nem real nem presumida, do titular do direito material, pois não há como saber se, através do direito de ação, o que acontece com o direito material, precisamente por serem autônomos e desvinculados um do outro. Em conseqüência da posição assumida pelo Código de Processo Civil, não cabe, atualmente, falar-se em prescrição ‘da ação’, como instituto que abrangeria, em si, a prescrição do direito. Este pode prescrever, autonomamente, pelo seu não exercício sem qualquer possibilidade de, nesse exercício, se incluir a idéia de ação.” (Análise... cit., p. 125-126).

Embora os seus efeitos práticos sejam os mesmos (extinção do direito), a distinção é válida na medida em que os regimes jurídicos destes institutos apresentam relevantes distinções. Apenas para exemplificar algumas destas diferenças, vale a pena mencionar, por exemplo, que o prazo de caducidade (= decadência) não se interrompe nem se suspende, bem como não se aplicam a ela as causas que interrompem a prescrição (art. 207, do CC). Da mesma forma, a decadência é irrenunciável, quando fixada em lei (art. 209, do CC), ao passo que a prescrição pode ser objeto de renúncia expressa ou tácita (art. 191, do CC). A respeito deste último aspecto da prescrição, surgiu sério questionamento a respeito da possibilidade de sua renúncia após o advento da lei n.° 11.280, de 16 de fevereiro de 2006, que, alterando a redação do art. 219, § 5°, do CPC, passou a determinar que a prescrição deve ser sempre reconhecida de ofício, e não somente quando estiverem em discussão direitos não patrimoniais, como era no regime

antigo. ARRUDA ALVIM demonstra com, entretanto, clareza que a nova redação do artigo 219, § 5°, do

CPC, deve deixar espaço para aplicação do art. 191, do CC, que não foi expressamente revogado pela lei n.° 11.280/06, como ocorreu com o art. 194, do CC. Assevera o referido autor que parece não existir um “genuíno interesse público” que explique porque o reconhecimento da prescrição deveria deixar de estar condicionada à alegação da parte a quem aproveita, quando se tratar de direitos patrimoniais,

principais razões pelas quais o ordenamento jurídico limita no tempo a possibilidade do exercício de uma pretensão está a segurança jurídica.

Não se pode obrigar o devedor a guardar eternamente as quitações e demais comprovantes de cumprimento de todas as suas obrigações para se resguardar do eventual e intempestivo exercício irregular de uma pretensão de cobrança. Da mesma forma, mesmo não tendo sido adimplido um crédito, o decurso de considerável lapso temporal cria a legítima expectativa de que ele não será mais cobrado, chancelando, assim, o ordenamento jurídico esta situação que já se consolidou no tempo.

Tratando-se de prescrição ou decadência (não importa no momento a distinção destes dois institutos), a verdade é que o decurso do prazo previsto na lei para o exercício de uma determinada pretensão acarreta a sua extinção e, portanto, do vínculo obrigacional a ela subjacente.

ii. Pagamento em consignação

O pagamento em consignação não é, propriamente dito, uma forma especial de extinção das obrigações, mas sim meio especial pelo qual o

especialmente quando esta quiser, por exemplo, provar que pagou o débito, mesmo já estando prescrita a pretensão do credor no momento da cobrança judicial da dívida (Lei 11.280, de 16 de fevereiro de 2006 (análise dos arts. 112, 114 e 305, do Código de Processo Civil) (análise do § 5°, do art. 219, do Código de Processo Civil, PP. 64-66).

devedor pode forçar o credor a receber aquilo que lhe é devido. Com efeito, o cumprimento das obrigações, especialmente aquelas que têm por objeto prestações positivas,114 no mais das vezes, não depende exclusivamente do devedor. A conduta do credor pode ser fundamental para o fim de viabilizar ao devedor os meios necessários ao regular adimplemento.

No caso específico da obrigação de pagar quantia certa, que tem sido o foco da análise ora realizada sobre o regime das obrigações, a indicação da instituição bancária e dos dados de identificação da conta corrente e da agência de titularidade do credor é conduta indispensável ao cumprimento da obrigação, quando este tiver de ser realizado mediante depósito bancário, por exemplo.

Não obstante, não pode o devedor ficar à mercê do credor para que possa se desonerar do vínculo obrigacional. Realmente, o devedor tem o

direito de adimplir a sua obrigação e se ver livre do vínculo. Por esta razão

é que a lei115 prevê a possibilidade de o devedor efetuar o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, considerando-se tal conduta como pagamento, o que, consequentemente, acarreta a extinção da dívida.

