• Nenhum resultado encontrado

Margaret Mead, Pioneira na Pesquisa Transcultural

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 57-59)

Margaret Mead (1901-1978) foi uma antropóloga norte-americana mundial- mente famosa. Na década de 1920, época em que uma mulher raramente se expunha aos rigores do trabalho de campo com povos remotos pré-letrados, Mead passou nove meses na ilha de Samoa, no Pacífico Sul, estudando a adap- tação das meninas à adolescência. Seu primeiro livro Corning ofAge in Samoa (Atingindo à Maioridade em Samoa), um recordista de vendas, contestava a vi- são aceita sobre a inevitabilidade da rebeldia adolescente.

Uma infância itinerante construída em torno dos interesses acadêmicos de seus pais preparou Mead para uma errante vida de pesquisa. Em Nova Jersey, sua mãe, que estava trabalhando em sua tese de doutorado em sociologia, levava Margaret junto nas entrevistas que conduzia com imigrantes italia- nos recentes - primeiro contato da criança com o trabalho de campo. O pai dela, professor na faculda- de de administração Wharton da Universidade da Pensilvânia, ensinou-lhe o respeito aos fatos e"a im- portância de pensar com clareza" (Mead, 1972, p. 40). Ele enfatizava a ligação entre teoria e aplicação - como fez Margaret quando, anos depois, testou suas teorias sobre criação dos filhos com sua própria fi- lha. A avó de Margaret, ex-professora do ensino fundamental, a mandava para o bosque para colher e analisar espécimes de hortelã."Não fui bem treinada em geografia ou ortografia", escreveu Mead em suas memórias NackberryWinter (Inverno das Amoras-Pretas) (1972, p. 47)."Mas aprendi a observar o mundo à minha volta e notar o que via".

Margaret fez muitos apontamentos sobre o desenvolvimento de seu irmão e de duas irmãs mais jovens. Sua curiosidade sobre por que uma criança de uma família comportava-se de modo tão diferen- te de outra levou-a posteriormente a interessar-se pelas variações de temperamento em uma cultura.

Um outro foco de pesquisa foi como as culturas definem os papéis masculino e feminino. Marga- ret via sua mãe e sua avó como mulheres instruídas que conseguiram ter marido e filhos e dedicar-se à profissão; ela esperava fazer o mesmo. Ficou desolada quando, no início de sua carreira, o ilustre antro- pólogo Edward Sapir disse-lhe que "era melhor ela ficar em casa e ter filhos do que sair para os Mares do Sul para estudar meninas adolescentes" (Mead, 1972, p. I I).

A opção de Margaret pela antropologia como profissão condizia com o respeito que aprendera em casa pelo valor de todos os seres humanos e suas culturas. Recordando a insistência do pai de que a única coisa que vale a pena fazer é contribuir para o acúmulo de conhecimento, viu uma necessidade urgente de documentar culturas anteriormente isoladas que agora "desaparecem diante do ataque da civilização moderna" (Mead, 1972, p. 137).

"Fui a Samoa - assim como, mais tarde, fui conhecer outras sociedades sobre as quais realizei um trabalho - para descobrir mais sobre os seres humanos, seres humanos como nós em tudo, ex- ceto em cultura", escreveu ela."Através dos acidentes da história, essas culturas desenvolveram-se de uma forma tão diferente da nossa, que nosso conhecimento delas poderia lançar uma espécie de luz sobre nós, sobre nossas potencialidades e nossas limitações" (Mead, 1972, p. 293).A presente bus- ca para elucidar essas "potencialidades e limitações" é o objetivo dos teóricos e pesquisadores do desenvolvimento humano.

vida de Margaret Mead foi toda coerente. A jovem que enchia cadernos com ob- servações sobre os irmãos tornou-se a cientista que viajava a terras distantes e estudava cul- turas muito diferentes da sua.

A história de Mead salienta diversos pontos importantes sobre o estudo do desenvol- vimento humano. Primeiramente, o estudo das pessoas não é seco, abstrato ou esotérico. Ele lida com a substância da vida real.

Segundo: uma perspectiva transcultural pode revelar quais padrões de comporta- mento são universais - se existirem - e quais não o são. A maioria dos estudos sobre desen- volvimento humano foi realizado nas sociedades ocidentais modernas, utilizando partici- pantes de classe média e brancos. Hoje, os cientistas do desenvolvimento estão cada vez mais conscientes da necessidade de expandir a base de pesquisa, como Mead e colaborado- res procuraram fazer.

Terceiro: teoria e pesquisa são dois lados da mesma moeda. À medida que refletia so- bre suas próprias experiências e observava o comportamento dos outros, Mead constante- mente formulava explicações possíveis de serem testadas em futuras pesquisas.

Quarto: embora o objetivo da ciência seja obter conhecimento verificável através de in- vestigação imparcial e sem preconceitos, a ciência do desenvolvimento não pode ser total- mente objetiva. As observações sobre o comportamento humano são produtos de indiví- duos humanos cujas indagações e interpretações são inevitavelmente influenciadas por sua própria bagagem, por seus próprios valores e por suas próprias experiências. Como a filha de Mead, Mary Catherine Bateson (1984), também antropóloga, assinalou em resposta às crí- ticas à metodologia do trabalho inicial de Mead em Samoa, um observador científico é como uma lente, a qual inevitavelmente produz alguma distorção no que é observado. Uma lente diferente (ou seja, um observador diferente) pode mudar o foco e assim obter resultados di- ferentes. Ao buscarem maior objetividade, os investigadores devem examinar minuciosa- mente como eles e seus colegas conduzem seu trabalho, as suposições sobre as quais eles se baseiam e como chegam a suas conclusões.

Na primeira parte deste capítulo, apresentaremos as principais questões e perspecti- vas teóricas que subjazem muitas pesquisas sobre desenvolvimento humano. No restante do capítulo, observaremos como os pesquisadores reúnem e avaliam as informações, para que você possa melhor avaliar se as conclusões deles se apoiam em base segura.

Depois de ler e estudar este capítulo, você deverá ser capaz de responder às seguintes perguntas:

1. Para que servem as teorias?

2. Enumere as três questões teóricas básicas sobre as quais os cientistas do desenvolvimento discordam.

3. Enumere as seis perspectivas teóricas sobre o desenvolvimento humano e descreva algumas das teorias representativas de cada uma delas.

4. C o m o os cientistas do desenvolvimento estudam as pessoas? Descreva as vantagens e as desvantagens de cada método de pesquisa.

5. Que problemas éticos podem surgir na pesquisa com seres humanos e como eles podem ser melhor resolvidos?

Questões Teóricas Básicas

No documento Sally Wendkos Olds • Ruth Duskin Feldman (páginas 57-59)