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Estudando a Trajetória de Vida: Crescendo em Tempos Difíceis

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 42-44)

O que é a abordagem de desenvolvimento no ciclo vital e quais são seus princípios fundamentais?

desenvolvimento no ciclo vital

Conceito de desenvolvimento como um processo vitalício, que pode ser estudado cientificamente.

á relativamente pouco tempo, na década de 1960, "as vidas humanas não eram um objeto de estudo muito comum, principalmente em seu contexto social e histórico" (Elder, 1998, p. 939), e os pesquisadores não relacionavam o desenvolvimen- to infantil com o que acontece depois da infância. Os estudos do ciclo vital mudaram tudo isso.

Apresente consciência da necessidade de observar a traje- tória de vida em seu contexto social e histórico deve-se, em par- te, a Glen H. Elder, Jr. Em 1962, Elder chegou ao campus da Uni- versidade da Califórnia, em Berkeley, para trabalhar no Estudo de Crescimento de Oakland, uma abordagem longitudinal do desenvolvimento social e emocional de 167 jovens urbanos nas- cidos em torno de 1920, sendo aproximadamente a metade deles de classe média. O estudo tinha começado no início da Grande Depressão dos anos de 1930, quando os jovens, que haviam pas- sado suas infâncias no boom dos formidáveis anos de 1929, esta- vam entrando na adolescência. Comparando os dados sobre os dois grupos de participantes - os de famílias fortemente atingi- das e aqueles cujas famílias sofreram relativamente poucas pri- vações após o colapso da economia - Elder observou como as mudanças na sociedade podem alterar os processo familiares e, através deles, o desenvolvimento das crianças (Elder, 1974).

Ao muda a vida dos pais, a pressão econômica mudou também a vida dos filhos. As famílias afetadas (aquelas que per- deram mais do que 35% de sua renda) redistribuíram as funções econômicas. As mães foram em busca de empregos fora de casa. As moças assumiram diversas tarefas de casa, e muitos rapazes foram procurar empregos de turno parcial. As mães assumiram maior autoridade parental. Os pais, preocupados com a perda do emprego e ansiosos com a perda de status dentro da família, às vezes bebiam muito. As discussões entre os pais aumentaram de freqüência. Os filhos adolescentes, por sua vez, tendiam a

mostrar dificuldades de desenvolvimento. Isso não ocorria tan- to nos jovens cujos pais eram capazes de controlar suas emoções e suportar a tormenta econômica com menos discórdia familiar. Para os rapazes, em especial, os efeitos da privação a lon- go prazo não foram inteiramente negativos. Os rapazes que en- contraram empregos para ajudar a família tornaram-se mais in- dependentes e eram mais capazes de fugir da atmosfera fami- liar estressante do que as moças, que concentravam seus esfor- ços no lar. Na adolescência, os rapazes de Oakland que sofre- ram privações apresentaram problemas de auto-imagem (auto- consciência, vulnerabilidade emocional e desejo de "se ajus-

ríodo tem suas próprias características e um valor sem igual; n e n h u m é mais ou menos importante do que qualquer outro.

• O desenvolvimento depende de história e contexto. Cada pessoa desenvolve-se dentro de um conjunto específico de circunstâncias ou condições definidas por tempo e lugar. Os seres humanos influenciam seu contexto histórico e social e são influenciados por eles. Eles não apenas respondem a seus am- bientes físicos e sociais, mas também interagem com eles e os mudam. • O desenvolvimento é multidimensional e multidirecional. O desenvolvimento

durante toda a vida envolve um equilíbrio entre crescimento e declínio. Quando as pessoas ganham em um aspecto, podem perder em outro, e em taxas variáveis. As crianças crescem sobretudo em uma direção - para cima - tanto em tamanho como em habilidades. Na idade adulta, o equilíbrio muda gradualmente. Algumas capacidades, como vocabulário, continuam aumentando; outras, como a capacidade de resolver problemas desconhe- cidos, podem diminuir; alguns novos atributos, como perícia, podem apa- recer. As pessoas procuram maximizar ganhos e minimizar perdas apren- dendo a administrá-las ou compensá-las.

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V E R I F I C A D O R Você é capaz de ... Assinalar os principais pontos na evolução do estudo do desenvolvimento humano?

Resumir os cinco princípios centrais da abordagem do desenvolvimento no ciclo vital de Baltes?

