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Procedimento inicial do cumprimento de sentença para pagamento

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 122-128)

Parte II – Parte Especial

1. Procedimento inicial do cumprimento de sentença para pagamento

Com a condenação do devedor ao pagamento de determinada quantia, tem início o prazo de 15 dias para que ele cumpra

‘sentenças executivas lato sensu’. Afastando qualquer questionamento que poderia ser levantado sobre a possibilidade da subsistência do processo autônomo para a execução fundada em título executivo judicial onde conste obrigação de entrega de coisa, a lei n. 10.444/02 alterou a redação do artigo 621, do Código de Processo Civil, substituindo a expressão ‘quem for condenado a entregar coisa certa’ por ‘o devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extrajudicial’” (VITOR J. DE MELLO

MONTEIRO, As Novas Reformas...cit., pp. 1-2).

200 Art. 475-M, caput, do CPC, inserido pela lei n.° 11.232/05. Vale a pena notar, todavia, que, com o

advento da lei n.° 11.382/06, também os embargos à execução lastreada em título extrajudicial deixaram de ter efeito suspensivo obrigatório (art. 739-A, do CPC). Não obstante, em ambos os casos, o efeito suspensivo poderá ser atribuído, caso haja relevância da fundamentação e manifesto perigo de dano em razão do prosseguimento da execução (arts. 475-M, caput, e 739-A, § 1°, do CPC). No caso de execução de título extrajudicial, também se exige garantia suficiente do juízo. Sobre o tema, ver MARICÍ GIANNICO

e VITOR JOSÉ DE MELLO MONTEIRO, O Novo Regime Jurídico dos Embargos à Execução de Título

espontaneamente o comando contido naquela decisão judicial. Decorrido este tempus iudicati sem que o devedor tenha providenciado tal cumprimento, incide imediatamente a multa de 10% sobre o montante do valor devido.

Após o decurso do prazo e a incidência automática da multa, o processo permanece inerte aguardando o exercício de direito de ação por parte do credor (art. 475-J, §1°, do CPC). Se o credor não apresenta o requerimento que dá início ao cumprimento de sentença no prazo de 6 meses, os autos são remetidos ao arquivo. Isto não significa que o credor ficou impossibilitado de executar a sentença. Com efeito, a pretensão somente se extingue com a prescrição201

e esta, quando se trata de pretensão executiva, obedece exatamente os mesmos prazos fixados em lei para a pretensão de direito material.202

Para diligenciar no sentido de buscar em juízo a satisfação do direito que lhe foi reconhecido deve o credor, primeiramente, providenciar a liquidação do valor do seu crédito, de forma a tornar possível aferir adequadamente qual é o montante do seu crédito. A lei prevê três formas de liquidação da obrigação, quais sejam, por cálculos aritméticos, por

201 Conforme determina o art. 189, do CC.

202 É pacífico o entendimento jurisprudencial neste sentido que, inclusive, já se encontra, há muito tempo,

devidamente consolidado no Enunciado n.° 150, da súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, cujos termos são os seguintes: “prescreve a execução no mesmo prazo da prescrição da ação”. Desta forma, se, por exemplo, a obrigação de pagar quantia certa retratada na sentença for oriunda de uma reparação civil, o requerimento do cumprimento de sentença deverá se dar no prazo máximo de 3 anos, sob pena de extinção por prescrição, conforme determina o art. 206, § 3°, V, do CC.

arbitramento ou por artigos,203

embora haja uma certa disceptação no que diz respeito à classificação dos cálculos aritméticos como uma forma efetiva de liquidação da sentença.204

Se a liquidação depende apenas da realização de cálculos aritméticos, deve o credor providenciar a elaboração de memória discriminada do cálculo do valor total daquilo que entende devido, considerando, inclusive, o valor da multa de 10% pelo não cumprimento da decisão durante o decurso do tempus iudicati.

