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... O plantão (...), e atenção, soa para mim como (...) atitude: você está lá dando margem para que um atendimento aconteça (...) é dar margem para que a pessoa chegue até você independente de ela pedir (...) ou não. Atenção é assim a partir do momento que você está lá com esse olhar, com esse objetivo, com essa intenção, você já está em atenção...

... Para você ir compreendendo, você também pre­ cisa ir construindo um modo de se ver psicólogo, e aí tem muito a ver com o modo como você per­ cebe o outro e você mesmo... E acho importante também buscar... Coisas que falem desse jeito. Agora eu acho que ando muito mais no caminho de entender aquilo que eu faço primeiro, para de­

pois buscar uma teoria. Construir a minha expli­ cação (...) você vai vendo que vai ter umas horas que não vai encaixar, não vai encaixar, não vai en­ caixar... Puxa, então pára e pensa: “O que eu faço ali?” (...) Antes o que eu faria seria tentar pegar a teoria e colocar na prática, agora eu tento... quan­ do comecei a fazer isso, tive que ir,., da prática para a teoria... Teorizar aquilo que aconteceu.... ... A partir do momento em que eu fui falando da minha experiência, através dos trabalhos que eram feitos em faculdade, fui entendendo de ou­ tra forma...

114 0 Sentido da Prática Clínica para uma Clínica do Sentido: A Formação no Contexto da Atenção Psicológica em Instituições

A partir da cerzidura entre afetabilidade e significação, a teorização é reorientada, atuando mais como eixo de reflexão e referenciação do que de conceitualização rígida. Desse prisma, ela se refere à busca de contornos e ao desenvolvimento de uma crítica sobre a prática, em vez da afiguraçao precisa dos fatos ocorridos na relação terapêutica. A linguagem clínica situa-se como recurso para o pensar, apontando sentidos possíveis aos encon­ tros intersubjetivos, e as teorias não se configuram num estatuto de verdade, mas numa dimensão de produção humana - histórica, social, experiencial e contextualmente implicada. Essa orientação da teoria possibilita articulá-la mais integradamente à experiência, e ambas se afiguram como concepções enredadas no percurso de aprendizagem. O trânsito pela multiplicidade das experiências clínicas torna-se matéria-prima na consideração de várias esferas de relação: entre sensível e palavra, si mesmo e outros, teoria e prática, aprendizagem e pesquisa. Constitui, ainda, uma trama que cartografa a dinâmica dessas conexões e situa ação e teorização clínica num lugar, um tempo, uma situação social.

Nesse trajeto, ressalta-se a abertura cognitiva e sensível para apreender aquilo que no contexto interventivo se manifesta. Numa atenção para o “entre”, para a dimensão dialógica do encontro intersubjetivo, torna-se possível compreendê-lo clinicamente. O processo de aprendizagem mostra-se um movimento de desconstrução: partindo de pré-concepções, abre-se para sua ressignificação pelas vivências, nas quais o percebido ganha lugar. Doravante, essas percepções e vivências se constituem matéria-prima na articulação de significados, na aprendizagem, via teori­ zação, e na própria ação clínica. A aproximação teórica se

faz pela reflexão sobre a experiência, realocando o que se

situava distanciado. 1

Concebendo a fala como meio de articular sentidos * na elaboração da experiência, a reflexão teórica se afigura s como um novo movimento de ressignificação. A princípio, o espaço de diálogo sobre a experiência clínica é tido como espaço para “ouvir”, e vai se tornando espaço para relatar a 1 experiência e, por meio do outro, cerzir significações para * afetos e percepções. Nesse decorrer, as conexões e o trân- 1 sito por significados e sentidos são permeados pelo dimen- i sionamento da fala em múltiplas esferas - no relatar, no compreender, no refletir criando e favorecendo novos espaços de articulação teórico-prática. Compreender a teoria como via para percorrer reflexões permite abranger *' novas interlocuções, referenciando a prática por uma apro- f

