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Costumes para Dormir

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 160-163)

xiste considerável variação cultural nos sistemas de orga- nização do sono dos recém-nascidos. Em muitas culturas, os bebês dormem no mesmo quarto onde a mãe dorme nos pri- meiros anos de vida e, muitas vezes, na mesma cama, facilitan- do a amamentação durante a noite (Broude, 1995). Nos Esta- dos Unidos, é prática comum, refletindo as recomendações prevalecentes dos especialistas no cuidado de crianças, ter uma cama separada e um quarto separado para o bebê.

Alguns especialistas vêem benefícios no costume de dor- mir no mesmo aposento. Um grupo de pesquisadores que mo- nitora os padrões de sono de mães e de seus bebês de 3 meses constatou que aqueles que dormem juntos tendem a acordar um ao outro durante a noite, sugerindo que isso pode evitar que o bebê durma por muito tempo e muito profundamente e tenha longas interrupções na respiração que poderiam ser fa- tais (McKenna e Mosko, 1993). Entretanto, a Força-tarefa sobre o Posicionamento do Bebê e a SMSL da Academia Americana de Pediatria (1997) não considerou convincentes tais evidên- cias; ao contrário, a Força-tarefa descobriu que, em certas con- dições, como o uso de forro macio na cama, fumo ou abuso de drogas, dormir na mesma cama pode aumentar o risco de mor- te súbita (SMSL). Essa preocupação não é absolutamente nova: as autoridades eclesiásticas medievais proibiam os pais de dor- mir ao lado dos recém-nascidos por medo de sufocação (Naka- jima e Mayor, 1996). No entanto, o Japão da atualidade, onde mães e bebês costumam dormir na mesma cama, apresenta uma das taxas mundiais mais baixas de SMSL (Hoffman e Hill- man, 1992).

Sobre uma coisa não resta dúvida: o costume de dormir juntos favorece a amamentação ao seio. Os bebês que dormem com suas mães mamam aproximadamente três vezes mais du- rante a noite do que os bebês que dormem em camas separa- das (McKenna, Mosko e Richard, 1997). Aninhando-se juntos, a mãe e o bebê ficam sintonizados com os sinais corporais su- tis um do outro. As mães podem responder com mais rapidez e facilidade aos primeiros choramingos de fome do bebê, em vez de esperar que o choro do bebê fique forte o suficiente pa- ra ser ouvido do quarto ao lado.

Em entrevistas, pais norte-americanos de classe média e mães maias da zona rural da Guatemala revelaram seus valores e suas metas de educação ao explicarem seus costumes para dormir (Morelli, Rogoff, Oppenheim e Goldsmith, 1992). Os pais norte-americanos, entre os quais muitos mantinham seus bebês no mesmo quarto, mas não na mesma cama nos primeiros três a seis meses, diziam que mudavam os bebês para quartos separados porque queriam torná-los autoconfiantes e indepen- dentes. As mães maías mantinham os bebês em suas camas até o nascimento de um novo bebê, quando a criança mais velha passava a dormir com outro membro da família ou em outra ca- ma no quarto da mãe. As mães maias valorizavam o íntimo re- lacionamento entre pais e filhos e ficavam chocadas com a idéia de colocar um bebê para dormir em um quarto sozinho.

Os valores da sociedade influenciam as atitudes e o com- portamento dos pais. Ao longo deste livro veremos que essas atitudes e esses comportamentos culturalmente determinados influenciam as crianças de muitas maneiras.

O crescimento cerebral n ã o é regular e contínuo; ele ocorre de maneira inter- mitente. Os surtos de crescimento cerebral, p e r í o d o s de r á p i d o crescimento e de- senvolvimento, coincidem com m u d a n ç a s no c o m p o r t a m e n t o cognitivo (Fischer e Rose, 1994, 1995). As diferentes partes do cérebro crescem mais r a p i d a m e n t e em épocas diferentes.

Principais Partes do Encéfalo A p r o x i m a d a m e n t e d u a s s e m a n a s a p ó s a con- cepção, o encéfalo p o u c o a p o u c o se transforma de um longo tubo oco em u m a mas- sa esférica de células (ver Figura 4-5). Na época do nascimento, o surto de cresci- mento da m e d u l a espinal e do tronco encefálico (parte do cérebro responsável p o r funções corporais básicas, como respiração, freqüência cardíaca, t e m p e r a t u r a do corpo e ciclo de sono e vigília) já está quase no fim. O cerebelo (parte do encéfalo res- ponsável pelo equilíbrio e coordenação motora) cresce mais r a p i d a m e n t e d u r a n t e o primeiro ano de vida (Casaer, 1993).

O cérebro, que é a maior parte do encéfalo, divide-se em d u a s m e t a d e s ou he- misférios, esquerdo e direito, cada um deles com funções especializadas. Essa espe- cialização dos hemisférios é c h a m a d a de lateralização. O hemisfério esquerdo está envolvido principalmente com a linguagem e com o p e n s a m e n t o lógico, o hemisfé- rio direito com as funções visuais e espaciais, como d e s e n h o e leitura de m a p a s . Os dois hemisférios ligam-se p o r um feixe espesso de tecido d e n o m i n a d o corpo caloso, o qual lhes permite trocar informações e coordenar c o m a n d o s . O corpo caloso cres- ce substancialmente d u r a n t e a infância, atingindo o t a m a n h o adulto aos 10 anos de idade.

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Como você avalia as vantagens e desvantagens de um bebê dormir na mesma cama que os pais?

surtos de crescimento cerebral

Períodos de rápido crescimento e desenvolvimento cerebral.

lateralização

Tendência de cada hemisfério cerebral de possuir funções especializadas.

Figura 4-5

Desenvolvimento encefálico do feto dos 25 dias de gestação ao nascimento. O tronco encefálico, que controla funções biológicas básicas, como a respiração, desenvolve-se primeiro. A medida que o encéfalo cresce, ocorre grande expansão de sua parte frontal para formar o cérebro (a grande massa superior em convolução). Áreas específicas da massa cinzenta (camada externa do encéfalo) têm funções específicas, como atividade sensória e motora; mas existem grandes áreas que são

"descomprometidas" e, portanto, livres para atividade cognitiva superior, como pensar, lembrar e resolver problemas. O subcórtex (tronco encefálico e outras estruturas abaixo da camada cortical) controla o

comportamento reflexo e outras funções de nível inferior. O cerebelo, que mantém o equilíbrio e a coordenação motora, cresce mais rapidamente durante o primeiro ano de vida.

Cada hemisfério cerebral tem quatro lobos ou seções: os lobos occipital, parie-

tal, temporal e frontal, que controlam diferentes funções (ver Figura 4-6) e desenvol-

vem-se em ritmos diferentes. As regiões do córtex cerebral (superfície externa do cé- rebro) que regem a visão e a audição estão maduras aos 6 meses de idade, mas as áreas do lobo frontal responsáveis pela realização de associações mentais, memória e produção de respostas motoras deliberadas permanecem imaturas por vários anos.

Células Cerebrais O cérebro é composto de neurônios e células gliais. Os neurônios

ou células nervosas enviam e recebem informações. As células gliais sustentam e prote- gem os neurônios.

A partir do segundo mês de gestação, estima-se que 250 mil neurônios imaturos são produzidos por minuto através de divisão celular (mitose); no nascimento, a maio- ria dos mais de 100 bilhões de neurônios de um cérebro maduro já estão formados; po- rém, ainda não estão completamente desenvolvidos. O número de neurônios aumenta mais rapidamente entre a vigésima quinta semana de gestação e os primeiros meses de- pois do nascimento. Essa proliferação celular é acompanhada por um grande cresci- mento no tamanho das células.

Originalmente os neurônios são simplesmente corpos celulares com um nú- cleo ou centro composto de ácido desoxirribonucléico (DNA), o qual contém a pro- gramação genética da célula. À medida que o cérebro cresce, essas células rudimen- tares migram para as diversas partes dele. Ali dão origem a axônios e dendritos - ex-

neurônios

Desenvolvimento Humano 169

Figura 4-6

Partes do encéfalo, aspecto lateral. O encéfalo consiste de três partes principais: tronco encefálico, cerebelo e, acima deles, grande cérebro. O tronco encefálico, um prolongamento da medula espinal, é uma das regiões cerebrais mais plenamente desenvolvidas na época do nascimento. Ele controla funções corporais básicas, como respiração, circulação e reflexos. O cerebelo, a partir do nascimento, começa a controlar o equilíbrio e o tônus muscular; posteriormente ele coordena a atividade sensório- motora. O cérebro constitui quase 70% do peso do sistema nervoso e controla o pensamento, a memória, a linguagem e a emoção. Ele se divide em duas metades ou hemisférios, cada um dos quais com quatro setores ou lobos (da direita para a esquerda): (a) O lobo occipital processa as informações visuais, (b) O lobo temporal auxilia a audição e a linguagem, (c) O lobo parietal permite que o bebê receba sensações táteis e informações espaciais, o que facilita a coordenação entre olhos e mãos. (d) O lobo frontal desenvolve-se gradualmente durante o primeiro ano, permitindo funções de nível superior como fala e raciocínio. O córtex cerebral, a superfície externa do cérebro, consiste de massa cinzenta; ele é a sede dos processos de pensamento e da atividade mental. Partes do córtex cerebral - o córtex sensório- motor e do giro do cíngulo - bem como diversas estruturas profundas do cérebro, o tálamo, o hipocampo e os gânglios basais, todos os quais controlam movimentos e funções básicas, estão muito desenvolvidos na época do nascimento.