Pronta a memória de cálculo, deve o credor apresentar em juízo o requerimento a que se refere o caput do art. 475-J, do CPC, que dará início ao cumprimento de sentença e que deverá estar instruído com a referida memória (arts. 475-B, 475-J, caput, e 614, II, do CPC). O requerimento inicial do cumprimento de sentença e bastante semelhante à antiga petição inicial da execução, quando esta era realizada em processo autônomo.205

A

203 Sobre a liquidação de sentença, vale a pena conferir a obra monográfica de LUIZ RODRIGUES

WAMBIER, Sentença Civil: Liquidação e Cumprimento, especialmente PP. 74-267.

204 LUIZ RODRIGUES WAMBIER, Sentença Civil: Liquidação e Cumprimento, p. 111.TEORI ALBINO

ZAVASCKI esclarece que, quando a determinação do valor da sentença depender apenas de cálculos

aritméticos, dispensa-se a ação liquidatória, cabendo ao credor simplesmente elaborar memória discriminada e atualizada do cálculo e instruir a inicial com ela (Processo de Execução...cit.,p. 412).

205 Arremata bem a questão da natureza do requerimento do cumprimento de sentença ARRUDA ALVIM ao

esclarecer que “... o que é preciso ter presente é que, parecendo terem sido esses os objetivos da Lei 11.232, na realidade, essa lei não rompeu com as diferenças essenciais que sempre existiram, e, subsistem – mesmo porque essas diferenças decorrem da natureza das coisas – entre o processo de conhecimento e o de execução (ou, da fase de cumprimento de sentença). Como, ainda, quando a Lei 11.232 utiliza-se da palavra requerimento, estamos, em realidade, diante de um pedido, informado pelo princípio dispositivo, tal como o pedido no processo de conhecimento; e, mais ainda, esses pedidos são diferentes, o que foi feito no processo de conhecimento e o da fase de cumprimento da sentença de procedência. Essa continuidade, ou, pretensa continuidade entre a fase de conhecimento e a de execução, não elimina as diferenças essenciais eu sempre existiram na distinção entre o conhecimento e a execução. De certa forma, essa lei procura minimizar tais diferenças, e, aparentemente, ou melhor apenas aparentemente, teria rompido com a tradição européia e a do direito luso-brasileiro” (Cumprimento de sentença condenatória por quantia certa – Lei 11.232, de 22.12.2005 – anotações de uma primeira impressão, p. 286). Neste mesmo sentido, ARAKEN DE ASSIS:“Se o texto almejou descaracterizar o rigor formal da

diferença básica é que o pedido não é mais de citação do executado para pagar ou nomear bens à penhora, mas sim de expedição de mandado de penhora e avaliação. Com efeito, o executado já teve a oportunidade de cumprir espontaneamente o comando judicial durante o decurso do tempus

iudicati, razão pela qual não teria sentido citá-lo em execução para o fim de

lhe dar nova possibilidade de pagamento da dívida.

Lavrado o auto de penhora e de avaliação, o executado é intimado206

, na pessoa de seu advogado para apresentar impugnação, nos termos do disposto nos arts. 475-L e 475-M, do CPC, momento a partir do qual o cumprimento de sentença passa a ser regulado pelas mesmas normas que disciplinam a execução de título extrajudicial, consideradas, obviamente, as peculiaridades deste procedimento, a teor do que determina o art. 475-R, do CPC.

Este é, portanto, o procedimento inicial do cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa, cuja compreensão parece ser pressuposto lógico para uma correta análise da essência e estrutura da multa pelo não

petição inicial, empregando palavra que timbra pela neutralidade – requerimento-, ficou no meio do caminho, não se livrando da forma escrita, e, de toda sorte, por força do art. 475-R, supre qualquer lacuna o art, 614, caput, que alude a ‘petição inicial’. A rigor, ‘requerimento’ como sinônimo de ‘petição inicial’ – até a apelação se interpõe por petição, segundo o art. 514, caput – destoa da terminologia usual na legislação codificada brasileira.” (Cumprimento de Sentença, p. 243). Em sentido contrário, entretanto, ver ERNANE FIDÉLIS DOS SANTOS, para quem “a passagem do procedimento para a fase executória depende de requerimento do credor, mas o pedido, não chegando a ser nova ação, senão condição de prosseguimento do processo, pode ser formulado sem maiores formalidades, inclusive pela própria parte, por simples petição ou por termo nos autos.” (As Reformas de 2005 e 2006 do Código de Processo Civil, p.58)

206 Intimação essa que, como já se demonstrou, é realizada com nítidos efeitos de citação. Ver Cap. VI,

cumprimento espontâneo desta modalidade de obrigação, quando consubstanciada em título executivo judicial.