priação teórica da experiência. j

Pela ressignificação dos espaços de articulação teórica e da referenciação, pela experiência, das articulações entre teoria e prática, é possível realocar tanto á esfera teórica em que se desenvolve a prática quanto as próprias leituras de * teorias. Os alunos, então, podem expressar uma compre- 1 ensão própria dos referenciais teóricos, em cuja perspectiva | desenvolvem sua prática, delineando a Atenção Psicológica ^ a partir da abertura para a afetabilidade na ação clínica, que possibilitará, no encontro com o outro, a constituição de * espaços intersubjetivos, próprios à rearticulaçao de signi- *'

ficados e à construção de sentido. [

Essa acepção da teoria como instrumento de cons- | trução de sentido ressignifica a perspectiva para a ação ^ clínica: resgatando a legitimidade do sensível, vai possibi­ litando aos estagiários ampliar os modos de interlocuçao I e compreensão da experiência entre sujeito e contexto, I entre as vivências na situação clínica e suas articulações } com outras esferas da existência — sociais, econômicas, j culturais -, entre questões subjetivas e institucionais. Por ^ um lado, as afetações sentidas, mais evidentes nas insti­ tuições, podem mostrar-se vias para a compreensão dos \ atores institucionais, e da relação que estabelecem com o ) espaço clínico oferecido. Por outro lado, essas apreensões \ possibilitam novos dimensionamentos e falas: a vivência j no âmbito das instituições é percebida como abertura do olhar, pela afetabilidade que ela provoca e que, se permeia a clínica, torna-se num enredar que clama por elaboração de sentido, nessa conjuntura específica.

Por meio dessa ampliação de perspectiva, os alunos relatam uma fluidificação do trânsito pelas interfaces do contexto clínico, nas esferas da afetabilidade, do relato da vivência, do trânsito por múltiplos apontamentos ocor-

fe. - - j a i

ridos na experiência, da interlocução com compreensoes sentidas por pares. Configura-se um movimento de elabo­

ra ç ã o de sentido, pertinente tanto à aprendizagem quanto

à prática clínica: a interlocução entre significação e tessi­ tura de sentido e afetabilidade mostra-se rearticuladora das acepções teóricas em sua vinculação à experiência viven- ciai e é passível de reelaborações. Nesse novo momento, as articulações teóricas realizadas pelos alunos são compre­ endidas também como um relato de experiência, expres­ sando o estreitamento das possibilidades de articulação entre teoria e prática, como articulação entre saber e expe­ riência, e nao como uma fala heterônoma.

A possibilidade de articular o próprio conhecimento confere também outra dimensão ao questionamento: o interrogar o encontro e o que dele se constrói passa a ser compreendido como um instrumento para a constante articulação. Assim, conforme compreensoes se fazem possí­ veis, novas questões se configuram. A apropriação da trama de compreensoes, pela articulação teórico-experiencial, favorece um estreitamento entre os alunos e seus inter­ locutores, horizontalizando essa interlocução e situando- a mais proximamente ao contexto dialógico. Os alunos expressam um momento da fala no qual a legitimidade do dizer já foi construída e a busca é por uma reflexão cons­ tante, cujo mister foi apontado pela ascensão do espaço clínico como um espaço de desalojamento e não saber, que permite uma ação crítica de si mesma. Apropriando-se da compreensão do encontro intersubjetivo como um vir-a- ser, construído em seu próprio acontecer, a aprendizagem se faz na emergência de conexões entre essa acepção e a própria construção de um modo de ser, enquanto profis­ sional da prática clínica. Reconhecer-se ou não em teorias dá-se a partir das possibilidades de nomear o sensível e o sentido no encontro, articulando significados possibili­ tados pelas compreensoes e pelas percepções sentidas no contexto experiendal, abrangendo uma apropriação.

ALGUM AS CO N SIDERAÇÕ ES: