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Abel Dorris e a Síndrome Alcoólica Fetal

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 94-97)

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), um conjunto de anormalidades apre- sentadas por crianças cujas mães beberam durante a gestação, é a princi- pal causa de retardamento mental. Mas em 1971, quando o escritor Mi- chael Dorris adotou um menino Sioux de 3 anos de idade, cuja mãe bebia muito, os fatos sobre a SAF ainda não tinham sido amplamente divulgados Abel Dorris nem cientificamente investigados. Somente I I anos depois, como relata Dorris em The Broken Cord (1989), ele descobriu a origem dos problemas de desenvolvimento de seu filho adotivo.

Nascido com quase sete semanas de prematuridade, o menino, chamado Abel ("Adão", no livro) tinha baixo peso natal e sofreu abuso e má alimentação antes de ser transferido para um lar adotivo. Sua mãe havia morrido aos 35 anos de intoxicação por álcool. Seu pai tinha sido espancado até a morte em um beco após uma série de prisões. O menino era pequeno para sua idade, ainda usava fraldas e só era capaz de falar cerca de 20 palavras. Embora o menino tivesse sido diagnosticado como ligeiramente re- tardado, Dorris tinha certeza de que, com um ambiente favorável, o menino se recuperaria.

Mas isso não aconteceu. Quando fez 4 anos, Abel ainda usava fraldas e pesava apenas 12 kg. Ele ti- nha dificuldade para se lembrar dos nomes dos colegas de recreação. Seu nível de atividade era extraor- dinariamente alto, e a circunferência de seu crânio era menor do que o comum. Ele sofria de convulsões intensas sem explicação.

Durante os meses que se passaram, Abel teve dificuldade para aprender a contar, identificar as co- res primárias e fazer o laço nos sapatos. Antes de ingressar na escola, foi rotulado como "portador de deficiência de aprendizagem". Seu Ql era e permaneceu em torno de 60. Graças aos esforços de um de- dicado professor de Iª série, Abel aprendeu a ler e escrever, mas sua compreensão era lenta. Quando o menino concluiu o ensino fundamental em 1983, ele "ainda não sabia somar, subtrair, contar dinheiro ou identificar a cidade, estado, país ou planeta em que vivia" (Dorris, 1989, p. 127-128).

Nessa época, Michael Dorris já tinha resolvido o enigma do que havia de errado com seu filho. Como professor associado de estudos americanos nativos na Dartmouth College, estava familiarizado com as pressões culturais que favorecem o consumo de bebidas alcoólicas entre os indígenas norte- americanos. Em 1982, um ano antes da formatura de Abel, Michael visitou um centro de tratamento pa- ra adolescentes dependentes químicos em uma reserva Sioux em Dakota do Sul. Ali ele se espantou ao ver três meninos que "poderiam ser irmãos gêmeos [de Abel]" (Dorris, 1989, p. 137). Eles não apenas eram parecidos com Abel, mas agiam como ele.

ções por longos períodos de tempo, causando danos cerebrais e prejudicando outros órgãos corporais. Não há cura. Nas palavras de um especialista,"para o feto, a ressaca pode durar uma vida inteira" (En- loe, 1980, p. 15).

Os efeitos da SAF também podem ser devastadores para a família. Os anos de constantes tenta- tivas, primeiro para recuperar a normalidade de Abel e depois para se acostumar com os danos irrecu- peráveis causados durante a gestação, podem certamente ter contribuído para os problemas posterio- res no casamento de Dorris com a escritora Louise Erdrich, culminando no divórcio e suicídio dele em 1997 aos 52 anos. Segundo Erdrich, Dorris sofria de depressão profunda, possivelmente exacerbada pe- las dificuldades que tinha como pai (L. Erdrich, comunicação pessoal, Io de março de 2000).

Quanto a Abel Dorris, aos 20 anos, ingressou em um programa de treinamento vocacional e mu- dou-se para um lar supervisionado, levando consigo suas coleções de animais empalhados, bonecas de papel, quadrinhos de jornal,fotografias da família e antigos cartões de aniversário. Aos 23, cinco anos an- tes da morte do pai, foi atropelado por um carro e morreu (Lyman, 1997).

história de Abel Dorris é um lembrete desolador da impressionante responsabilida- de que os pais têm pelo desenvolvimento da nova vida que geraram. Primeiro temos a dotação hereditária que transmitem. Depois temos as influências ambientais - iniciadas com o corpo da mãe. Além do que a mãe faz e do que acontece com ela, existem outras influências ambientais, desde aquelas que afetam o esperma do pai até o ambiente tecnológico, social e cultural, que pode influenciar o tipo de assistência que uma gestante recebe nos meses que antecedem o nas- cimento.

