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1) C om o pode ser compreendido o “experienciando" a partir de Gendlin?

R: Experienciando, para Gendlin (1962), é uma dimensão subjetiva de eventos; refere-se ao que a pessoa “conhece" intimamente. Ela vive “em seu experienciando subjetivo e olha o m undo a partir dele e através dele" (GENDLIN, 1962, p. 228). Reconhecendo a importância teórica dessa reformulação, abre-se um parêntese para enveredar pelo trajeto teórico da proposta de Rogers, a fim de melhor compreender o processo de experienciando. Ex­ perienciando seria um fenômeno subjetivo que se refere a um sentimento de quem está vivendo uma experiência. Diz respeito a um fluir contínuo de sentimentos com alguns conteúdos explí­ citos, ou seja, algo dado no campo fenomenal de cada sujeito.

É possível, também, clarificar com o se manifesta o experien­ ciando pela diferença que apresenta em relação à conceitualiza- ção. Ambos podem ocorrer simultaneamente ou não. Se ocorrem simultaneamente, ambos são vistos com o uma unidade, e não podemos distingui-lo; experienciando apresenta-se, nessa situa­ ção, com o o “significado para nós dos conceitos" e os “concei­ tos conceituam o experienciando’! Mas, também, pode ocorrer termos um sentimento forte sem que saibamos o que seja; nes­ se caso, ocorre o experienciando sem conceitualização. Outras vezes, falamos de um sentimento que tivemos ontem, mas que hoje não sentimos mais; é uma conceitualização com pouco ex­ perienciando para conceitualizã-la.

O que Gendlin procura ressaltar, enfatizando essa diferen­ ça entre experienciando e conceitualização, é que o processo de experienciando é fator de mudança, ou melhor, abertura de possibilidades outras. Em muitas situações, sendo terapia uma situação possível, sujeitos podem ter conhecimento intelectual sobre o que lhes ocorre (conceitualização), mas isso é com ple­ tamente diferente de com o está ocorrendo e mudando o expe­ rienciando. Em outras palavras, conhecer (conceitualização) é di­ ferente daquilo que está sendo sentido, ou seja, de com o se estã percebendo e refletindo através do que se está experienciando no momento. Isso pode ser observado no processo terapêuti­ co: quantas vezes o cliente está sabendo o que lhe ocorre mas sem que, efetivamente, ocorram mudanças na maneira com o se sente. Somente quando o cliente se refere diretamente ao que está sentindo no momento é que outras possibilidades se abrem. Somente quando há referência direta ao que se está experien­ ciando é que de fato pode ocorrer mudança terapêutica. Para clarear esse fenômeno é que ele propõe uma nova maneira de compreensão para mudanças da personalidade: o processo de experienciando em relações interpessoais.

2) Discorra acerca do Befindlichkeit.

R: Befindlichkeit um conceito heideggeriano para expressar o m odo de existência da condição humana e de seu m odo de sen­ tir emoção, afeto ou sentimento. Diz respeito à nossa condição própria de ser humano, de sentirmos (to sense,) “a nós mesmos

vivendo em situações com outros, com uma compreensão implí­ cita do que estornos fazendo e com uma comunicação entre nós sempre já envolvida" (GENDLIN, 1978/79, p. 45). É um conceito

que diz respeito a um ser (o humano) que é seu próprio relacio­

nando-se. Essa condição de sendo-aqui-no-mundo-com-outros

diz algo que é interno e externo ao mesmo tempo. Dessa forma,

Befindlichkeit é um conceito que diz respeito ao m odo relacio­

nal, presente antes mesmo que seja possível fazer-se qualquer distinção entre interno e externo. N ão é nem um conceito in- teracional nem intrapsíquico, embora diga de ambos. Dessa for­ ma, Befindlichkeit é visto por Gendlin com o um conceito que precede e elimina a distinção entre dentro e fora, tanto quanto entre mim (selfj e outros, entre afetivo e cognitivo.