- Continuação

tar") um pouco piores do que os jovens que não sofreram pri- mentos familiares e de como eles ligam "as grandes mudanças vações, mas superaram seus problemas sem efeitos em longo socioeconômicas às experiências e ao bem-estar de membros fa- prazo. Tendo sido prematuramente pressionados a assumir miliares individuais" (Conger e Elder, 1994, p. 7).

funções adultas, estes jovens assumiram papéis adultos reais, Como no estudo sobre a época da depressão, muitos dos seja matrimoniais, seja profissionais, em idade mais precoce. pais da zona rural desenvolveram problemas emocionais sob a Quando adultos, esses indivíduos eram fortemente orientados pressão das privações econômicas. Os pais e mães deprimidos ti- ao trabalho, mas também valorizavam as atividades familiares nham maior tendência a brigar entre si e a maltratar ou afastar- e cultivavam a segurança em seus filhos. se dos filhos. Os filhos, por sua vez, tendiam a perder a autocon- Elder notou que os efeitos de uma importante crise econô- fiança, ser impopulares e ter mau desempenho na escola. Uma mica dependem da fase de desenvolvimento de uma criança. As diferença entre as descobertas dos dois estudos reflete mudanças crianças da amostra de Oakland já eram adolescentes nos anos na sociedade entre a década de 1930 e de 1980. Nos anos de 1980, de 1930 e podiam utilizar seus próprios recursos emocionais, esse padrão de comportamento parental servia tanto a mães cognitivos e econômicos. Uma criança nascida em 1929 depen- quanto a pais, ao passo que nos anos de 1930 ele se aplicava me- deria totalmente da família. Por outro lado, os pais das crianças nos às mães, cujo papel econômico antes do colapso era menor, de Oakland, sendo mais velhos, podem ter sido menos resilien- As descobertas do estudo de Iowa também demonstram a bidi- tes para lidar com a perda de emprego, e sua vulnerabilidade recionalidade da influência. Os pré-adolescentes rurais não eram emocional pode ter influenciado a atmosfera familiar e o trata- apenas objetos passivos das atitudes e do comportamento de mento dispensado aos filhos. seus pais. Quando os rapazes do campo, em especial, trabalha- Cinqüenta anos após a Grande Depressão, na década de vam muito para contribuir para a sobrevivência econômica da 1980, uma queda repentina no valor das terras agrícolas da re- família, seus pais tinham uma opinião mais favorável sobre eles gião do Meio Oeste dos Estados Unidos obrigou muitas famí- (Conger e Elder, 1994; Conger et ai, 1993; Elder, 1998).

lias a se endividar ou abandonar o campo para um futuro in- O trabalho de Elder, assim como outros estudos sobre a certo. Essa crise agrária ofereceu a Elder a oportunidade de re- trajetória de vida, oferece aos pesquisadores uma perspectiva plicar sua pesquisa anterior, dessa vez em um ambiente rural. sobre os processos de desenvolvimento que as abordagens an- Em 1989, ele e seus colaboradores (Conger e Elder, 1994; Con- teriores não poderiam ter revelado. O estudo da crise agrária ger et ai., 1993) entrevistaram 451 famílias rurais e de pequenas continua, e novas entrevistas com as famílias são realizadas to- cidades na região norte de Iowa central. Os pesquisadores tam- dos os anos. É possível que, no futuro, esse estudo revele os bém registraram em videoteipe as interações da família. efeitos a longo prazo da privação econômica no início da vida Cada família incluía os pais, um filho ou filha cursando a de pessoas que a sofreram em diferentes idades e em diferentes sétima série e um irmão ou irmã quatro anos mais velho ou mais situações familiares,

jovem. Assim, os pesquisadores podiam avaliar o impacto da drástica perda de salário sobre os membros da família em dife- rentes fases da vida. O modelo do estudo também forneceu aos pesquisadores uma idéia da complexa dinâmica dos relaciona-

50 Diane E. Papalia, Sally W. Olds & Ruth D. Feldman

plasticidade

Capacidade de modificação do desempenho.

• O desenvolvimento é flexível ou plástico. Plasticidade significa capacidade de modificação do desempenho. Muitas capacidades, como memória, força e persistência, podem ser significativamente aperfeiçoadas com treinamento e prática, mesmo em idade avançada. Entretanto, como aprendeu Itard, nem mesmo as crianças são infinitamente flexíveis; o potencial para mu- dança tem limites.

O desenvolvimento humano é muito complexo, e por isso seu estudo exige uma parce- ria entre estudiosos de muitas disciplinas, incluindo psicologia, psiquiatria, sociologia, antropologia, biologia, genética (o estudo das características herdadas), ciência da fa- mília (o estudo interdisciplinar das relações familiares), educação, história, filosofia e medicina. Este livro utiliza a pesquisa em todos esses campos.

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 42-44)