114 Segundo ORLANDO GOMES, “são positivas as prestações consistentes em um ou vários atos do

devedor. Subdividem-se em prestações de coisas e prestações de fatos. Constituem objeto, respectivamente, das obrigações de dar e de fazer” (Obrigações, p. 47).

Desta forma, a recusa injustificada do credor ou a sua impossibilidade de recebimento da prestação ou de dar quitação, o fato de o ele não mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidos, nos casos em que a obrigação é quesível, quando ele for desconhecido, incapaz, ausente ou residir em local incerto ou de acesso difícil ou perigoso, quando houver dúvida sobre quem é o legítimo credor ou quando pender litígio sobre a coisa devida são motivos previstos na lei116 que justificam o pagamento por consignação.

Para que se proceda ao pagamento por consignação, a legislação processual prevê a possibilidade de atuação judicial ou extrajudicial por parte do devedor para se desonerar da obrigação que, por qualquer um dos motivos acima expostos, não pôde ser cumprida na forma originariamente avençada.117

iii. Pagamento com sub-rogação

Outra modalidade de adimplemento é o pagamento com sub-rogação, que tem lugar quando um terceiro cumpre a obrigação no lugar do devedor originário, extinguindo-a, portanto, para o credor, e adquirindo,

116 Art. 335, do CC.

consequentemente, as prerrogativas que este detinha em relação ao devedor originário e aos fiadores.118

A lei prevê hipóteses em que o pagamento com sub-rogação dá-se de pleno direito119 e hipóteses em que ele pode ser livremente acertado entre as partes.120 A relevância da distinção transcende o aspecto didático, na medida em que o regime jurídico de cada uma destas modalidades é distinto relativamente aos seus efeitos, que são mais restritos no primeiro caso.

Como se pode ver, o pagamento com sub-rogação não gera uma efetiva extinção do vínculo obrigacional propriamente dito, mas sim a alteração do pólo ativo da relação obrigacional. Não obstante, não há dúvidas que, em relação ao credor originário, o adimplemento da obrigação, ainda que por terceiro, acarreta a extinção da obrigação.

iv. Imputação do pagamento

A imputação do pagamento é a faculdade que a lei concede ao devedor de mais de um débito vencido e líquido para com o mesmo credor

118 O art. 349, do CC, determina expressamente que, operada a sub-rogação, o novo credor adquire todos

os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo em relação à dívida.

119 Art. 346, do CC. 120 Art. 347, do CC.

de indicar a qual deles deve-se considerar que o pagamento foi feito, quando este for insuficiente para saldar todas as dívidas.

Na verdade, a imputação do pagamento assume para o devedor a natureza de ônus jurídico,121 uma vez que o seu não exercício impossibilita o posterior questionamento deste em relação à imputação que vier a ser feita pelo credor, salvo se ele provar que foi realizada mediante violência ou dolo. O silêncio do devedor e do credor a respeito da imputação do pagamento tem como conseqüência a sua incidência nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar e, dentre estas, naquela que for mais onerosa.122

Mesmo quando existe um único débito, há lugar para a imputação do pagamento que se fará, salvo convenção expressa em contrário, nos juros vencidos e depois no capital. Se o credor passar a quitação por conta do capital, considera-se que nele incidiu a imputação.

v. Dação em pagamento

A lei proíbe expressamente que se obrigue o credor a receber prestação diversa daquela que lhe é devida em razão da lei ou do contrato, pouco importando que a prestação oferecida pelo devedor seja mais valiosa

121 Ver Cap. III, item i, supra. 122 Art. 355, do CC.

que a prestação originária.123 Consagra o ordenamento jurídico, portanto, o princípio do aluid pro alio.124

Sem prejuízo da proibição legal expressa, pode o credor consentir que o devedor entregue uma coisa no lugar da prestação devida, caso em que a relação obrigacional passa a ser regulada pelas disposições atinentes à compra e venda,125 salvo se a coisa dada for título de crédito, hipótese na qual as normas aplicáveis serão aquelas que regulam o instituto da cessão.126 A esse fenômeno dá-se o nome de dação em pagamento.

