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Estudos Correlacionais

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 82-85)

Um estudo correlacionai é u m a tentativa de descobrir uma correlação ou relacionamen- to estatístico entre variáveis, fenômenos que m u d a m ou variam entre pessoas, ou que p o d e m ser variados para finalidades de pesquisa. As correlações se expressam em ter- mos de direção (positiva ou negativa) e magnitude (grau). Duas variáveis que têm uma relação positiva aumentam ou diminuem juntas. Uma correlação positiva ou direta en- tre violência na televisão e agressividade existiria se as crianças que assistem a mais programas com violência batessem, mordessem ou chutassem mais do que outras que assistem a menos programas violentos na televisão. Duas variáveis possuem u m a cor- relação negativa ou inversa se, quando uma aumenta, a outra diminui. Estudos indicam estudo correlacionai

Modelo de pesquisa que visa a descobrir se existe uma relação estatística entre variáveis, quer em direção, quer em magnitude.

uma correlação negativa entre a quantidade de escolarização e o risco de desenvolver demência devido ao mal de Alzheimer na velhice. Em outras palavras, quanto menos escolarização, mais demência (Katzman, 1993).

As correlações são descritas na forma de números que variam de -1,0 (relação ne- gativa perfeita) a +1,0 (relação positiva perfeita). Correlações perfeitas são raras. Quan- to mais próxima de +1,0 ou -1,0 é a correlação, mais forte a relação, positiva ou negati- va. Uma correlação de zero significa que as variáveis não possuem relação.

As correlações permitem-nos prever uma variável com base em outra. Se, por exemplo, encontrássemos uma correlação positiva entre assistir à violência na televisão e brigar, preveríamos que as crianças que assistem a programas violentos são mais pro- pensas a se envolver em brigas. Quanto maior a magnitude da correlação entre duas variáveis, maior a capacidade de prever uma a partir da outra.

Embora as correlações possam indicar possíveis causas, as relações causais que elas sugerem precisam ser avaliadas criticamente. A partir de uma correlação positiva entre programas violentos na televisão e agressividade, não podemos ter certeza de que assistir à violência na televisão causa agressividade nas brincadeiras; só podemos con- cluir que as duas variáveis estão relacionadas. É possível que a causação ocorra na di- reção contrária: as brincadeiras agressivas podem levar as crianças a assistir a mais pro- gramas violentos. Ou uma terceira variável - talvez uma predisposição inata para a agressividade - pode fazer com que uma criança tanto assista à mais televisão quanto aja com mais agressividade. De modo análogo, não podemos ter certeza de que a esco- larização protege contra a demência; é possível que outra variável, como a condição so- cioeconômica, possa explicar tanto os níveis inferiores de escolarização quanto os ní- veis mais elevados de demência. Para ter certeza de que uma variável causa outra, pre- cisaríamos realizar um experimento controlado - algo que, ao estudar seres humanos, nem sempre é possível por motivos práticos ou éticos.

Experimentos

Um experimento é um procedimento controlado em que o experimentador manipula variáveis para aprender como uma afeta a outra. Os experimentos científicos devem ser conduzidos e descritos de tal forma que outro experimentador possa replicá-los, ou se- ja, repeti-los exatamente da mesma forma com outros participantes para confirmar os resultados e as conclusões.

Grupos e Variáveis Para fazer um experimento, o experimentador pode dividir os

participantes em dois tipos de grupos. O grupo experimental é composto de pessoas que serão expostas à manipulação experimental ou tratamento - o fenômeno que o pes- quisador deseja estudar. Depois disso, o efeito do tratamento será medido uma ou mais vezes. O grupo-controle é composto de pessoas semelhantes às do grupo experimen- tal, mas que não recebem o tratamento ou que recebem um tratamento diferente. Um experimento pode incluir um ou mais de cada tipo de grupo. Ou, se o pesquisador qui- ser comparar os efeitos dos diferentes tratamentos (do método de aula expositiva ver-

sus o método de discussão para ensinar), a amostra total pode ser dividida em grupos de tratamento, sendo que cada um deles recebe um dos tratamentos em estudo.