VII- Da multa pelo não cumprimento de obrigação de pagar quantia certa retratada em decisão judicial

Após uma breve noção geral do que é a multa pelo não cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa,207 bem como a análise de quais são os principais requisitos para que se possa cogitar de sua incidência (condenação por decisão judicial208 ao pagamento de quantia certa209), foram analisadas as principais características do interstício processual no qual se pode cogitar a aplicação desta sanção.210

Ultrapassadas estas etapas, parece de fundamental importância, agora, distinguir a multa pelo não cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa dos demais fenômenos processuais que com ela se assemelham, mas que, no entanto, não se confundem. São as chamadas

figuras afins.

207 Ver Cap. I, supra, especialmente item 3. 208 Ver Cap. II, supra.

209 Ver Caps. III e IV, supra. 210 Ver Caps. V e VI

O ordenamento jurídico processual brasileiro é permeado de institutos destinados a sancionar aqueles que, de um modo geral, não adotam as condutas adequadas à boa administração da justiça. Os órgãos jurisdicionais, os membros do Ministério Público, os procuradores das pares e as próprias partes são passíveis de sofrerem sanções em razão de sua conduta processual. Não obstante, não há dúvida que o legislador concentra suas atenções, no que diz respeito a esta matéria, às partes.211

Existem sanções específicas para a conduta das partes no processo de conhecimento em geral (arts. 14, 16, 17 e 18, do CPC), nos recursos (arts. 17, VII, 538, parágrafo único, e 557, § 2°, do CPC), no processo de execução arts. 600 e 601, do CPC) e no processo cautelar (art. 811, do CPC, do CPC).

Estes exemplos são suficientes para demonstrar que uma análise apropriada da nova sanção prevista no ordenamento processual não pode

211 RUI STOCO confirma tal afirmação ao observar que “o implemento, obtenção e satisfação de uma

pretensão que seu titular entende legítima, mas resistida por outrem, se conseguem através do processo. Daí que todos os Códigos de Processo Civil dos países civilizados estabelecem sanções para reprimir a conduta temerária ou de má-fé do improbus litigator. Nosso Código não foge a essa regra, tanto que dá especial ênfase ao comportamento das partes em juízo, exigindo honestidade na condução da demanda, chegando a consagrar o princípio de que o litigante de má-fé deve indenizar os danos que a outra parte vier a suportar em razão do abuso do direito de estar em juízo” (Abuso do Direito e Má-Fé Processual, p. 79). Após esclarecer que a relação jurídica processual é formada pelas partes e pelo órgão jurisdicional, HELENA NAJJAR ABDO assevera que “os sujeitos do abuso do processo são, naturalmente, os sujeitos da relação jurídica processual. Ou melhor: os sujeitos de qualquer relação jurídica processual, não importando se tal relação insere-se em um processo de conhecimento, de execução ou mesmo se segue um procedimento de jurisdição voluntária” (O Abuso do Processo, p. 48). Por outro lado, FERNANDO

LUSO SOARES alerta para o fato de que os deveres gerais de verdade, lealdade, prontidão e utilidade

“respeitam a todos os que intervêm na instância, sejam juízes, litigantes, partes acessórias, mandatários forenses, funcionários judiciais ou auxiliares do processo” (A Responsabilidade Processual Civil, p. 165).

prescindir da distinção entre esta e as demais figuras afins. É o que se passa a fazer em seguida.

No documento Vitor Jose de Mello Monteiro (páginas 122-128)