É fundamental para a dação em pagamento, portanto, o consentimento do credor, não bastando que simplesmente aceite a coisa,

123 Art. 313, do CC.

124 Sobre a necessidade de o adimplemento corresponder exatamente àquilo que foi prometido, LUIZ

DÍEZ-PICAZO eANTONIO GULLON afirmam que “para que el pago sea plenamente regular y liberatorio es

necesario que la prestación efectuada coincida con la prometida. Ello exige una confrontación entre lo pagado y lo que se prometió de la que resulte su conformidad, que puede ser expresa o deducirse de la realización y aceptación de la prestación, sin reserva ni protesta, por lo menos em aquellos casos en que su carácter defectuoso sea aparente o manifesto. La exactitude de la prestación puede descomponerse en dos factores distintos, a los cuales la doctrina llama identidad del pago. El principio de la identidad del pago se recoge en el artículo 1.166, que determina que «el deudor de una cosa no puede obligar a su acreedor a que reciba outra diferentre, aun cuando fuere de igual o mayor valor que la debida. Tampoco en las obligaciones de hacer podrá ser sustituido um hecho por otro contra la voluntad del acreedor». El principio de la integridad del pago se encuentra en el artículo 1.169, que preceptúa que «a menos que el contrato expresamente lo autorice (o los usos: art. 1.258), no podrá compelerse al acreedor a recibir parcialmente las prestaciones en que consista la obligación.” (Sistema de Derecho Civil, p. 184).

WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, por sua vez, esclarece bem a questão: “Em primeiro lugar, o credor

de coisa certa não pode ser obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa. É a velha máxima nemo aliud pro alio invito creditore solvere potest (Dig. Liv. 2, §1º De rebus creditis), e que em nosso Código Civil de 2002 encontra agasalho no art. 313, bem como no art. 92 do malogrado Projeto do Código das Obrigações, de autoria do Prof. ORLANDO GOMES. O devedor não pode realmente liberar-se mediante entrega de coisa diversa da ajustada, porque não lhe é lícito, unilateralmente, modificar o objeto da prestação. O verdadeiro adimplemento é específico, sem possibilidade de prestações diferentes, salvo anuência do credor. (...) A recíproca também é verdadeira: o credor não pode exigir coisa diferente, ainda que menos valiosa” (Curso de Direito Civil: Direito das Obrigações, p. 61-62).

125 Art. 357, do CC. 126 Art. 358, do CC.

mas sim que ele a aceite em pagamento, vale dizer, em substituição da prestação que lhe era originariamente devida.127

Preenchidos os requisitos legais para que ela ocorra, não há dúvida que a dação em pagamento acarreta a extinção do vínculo obrigacional, mesmo que a coisa dada em substituição da prestação original seja menos valiosa que esta, desde que o credor consinta com tal situação. Não obstante, a lei resguarda o credor do risco da evicção que, se verificada, tem como conseqüente a imediata restituição da obrigação primitiva, ficando sem efeito a dação, resguardados, entretanto, eventuais direitos de terceiros.

vi. Novação

A novação é uma genuína forma especial de extinção da obrigação na medida em que ela não enseja algum tipo de satisfação do credor em relação ao seu crédito. Com efeito, consiste a novação na criação de uma nova obrigação com a função específica de substituir aquela que existia originalmente. Ou seja, cria-se para o credor um novo direito de crédito.

Para que haja a novação, é necessário que a obrigação criada seja efetivamente diversa da originária. Assim, meras alterações em algumas das características da obrigação originária, como alteração prazo de pagamento ou local de cumprimento da obrigação, não caracterizam novação.

Exige-se, normalmente, a conjugação de três elementos para a configuração da novação, quais sejam, (i) a existência de obrigação entre as partes (obligatio novanda), (ii) a constituição de uma nova obrigação, diversa da originária (aliquid novi) e (iii) a intenção das partes de extinguir a obrigação originária com a constituição da nova obrigação (animus

novandi).128

Os principais aspectos da novação parecem mesmo ser a distinção da obrigação nova em relação à obrigação originária e o animus novandi. Como já se disse, meras alterações nas características da obrigação já existente não pode ser considerada novação, além do que é necessário que a criação da nova obrigação tenha sido efetivada com o intuito específico de

128 Segundo ORLANDO GOMES, “para haver novação, é indispensável a conjunção dos seguintes

elementos: a) existência jurídica de uma obrigação – obligatio novanda; b) constituição de nova

obrigação – aliquid novi; c) animus novandi.” (Obrigações, p. 166-167). RUI GERALDO CAMARGO