Examinemos como uma equipe de pesquisadores (Whitehurst et al., 1988) reali- zaram um experimento para descobrir que efeito um método especial de leitura para crianças muito jovens poderia ter em suas habilidades de linguagem e vocabulário. Os pesquisadores compararam dois grupos de crianças de classe média de 21 a 35 meses. No grupo experimental, os pais adotaram o novo método de leitura em voz alta (o trata- mento), que envolvia incentivar a participação ativa das crianças e oferecer um retor- no freqüente conforme sua idade. No grupo-controle, os pais apenas liam em voz alta, como costumavam fazer. Os pais das crianças do grupo experimental faziam-lhes per- guntas abertas e instigantes em vez de perguntas que exigiam respostas afirmativas ou negativas simples. (Em vez de perguntar "O gato está dormindo?", eles perguntavam, "O que o gato está fazendo?"). Eles exploravam as respostas das crianças, corrigiam respostas erradas, ofereciam possibilidades alternativas e faziam elogios. Depois de um mês do programa, as crianças no grupo experimental estavam oito meses e meio à frente do grupo-controle no nível de discurso e seis meses à frente em vocabulário; no- ve meses depois, o grupo experimental ainda estava seis meses à frente dos controles. E justo concluir, portanto, que esse método de leitura em voz alta aperfeiçoou as habi- lidades de linguagem e vocabulário das crianças.

experimento

Procedimento rigorosamente controlado, replicável, em que o pesquisador manipula as variáveis para avaliar o efeito de uma sobre a outra.

grupo experimental

Em um experimento, é o grupo de pessoas que recebe o tratamento em estudo; quaisquer mudanças nas pessoas são comparadas com mudanças no grupo-controle.

grupo-controle

Em um experimento, é o grupo de pessoas que são semelhantes às pessoas do grupo experimental, mas que não recebem o tratamento cujos efeitos devem ser medidos; os resultados obtidos com o grupo são comparados com os resultados obtidos com o grupo

90 Diane E. Papalia, Sally W. Olds & Ruth D. Feldman

No experimento anteriormente descrito, o tipo de abordagem na leitura era a va-

riável independente, e as habilidades de linguagem das crianças eram a variável dependen- te. Uma variável independente é algo sobre o qual o experimentador tem controle di-

reto. Uma variável dependente é algo que pode ou não mudar como resultado de mu- danças na variável independente; em outras palavras, ela depende da variável indepen- dente. Em um experimento, um pesquisador manipula a variável independente para ver como mudanças nela irão afetar a variável dependente.

Se um experimento encontra uma diferença significativa no desempenho dos gru- pos experimental e controle, como saberemos se a causa era a variável independente? Por exemplo, no experimento de leitura em voz alta, como podemos ter certeza de que o método de leitura, e não algum outro fator (como a inteligência) causaram a diferen- ça no desenvolvimento de linguagem dos dois grupos? O experimentador deve contro- lar os efeitos desses fatores alheios através de distribuição randômica: distribuir os participantes em grupos de tal forma que cada pessoa tenha uma chance idêntica de ser colocada em qualquer grupo.

Se a distribuição é randômica e a amostra é grande o bastante, diferenças em fato- res como idade, sexo, raça, QI e condição socioeconômica distribuir-se-ão uniforme- mente de modo que inicialmente os grupos serão o mais semelhante possível em todos os aspectos, exceto quanto à variável a ser testada. De outra forma, diferenças não-pre- meditadas entre os grupos podem confundir ou contaminar os resultados, e qualquer conclusão derivada do experimento teria que ser encarada com grande suspeita. Além disso, no decorrer do experimento, o experimentador deve garantir que tudo, exceto a variável independente, permaneça constante. Por exemplo, no estudo de leitura em voz alta, os pais dos grupos experimental e controle devem despender a mesma quantida- de de tempo lendo para os filhos. Assim, o experimentador pode ter certeza de que quaisquer diferenças entre as habilidades de leitura dos dois grupos devem-se ao mé- todo de leitura, e não a algum outro fator.

Experimentos Laboratoriais, de Campo e Naturais O controle necessário pa-

ra estabelecer causa e efeito é mais facilmente obtido em experimentos laboratoriais. Em um experimento laboratorial, os participantes são levados a um lugar especial onde são submetidos a condições manipuladas pelo experimentador. O experimen- tador registra as reações dos participantes a essas condições, talvez comparando-as com seu próprio comportamento ou com o de outros participantes em diferentes condições.

Entretanto, nem todos os experimentos podem ser facilmente realizados em labo- ratório. Um experimento de campo é um estudo controlado conduzido em um ambiente

variável independente

Em um experimento, é a condição sobre a qual o experimentador tem controle direto.

variável dependente

Em um experimento, é a condição que pode ou não mudar como resultado de mudanças na variável independente.

distribuição randômica

Técnica utilizada para distribuir os membros de uma amostra de um estudo em grupos (experimental e controle), em que cada membro da amostra tem uma chance idêntica de ser selecionado para cada grupo e receber ou não receber o tratamento.

Os experimentos utilizam procedimentos rigorosamente controlados que manipulam variáveis para determinar como uma afeta a outra. Para estudar a resiliência emocional, este projeto de pesquisa na Universidade da Califórnia, em São Francisco, monitora a freqüência cardíaca e a pressão arterial de crianças pequenas enquanto elas explicam seus sentimentos em resposta à expressão de alegria ou zanga de um fantoche.

que faz parte da vida cotidiana, como o lar ou a escola de uma criança. O experimento em que os pais experimentaram um novo modo de ler em voz alta era um experimen- to de campo.

Os experimentos de laboratório e campo diferem em dois importantes aspec- tos. Um é o grau de controle exercido pelo experimentador; o outro é o grau em que os achados podem ser generalizados além da situação de estudo. Os experimentos la- boratoriais podem ser controlados com mais rigor e, conseqüentemente, são mais fáceis de replicar. Contudo, os resultados podem ser menos generalizáveis à vida real; devido à artificialidade da situação, os participantes podem não agir normal- mente.

Quando, por motivos práticos ou éticos, é impossível realizar um experimento legíti- mo, um experimento natural pode ser um modo de estudar alguns eventos. Um experimen- to natural compara as pessoas que foram acidentalmente "designadas" a grupos separados por circunstâncias de vida - um grupo de crianças que foram expostas, por exemplo, ou à fome ou à AIDS ou à educação de melhor qualidade; ou, ainda, crianças com defeito con- gênitos, em contraste com outro grupo que não o foi. Um experimento natural, a despeito do nome, é, na verdade, um estudo correlacionai, pois a manipulação controlada das variá- veis e a distribuição randômica a grupos de tratamento não são possíveis.

Não existe apenas um modo "correto" de estudar os seres humanos. Muitas ques- tões podem ser abordadas sob diversos ângulos, cada um deles gerando diferentes ti- pos de informação. Os experimentos possuem importantes vantagens em relação a ou- tros modelos de pesquisa: a capacidade de estabelecer relações de causa e efeito e per- mitir replicação. Entretanto, os experimentos podem ser muito artificiais ou ter um en- foque muito estreito. Assim, em décadas recentes, muitos pesquisadores têm-se con- centrado menos na experimentação laboratorial, ou a suplementam com uma gama mais ampla de métodos. Além disso, algumas questões não se prestam à experimenta- ção porque certas variáveis, como idade, gênero e raça, não podem ser manipuladas. Ao estudar essas variáveis - por exemplo, a relação entre perda de memória e envelhe- cimento - os pesquisadores precisam utilizar estudos correlacionais, ainda que não possam conclusivamente determinar causação.

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 82-85)