integração

Processo pelo qual os neurônios coordenam as atividades dos grupos musculares.

diferenciação

Processo pelo qual os neurônios adquirem estrutura e função especializadas.

morte celular

Eliminação do excesso de células cerebrais para obter um funcionamento mais eficiente.

tensões estreitas e ramificadas. Os axônios enviam sinais para outros neurônios, e os dendritos recebem mensagens enviadas por eles, através de sinapses, os elos de comunicação do sistema nervoso. As sinapses são lacunas diminutas, as quais são preenchidas com o auxílio de substâncias químicas denominadas neurotransmisso-

res. Um determinado neurônio pode vir a ter de 5 a 100 mil conexões sinápticas pa-

ra e dos receptores sensoriais do corpo, seus músculos e outros neurônios do siste- ma nervoso central.

A multiplicação de dendritos e conexões sinápticas, especialmente durante os últimos dois meses e meio de gestação e nos primeiros 6 meses a 2 anos de vida (ver Figura 4-7), é responsável por grande parte do aumento de peso do cérebro e permi- te a emergência de novas capacidades perceptivas, cognitivas e motoras. A maioria dos neurônios no córtex, que é responsável pelo funcionamento complexo de nível superior, estão presentes na vigésima semana de gestação, e sua estrutura torna-se ra- zoavelmente bem definida durante as 12 semanas seguintes. Somente depois do nas- cimento, entretanto, as células começam a formar conexões que permitem que ocorra comunicação.

A medida que se multiplicam, migram para suas devidas posições e desenvolvem conexões, os neurônios sofrem os processos complementares de integração e diferencia-

ção. Através da integração, os neurônios que controlam os diversos grupos de múscu-

los coordenam suas atividades. Através da diferenciação, cada neurônio assume uma estrutura e função especializada específica.

Inicialmente o cérebro produz mais neurônios e sinapses do que necessita. Aqueles que não são utilizados ou que não funcionam bem se extinguem. O processo de morte celular ou eliminação de células excessivas começa durante o período pré- natal e continua após o nascimento (ver Figura 4-8), ajudando a criar um sistema ner- voso eficiente. O número de sinapses parece alcançar o máximo em torno dos 2 anos de idade, e sua eliminação continua até a adolescência. Novas pesquisas sugerem que mesmo enquanto alguns neurônio se extinguem, outros podem continuar se forman- do durante a vida adulta (Erikson et al., 1998; Gould, Reeves, Graziano e Gross, 1999; ver Capítulo 17). As conexões entre células corticais continuam se aperfeiçoando até a idade adulta, permitindo um funcionamento cognitivo e motor mais flexível e mais avançado.

Figura 4-7

Crescimento das conexões neurais durante os primeiros 2 anos de vida. O rápido aumento na densidade e no peso do cérebro deve-se em grande medida à formação de dendritos, prolongamentos dos corpos das células nervosas, e das sinapses que as ligam. Esse aumento muito rápido na rede de comunicações surge em resposta à estimulação ambiental e possibilita um crescimento impressionante em todos os domínios de desenvolvimento.

Mielinização O aperfeiçoamento da eficiência de comunicação deve-se muito às cé- lulas gliais, as quais revestem as rotas neurais de uma substância gordurosa chamada

mielina. Esse processo de mielinização permite que os sinais sejam transmitidos com

mais rapidez e regularidade, possibilitando um funcionamento maduro. A mieliniza- ção começa aproximadamente na metade da gestação em algumas partes do cérebro e continua até a idade adulta em outras. As rotas relacionadas com o sentido do tato - o primeiro a se desenvolver -já estão mielinizadas na época do nascimento. A mieliniza- ção das rotas visuais, que amadurecem mais lentamente, começa no nascimento e con- tinua durante os primeiros 5 meses de vida. Rotas relacionadas com a audição podem começar a ser mielinizadas já no quinto mês de gestação, mas o processo não se com- pleta antes dos 4 anos. As partes do córtex que controlam a atenção e a memória, que demoram mais para se desenvolver, não se encontram plenamente mielinizadas até o início da idade adulta. A mielinização em uma zona de retransmissão de informações do hipocampo, estrutura de localização profunda no lobo temporal que desempenha uma função essencial na memória, e formações relacionadas continuam aumentando até pelo menos os 70 anos (Benes, Turtle, Kahn e Farol, 1994).

A mielinização das rotas sensórias e motoras, primeiramente na medula espinal do feto e, posteriormente, depois do nascimento, no córtex cerebral, pode explicar o aparecimento e desaparecimento dos primeiros reflexos.

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 160-163)