Neste capítulo, descreveremos como a concepção ocorre normalmente, como funcionam os mecanismos de hereditariedade e como a herança biológica interage com as influências am- bientais dentro e fora do útero. Acompanharemos o desenvolvimento pré-natal (desenvolvi- mento antes do nascimento), descreveremos o que o influencia e apresentaremos modos de mo- nitorar e intervir nele. (No Capítulo 14, discutiremos técnicas de reprodução artificialmente as- sistida, muitas vezes utilizadas quando um ou ambos os pais são estéreis.)

Depois de ler e estudar este capítulo, você deverá ser capaz de responder às seguintes perguntas:

Desenvolvimento Humano 103

1. Como a concepção normalmente ocorre? 2. O que causa os nascimentos múltiplos?

3. Como a hereditariedade funciona na determinação do sexo e na transmissão de traços normais e anormais?

4. Como os cientistas estudam as influências relativas de hereditariedade e ambiente, e como hereditariedade e ambiente operam juntos?

5. Que papel a hereditariedade e o ambiente desempenham na saúde física, na inteligência e na personalidade?

6. Quais são as três etapas do desenvolvimento pré-natal e o que ocorre durante cada etapa?

7. O que os fetos são capazes de fazer?

8. Que influências ambientais podem afetar o desenvolvimento pré-natal?

9. Que técnicas podem avaliar a saúde e o bem-estar de um feto, e qual a importância do pré-natal?

Concebendo uma Nova Vida

Como a concepção normalmente ocorre?

Algum dia, os cientistas podem descobrir que é possível clonar (fazer uma cópia genéti- ca) um ser humano. Até isso acontecer, o início biológico de toda pessoa continuará sendo a fração de segundo em que um único espermatozóide, um dos milhões de célu- las reprodutivas do pai biológico, une-se a um óvulo, um dos milhares de células repro- dutivas produzidas pelo corpo biológico da mãe. Como veremos, dependendo do es- permatozóide que encontra o óvulo, haverá tremendas implicações para a nova pessoa.

Como Ocorre a Fecundação

A fecundação ou concepção é o processo pelo qual espermatozóide e óvulo - os game-

tas masculino e feminino ou células sexuais, - se fundem para criar uma única célula

chamada zigoto, que então se duplica repetidamente por divisão celular para se tornar um bebê. Uma menina nasce com todos os óvulos que terá - cerca de 400 mil. No nas- cimento, esses óvulos imaturos estão nos ovários (ver Figura 3-1), cada óvulo em sua própria cavidade ou folículo.

clonar

Fazer uma cópia genética de um indivíduo; um clone é uma cópia genética de um indivíduo.

fecundação

União de espermatozóide e óvulo, que se fundem para produzir um zigoto; também denominada

concepção. zigoto

Organismo unicelular resultante da fecundação.

A fecundação ocorre quando um espermatozóide une-se a um óvulo para formar um única nova célula. O óvulo fecundado que vemos aqui começou a crescer por divisão celular. Ele irá posteriormente diferenciar-se em 800 bilhões ou mais de células com funções especializadas.

Figura 3-1

Aparelhos reprodutivos humanos.

Em uma mulher sexualmente madura, a ovulação - ruptura de um folículo madu- ro em um dos ovários e expulsão de seu óvulo - ocorre aproximadamente uma vez a cada 28 dias até a menopausa. O óvulo é arrastado através da tuba uterina por diminu- tas células filamentosas, denominadas cílios, em direção ao útero. A fecundação normal- mente ocorre durante o curto espaço de tempo em que o óvulo está passando através da tuba uterina.

Os espermatozóides são produzidos nos testículos ou glândulas reprodutivas de um macho maduro (ver Figura 3-1) em uma taxa de centenas de milhões por dia e são ejaculados no sêmen no clímax sexual. Eles entram na vagina e nadam através do cér- vix (a abertura do útero) para dentro das tubas uterinas, mas somente uma fração dimi- nuta consegue chegar tão longe.

A fecundação é mais provável se a relação sexual ocorre no dia da ovulação ou durante os cinco dias precedentes (Wilcox, Weinberg e Baird, 1995). Se a fecundação não ocorre, o óvulo e os eventuais espermatozóides no corpo da mulher morrem. Os es- permatozóides são absorvidos pelos leucócitos da mulher, e o óvulo passa pelo útero e sai através da vagina.

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 94-97)