Assim, Gendlin explora também que tais mudanças básicas nas espécies de conceito devem afetar toda a ciência e não somente a Psicologia, pois implica que Befindlichkeit pode ser um con­ ceito também visto com o uma nova metodologia. Considerar o m odo de existir de ser humano com o um Befindlichkeit é uma maneira diferente de se abordar a condição humana; nem por sistemas nem por conceitos, mas também por ambos; ou seja, por processo. Se faz parte da condição de ser humano estar aberto para ter acesso ao que ocorre em si-em-situações-com-outros,

Befindlichkeit refere-se, pois, a uma disponibilidade para acesso

a si e a outros com compreensão ativa e implícita do que está ocorrendo, bem com o da articulação dessa compreensão para comunicação com outros e ouvir o que deles volte; com isso, nova abertura ocorre. Esse é um processo relacional e de rela­ cionais, simultâneo, da condição de ser humano que possibilita abertura e acesso a outras formas de relações e relacionamen­ tos, e, portanto, outras possibilidades e/ou mudanças podem ocorrer.

Na mesma direção, Gendlin (1978/79) recorre a Befindlichkeit para compreender o conceito de sentimento, emoção ou afeto e com o abordá-los em psicoterapia. Reencontra aí, também, o sentido de experienciando.

3) A que se refere aprendizagem signifícatival

R: Aprendizagem significativa designa o processo de constituição e apropriação de um “saber fazer/saber dizer”, correspondendo, dessa forma, à experiência. O conceito de aprendizagem signi­

ficativa compreende, portanto, a aprendizagem com o processo

de manifestação de vida, de desenvolvimento e expressão viva da necessidade de crescimento presente nos organismos. Nesse contexto, os processos de aprendizagem revelam-se com o pos­ sibilidades de compreensão e conhecimento e, portanto, de atri­ buição de significado a relações e situações vividas pela pessoa, seja consigo mesma, seja com o mundo, ou com os outros. São essas as condições da existência humana que refletem a quali­ dade da expressão/comunicação com o criação de significado, partindo do significado sentido com o referência que permite o ultrapassamento para novas possibilidades, num processo de aprendizagem quente, por assim dizer.

Assim, a aprendizagem significativa refere-se à criação ou resgate de sentido para "falas" a partir da própria experiência, geralmente esquecida ou com o "em branco" conduzindo-as a caírem num lugar comum do "falar por falar" Na ausência de si­ tuação para a ocorrência de criação de significado sentido, não se dirigem para a abertura a outras possibilidades, articulações, sentido. N o dizer de Gendlin, não ocorre fala por transições en­ tre o ir para frente, voltar, ir para trás, para novamente ir para

frente. O u seja, o próximo passo pode emergir através de uma

conexão experiencial. A forma com o experienciamos a situação pode nos levar ao próximo passo que faça sentido, mas que não poderia suceder o anterior de qualquer uma das outras formas. Muitas vezes isso ocorre sem que demos especial atenção, mas algumas vezes paramos para referir diretamente o experienciar. Referência direta é ela própria uma mudança, que então leva à próxima mudança.

Obviamente não há formulação final dos modos pelos quais as mudanças do experienciar podem superar uma formulação. Poderíamos discriminar mais tipos de mudanças subseqüentes, ou utilizar outras referências para distinguir os tipos. Nossa nova “base” não é uma lista qualquer, mas o funcionamento experien- cial-funcionat mais amplo. Podemos justapor outros modelos e abordagens com resultados diferentes, mas ainda assim estare­ mos na experiência que estiver ocorrendo. O tipo de transição a que denomino “referência direta” é ela própria um tipo de simbolização. Ela extrai (cria, encontra, sintetiza, diferencia) um “isto” que não era um isto antes. Q uando parecemos encontrar algo que “estava” lã, na realidade já nos movemos adiante. Não necessitamos de uma equação falsa. Nenhuma equação é pos­ sível entre implícito e explícito. O que importa é a maneira pela qual o próximo passo parte (continua, leva adiante, faz sentido a partir) daquilo que o precedeu.

F

e n o m e n o l ó g i c a

Ex i s t e n c i a l*