VIANA, em famosa obra monográfica sobre o tema, esclarece, em relação à novação, que “seus elementos

essenciais podem, ainda, ser reduzidos a três: obligatio novanda, aliquid novi e animus novandi” (A Novação, p. 83). No mesmo sentido, WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO: “para que se dê novação

exigem-se os seguintes requisitos: a) existência de obrigação anterior, que se extingue com a constituição de nova, que a substitui (obligatio novanda); b) criação dessa nova obrigação, em substituição à anterior, que se extingue (aliquid novi); c) intenção de novar (animus novandi)” (Curso de Direito Civil: Direito das Obrigações, p. 293).

extinguir aquela já existente, sob pena de permanecerem as duas válidas e exigíveis perante o devedor.

Via de regra a novação é objetiva, vale dizer, constitui-se um novo vínculo obrigacional entre as mesmas partes para substituir aquele já existente. Nada impede, entretanto, que a novação seja subjetiva, ou seja, quando a substituição não é do vínculo propriamente dito, mas sim de um dos pólos da relação jurídica obrigacional (ativo ou passivo).

As complexidades do instituto da novação, especialmente no que diz respeito aos seus efeitos, são tema que transbordam os limites deste estudo.129 O que não se pode perder de vista é que a principal característica da novação é sua aptidão de extinguir a obrigação originariamente existente entre credor e devedor.

vii. Compensação

Quando um devedor possui vários créditos em relação ao mesmo credor, pode se dar a figura da imputação do pagamento.130 Pode ocorrer, todavia, que as partes sejam reciprocamente credoras umas das outras de

129 Ver, contudo, sobre o tema, a exaustiva obra de RUI GERALDO CAMARGO VIANA, A Novação, passim.

Ainda sobre o tema, WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, Curso de Direito Civil: Direito das

Obrigações, p. 291 e segs. e ORLANDO GOMES, Obrigações, pp. 170-171.

débitos da mesma natureza que sejam líquidos e já se encontrem vencidos. Neste caso, o fenômeno jurídico que se verifica é o da compensação, que é a extinção das obrigações existentes entre sujeitos de direito que sejam, ao mesmo tempo, credores e devedores recíprocos de dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis, como exige a lei (arts. 368 e 369, do CC).

A equivalência do valor destas obrigações que se encontram em plenas condições de adimplemento pelos seus devedores que também são credores de seus credores faz com que estas se anulem até onde os seus montantes corresponderem evitando, assim, a transferência inútil de bens do patrimônio das partes. Pode a compensação, desta forma, ser parcial ou total, sendo absolutamente irrelevante para o ordenamento jurídico o fato de elas derivarem de causas completamente distintas, salvo os casos de serem provenientes de atos ilícitos (esbulho, furto ou roubo), de comodato, depósito ou alimentos, ou quando a coisa devida em uma das obrigações não suscetível de penhora.131

Costuma-se afirmar que a compensação pode ser legal, judicial ou voluntária, conforme decorra de comando legal expresso que a determine, de ordem judicial ou derive de ato de vontade das partes. A distinção, embora seja necessária para fins de identificação dos requisitos e pressupostos exigidos para a sua verificação, é irrelevante em relação ao

seu principal efeito, que é o de extinguir as obrigações recíprocas até onde estas se compensarem liberando os seus respectivos devedores dos vínculos obrigacionais.

O âmbito mais comum de verificação da compensação, embora não seja o único, é o das obrigações pecuniárias, uma vez que nestes casos a fungibilidade do bem é patente e a liquidez é mais fácil de ser aferida.

viii. Confusão

A possibilidade de alteração dos pólos subjetivos da relação obrigacional, especialmente nos casos em que essa alteração é possível mediante a simples tradição do título no qual a obrigação está retratada, pode acabar colocando o mesmo sujeito de direitos na condição de credor e devedor de uma mesma obrigação, caso em que a necessidade de extinção deste vínculo é intuitiva. A essa forma de extinção da obrigação dá-se o nome de confusão.

A titularidade do crédito pelo seu próprio devedor pode ser mediante transmissão inter vivos ou causa mortis (a título singular ou universal), podendo abranger, ainda, a totalidade ou a parcialidade do débito.

Apesar de não se poder afirmar que houve efetiva satisfação dos interesses do credor ou mesmo prestação do ato ou fato a que estava obrigado o devedor, não há dúvida de que a confusão é uma forma de

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 77-94)